Bônus II
Suas palavras nas paredes enquanto você reza pela minha queda
E as risadas nos corredores
E todos os nomes que já me chamaram
Eu os guardo comigo e espero pelo momento
Em que vou te mostrar como é ser definido por palavras jogadas vento
[...]
Fui para fora do planeta para causar um catástrofe
E importou porque eu não tinha nada
Eu pensei em causar destruição nos que se opuseram
Enemy | Imagine Dragons and JID
P O R T L A N D
A N O S A T R Á S
— Onde estava, moleque? — a voz arrastada veio da sala.
Aaron estava esparramado na sala, uma garrafa de cerveja em mãos e os olhos presos em qualquer merda que estivesse passando na TV. Essa era sua rotina. Ficar com o traseiro colado no sofá enquanto bebia como um maldito gambá ou foder alguma de suas vadias em troca de drogas ou qualquer merda que elas precisassem receber para no mínimo cogitar tê-lo entre as pernas.
Não me prestei a sequer responder enquanto cruzava o cómodo imundo e ia até meu quarto. Minha cabeça estava fervendo, e tudo isso era por causa de Dante, da briga que tivemos poucos minutos atrás. Ele não estava gostando de como as coisas estavam indo. Entrar para os Diabolic Revels, por sua visão politicamente correta, não era um bom negócio, ele não estava nada contente em se envolver com drogas, apesar de ter entrado nisso por escolha e também estar enchendo o bolso ao longo desses últimos meses. E isso era uma merda, pois eu não podia simplesmente mandar ele se foder e sugerir que abandone tudo. Muller era o único cara que eu poderia considerar amigo, desde sempre nos virávamos por nós mesmos. Não podia expulsá-lo de minha vida, ele também não faria o mesmo.
Suspirei, tirando o revólver do cós da calça e depositando sobre a escrivaninha. Uma onda de energia pinicou em meus dedos contra o metal frio. Você agora faz parte do clã, pivete, merece a porra de um presente, disse Dean, o líder da gangue, ao me entregar a arma. Ele dizia que eu era um filho da puta ambicioso, que cresceria ao seu lado, e que raramente via a genuína crueldade refletida em olhos. Essas eram uma das muitas merdas vindas dele que eu apenas ignorava.
— Você não me respondeu, porra! — a voz raivosa veio acompanhada de dois socos na porta desgastada. Talvez forçasse até que ela viesse ao chão? Confesso que, pela primeira vez, estava esperando secretamente que o fizesse.
Provavelmente se encontrava alcoolizado, ou, pelo tempo recorde que usou para chegar até aqui, supus que apenas estivesse com muita raiva. O motivo? Aaron Mitchell não precisava de motivos para ser um filho da puta. E seu sobrinho querido aprendeu perfeitamente como fazer o mesmo.
— Foda-se. — Bufei a fumaça em meu rosto após tragar um Marlboro. Seria muita ilusão querer que ele parasse de encher a porra da minha paciência.
— O que pensa que está fazendo, fodido? — jogou na minha cara quando estraçalhou a maçaneta da porta, como um animal enjaulado. — Percebo que a cada dia cresce as malditas asas. E estou sabendo que se juntou àquela corja. Talvez eu esteja cogitando agradecê-los, é provável que eles te matem logo e joguem seu corpo podre aos abutres, algo que eu já deveria ter feito há muito tempo.
A tatuagem recém feita ardeu sobre minha pele. Como se você já não tivesse me matado.
Levantei-me, tirando o cigarro dos lábios, e ficando frente a frente com ele. Aaron não era baixo, algo perto de um metro e oitenta, mas eu deixei de estar abaixo dele há um tempo. O rosto raivoso e tão parecido com o do meu pai era um gatilho às lembranças, mas que se foda. Muitos até pensavam que ele era meu pai, tamanha nossa semelhança. Eu já era desgraçado o suficiente, ter Aaron como progenitor seria algo repulsivo em níveis que nem imaginaria.
— Por que não tenta matar agora? — Ele estreitou os olhos, incitado a possivelmente acertar meu rosto com seu punho ou quem sabe pegar um de suas peças afiadas. — Vamos, Mitchell, o que tem impede de tirar minha vida, hum?
Sabia que ele estava surpreso, mesmo que não transparecesse. Eu não reagia, preferia ficar calado — algo que veio desde a infância, pois o silêncio às vezes era enfadonho demais para os agressores, eles gostavam de ver e ouvir a dor, o doce desespero, um alimento. Aprendi a sobreviver cedo o suficiente. Mas não iria mais ficar em surdina, não hoje.
Ele então gargalhou, como se tivesse lhe contado uma piada. Odiava sua voz, a entonação macabra, o apelo de terror que ela me despertou por anos. Porra, odiava aquele homem com cada fodido átimo que residia nesse meu corpo retalhado.
— Você está tentando me intimidar? — debochou, os lábios recheados de desprezo. Era recíproco. E, tal como a velocidade de uma bala, algo sombrio reluziu em seus olhos, quando percebi seu punho já estava fechado em meu pescoço, meu corpo bem mais franzino que o seu batendo contra a parede manchada. — Essas são suas patéticas asas, Derek? Não se iluda, merdinha, você sempre vai ser um verme, mas, diferente de mim, do tipo que todos pisam. Você não é nada, ninguém te quer em sua vida, nunca vai querer. Desprezível, inútil, patético, descartável. — Eu te amo, filho, a lembrança da voz da pessoa que um dia foi minha mãe preencheu minha mente, nós te amamos e, apesar de tudo, você é o que temos de mais precioso, nunca te perderemos, Derek. Mentira, tudo era mentira, tudo era ilusório. — Você é um perdedor. Um fardo em minha vida.
Meus lábios se ergueram, então, em um riso idêntico aos que sempre temi ver em seu rosto. Isso mesmo, temia.
— Não me fale o que já sei, Aaron, e também não se iluda pensando que é diferente. — Subi minhas mãos até seu pescoço, depositando mais força do que ele estava exercendo em seu aperto sobre mim. — Somos da lama, fodidos e radioativos. Mas a nossa diferença é que seu tempo acabou, filho da puta. — Apertei mais, sentindo suas mãos caindo do meu pescoço e seu rosto ganhando um tom carmesim. Eu não era mais forte que ele, não passava de um adolescente, no entanto sua gafe de vir até aqui sob álcool nos possibilitou igualdade.
Soquei seu estômago como joelho, ouvindo o urro ecoar em meu quarto. Depois assisti ele vindo até mim, com um soco direcionado. Agarrei seu punho com a palma, torcendo seu braço e jogando-o ao chão. O baque surdo do seu corpo foi substituído pelo som dos chutes impiedosos que iniciei e a agonia refletida enquanto agonizava.
— Como é estar no outro lado da moeda, desgraçado? — Sangue escorreu de sua boca quando chutei suas costelas. — O quê? Não consegue mais falar? Vamos, com dez anos eu suportei mais que isso sem chorar, lembra?!
Seus olhos não o traíam, estavam demonstrando ódio, um reflexo dos meus. Bom. Não esperei que revidasse — e que se fodesse que eu não estava jogando limpo —, fiquei sobre seu corpo ao chão e comecei a socar seu rosto. Punhos, sangue e carne. Um massacre, sem juiz. O cheiro metálico era familiar aos meus sentidos, estava acostumado com o meu banhado sobre a pele.
Nunca parou quando pedi na primeira vez, tampouco na última, pensei quando ele soltou um murmúrio parecido com uma prece. Eu não via nada além da raiva que corria em minhas veias como nunca ocorreu antes.
Você não tem mais poder sobre mim.
Eu não vou ser mais brinquedo de ninguém, nunca mais.
Você me ensinou bem, tio.
Minha respiração estava alterada quando vislumbrei um Aaron desacordado no chão. Tomando o ar, me levantei, evitando olhar para minhas mãos revestidas naquele líquido pegajoso. Você também é um monstro, Derek.
Joguei e seu rosto a água que jazia em uma jarra próxima à minha cama. Sua carne estraçalhada levada pela água não seria uma visão agradável para muitos.
Engasgando, voltou à razão. Nesse momento aquele metal já estava em minhas mãos, agora queimando.
— Uma a-arma? — quase não conseguia falar, imerso em seu estado deplorável, decadente. —Claro q-que é cov-varde o suficiente para não me matar com as próprias m-mãos.
— Você também foi, e está aí o seu erro.
Seus olhos estavam abertos quando apertei o gatilho e permaneceram quando a bala atingiu o centro de seu peito.
Depois, silêncio.
Não sentia, mas minhas mãos tremiam. Minha respiração ainda era instável, em meu peito algo martelava incessantemente.
Acabou?
Não, não acabou. Nunca iria.
— Dante. — Busquei me acalmar ao fitar o corpo estirado ao chão, usando uma máscara que quase me convenceu de que não havia acabado de matar alguém pela primeira vez.— Está ocupado agora?
O silêncio tomou a ligação, meu irmão sendo nada mais que o bastardo calculista que sempre dava calafrios em muitos.
— Para onde estamos indo, Derek? — Ele sabia que algo estava errado.
— Enterrar meu passado.
Era o que eu pensava.
como prometido, bônus postado ^^
não foi legal nem bonito, mas talvez necessário pra fecharmos um arco da história. também vimos algo do dante. ficou curiosidade em relação ao nosso queridinho?
voltando ao presente, o que vocês acham que vai acontecer agora? podem citar clichês, eu também amo zkdk
até o próximo capítulo.
de sua autora,
©K. L. Lawrence
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