Capítulo 9
Mesmo que haja um mar de tristeza no meu peito e meu corpo esteja cansado, não consigo dormir. É quase seis da manhã e faz menos de uma hora que chegamos. Tobiah e Rael cuidaram da segurança enquanto eu e as meninas nos reunimos no mesmo quarto, claro, Isadora não deixou de perceber o clima entre a pequena Bragantino e eu.
Óbvio.
Ela fingiu que isso não a incomodou, mas sei que sim. Ela odeia não participar dos momentos.
Abro a porta do quarto com o máximo de cuidado para não acordar nenhuma das duas, eu realmente deveria tentar dormir, mas ficar na cama só está piorando minha miséria. Felizmente, meu antigo quarto no andar de cima foi finalmente reformado durante o tempo que estive na França com José e teve a parte elétrica reforçada, com um sistema de segurança que identifica quando um incêndio está começando na afiação. Não que a última vez tenha sido um acidente.
Sem chamar atenção, desço os degraus até o primeiro andar e vou ao meu antigo quarto. Eu prefiro ele agora. É muito melhor, principalmente pelas lembranças minhas com Zé. Engato a mão na maçaneta e a giro, espiando sob o ombro para ter certeza que estou realmente só. Evitei diálogos longos durante a noite, porém, sei que agora que Zé está fora de perigo e minha mãe acordou, será impossível adiar alguns confrontos.
Ivan ainda é um nome que precisa ser discutido.
E então tem o diário e o resto.
Ah, claro. Tália foi internada novamente.
Como o mundo pode ruir em tão pouco tempo? Até posso contar nos dedos meus últimos dias de paz. Um suspiro longo me escapa e eu olho para o espelho colado a parede, meu aspecto não está muito melhor desde a última vez que verifiquei, inferno, talvez esteja pior devido às olheiras roxas embaixo dos meus olhos. A camisola que usa é cinza e deixa minha aparência mais velha, como se eu tivesse percorrido cinco anos em uma noite.
A coberta da cama é de linho e esquenta a pele da minha coxa assim que pressiono meu corpo contra o colchão, a percepção é tão rápida que aumento a fricção de propósito, sentindo o arrepio surgir nas pontas dos meus pés até a nuca. A rápida sensação é conhecida e me desperta uma vontade de sorrir, mas também de chorar. Parte de mim, sabe que precisarei escolher entre o amor da minha vida e a mulher que me deu a vida.
Eu vou morrer por dentro independente do fim.
Estou quase fechando os olhos quando batidas na porta me fazem saltar da cama.
Respire.
Meu cérebro envia a mensagem.
— Nora? —A voz sussurra do outro lado. Uma voz jovem e baixa.
— Abra a porta. — Uma segunda voz exige.
Isadora.
Como elas me acharam? Ambas estavam dormindo quando deixei o quarto.
— Rápido.—Isa rosna e eu faço.
— O quê? — Elas entram e antes que eu tenha chance, Tilly empurra a porta e a fecha.
A expressão de Isadora é ilegível.
Eu caminho até o outro lado do quarto, aumentando o espaço entre nós. As duas estão sentadas na cama, a caçula Bragantino mais na ponta.
— Então? —Ergo a sobrancelha esquerda, olhando entre elas.
Esperando.
— Tilly já me contou sobre o apartamento que Ariel mantinha na França, ela também disse que te enviou lá.
— Notícia antiga. — Desvio o olhar para a loira, não evitando que meu nariz enrugue.
— Sim, o ponto não é esse. Nosso tempo está diminuindo, preciso que compartilhe o que ia falar na reunião agora. — Abro a boca, pronta para falar que nosso inimigo era o amante de Ari e jogar todas as minhas teorias nela para deixá-la lidar com isso e ter algum tempo de paz, mas paro antes que a primeira palavra deixe minha boca. Meu olhar seguindo até Tilly.
— Nem pense nisso. — Ela sibila, apertando os olhos azuis em mim.
— Minha experiência diz que você deve sair e ficar longe de todas nós. Agora!
— Bem, eu não vou. — A pirralha responde, de repente se achando muito importante com sua postura aristocrata, nariz pontudo e tom calmo.
Idiota.
Meus ombros caem.
Eu estou realmente cansada para discutir com ela agora.
— Você não sabe o que está dizendo. — Argumento, optando por manter o tom neutro.
— Apenas deixe-me tomar a decisão.
— Cristo, você viu aqueles homens, não viu? Eles vieram dar um recado, Tilly! — Grito, esgotada.
— Ela sabe. —Isadora intervém, levantando da cama e ficando no meio do quarto.
Uma gargalhada me escapa.
— Jura?
— Vamos contar para ela, desde o início. — Isa diz, sua voz pontual e precisa enquanto uma sensação ruim invade meu peito.
Ela não está falando sério.
— Não é como se vocês tivessem escolha, eu sei mais do que deveria para o meu próprio bem.
— Certo, agora eu sei que tem um cérebro. — Expiro e ela me mostra o dedo do meio.
Muito maduro.
Retiro o que disse.
— Olha, eu não quero ter essa conversa hoje. — Suspiro, por a verdade ser que não serei útil até voltar aquele hospital e conferir as duas pessoas mais importantes pra mim.
— Não temos tempo.
— O que tem no diário? — Tilly questiona, surpreendendo tanto a mim quando Isadora com a pergunta inesperada. Eu me viro para ela, tendo a certeza que sou a única coisa na sua linha de visão e nego com a cabeça.
— Não.
A pequena petulante resmunga.
— Isso também é sobre mim. — Resmunga.
— Não, isso não é nada sobre você. — Tenho minhas unhas empurrando contra minha pele, a sirene de alerta gritando na minha cabeça.
— Ela tem razão, Nora.
— Ela não tem. — Ralho de volta.
Todos perderam o juízo hoje? Dou um olhar severo para Isadora.
— Sim? Então me diga por quê eles não iriam atrás da irmã caçula da garota que eles mataram? A garota que sabia dos segredos e provavelmente anotou tudo em um caderno. O mesmo diário que Tilly herdou.
— Eu não estou com o diário. — A loira responde da cama, a voz um fio. Certo, agora ela está com medo?
Minha cabeça dói.
— Você está certa.— Falo, não acreditando nas minhas próprias palavras. — Eu não quero mais segredos.
Apenas um.
Para sempre.
Eu nivelo o olhar com a segunda mais velha no quarto. Se é para esclarecer todos os pontos cegos, temos um longo caminho.
— Eu lembro daquela noite diariamente. — Revelo e conto tudo,detalhe por detalhe, desde o momento que cheguei no show e as encontrei meio "alegres" até o atropelamento.
— É pior do que a fanfic que criei na minha cabeça. —Tilly sussurra e dou-lhe olhar irritado.
—Não é a hora para piadas.
— Isso não foi uma piada.
— Você está com medo? — Isa pergunta, adotando sua expressão favorita de cadela fria. — Agra que você sabe do que somos capazes. — ela acrescenta e sinto vontade de revirar os olhos, porque ela está fazendo parecer que somos assassinas profissionais.
— Aquilo foi um acidente, um episódio único que já teve repercussões demais. — falo.
As duas garotas me olham.
Isadora aperta os lábios até formarem uma linha fina.
— Você descobriu uma informação nova.
Passa a mão pelo meu rosto, me sentindo mais cansada do que com medo.
— Bem, não tão nova assim. Apenas alguns anos atrasada,mas isso é nossa culpa.
— Seja mais clara. — Isa comanda, assumindo sua personalidade autoritária.Penso se devo mantê-la no escuro só para ensiná-la uma lição, mas considerando o quão mastigado meu cérebro se sente, melhor deixar que ela comande nossos próximos passos.
— O cara que atropelamos pertence a uma família mafiosa poderosa e nossa amiga pode ou não conhecer os pais dele.
— Talia?
Confirmo.
— Precisamos falar com ela.
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