Capítulo 2



Ainda está rindo quando deixa sua casa, ele acha que existe uma chance dela perdoá-lo, provavelmente no planeta ego onde mora.

Entra na lanchonete de sua amiga Edna, "Sonho Restaurante" é um lugar charmoso. Bem decorado tem todo aquele ar moderno para atrair turistas com vários quadros com grão esparramados e cafés gourmets com desenhos bonitos, sem falar no maravilhoso aroma da bebida fresquinha, tudo muito branco, limpo e cheiroso. Senta-se ao balcão, com objetivo de tomar algumas xícaras e por que não reclamar dos homens, que se tornou seu esporte preferido.

— Olá Dhália — Lhe sorri a morena dos olhos castanhos, a proprietária, que está abastecendo a estufa de salgados.

— Oi, preciso de um expresso com creme, urgente. — Dhália retribui o sorriso, ajeitando-se.

Todos os dias desde que se tornaram vizinhas, ela frequenta o café de Edna, não só por que os aromas deliciosos do lugar a encantaram, mas principalmente pela companhia, sempre alegre e boa ouvinte, em poucos meses se tornaram melhores amigas e agora sabia tudo que aconteceu com ela.

— Que houve? — Empurrou a xícara a sua amiga.

— Aquele que não pode ser nomeado ligou. — Fez uma careta, arrancando riso da amiga.

— E o que o cachorro disse? — Encosta no balcão para escutar a história, Dhália havia contado várias vezes o que seu ex fez e Edna tinha isso em comum a ela, também foi passada para trás por seu ex-marido, que além de tudo, raspou a conta conjunta e fugiu com uma vizinha de dezessete anos, assim como ela tem um rancor especial pela espécie masculina.

— Por favor, não insulte os cachorros, aquele desgraçado não tem raça para ser um cão, é um ser abjeto. — Desdenha da descrição da amiga, caem no riso. — Homens. — E finge que cospe, para gargalharem juntas.

— Eu já vi vermes mais sensíveis do que homens, que a única coisa que desejam é uma cama quentinha e uma besta para pagar as contas. — Completa Edna azeda. — Eles querem é foder suas próprias mães, por isso nos procuram com essas conversas absurdas de amor eterno e promessas falsas de fidelidade. — Imita uma voz desdenhosa infantil, com as mãos juntas encostadas ao rosto. — Oh, te amo e não posso viver sem você, nenhuma mulher, faz sombra a você.

— Elogios falsos. Se precisar disso faça um vlog no youtube.

— Como estamos amargas hoje. — Voltam-se ao negro alto e bonito, que entra no estabelecimento, puxa uma banqueta ao lado de Dhália e dá três beijinhos nela, Jonathan é professor da academia do bairro e como tal tem o corpo esculpido para dar inveja a muitos, pena que é casado.

— Não é isso, não somos amarguradas, somos mais conhecidas como favo de mel. — Dhália riu.

— Apenas você e seu marido não são vermes, o resto não vale o que o gato enterra. — Edna respondeu da máquina de café, que está abastecendo.

— Então é o que? Eu chamo isso de amargura feminina, já vi muitas com esse sintoma e aí passam a odiar todos os do meu sexo. — E pediu um café a Edna.

Dhália olhou seu belo amigo, uma escultura de homem, talhado por força da profissão, escreve nas horas em que não está dando aulas de Muay Tai, segundo ele no Brasil não é fácil ser um escritor, por isso tem de dar as aulas e assim se mantém em forma. E que forma. Muitas das mulheres babam pelo deus de ébano de sorriso fácil e mente afiada.

— Não estou sendo amarga, é que aquele que não pode ser nomeado, me ligou hoje e quer reatar de onde paramos. — Respondeu sarcástica, ele assentiu em entendimento.

— É um sem vergonha, depois de tudo que fez? — Edna completa, servindo a Jonathan.

— Sim, disse que cometeu um grande erro e que não podemos jogar fora nosso amor. — Ela colocou o indicador na boca simulando vomito.

— É um ser desprezível. — Respondeu Jonathan com nojo.

— Viu até você concorda comigo. — Aponta Dhália.

— Só por que ele envergonha todos os homens da terra, traindo e postando seus atos na internet, seu vídeo de desculpas tornou-se um viral, fiquei com muita vergonha alheia.

— Obrigado meu amigo, sabia que me entenderia. — completa Edna vitoriosa.

Jonathan coloca sua mão entre as dele, acariciando.

— Mas não pode comparar todos os homens da Terra pelo seu ex.

Dhália suspirou.

— Você fala isso por que seu marido não o traiu, ele é um fofo. Queria ver se encontrasse o Felipe com outra pessoa na cama, se não estaria também repudiando a raça. — Falou magoada.

Jonathan olhou-a ternamente, compreende o que as duas sentem, contemporizou.

— Não posso prever o que meu companheiro fará, mas posso te garantir que arrumo outro em um estralar de dedos e você deveria fazer o mesmo. — Falou triunfante sorrindo.

Dhália sabia que seu amigo tinha razão, mas não deixaria sua proteção tão fácil, a dor protege tão bem quanto o amor.

— Sei disso, sou eu tenho o dedo podre, — Mostrou a ele seu indicador. — Tenho medo de escolher outro canalha, por isso decidi que vou permanecer celibatária pelo resto de minha vida.

— Não pode estar falando sério. — Perguntou incrédulo seu amigo.

— Claro que estou, vou fundar a "ordem das desiludidas dos pés descalços". Onde reunirei todas as mulheres que cansaram de ser chifrudas e não desejam namorar nunca mais. — E assim, brandiu a sua xícara ao alto com um brinde, Edna corre com outra, para brindar com ela.

Todos caem na risada.

— Gostaria de ver a sua confraria. — Jonathan gargalhou, antes de dar um gole em seu café.

— Claro que sim, todas as mulheres desiludidas e cansadas de serem enganadas. Aposto que daríamos ótimas personagens para seus livros.

— Acho que posso trabalhar isso. — Respondeu pensativo.

— Agora me conta como está seu livro? — Dhália perguntou interessada em sua nova produção.

— Acho que termino esta semana, devo dizer que está aterrorizante. — Ele riu do pensamento.

Gritou Edna da cozinha.

— Lerei assim que terminar.

Jonathan assentiu, voltou-se a Dhália, com uma expressão cumplice.

— Tem várias criaturas nojentas. — Riu, pois sabe o quanto ela gosta de ficção cientifica com um toque de terror, havia lido alguns de seus contos e os devolveu com ótimas críticas.

— Não me importo em ver criaturas nojentas — Seu telefone começou a tocar, verificou a tela. — E por falar em criaturas nojentas... — Respira fundo por paciência. Atendeu à ligação.

— Alô... — Pausa — Não, estou tomando café... — Pausa mais longa. — Sei o que combinamos... — Enquanto escuta passa a unha sobre uma mancha no balcão. — Sim, mas seu capataz estará cuidando... — Outra pausa. — Entendo o valor... — É interrompida em sua explicação, respirou fundo para não dar uma réplica malcriada. — Mas só irei amanhã, tenho outros clientes... — Ela rola os olhos. — Sei o quanto me paga, estive ontem aí. Olha, se isso lhe faz sentir melhor estarei aí às sete da noite... — Outra pausa, Dhália ficou tensa — OK... — Pausa — Até mais.

Suspirou profundamente, olhou seus amigos, a parte boa da cidade? Seus amigos. A parte ruim? Não estava no momento de dispensar clientes, estava a apenas seis meses na região, teria que suportar o mimado, que se acha "o rei do gado".

— É o Renato? — Jonathan está curioso, só ele ou o ex dela, deixa-a com essa cara de náusea.

— Esse cara é um babaca. — Adicionou a barista se aproximando com interesse e encostou no balcão de braços cruzados.

— Sei disso, mas esse babaca paga em dia e colocou todos os animais dele em meus cuidados, o que o torna suportável. — Tomou um gole de sua própria bebida.

— Mas ele espera retribuição por sua generosidade. — Olhou seu amigo, que tomando um gole de seu café tentou roubar um pão de queijo de Dhália, que dá um tapa em sua mão e faz uma carranca para responder.

— E eu nunca farei isso, ele é casado e tem um monte de amantes. — Respondeu indignada.

— Ele acha que é a próxima conquista. Veio aqui outro dia se pavonear do seu charme irresistível. — Edna entregou a ele uma cestinha de pão de queijo e manda um beijo no ar, que Jonathan devolve com uma piscada, mordendo o quitute.

— E vai continuar achando isso, não ligo, vou continuar a cuidar das vaquinhas dele e me esquivando de suas mãos de polvo, tem dado certo até agora.

Ainda ontem escapou quando estava examinando a "Princesa" a holandesa premiada do pecuarista. Em meio ao exame, ele se aproximou por trás, apesar de não encostar, estava desconfortavelmente próximo. Não respeitou seu espaço pessoal e ficava dando aqueles olhares sugestivos, juntando isso com aquele papinho de que está carente, de como sua mulher não cuidava dele como precisava. Oh, Deus, muito clichê. Ela respondeu sorrindo que eles deveriam fazer terapia de casal, mas ele não se deu por vencido e sugeriu que ela poderia ajuda-lo, só bastava pedir. Nem se dignou a responder entregou-lhe as receitas dos suplementos e foi embora louca para pôr distância entre os dois.

— Claro, no entanto precisa de um cavalheiro que possa salva-la deste dragão. — Seu amigo piscou com um sorriso sugestivo.

— Eu preciso é de um sal grosso para salvar-me deste encosto. — Melhorou seu humor.

Todos riem, despediu-se de seus amigos e foi para seu consultório para atender aos pets pela manhã e depois do almoço parte para os atendimentos nas fazendas. Passou por três delas que estavam agendadas, depois da sua visita ao haras, já eram quase dezoito horas, rumou para sua missão final, atender a "Princesa". 

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