Capítulo 1

— O que você está fazendo, agora? — Eu resmungo, impaciente com seu silêncio. Toabiah me dá uma olhada e torce o rosto em uma careta. Tudo bem, reconheço que não estou facilitando para o meu segurança, mas desde que ele me deixou sozinha do lado de fora com uma explicação rasa e constrangedora sobre sua raiva de Zé. Tenho o seguido com o olhar atento e implicado com suas ações. Ele também está me mantendo em cárcere, não vou esquecer disso.

— Ligando o fogo para fazer comida, Nora. — Um suspiro irritado deixa sua garganta, mas isso não me impede de avançar dois passos e espiar por cima do seu ombro.

— Comida? —Questiono, não vendo mais que ovos mexidos na frigideira.

— Sim, comida. — Ele aponta com o talher que usou para mexer os ovos o pacote de pães na mesa. — Vou preparar café também. — Acrescenta.

Certo.

— Pão com ovo e café?

— O quê? — Pergunta sem realmente me olhar, embora a nota debochada em seu tom não passe despercebida por mim. 

Cruzo os braços, já me preparando para o ataque. 

— A princesa esperava lagosta no jantar?

Pressiono meus lábios um no outro, repetindo mentalmente que não vou cair na armadilha e ceder para ele. Mordo minha língua e o assisto desligar o fogo, transferir os ovos para um prato e cantarolar uma música qualquer, como se ele tivesse decidido que minha presença é incômodo passageiro.

— Eu não sou assim.

— Assim? — Indaga,voltando para o fogão com uma panela de água.

Limpo a garganta, incomodada que ele não esteja me levando a sério ou olhando pra mim quando estou me remoendo por dentro.

— Mimada e indiferente ao que acontece ao meu redor. — Indiferente aos sentimentos da minha mãe, quero dizer. Mas não digo. Meu tom é baixo o suficiente para que ele entenda.— O que Zé e eu temos é real, não uma aventura. — Continuo, sentindo a necessidade de me explicar.

— Não é da minha conta.

— Desculpe? — Eu não controlo a irritação na minha voz, quando percebo já estou parada na sua frente e com o dedo pressionando contra seu peito. — Eu não estou dizendo que é, apenas esclarecendo as coisas.

— VocÊ não precisa esclarecer nada.

Meu corpo ferve, porque ele continua agindo de uma forma e me olhando de outra.

Desço o dedo até a altura do seu estômago, pressionando o tecido fino da camisa que veste até sentir a camada macia da sua carne contra a ponta da minha unha. Um ruído escapa da sua garganta e os próximos segundos são como a cena acelerada de um filme, aquela que mostra rapidamente a verdadeira face do vilão e você não tem certeza do que viu. Em um momento eu estava no controle, agora estou contra a parede, mãos para trás e com medo.

— Acho que seu padrasto não te ensinou boa maneiras, certo? — As palavras são sussurradas contra minha nuca, o cabelo que ficou fora do rabo de cavalo que fiz se arrepiando sem autorização.

O quê?

Não. Não. Não.

— Eu não sou nenhuma criança para ter lições de boas maneiras. — Opto por manter meu tom de voz neutro, fingindo não está afetada com seu contato e ousadia. — Pode me liberar, por gentileza?

Uma risada ecoa nas minhas costas. O barulho grave e enrouquecido reverbera pelo meu  corpo e deixa minhas pernas trêmulas.

— Por gentileza, hein. — Desdenha.

— Tobiah. —É um protesto, um aviso, mas sai parecido com um sussurro, um pedido de misericórdia. A verdade é que as cenas de horas atrás continuam frescas na minha memória, os disparos, as vozes e a caçada. — Eu quero voltar. — Tento exigir, mas ele pressiona a abertura das minhas pernas com o joelho e empurra meu rosto na parede.

Eu rosno, me debato e empurro de volta contra seu corpo, porém isso só funciona de estímulo e ele aumenta o aperto nos meus pulsos.

A última lembrança minha com José Luiz surge na minha cabeça e torço para estar bem, a essa altura tudo o que me foi dito caiu pelo chão e não sei mais em quem posso confiar. Onde ele está?

— Tobiah?— O chamo em tom manso. — Posso usar seu celular?

Ele não me deixou usar depois que questionei sobre a ligação de Rael, pelo contrário, agiu como um troglodita e pegou o aparelho da minha mão com brutalidade. Claro, isso só aumentou minha desconfiança.

— Não.

O protesto chega na ponta da língua e já estou abrindo os lábios, quado percebo que é o jogo errado para o momento. Estamos os dois no limite e já deixou claro em suas atitudes que não é mais meu segurança e protetor, somos no mínimo uma mistura de refugiados e cúmplices.

— Então me diga qual a sua ligação com Israel?

— O país? Nunca estive.

— Engraçadinho. — Volto a empurrar contra seu corpo, tentando me libertar do seu aperto. — Isadora te mandou para me vigiar? — Vou direto ao ponto, desistindo de lutar.

Isso explicaria muito, principalmente que Isa nunca confiou em mim cem por cento.

— Fui contratado pelo seu padrasto, como já informei anteriormente. Não tenho e não pretendo ter qualquer ligação com suas amigas loucas, principalmente aquela maluca.

Franzo o cenho, sentindo que estou perdendo algo.

— Se Isadora não te contratou, qual era o motivo da ligação de Rael? Porque, se você não sabe, ele é o chefe da segurança dela. — Pontuo, mantendo meu pé atrás com ele.

Tobiah bufa.

— A panela! — Dispara um segundo depois, me jogando para o lado como um saco de batatas. Minhas pernas enrolam uma na outra e caio no chão. Quando olho pra cima, ele tem os olhos presos em mim e um sorriso estreito nos lábios. Desse ângulo, seu tamanho é ainda mais gritante, me fazendo sentir como um grão de poeira. — Vou fazer o café. — Diz, piscando e não se importando em oferecer ajuda.

— Idiota.

— Se não confia em suas amigas, por que ainda as mantém por perto?

— Não é da sua conta.

— Sabe, tenho te observado por todo esse tempo e não acho que se encaixe com elas. — Tomo um assento na cadeira, pegando um pão e separando com a colher uma boa quantidade de ovos. Acabou que não me alimentei direito com todos esses acontecimentos, eu também não quero mais pensar em Zé e nas meninas. — Aquelas garotas carregam podridão em seu sobrenome, Nora. Todas.

Ele tem razão sobre isso, eu não sou filha ou neta de um figurão. Meu sobrenome é comum e sem importância.

— Como eu disse, não é da sua conta.

— Você tem medo de ser rejeitada, certo? — Dou uma mordida no pão. — É por isso que foi para cama com seu padrasto?

Ignore. Ignore. Ignore.

Pego uma xícara e me sirvo café.

— O que vai fazer quando sua mãe acordar?

— Coma. — Empurro o prato com ovos na direção dele.

— Vai apenas continuar fodendo o marido dela, quando ela pegar no sono? — O líquido quente atinge metade do seu rosto. — Porra! — Esbraveja, correndo até a pia e ligando a torneira.

— Não fale sobre minha mãe e não diga mais uma palavra se não quiser sofrer queimaduras mais graves. — Eu não acho que o café causou qualquer queimadura, mas é bom que sinta medo e não pense que sou frágil e inofensiva. — Aliás, de quem é essa casa?







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