Capítulo 12


Dhália recebeu uma ligação de Renato pedindo que comparecesse a sua fazenda para avaliar o bezerro. Sabia que era uma desculpa, queria atraí-la, para ficar enchendo o saco, xavecando, deveria ter ido antes e dito umas poucas e boas, pondo fim nesse absurdo. Suspirou batendo a testa na mesa, ultimamente ficava muito distraída.

E esqueceu-se de falar com Jonathan para ser seu guarda costa. Pensando melhor ela tinha Leon, além de ser bonito, era bem forte, tinha músculos mais delgados que Jonathan, no entanto mais alto, se mostrou muito rápido quando se conheceram e positivamente maior que o fazendeiro.

Tinha jeito com animais, atuaria não só como um escudo, seria muito mais como um auxiliar, apostava que Renato não iria tentar pôr as mãos em cima dela, com seu groomer do lado. Quanto mais pensava no assunto, mais a solução de seus problemas se tornava nítida, Leon era tudo aquilo que precisava, como não pensou nisso antes.

Deu um pulo de sua cadeira e foi procurá-lo, neste momento não estão com cliente, estava sentado em uma das poltronas da recepção, conversando e rindo com Marjore, dividindo seu bolo com ela, muito... Muito... Ela teve que engolir antes de pensar nas palavras que a envenenavam, muito próximos.

A visão dele rindo com sua recepcionista é o suficiente, para desejar explodir a moça, deveria manda-la embora.

Que pensamento estranho! Dhália má.

Passa a mão no rosto, que espécie de pessoa seria se atacasse a menina sem provocação.

Meu Deus! Devo estar possuída, só pode.

Pois nem de seu ex-noivo se sentiu a beira de fazer escândalo, dele sentiu mágoa pela traição, mas agora estava sendo cozida em fogo lento, pelo monstro dos olhos verdes. Respira pausadamente, organizando seus pensamentos, acalmando-se e abriu um sorriso para os dois. Eles formam um belo casal, ele quase loiro e ela uma morena café, teriam filhos lindos. Uma dor aguda se formou em seu peito. Teve que parar, mal conseguiu respirar pelo próximo minuto.

Isso não acontecerá ele é meu.

Que espécie de pensamento maluco é esse? Não, ele é meu.

Deve ter transparecido em seu rosto, pois a próxima pergunta à fez encolher.

— Amiga, está bem? De repente ficou pálida. — Marjore se apressa em buscar um copo d'água, Leon se aproxima para segurá-la.

— Estou bem. — Ergueu uma mão para pará-los, limpou a garganta. — Recebi uma ligação, temos que sair, vem comigo Leon?

— É claro, aonde vamos? — Ela não parecia muito bem.

—Vamos fazer uma visita de campo, na fazenda do senhor Fontennele, rotina de exames, pegue meu equipamento e leve para a caminhonete.

****

O silêncio se estende por boa parte da viagem, Dhália não consegue entender seu ataque de proteção por ele, por que não teve ciúme, jamais, não por ele ou por ninguém, só está tentando protegê-lo é isso. Por que ele não tem traquejo social, é muito tímido para encarar todas aquelas harpias. Não, como sua amiga, oh, sim excelente explicação, iria ajudá-lo a encontrar a namorada certa.

Mas Marjore não é uma boa moça? Bonita, solteira, trabalhadora e estudiosa? Nunca teve uma palavra ruim sobre ela. Em toda em sua vida, foi considerada por muitos, como uma menina de ouro. Leal, sincera e prestativa, é muita qualidade para uma única mulher. Droga, ela é perfeita e isso a deixou de mau humor, seria desleal falar mal dela, nunca desceria tão baixo.

Leon procura entender por que estava brava, tenta se lembrar de ter feito algo de errado, para provocar seu silêncio, acessa suas memórias, corre todos os cenários possíveis. Bom, fez tudo que lhe pediu, cuidou dos animais, teve aquela conversa com Lancelot, mas não tem como ela saber o que falaram e estava conversando com Marjore... Dividiu seu bolo com ela... E...

Claro como o dia. Ela ficou chateada porque dividiu seu lanche com a recepcionista, no próximo lanche dividiria sua refeição com ela. Pronto, problema resolvido, tudo ficaria bem.

— Está brava comigo? — Resolveu testar as águas.

— Não é com você, desculpe-me. O proprietário da fazenda me deixa nervosa. — Mentira.

— Por quê? — Esse fazendeiro fez alguma coisa.

— Não deveria falar sobre isso, mas você é um cara legal, por isso vou explicar, mas não pode repetir para ninguém. Certo?

Como se tivesse alguém para contar.

— Certo.

— Esse Renato é um idiota, no entanto tenho que trabalhar, isso inclui trabalhar para um. Então você está indo para que ele não tenha ideias a meu respeito, portanto fique perto de mim.

— Ideias? Ele está te assediando? Está se referindo a algo tipo guarda-costas? — Ela está com problemas?

— Sim, mais ou menos, só não o ameace, pois precisamos do seu próximo cheque.

Leon fechou o punho em frustração, não poderia bater até que virasse uma polpa, pelo menos não hoje, talvez pudesse matá-lo amanhã.

— Entendi, devo te proteger, mas não posso ameaçá-lo.

— Isso mesmo.

— Costuma ter problemas com os outros fazendeiros? — Ele fez o possível para não rosnar a pergunta.

— Não, é o único que me dá trabalho, meus outros clientes só se preocupam com seus animais e com suas fazendas ou famílias. — Isso é certo, pois o animal do seu ex não conta, só por que lhe deu náuseas, não significa que irá contar sobre ele, certo?

— Conte-me sua história, como veio morar nesta cidade?

Dhália sufoca a dor em responder, tanto para ficar calada.

— Eu... Eu... — Não estava preparada para responder à pergunta, porra e muito menos para mentir. — Cansei da capital, estava noiva de um cara que me traiu, para não ter mais notícias vim para o interior, mas não estou triste pelo fim do relacionamento. — Fala apressada, talvez não note.

— Não? – Olhou-a arqueando a sobrancelha.

— Sim... Quero dizer... Não. Oh, diabos. — Confusa por sua declaração, suspirou pensando melhor. — Nosso relacionamento não ia bem, senão não teria me traído, apesar de não amá-lo, acho que só, não queria que o fim fosse daquele jeito, deveria ter terminado comigo, iriamos cancelar o casamento, mas ele queria ficar comigo e com outra pessoa, me senti muito humilhada por isso, sei que não é racional, pois deveria ficar feliz que tivesse acontecido antes de nos casarmos, mas... — Ela está envergonhada de sua declaração.

— Mas...

— Mas passamos muito tempo planejando a vida perfeita, tínhamos um plano, casar, montar uma clínica e depois um ou dois filhinhos, vidinha de comercial de margarina. Resumo uma vida feliz.

Agora Leon já sabia a quem deveria matar, por feri-la tão profundamente.

— Eu o peguei com minha melhor amiga na cama.

— Você os matou? — Ela não teve uma amiga que a valorizasse, teria que matá-la também.

— É claro que não, está maluco? Isso é passado e não vamos mais falar daquele a quem não pode ser nomeado. — Ela riu, mas isso não mascarou a dor de ser apunhalada pelas costas de forma tão vergonhosa.

Pedido anotado, matar o macho, sua prostituta e nunca mais falar do assunto. Ah! E matar o fazendeiro no processo.

Dhália relaxa, parece que ele compreendeu como foi dura a traição, nenhuma defesa ou achismo, talvez saiba como é ser traído.

— Saiba que se estivesse comprometido, com uma mulher como você, nunca a machucaria. Me esforçaria para provar todos os dias, como sou agradecido por ter alguém ao meu lado, saberia que é especial, que merece ser adorada e mimada.

Sinceridade brilhou em seus olhos, Dhália voltou sua atenção à estrada, são olhares assim que a fizeram fraquejar da última vez. Foi assim que foi enganada anteriormente, com galanteio, gostou do rumo da conversa, seu ego mais do que feliz de ser massageado. No entanto fez uma promessa a si mesma, por mais que seja lindo ou fofo, não iria vacilar, tem que encontrar algo para odiá-lo e colocá-lo no posto de canalha onde todos os homens pertencem.

— Isso é muito doce. Diga-me Leon tem uma namorada lhe esperando, em algum lugar?

— Não. — Graças a Deus, estava aliviada, embora não devesse estar.

— E sua família?

— Não tenho família, não conheci minha mãe e meu pai morreu há algum tempo, não tenho irmãos e não conheci a família do meu pai. — Bem próximo da verdade, seu pai morreu no dia em que ganhou a liberdade, mas esse não é um tema que falaria hoje, talvez Lancelot tivesse razão, teria que convencê-la, não do jeito canino, embora tivesse um bom apelo.

— Isso é triste, não sei o que faria sem minha família. — Ela cintila compaixão, o mesmo que dispensa a seus pacientes, isso não está indo bem, deseja que ela se aqueça por ele como nos filmes e não o veja como um cachorrinho abandonado.

— Se é... Mas não é uma coisa que quero falar. Olhe acho que chegamos.

Realmente estavam na entrada da fazenda "Oito de Copas", como avisou, chato, agora que estava contando algo pessoal, cara frustrante. 

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