Capítulo 23

— O que estão fazendo? — eu rosno quando um dos homens tampa meus olhos com uma venda escura, retirando não só minha visão, mas o restinho de poder que eu continha. — Solte-me! — balanço meu corpo contra o do que mantém presa, desejando colocar minhas mãos nos cretinos.

— Quieta! — um deles grita e logo depois sou empurrada para frente, batendo meus pés um no outro quando erro um passo e quase desabo no chão.

O barulho do trinco faz os pelos dos meus braços e nuca e se arrepiarem, então sou novamente empurrada para frente e ouço uma porta bater.

— Eu posso pagar pela ajuda. — falo, não segurando as lágrimas. — Tenho dinheiro, posso pagar o dobro. — murmuro.

Silêncio.

Escovo as mãos suadas nas laterais da minha calça.

— Estão me ouvindo? Posso cobrir qualquer valor que estão recebendo. — mais silêncio.

Um minuto depois, retiro a venda dos olhos e descubro que estou sozinha. Cretinos.

Amarro meu cabelo no alto da cabeça, o prendendo firme com uma mecha larga e limpando a água salgada do meu rosto com o dorso da minha mão direita, apoio minhas costas na parede, deslizando até tocar o chão, trazendo os joelhos até a altura dos meus peitos.

— Será que você está viva? — Batidas na porta me despertam e pulo no lugar, assustada, acordando de algum lugar na minha cabeça para uma realidade esmagadora. As imagens se ligam como em um filme e cena de T, Igor, Tobiah, quero dizer, Nikolai e sua filha aparecem como a pintada de drama e terror. Estou em um quarto escura, sem nenhuma janela e com  paredes descascando. — Nora!

— Ela não está respondendo. — uma voz feminina diz e só então me atrevo abrir os olhos, eu não tinha percebido que adormeci.

— Isso é óbvio. — o homem diz, mas não qualquer um, agora que estou de pé e com o ouvido grudado na porta sei que é meu ex segurança.

— O que está fazendo aqui? — a desconfiança é o primeiro sentimento que me invade. — Talia está junto? — inquiro, embora eu tenha ouvido a voz dela, não tenho certeza se é por livre e espontânea vontade ou se está sendo coagida.

— Eu vou abrir. — Fala e não tenho um segundo antes que a porta se abra e T pula em cima de mim. Nós duas começamos a chorar em seguida, sem dizer uma palavra, apenas apoiando a mão nas costas da outra.

Do lado de fora, Tobiah nos observa com um olhar estranho, apertando as duas sobrancelhas juntas em uma expressão vazia.

— O que essa está fazendo aqui!? — exijo sua atenção, observando seus olhos deixarem o cabelo de Talia para encarar o meu olhar furioso. — Traidor! — empurro T para o lado e avanço em cima dele.

— Quem? — T pergunta e percebo que estou gritando.

Foda-se.

Minha pulsação está acelerada, meus punhos fechados.

Controle-se, Nora.

1, 2, 3, ...

Argh!

— Você quer conversar, sério? — Tobiah coça o queixo, dando o último passo que faltava pra dentro e batendo a porta fechada. — Agora? — ele não parece levar a sério meu tom de voz ou olhar, estudando a pequena sala que estive presa na última hora.

— Eu quero que você diga o porquê mentiu para mim.— meu tom não é compreensivo, eu já lhe dei minha sentença e o placar não tá bom pra ele.

— Tenho minhas razões.

—Por favor, explique. — pontuo, irritada que ele pareça tão calmo com a situação.

— É até mesmo ingênuo da sua parte acreditar que eu te deixaria sozinha. — existe selvageria no brilho de suas íris e fala, a mesma fome pela justiça que está nas minhas e isso me anima, leva embora meu mau humor. Quase.

— Você tem uma filha.— acuso.

— Qual o plano? — T sussurra, inclinada contra meu ombro.

— Eu não sei. — Murmuro tão baixo quanto ela, já forjando um sorriso no meu rosto para tranquilizá-la, porque não sei o quão difícil foi para ela tempo que ficou nesse lugar, lidando com Igor sozinha.

— Nora. — ela chama. Aumento meu sorriso. — Estamos bem. — murmuro, puxando-a para um abraço.

— Vou explicar tudo para vocês depois, agora precisamos de um plano. — Aumento meu aperto em T, sabendo que estou quase sufocando-a. Ela tenta fugir, mas a prendo com força.

— O quê?! — Talia grita. — Você não tem mesmo um plano e armas?

Eu pisco e tusso.

— Não tem problema. — Respondo um segundo depois, quando finalmente a solto e nada parece mais forçado que o meu sorriso motivador.

—É claro que tem problema!  Tem um milhão deles.

Os olhos de Tobiah me sondam interrogativos enquanto as palavras saem da boca de Talia, provavelmente, esperando alguma reação negativa. Bom, não dessa vez, apesar de que isso está indo para minha lista.

— E sua filha? — Não o pergunto se isso será um problema, mas ele entende de qualquer forma. Talia aperta meu braço tentando dizer algo, mas mantenho minha guerra particular com meu ex segurança.

— Ela está segura. 

 Com quem? Quero perguntar, mas tenho certeza que ele não falará, então aceno com a cabeça e indico a porta.


Oh, isso pode ser feio.

— Como saber se posso confiar em você? Da últiva vez que chequei, você era o irmão do nosso algoz e não fez nada para impedir que ele me trancasse nesse lugar!

— Ele me salvou. — Talia murmura ao meu lado, dou-lhe um olhar sobre o ombro e capturo o hematoma e ferimento no canto da sua boca.

— Foi ele quem te colocou aqui. — retruco.

T se repete, enquanto vigia a porta.

— Sim, ele também é nosso único caminho para fora daqui, não sei se você reparou,mas estamos com os dias contados.—  elagira o dedo em um lembrete de onde estamos e franzo o cenho.

— Isso é perda de tempo. — resmungo, minha cabeça começando a latejar.

— Concordo, não temos tempo pra ficar choramigando e apontando culpados,até porque minha vida estava ótima antes da sua amiguinha entrar nela. — levo mais que trinta segundos para entender de quem fala, ele percebe e revira os olhos. — Além disso, nunca colocaria em risco a vida da minha filha, mas você pode acreditar em mim ou não.

— Nós vamos com você. — é T quem responde, engatando a mão na minha.

Tomo um longo suspiro.

— Vamos lá, eu só tenho seis horas de atraso. — fala.

Seis? Eu dormi por seis horas seguidas?

— Tudo bem. — decido por fim. 

Tobiah puxa uma pistola da parte de trás da calça e entrega para Talia, surpreendentemente, ela parece confortável com isso. Ele puxa outra e estende para mim.

Nego com a cabeça.

— Você vai precisar. — insiste.

Santo pai.

— E você? — um sorriso se estende pelo seu rosto e ele levanta a jaqueta de couro que usa, uma terceira pistola, alguns centímetros mais longa do que as que entregou a T e a mim, prateada e com partes de madeira no cabo, surge.

Pego a arma que me oferece com incerteza.

— Relaxa, é só mirar e atirar. Treine a respiração e lembre-se de destravar. — Talia bate em meu ombro e passa por mim.

— Não. — Tobiah protesta, puxando-a pelo braço antes que abra a porta e alcance o corredor.— Eu faço isso. — diz.

— Eu venho de uma família de mafiosos, cresci entre monstros, aprendi a usar uma arma aos oito anos.— ela fala com uma expressão entediada. Tobiah a encara como se ela fosse uma criança mimada fazendo birra, então a empurra para o lado e passa por ela.

— Espere, você prefere que Nikolai ou Tobiah?—pergunto, encarando as costas do meu segurança com muitas dúvidas. Eu não sei se deveria continuar confiando nele, mas me sentindo estranha por contiunar chamando ele pelo sue nome falso.

Ela para na porta, arma em punho e inclina a cabeça sobre o ombro para me olhar. 

— Nikolai. 

— Fique atrás de mim.— Talia fala e me pergunto de onde vem tanta coragem.

Talia chama pelo meu nome e balanço a cabeça.

— Geralmente esse é o horário de troca dos guardas. T volta a chamar pelo meu nome, olhando para todos os lados enquanto avançamos rumo a única saída do local. Ao que parece o quarto onde eu estava, fica em uma área isolada dos demais e só existem mais dois quartos aqui.

— Você ficava aqui? — aponto para o quarto ao lado do meu, Talia troca um olhar com Tobiah e nega com a cabeça. — Quer falar sobre isso?

— Não é o momento, Nora.

Uma sensação ruim se apodera do meu peito. Um homem aparece e não reconheço como um dos caras que vi quando cheguei, então concluo que ele não estava lá. Ele nos encara em silêncio, se demorando no meu ex segurança que aproveita a falta de ação do sujeito para lhe golpear no rosto, mas antes que ele consiga o homem desvia e bate com o punho em seu estômago, segundos depois ambos estão trocando socos. Meu ex segurança consegue ficar por cima, ganhando vantagem na posição, ele distribui socos no rosto do homem e ele apaga.

— Eu pensei que você teria uma chave ou livre acesso. — falo.

Nikolai dá de ombros.

Ele limpa o sangue do nariz com as costas da mão esquerda, olha incrédulo para o líquido escarlate que pinga no chão e em sua camisa e depois para mim.

Estudo nossas opções de fuga, tendo a porta de saída como única opção. Arrisco mais um passo, seus olhos captam o movimento e ele me envia um olhar aguçado.

— Vamos.— diz.

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