Capítulo 12

Israel está parado do lado de fora da casa quando desço do carro.

Eu não tento entender a história que ele contou pelo telefone, não, meus olhos procuram por ela. Até que ele indica a casa e diz para que eu entre, então eu apenas faço. Sentada no sofá e com a cabeça apoiada pelas mãos, parecendo tão quebrada quanto é possível.

Tenho certeza que preocupação é tudo que cobre meu rosto agora.

— Ela morreu. — Isadora declara antes que eu tenha a chance de chagar até ela. O nome que Rael citou durante a ligação deixa seus lábios em seguida. — Minha garotinha morreu.

— Sinto muito. —É tudo que consigo falar antes de puxar sua cabeça para meu colo. Tenho certeza que recebi apenas um pequeno resumo de toda a história e provavelmente deveria perguntar quem exatamente é Cristal, mas não consigo, não quando ela está tremendo e soluçando de tanto desespero. Porque Isadora Drummond não chora, pelo menos, não perante um público.—Sinto muito. — repito, porque um parte minha sabe que nenhuma palavra seria certa para esse momento, nada podia apaziguar a dor quando vovô morreu.

— Ele simplesmente não se importa! —Existe tanta raiva na sua voz que sinto pena dele, mesmo não sabendo quem seja. De canto de olho, acompanho o movimento na porta e quando Israel entra, Isadora pula do meu colo direto para seus braços.

O encaixe é íntimo, natural e não parece ser a primeira vez que acontece.

— Nós a perdemos. —Isa diz entre os soluços, enterrando a cabeça mais profundamente no peito de Rael como se precisasse disso para continuar respirando, em contrapartida, ele a aperta com possessividade contra o corpo. Quase como se quisesse se fundir a ela.

— A culpa é minha. Eu não cuidei dela como deveria. —Ele murmura um segundo depois, a expressão composta por uma tristeza esmagadora. O clima fica pesado, a dor é palpável e não leva muito para que eu me sinta uma intrusa observando a cena.

Tobiah entra e se encaixa ao meu lado. Inclinando o corpo até a altura da minha orelha, ele murmura que devemos partir.

Mas eu não quero fazer isso.

Não quero deixá-la sozinha.

— Eu nunca vou perdoá-lo! Nunca! — a situação ganha uma nova dimensão quando uma mulher baixinha, vestida com roupas simples e expressão vazia adentra a sala. Ela não dá dois passos antes de cair no chão.

O grito que deixa Isadora nunca sairá da minha mente.

— Vó! — Israel é o primeiro a correr, liberando Isadora e se ajoelhando ao lado da senhora. Ele ergue sua cabeça e a encaixa no seu colo, pedindo, exclamando, rogando que ela acorde.

Eu não me atrevo a questionar a identidade da mulher ou perguntar a quem pertence essa casa, porque definitivamente é uma história longa e não sou burra.

— Posso ajudar. — Esclareço, adiantando-me e sentando ao lado de Israel. Primeiro, eu checo o pulso da mulher, depois suas pupilas e quando tenho certeza que está respirando, peço que Israel se afaste e elevo as pernas da mulher para maior circulação de sangue. —Qual o nome dela? —Resmungo, enquanto mantenho as pernas da mulher suspensas.

— Iara. —Isadora responde.

— Tudo bem, Estou  aqui e vou ajudá-la, ok? — Continuo estimulando seu retorno com palavras e quando não tenho retorno, começo a ficar preocupada. — Iara, consegue me ouvir? — Insisto e quando estou pronta para chamar por uma ambulância, a mulher desperta e revela olhos da cor de carvão.

O suspiro de alívio vem de Israel.

Entao peço uma colher de sobremesa de açúcar e ofereço para a mulher. Ela não protesta, mas desconfio que sua mente não está ligando nenhuma ação. Ela apenas está agindo no automático.

— Minha netinha. — a mulher choraminga.

 — Ela é a vó de Cristal, sua filha, a mãe da minha irmãzinha morreu no parto. Desde então, Israel assumiu a pequena como sua e vem cuidando dela. 

—Irmãzinha?

— Cristal é minha irmã, meu pai teve um caso com a mãe dela e desapareceu depois que descobriu sobre a gravidez. Claro, logo após deixar uma boa quantidade de dinheiro e instruções de como chegar a clínica de aborto.

Eu não consigo esconder minha expressão de horror e Isa me dá um sorriso triste.

— Sim, meu pai é esse tipo de monstro. 

— Então, você já conhecia Israel? 

Ela confirma.

— Ele queria ter certeza que meu pai não descobriria sobre Cristal. —ela dá de ombros, mas seu rosto está pálido e sem vida.

— Posso perguntar do que ela morreu? —  a pergunta a faz tremer e me arrependo imediatamente, Israel está lá no segundo seguinte, a segurando em seus braços.  

— Ela nasceu com um problema cardíaco que a impossibilitava de se comportar como uma criança normal, ela não podia fazer grandes esforços e enfrentava grandes crises de asma. Ela estava na fila para um transplante. 

—Sinto muito.

As coisas parecem distorcidas, estranhas, quero dizer, elas parecem pior agora do que essa manhã e tudo é devido ao segredo que eu não deveria saber, mas acabei descobrindo sem querer.

Estou a cinco passos da saída quando ouço o barulho de pés batendo firme contra o chão.

Eles estão voltando.

Tudo parece ocorrer em câmera lenta, como se o tempo estivesse me dando o tempo necessário para processar as informações antes de lidar com eles. Com ela. Mas o tempo não é tão legal assim, então quando Isadora cruza a pequena sala e se planta bem na minha frente, eu tento agir o mais natural possível.

Suas bochechas, nariz e olhos estão vermelhos.

— Obrigado. — enrolando meus dedos dos pés dentro da bota, eu tento sorrir.

Eu falho.

Como ela conseguiu guardar isso para si todos esses anos?

Anos.

Quantos anos a garotinha tinha?

— Não fiz nada, mas talvez ela devesse ir ao médico.

— Eu a levarei. — Israel intervém, assumindo o lugar ao lado de Isa e parecendo mais como ele mesmo. Seus olhos também estão vermelhos, o que significa que ele também chorou, muito. —Obrigdo, Nora.

Balanço com a cabeça em negação, meus olhos se estreitando na tatuagem que ele mantém no pulso.

Não é um desenho, apena um nome. Um pronome.

ELA.

— Você salvou o meu padrasto não faz muito tempo, estou feliz que pude retribuir o gesto. Além de que, serei médica em breve.

— O que aconteceu hoje. — ela encara o chão, a voz algumas notas mais baixas do que de costume. —Essa casa, aquela senhora,o nome. Esqueça tudo.

Alto e claro.

Minha boca deveria ficar fechada,é a escolha mais sábia. Porém...

— Ariel sabia? — essa é uma pergunta importante, mas sinto que ela é errada de todas as maneiras. — Quero dizer, Ari conhecia todos os nossos segredos. — Acrescento.

Seu olhar se torna paranoico.

— O que quer perguntar exatamente, Nora? — o tom amigável se foi.

Sinto Tobiah nas minhas costas, sentindo provavelmente a mudança no clima. A confirmação vem quando os olhos de Israel seguem até ele.

Eu limpo a garganta, selecionando as palavras, porque se liguei os pontos certos e ouvi o que ouvi, essa merda é grande demais para ter passado despercebido por Ariel Bragantino todos esses anos. A garota era como um cachorro atrás dos segredos,e não importava o quão profundo você os escondia.

— Exatamente o que perguntei.

— O que importa se Ariel sabia? Ninguém mais pode saber!

E é aí que está o ponto.

— Cristal era sua irmã. — declaro e  Israel também fica tenso, contudo mantém a expressão neutra. Novamente, ele checa meu segurança atrás de mim e aperta a mandíbula. Golpe baixo. Eu sei. 

Seu olhar é como brasa prestes a mostrar ao inferno como se faz fogo.

Certo, talvez ela só queira tocar fogo em mim.

— Nora. — ela rosna meu nome com propriedade, recitando cada letra com ódio palpável.

— Ariel pode ter chantageado seu pai sobre isso? — Seus olhos ganham um novo brilho, algo como compreensão e pavor.

É, eu estou levantando essa possibilidade.

— Não, eu não confiava em Ariel para contar meu segredo mais precioso. — isso não me surpreende, mas ainda não responde minha pergunta.

— Ela pode ter descoberto.

— Meu pai acha que Cristal nunca nasceu, então se sua amiga tivesse levado a questão, ele teria rido dela.

— A menos que ela tivesse provas. — Argumento.

Isa fica em silêncio.

— Ele teria vindo atrás dela. — Ela joga de volta. — Ele não sabia da sua existência até semana passada.

A informação me acerta precisamente, principalmente porque eu não cheguei a conhecê-la de fato. Israel apenas me ligou e disse que Cristal tinha morrido e ele não sabia o que fazer com Isadora.

— Tem certeza sobre isso?

Sua mandíbula aperta e inclina a cabeça para o lado.

— Cuspa o que tem para dizer, Nora! Ainda tenho um velório para organizar. — Sua voz racha na última palavra.

Pode parecer cruel o que vou falar, mas ainda estamos jogando um jogo e preciso saber quem são os vilões principais no tabuleiro.

— Você sabe o quê.

— Ela não sabia.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top