Capítulo 22


Traição.

Eu me sinto tão traída agora que mal observo o desenrolar da cena na minha frente, só percebo que estou sendo arrastada, quando a voz de uma garotinha se transforma em choro.

— Filha? Você tem uma filha?

Agora mesmo estou imaginando um milhão de coisas, minha boca está seca, azeda e vou ignorar a dor latejante na minha nuca. Nesse momento estou esquecendo tudo o que prometemos no carro, porque ele mentiu, novamente.

— Yelena. — Eu consigo ler em seus lábios, os gritos da menininha ficando cada vez mais alto. El não deve ter mais de quatro ou cinco anos, talvez até menos. Três? É uma possibilidade. Empurrando meu corpo para longe do meu agressor, eu tento chegar até Tobiah, melhor, Nikolai.

As mãos dele envolvem o tronco da garotinha, tirando-a do chão direto para seus braços, envolvendo-a em um abraço protetor.

Eu gritar, exigir uma explicação e descobrir se ele vai me deixar aqui com T ou nos salvar como prometeu.

—Obrigado por trazê-la, irmão. — Igor fala, os olhos presos aos meus.

— Onde está minha amiga? — eu rosno, não diretamente para alguém, mas qualquer um. — Onde está T? — grito, percebendo que não receberei nenhuma ajuda. Meu olhar desvia para a direção de Tobiah, voltando a sentir a sensação ruim no peito quando vejo a menininha.

— Hmmmm... essa é um pouco mais nervosinha que a outra. — debocha, revelando os dentes alinhados e meio amarelados. Minhas mãos fecham em punhos.

— Eu sou bem mais que nervosinha. — o desafio paira no ar, ele sorri e pisca, assoviando quando o seu capanga sai de um corredor escuro com T vendada.

— O que fez com ela? — o horror é visível na minha voz. Eu vasculho seu rosto e corpo atrás de algum ferimento, encontrando arranhões e sangue no seu lábio. — Talia?

Dou um pascertorto na sua direção.

Ela pula no lugar assim que ouve minha voz.

— Talia?

Ela começa a chorar e soluçar.

— Nora?

Somos as duas chorando agora. Dou um olhar afiado para Igor e desejo sua morte.

— Sim, estou aqui.

Mais soluços.

Limpo a garganta, dando mais um passo na direção dela. 

Mãos me pegam.

— Me solta, seu bandido! — grito, esperneio e tento chutar o homem de todas as formas possíveis. — Deixe-nos ir. — volta a rosnar.

— Eu sinto muito. — T dispara, parecendo tão quebrada que isso me quebra também. É minha culpa ela está aqui, Tobiah era o meu segurança e fui eu quem não quis ver os fatos. —Sinto muito.

— N-Não... não precisa se desculpar.

— Foi minha culpa.

— Não diga isso! — falo, odiando que todos esses bandidos estejam presenciando esse momento. Ela não parece bem. Algo está muito, muito, MUITO errado. —Eles fizeram algo com você? — sondo, arqueando uma sobrancelha na direção do meu ex segurança.

— Nora, eu nunca deveria ter permitido que vocês chegassem tão perto. Minha família não é boa, nós temos muitos inimigos. Eu não sabia sobre Ari e Mikhail até que fosse tarde demais. Eu sinto muito, sinto muito.

— Papai — Yelena fala, pronunciando a palavra como um apelo. — A princesa, papai. — diz, então noto que está apontando para T enquanto enxuga as lágrimas com a mão livre.

Tobiah não fala nada, porém esconde o rosto da filha e a aperta contra o peito, murmurando qualquer coisa no seu ouvido. A menina também diz algo e os olhos dele se ampliam, a mandíbula apertando em uma carranca quando seu olhar segura o rosto de Talia.

—Leve-a — ordena para o mesmo homem que nos cumprimentou na entrada, Alec. Ele parece mal-humorado e acompanha os movimentos de Igor como uma corsa. O sujeito pega Yelena nos braços e informa que cuidará dela, Tobiah e ele dividem um momento de silêncio.

Esses dois cheiram a enigmas e hoje não é um bom dia para enigmas.

—Somos inocentes. — Resolvo tomar a dianteira, virando meu pescoço o máximo possível para encarar Igor e fazê-lo saber que estou sendo sincera.

Meu maxilar aperta.

— Todos são.— seu rosto torce em uma careta de aversão e a ruga entre suas sobrancelhas aumenta, ficando mais profunda. — Até que eu provo o contrário.

— E-Ele é irmão...irmão daquele homem, Nora. — ela chora compulsivamente, tendo de ser amparada pelo maldito que a mantém presa. —Tobiah que me trouxe aqui, ele também o conhecia.

Sim, esse traidor!

Eles também eram irmãos. Ela quer dizer, mas por alguma razão não fala.

— Eu não quero estragar a conversa, mas falarei com ambas mais tarde. — Igor diz e aguardo que diga mais alguma coisa, que meu segurança intervenha e fale em nossa defesa. Quando seus pés começam a se mexerem na minha direção, o sangue bombeia mais rápido pelas minhas veias. Eu olho para Tobiah, ainda parado no lugar. 

 — Você está com medo? — Igor pergunta. Eu  continuo em silêncio, ele suspira, parando na metade do caminho e vasculhando a jaqueta, tirando uma carteira de cigarro de um bolso invisível na parte interna.

— Sabe, garota. Eu ouvi muito de você.

Mesmo?

— Todas vocês, na verdade. —Ele divide a atenção entre mim e T, voltando a caminhar.

—cho que você não ouviu as melhores coisas, considerando que nos julga culpadas sem a chance defesa. — murmuro. Apoiando a mão esquerda na barriga, ele sopra a fumaça quando está perto o bastante do meu rosto.

Bastardo.

Eu tusso, me engasgando com a fumaça.

— Vocês estão aqui por ela também. — revela, o rosto quadrado mais perto e fácil de analisar.

— Você pode me contar, o que aconteceu? — pergunto, dessa vez, usando um tom mais submisso.

Ele aperta o olhar em mim.

— Ela disse que vocês eram ardilosas, mas inofensivas. — uma pausa, então mais fumaça encontra minhas narinas. — Eu sempre soube que ela era uma mentirosa, mas eu a amava. 

Cretino.

—Cresci ouvindo coisa pior, querido. — uma versão menos brilhante de sorriso repuxa meus lábios e consigo libertar um dos meus braços em um puxão forte.— Também ouvi sobre você.

— Meu irmão falou de mim? — certo, agora eu vou blefar. Muito.

— Não, Ariel. Um pouco antes de morrer, ela confidenciou que estava traindo Guto com um homem. — mentira. As palavras simplesmente pulam da minha boca.

A tensão se apodera do lugar, seu semblante mascarando a curiosidade que tenta esconder.

— Mas ela estava cansando desse cara. — digo pausadamente, fazendo questão de ter certeza que todos possam ouvir. A postura dele ainda é indiferente, ombros eretos e tudo. — Ari não era alguém que aceitava viver no escuro, você sabe.

— Por favor, continue. — É Tobiah quem diz, eu quase esqueci que ele ainda estava aqui, existe curiosidade em seu tom e com o canto dos olhos percebo que está atento em mim.

— Nora? — A voz de T surge no fundo, um olhar e noto que sua venda foi tirada.

— Ela disse que estava planejando algo grande, mas tinha que agir rápido. —Me limito a dizer, não pensando em nada melhor.

— Que porra isso significa?! — Igor ruge, apertando meu ombro.

— Deixe ela ir e conto tudo. — dou um sorriso satisfeito, confiante que ganhei sua mente, ele mesmo disse que estamos aqui por Ari também, então vou dar-lhe exatamente o que quer. Mesmo que eu tenha que criar uma história para isso.

— Eu acho... — pausa, causando certa aflição em mim.— Que vocês devem esperar pela nossa última convidada em suas acomodações. Prometo que vocês vão gostar dela. Então, todos nós podemos conversar sobre a linda cobra traiçoeira que era Ariel Bragantino.

O quê?

Sou arrastada pelo mesmo homem que me segurava sem o direito de rebater, vejo acontecer o mesmo com Talia. Meus olhos buscam por Tobiah, a promessa de que não nos deixaria pesando sobre sua cabeça.

— Você prometeu! — grito.

Uma gargalhada, então meu cabelo é puxado para baixo, os dedos ásperos tocando meu couro cabeludo.

— Meu irmão não é ótimo em cumprir promessas, querida. 

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