Capítulo 19


Aquela festa foi um fiasco gigantesco.

Para os Bragantinos, não pra mim, claro.

Aperto o livro contra meu peito com mais força, não resistindo e abrindo na página marcada mais uma vez. Minha intuição diz que a resposta não pode ser tão óbvia, porém as letras circuladas passam uma mensagem clara.

Ela está gravida.

Eu sei de quem ela está falando, contudo, resolvi não debater com Isa quando ela levantou a hipótese da mulher grávida ser a própria Ari.

Mas por que escrever sobre a gravidez da amante do pai em seu livro favorito? Melhor, circular letras aleatórias e esperar que alguém seja esperto o suficiente para juntar tudo. Que diabos era você, Ariel? 

 Estou me preparando para dormir, quando meu celular toca, revelando o nome de Isadora.

Eu clico na mensagem e meus olhos quase pulam para fora.

Elena morreu. Elena era amante do pai de Tilly.

Duas mensagens separadas, uma enviada minutos antes que deixei a festa e a segunda, agora.

Morta.

MORTA.

Alguém morreu. Novamente.

A porta do meu quarto é aberta e meus olhos encontram os de Tobiah com incerteza, as pontas dos meus dedos continuam formigando pela maneira que seguro o celular.

—O que aconteceu? — inquiro, pegando um vislumbre da sua pistola presa na calça. Ele está de cabeça baixa e o cabelo que mantém um corte padrão, parece mais curto, como se ele tivesse acabado de cortar. A blusa tem cinco botões abertos e mesmo com pouca iluminação, posso contar três tatuagens. Meu cérebro analisa a cena e meu estômago embrulha. Uma avaliação rápida me diz que tem algo muito errado acontecendo. — Tobiah?

— Eu menti para você, Nora. — O homem diz em tom baixo, olhando diretamente para mim. Pisco uma, duas, três vezes até processar suas palavras.

— Como?

— Eu não sou quem digo ser, sinto muito. Sinto muito. — O homem diz, repetindo uma e outra vez que lamenta por mentir. 

Mas mentido sobre o quê?Ele não está fazendo sentido e vai abrir um buraco no meu quarto se não parar de andar de um lado para o outro.

— Levante a cabeça e olhe dentro dos meus olhos para responder. Você não está fazendo sentido! — Exijo, sentindo uma enorme vontade de envolver meu corpo com os braços.

— Meu nome não é Tobiah.— ele murmura e meu corpo enrijece, um momento depois seu corpo está próximo ao meu o suficiente para um toque.

— O quê? — treme.

— Eu disse que meu nome não é Tobiah, bem, não o verdadeiro. — Ele tenta tocar meu rosto, mas ganha um olhar como aviso.

— Tente tocar em mim e você se arrependerá de ter nascido.

Um sorriso arrogante nasce na sua boca.

— Tem certeza? — provoca, o hálito quente soprando contra minha pele.

— Eu não arriscaria se fosse você. — Falo, apertando o pequeno crucifixo dourado que mantenho no meu pescoço. Ele me dá um olhar de desafio, descendo os olhos pelo meu corpo, se dando conta do que estou usando. Mesmo que todo o local esteja fechado, uma corrente fria consegue passar e agita os cabelos da minha nuca.

— Estou tentado. — Diz, ao mesmo tempo que bato o dedo indicador contra seu peito.

— Saia do meu quarto. — meio que rosno, apertando os dentes um no outro.

— Preciso te contar toda a verdade. — declara, o rosto adquirindo mais intensidade e dor.

Entro em seu caminho.

— Acho que você não entendeu, eu disse para sair. Não quero ouvir nada. — eu realmente não gosto da maneira como ele está me olhando agora.

— Lembra da história que te contei sobre Ivan? — indaga e não tenho certeza sobre isso. — Você lembra, Nora? — eu não penso muito, apenas maneio a cabeça em afirmação e dou um passo para longe dele.

— Quando te falei que conheci Ivan na infância, não era verdade. Eu o conheci na adolescência.

— Vocês não são amigos, são? — Sou mais ríspida no meu tom, sentindo o golpe chegando.

— Não. — Sussurra e posso afirmar que há um choro reprimido em seu peito.

— Quem é você?

A expressão no rosto do homem se transforma.

— Deixe-me acabar de falar, prometo explicar tudo.— Pede, respeitando meu espaço quando dou mais três passos para longe.

— Ah, você ainda não entendeu? — Modifico minha voz, adotando um timbre mais sombrio e nasalado. — Isso é uma ordem.— porque eu não posso mais confiar nele.

— Ele era meu irmão. — confessa em tom de segredo, mirando o chão.

— V-Você não está falando sério. — gaguejo, meus pés se agitando quando ele ameaça vir até mim e começo andar de um lado para o outro sem parar. — Não pode ser. Você falou... falou que eram amigos.

Busco seu rosto e me surpreendo ao encontrar vulnerabilidade e arrependimento gravados lá.

— Você mentiu para mim! — Rosno.

— Não era para ser assim.

— Não acredito em você! — Vocifero, mostrando os dentes como um animal pronto para o ataque.

Ele bufa, liberando uma risada amarga.

— E por qual motivo eu mentiria? O que tenho a ganhar criando uma história como essa além do seu ódio?

— Eu não entendo — murmuro.

Cansada.

— Sou o irmão mais novo de Ivan que te falei, Nora. Eu o conheci ainda na adolescência e fui treinado por ele, moramos juntos por muitos anos até... — Ele para, o rosto adquirindo uma tonalidade vermelha.

— Até?

Um suspiro.

Por que ele parece tão cansado?

— Até que o encontrei com minha noiva na cama, a fodendo por trás como um maldito traidor! — a raiva na sua voz é palpável, aquecendo cada partícula do meu corpo e criando mais dúvidas.

Então ele odeia Ivan?

— O que veio fazer aqui, Tobiah? — minha voz é séria, contida de qualquer emoção e posso jurar que ele capta isso.

— Me vingar. — sua declaração não causa o efeito que deveria, é quase como se eu já esperasse por isso, mas meu coração ainda parece querer correr uma maratona. 

Fecho os olhos, pensando em quantas maneiras distintas tenho de escapar quando me dou conta de nenhuma.

— De quem?

—Sua amiga, Talia Kraus. —ele enrola o punho das mangas da blusa como se a declaração não fosse nada.

— T? Por quê?

Tobiah assente, assumindo de volta sua postura de indiferença.

— Ivan está morto, Nora. A família da sua amiga o matou.

Nego com a cabeça. Ele está mentindo.

— Não, eu o vi no apartamento de Ari. Ele enviou aqueles homens para me assassinar.

— Eu contratei aqueles homens, menina. — declara. — Era a única maneira de manter você e as outras presas aqui enquanto meus homens raptavam Talia. — nego com a cabeça novamente.

— T está na reabilitação. — eu não consigo conter a primeira lágrima.

— Não, ela não está. Talia está com meu irmão. — declara e fico ainda mais confusa.

— Você acabou de falar que Ivan está morto. — Questiono apreensiva.

— Sim, mas este não é Ivan. É Igor. — Respiro aliviada e sinto o corpo relaxar, então percebo que ele acabou de citar um novo irmão e que Talia está com ele.

— O que quer? Por quê está me contando isso e o que fez com T? — Grito, agarrando uma bailarina de gesso em forma de caixa de música que comprei na França.

— Porque as coisas saíram do controle, Nora. Eu não sabia do envolvimento de Igor com Ariel até te ouvir mencionar isso para suas amigas. — ele me ouviu por trás da porta?

— Igor? Era o nome de Ivan no passaporte. — rebato.

— Eles são irmãos gêmeos, eu só descobri sobre isso depois de passar cinco anos morando com Ivan. Eles gostavam de assumir a identidade um do outro e usar isso como uma carta na manga, mas a personalidade deles sempre foi opostas, enquanto Ivan era uma borboleta social, Igor era taciturno e desconfiado.

A revelação me choca.

— Ainda não entendi o motivo de estar me contando tudo isso. — o medo de morrer se apodera de mim, cada segundo importante da minha vida passando em câmera lenta no meu cérebro.

— Eu não gosto de ferir pessoas inocentes, Nora. Quando comecei a trabalhar aqui, achei que você era tão culpada quanto as outras, mas você não é como elas.— ele para, respirando com dificuldade.

—Tobiah.

— Só fique longe dele, ok? Sujeitos como meu irmão só param quando deixam uma estrada de sangue e não quero ter de enterrar seu corpo.

— Não fizemos nada. — rebato, entregando-lhe o último fio de coragem que possuo.

 Ele avança um passo e a luz do abajur reflete o prata em sua pistola.

— Mas foi burra o suficiente para enterrar um assassino e acreditar que ninguém viria atrás de vocês! Igor se aproximou da sua amiga Ariel para descobrir mais sobre a família de Talía, ela disse que a amiga não merecia pagar pelos erros da família e descobriu provas de que Ivan trabalhava para outra família russa, Igor acreditou nela, mas eu não. De qualquer forma, nós criamos um plano e sequestramos Mikhail.— ele fala cada palavra lentamente, acabando com o espaço entre nós.

Eu abro e fecho a boca.

O homem que atropleamos.

— Foi um acidente. — argumento, não segurando mais o choro quando as imagens daquela noite surgem e deixam minha alma escura.

Os ombros caídos e o olhar distante me diz que algo está errado.

—Por quê, agora? Diga-me por que está me contando tudo isso. — Questiono.

— Demoramos para encontrar os culpados, estávamos seguindo uma pista até Igor conhecer sua amiga e perder a cabeça, ele estava apaixonada até descobrir que ela foi a responsável pela morte do nosso irmão.

Eu me sinto tão incapaz nesse momento. Todos esses meses convivendo com o inimigo e não percebi. Era tão nítido. A maneira como ele encarava Talia, torcia o rosto na menção do nome de Ari e até mesmo na presença de Isa.

—Eu não estou comprando sua conversa, Tobiah! 

— Sua amiga nos fez acreditar que o culpado pela morte do meu irmão era Mikhail,  mas não era verdade. Ela só estava protegendo outra pessoa.

— Quem?

— Um homem casado e perigoso, o pai da sua amiguinha, Alexei Kraus.

Minha visão fica turva e procuro algo para me apoiar.

— N-Não é verdade.

— Sou uma sombra, ninguém me nota.Eu observei muito.— responde misterioso.

Não o encaro, mas sei que de alguma forma o plano mudou.

— Não precisa fazer isso.

— Sim, eu preciso. É por honra fazer os culpados pagarem. — estendo meu celular e ele encara a tela sem entender.

— Eu gravei nossa conversa e se não me dizer onde T está, enviarei para a polícia.

Sou retribuída com um sorriso que reflete decepção.

— Você é tão ingênua, menina. Ninguém pode salvar sua amiga.

— Me teste.

— Vamos, envie a mensagem e veja como a única coisa importante é o dinheiro.

— A família de T tem dinheiro. — rebato de volta, odiando a máscara de indiferença que ele veste tão bem.

— E muitos inimigos.

Empurro a bola de tênis que se formou na minha garganta e o encaro de igual para igual.

— O que quer dizer?

— Tome um banho e me siga. — o imbecil ousa ordenar.

— Eu não vou a lugar algum com você!

Ao virar as costas, antes do primeiro passo,ele sorri pra mim.

— Opção sua, mas a vida da sua amiga está em suas mãos. Meu irmão acha que Ariel Bragantino era um anjo e que sua morte foi arquitetada pela família de Mikhail, então ele vai negociar com eles. Claro, isso se ele não udar de ideia e matá-la ele mesmo.

O QUÊ?!

— Você vai me levar até ela?


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