Capítulo 7




Chegaram a sua casa, era muito orgulhosa dela, alta e arejada, toda branca, a frente havia plantado com suas mãos o seu lindo jardim, tinha uma varanda onde duas cadeiras de balanço descansavam, em um canto decoradas com almofadas rosas, seguindo-a de perto seu estranho convidado, olha tudo detalhadamente, estava muito nervosa de um desconhecido dormir em sua casa, mas são duas da manhã, seu corpo dói, seus olhos ardem de sono, amanhã pensaria no desatino que estava fazendo.

—Tem fome? — Ela deixa suas coisas em uma mesa próxima, ele assente, estava morrendo de fome, as barrinhas de nutrientes acabaram há alguns dias.

— Já tem alguns dias que não como, é muita generosidade de sua parte, obrigado. — Seu sorriso era sincero, nunca foi tratado com gentileza ou carinho, ela é maravilhosa, só por isso poderia se ajoelhar e beijar seus pés. E pensar em quantas vezes foi obrigado a agradecer quando teve uma barrinha, depois de dias sem água ou comida. Seu estômago retorceu com a lembrança.

— Olhe, tome um banho, ali no final do corredor. — Aponta a direção — Farei algo para comermos. — Ninguém deveria ser obrigado a passar fome, ele falou em dias, escondido no mato com fome e frio, só por essas coisas queria abraçá-lo e coçar sua cabeça, por passar por essas experiências traumáticas.

Com isso vai para o banheiro, bom não iria discutir isso, precisava muito do banho e um ciclo de sono cairia bem, passou muito tempo de vigília, esperando que eles o encontrassem, mas sua sorte mudou. Viva! Considerando o algoritmo da probabilidade seria muito mais difícil o pegarem, agora conseguiu um meio de misturar com a população, graças ao cosmo, tem um lugar para ficar, é por apenas uma noite, mas já é um começo importante, fazer parte de um todo maior. Ser invisível no meio de muita gente, ficaria bem debaixo do nariz deles e não o veriam.

Isso é um bom plano, este país, no mapa o chamam de Brasil, é muito grande, expressivo em seus números, duzentos e sete, ponto, sete milhões de habitantes, não iririam encontrá-lo aqui. Leon vai se empenhar em apreciar sua liberdade, começando por viver ao lado de Dhália. Abriu o banheiro e teve uma interessante surpresa, decorado com azulejos que tem o desenho de pastas e escovas de dente dançando, bom gosto.

Hilário. Decorou sua casa com alegria, cores e senso de humor.

Descarta sua roupa, se olhou no espelho para ver suas lesões, que são apenas manchas rosadas, onde raspou seu rosto nas pedras, é doeu. Mas dor mesmo foi quando quebrou as costelas, viu estrelas. No momento em que o carro bateu nele, sentiu quando uma perfurou seu pulmão e o impacto no solo que esmigalhou algumas vértebras, isso tirou seu ar por alguns nano segundos, agora tudo corre na rotina, sente as costelas colando-se. Depois que colocar algum combustível em seu organismo, não teria mais queda de energia.

Encontrou conforto no chuveiro, sua bela anfitriã tem um perfume delicioso e agora tem nas mãos a fonte do seu doce aroma, quando alcança a prateleira de shampoos. Embora sua essência tentadora tenha um toque de mulher que é perfeitamente único, ao aspirar o perfume do frasco era como se ela estivesse presente ali, tenta mudar o rumo de seus pensamentos, mas seu cérebro traidor, está lhe enviando as imagens dela, macia sob ele, presa suave, brincando com seus sentidos.

Sente seu sangue correr mais espesso com o desejo, despertando sua anatomia que preferia ignorar, não é o momento, não é o lugar. Resolve deixar a água fria cair e assim debelar sua situação. Mais calmo, veste-se com uma calça de moletom fino que havia em suas coisas e uma camiseta do AC/DC que estava na mochila de seu pai, não conseguia imaginar como ele conseguiu isso, mas gostou, agora está fresco e pronto para uma sabatina de perguntas, que será muito agradável, conhecer melhor sua amiga flor.

Ela avista seu hospede depois que saiu de seu banheiro, a visão dele seca sua boca é muito mais bonito que imaginou, agora podia identificar a cor de seu cabelo que é castanho, com vários matizes, de marrom até o dourado, toda a sua postura exala masculinidade crua, bem com essa aparência poderia ser um modelo. Para se acalmar dispõe a mesa para dois, fez algumas omeletes de queijo, tem alguns pães que Edna lhe enviou mais cedo e pede para que sente.

Leon sentou-se à mesa, a comida cheirava maravilhosamente, evocando os sabores de uma boa comida caseira, não tem a informação, se alguma vez obteve alimento assim, sua boca saliva em antecipação. O máximo que já teve, foi duas porções de barras proteicas e um copo de água a mais, o ápice de bondade deles. Fez todo possível para não atacar o alimento como um bárbaro, saqueando uma aldeia. Em silêncio ela aguarda que comece a comer, ele entende o convite silencioso, quando sabor bate em suas papilas, suspira, nunca provou nada melhor, só por isso já valia todos tiros que tomou só para chegar a esse momento.

— Muito bom. — E cavou através de sua comida.

— É bom saber. — Ela sorriu, feliz por ter feito bastante, a parte cozinheira dela ficou encantada em agradar um homem com apetite.

— Cozinha muito bem. Hum... Faz séculos que devo ter provado algo tão bom. — A suavidade dos temperos, é muito mais que suas papilas tiveram em qualquer momento de sua vida.

Ela prova sua própria comida, estava bom mesmo e ficou orgulhosa com o elogio. Serviu o suco e entregou ao seu convidado.

— Sabe estive pensando, bem me falou que é bom com animais — Não era o momento para se sentir tímida, ele a olha atentamente. — O meu consultório é algumas quadras daqui, há uma atendente, mas não tenho quem dê banho nos cães. Ainda não montei essa parte da clínica, se quiser pode ajudar a Marjore a cuidar dos pets, enquanto estiver atendendo nas fazendas. Creio que posso empregar você, não é muito, um pouco a mais que o mínimo, se desejar, a posição está vaga.

A generosidade dela o tocou profundamente, a maioria das pessoas teria corrido e se escondido, mas ela, não só o enfrentou como agora lhe oferece um emprego, essa mulher é ímpar. Uma forma de se esconder e ter uma vida. Ela não tem ideia de quanto isso significa ninguém nunca foi bom com ele. Ele abaixa a cabeça, envergonhado.

— Obrigado, não sei como lhe agradecer. — Seu sorriso sincero a enternece.

— É só ser bom com os animais, que estará me ajudando.

Enquanto comiam ele estava encantado pelas histórias de sua pequena flor, ela lhe contou de sua clínica e de seu amor pelos animais e de como seus pais e irmãos foram importantes nessa decisão, todas essas histórias, ressaltavam todo o amor e união que sua família tem. Depois de algum tempo vão dormir, ela o acomoda no quarto de visitas, o informando que não se acostume muito que em breve terá que arrumar outro lugar, ela o ajudaria a procurar esse lugar. Leon percebe que não falou que amanhã teria que sair, mas usou o termo em breve, espaço de tempo, sem data, isso aqueceu seu coração, finalmente uma vida, além da escravidão.

Dhália se revolve em sua cama, já são três da manhã e não conseguiu dormir, tudo culpa de seu hóspede, que se encontrava no quarto ao lado, provavelmente dorme como uma pedra ou está tramando para sufocá-la, numa próxima oportunidade, o medo fecha sua garganta com suas garras feias. Tem que parar com isso, ele não demonstrou nenhuma maldade que despertasse sua desconfiança, era só uma pobre alma perdida lutando para se esconder, viu várias vezes o medo e timidez em seus olhos, o que é incongruente com um homem do porte dele, o quebram no mais íntimo dele, quebraram sua confiança.

Deve ser duro ser escravizado, toda escravidão vem de promessas falsas, entende perfeitamente como é isso. Seu ex-noivo também a iludiu, claro que não é a mesma coisa, mas não deixa de ser escravidão, planejaram uma vida juntos, ela lhe devotou todo o seu amor e parte de sua vida, viu tudo isso jogado pelo ralo. A escravidão do amor, sim passou por isso, não conseguiu sair da empatia do paralelo, os dois sofreram muito em diferentes níveis. Quanto a trabalhar em uma mina sem ganhar um tostão, era muito duro, no calor toda aquela sujeira, em ambiente sufocante, deveria ser muito cruel, executado por pessoas muito mais odiosas que Nathan. Pensando melhor Leon sofreu mais, o ser humano às vezes não é tão humano assim.

Bom pelo menos agora tem uma chance de trabalhar e ser remunerado por isso. Vai ser bom para ele. Mesmo que não seja muito bom para sua própria sanidade, ficar perto de um homem que a afeta, se tivesse um pingo de autopreservação não iria contratá-lo. Ela suspirou, rola de lado e soca seu travesseiro, jogou sua cabeça contra ele. Tem que dormir e não adianta pensar em um homem que apesar de gostoso, vai quebrar seu pobre coração. Fez uma promessa a si mesma, nada de homens.

Tenta adormecer repetindo a cantinela, nada de homens, nada de homens, nada de homens.

Leon observava pela janela as estrelas, mesmo longe do seu lugar de origem, está apreensivo do que este evento poderia custar. Encontrou uma nobre pessoa que lhe ajudou, a boa estrela está do seu lado, mas não pode extrapolar seu tempo, deve se manter em movimento para não chamar atenção sobre si. Primeiro deveria agradecer ao Cosmo, por encontrar a doce Dhália, sua flor, por conhecer um pouco da generosidade dela. Esse é o motivo principal de que não pode ficar por muito tempo como gostaria, uma pessoa tão boa, não deve sofrer caso eles o encontrem.

E sim eles serão muito cruéis se os encontrarem,realmente sabiam como conduzir uma tortura, ela não sobreviria a esse encontro,mas por enquanto nenhum sinal de que estavam em seu rastro. Tinha despistado eles, isso é bom, talvez nunca o encontrasse, existem muitos lugares para vasculharem, muitos países nessa busca. Pelo menos essa era a sua esperança,mas não existe esperança para um condenado, mesmo sabendo disso, mesmo indo de encontro a lógica, se dispõe a permanecer ao lado dela, por alguns ciclos, só para protegê-la. Claro só algum tempo e com isso em mente, deitou-se, amanhã teria um grande dia.     

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top