Juntos no futuro
Jeon Jungkook
323 anos depois...
— Não entendo o porquê ele fica sobre mim — Poseidon grunhiu apontando em sua direção, fazendo Jungkook revirar os olhos. — Ele nasceu muito depois, é somente uma criança.
— Talvez seja porque ele é a própria água enquanto você só pode controlar uma extensão dela? — Jayce disse ao lado, cansado da arrogância recorrente do Deus Grego. — Qual das mortes acabaria com a realidade? A dele ou a sua? Por favor, sua morte causaria no máximo um funeral bem caro.
— Deixe-o Jayce — Jungkook disse encarando Poseidon, que ficava abaixo dele no escalão de Deuses. — Um dia ele vai ter que aceitar o lugar dele.
— A autoestima dos três filhos de Cronos é algo que deveria ser estudada — Nix disse suspirando, olhando para Poseidon, Zeus e Hades. — É sempre assim, que coisa mais chata.
— Podemos votar em bani-lo, eu realmente não aguento mais ele e os irmãos — disse Rá, o Deus do sol, com uma expressão animada.
— Toda convenção é a mesma coisa, tenho certeza que até Jeová quer mandá-los embora — Thor disse sorrindo para o Deus Israelita.
— Não me envolva nisso — Jeová disse cruzando os braços, expondo sua pele negra de seus antebraços que antes estava escondida em sua túnica. Ele era um Deus calmo, odiava conflitos.
— Vamos aguardar em silêncio — Genbu disse atraindo a atenção de todos. — Ele chegará em breve.
Todos então ficaram em silêncio, recolhidos em seus próprios pensamentos enquanto esperavam o Cosmos se manifestar diante deles. Uma vez há cada cem anos Jungkook e todos os Deuses existentes eram convocados para uma cúpula, onde todos se reuniam para ouvir o que o próprio Cosmos tinha a dizer. Na primeira vez que participou Jungkook ficou chocado ao descobrir que Jayce, Lia, Cameron — o filho de Jisoo e Hoseok, novo Deus do ar — e ele eram os Deuses de maior escalão daquela sala, abaixo apenas do Cosmos, que sempre se manifestava por um dos Deuses. Aquela reunião era feita para que discutissem as condições daquela realidade, se criariam uma nova ou se exterminariam aquela já existente. Todos os Deuses existentes estavam lá, por isso era sempre uma bagunça.
Jungkook se acostumou com a responsabilidade, pois ele e os outros Deuses não eram responsáveis por somente uma realidade, mas sim diversas, tanto as que criariam, quanto as que destruiriam. A cúpula era grande, o escalão era feito por degraus, quanto maior sua patente, mais alto o Deus ficava, cada um sentado em uma poltrona. Quem estava de frente para Jungkook era Lia, do outro lado da cúpula, Jayce e Cameron estavam um de frente para o outro, fazendo um círculo. Quando se reuniam daquela forma pela primeira vez, conheceu Deuses que nunca ouvira falar, mas notou que ao contrário dele, todos tinham seus próprios território de atuação. Agora estava acostumado com a presença de tantos Deuses — apesar de alguns testarem sua paciência.
— Boa noite, meus filhos — Lia disse de repente, atraindo a atenção de todos. Mas assim que notou a cor de seus olhos, sabia que não era ela, pois estavam da cor lilás. — Desejo ouvir boas notícias hoje.
— Infelizmente não as trago senhor — Anúbis disse ao lado de Hórus.
— Não me diga que houve alguma devastação em massa? — O Cosmos perguntou através de Lia.
— Houve um aumento de mortes — Anúbis disse com sua voz grave. Jungkook apesar de já tê-lo visto antes, não conseguia se acostumar com a aparência sombria.
— Todos vocês sentiram o mesmo? — O Cosmos perguntou através de Lia, levantando-se de sua poltrona e olhando em direção a todos os Deuses da morte, que assentiram.
— A última vez que tivemos tantas mortes humanas foi em mil e trezentos, com a peste bubônica — respondeu Hela, Deusa nórdica. — E claro, há sete mil anos atrás quando houve um dilúvio.
— Tantas assim? — O Cosmos suspirou. — Qual a causa? Algum desastre natural? — Perguntou olhando em sua direção, pois o dilúvio foi causado por sua mãe, então sempre era alvo de suspeitas quando um número grande de mortes aconteciam.
— Uma doença — Jungkook respondeu. — Uma pandemia se iniciou há três anos.
— Causas naturais? — O Cosmos ergueu uma sobrancelha. — Sem interferência divina?
— Aparentemente sim — disse Hades. — Não senti nenhuma morte por interferência divina.
— Os humanos vão conseguir superar essa doença? — O Cosmos levou o olhar em direção a Genbu, que assentiu. Ele pareceu aliviado, abrindo um sorriso maior. — Jayce, quanto tempo para o sol consumir a terra?
— Com o andar das coisas até agora, chuto uns seis bilhões de anos — ele respondeu fazendo uma careta pensativa.
— Cameron? — O Cosmos olhou em direção ao Deus mais jovem da sala.
— Se os humanos não começarem a cuidar da poluição do ar, eles terão apenas dois mil anos até o ar se tornar tóxico — Jungkook arregalou os olhos, pois definitivamente aquele número diminuiu muito desde a última vez que se reuniram.
— Tentem ao máximo conscientizar seus fiéis ou este mundo se perderá — O Cosmos suspirou, fazendo todos os Deuses assentir. — Jungkook, você ao menos tem alguma notícia boa?
— Por conta do derretimento das calotas polares e do aquecimento global, o mar irá cobrir algumas regiões do planeta — disse fazendo uma careta surgir no rosto de Lia. — Há uma grande chance de no futuro o oceano cobrir completamente a Terra.
— Não há nada que possamos fazer para impedir? — O Cosmos perguntou e Jungkook suspirou.
— Há uma maneira, mas eu teria que reiniciar o processo de congelamento das calotas, isso restaurará o equilíbrio do oceano — disse vendo todos os Deuses o encarar de maneira estarrecida. — Mas eu precisaria da ajuda de Jayce e Cameron para reconstruir a camada de ozônio e de Lia, para que ela restaure algumas ilhas e continentes.
— E vocês conseguem fazer isso? — Loki perguntou, chamando sua atenção.
— Eles conseguem — Cosmos respondeu com um sorriso orgulhoso. — Mas não podemos interferir demais, você sabe disso não sabe?
— Sei — Jungkook suspirou com tristeza, abaixando o olhar.
— Mas... — Cosmos disse atraindo novamente seu olhar. — Se vocês conseguirem convencer os mortais a lutarem por sua existência, irei permitir que façam isso. Mas aos poucos, para que pareça algo natural, fruto dos esforços deles. — Jungkook arregalou os olhos e abriu um enorme sorriso. — Vocês têm feito um ótimo trabalho, mas tenho algo a dizer a Jeová.
— Sim senhor — Jeová se colocou de pé, esperando pacientemente.
— Você é um Deus sábio e benevolente, porém não entendo porque seus fiéis são tão radicais — Cosmos franziu o cenho. — Por que dentre todos os mortais, os que o seguem causam tantos problemas?
— Acredito que seja porque muitos distorcem minhas palavras — ele suspirou, parecendo decepcionado. — Espalham heresias, livros com ideologias que não são minhas, pregam o preconceito ao invés do amor. Se eu errei, não entendo onde, pois fui claro em minhas palavras sobre empatia e amor...
— Isso estava fadado a acontecer em algum momento — o Cosmos também pareceu decepcionado. — Não há como ser evitado, então quero que ensine a verdade aos seus fiéis, que eles espalhem suas verdadeiras e sábias palavras, que ouçam a você e não a outras línguas.
— Sim senhor — Jeová assentiu, voltando a se sentar.
— Ouvindo tudo o que ouviram, espero que tomem cada um o seu papel — Cosmos disse ao olhar para baixo, fixando o olhar em Poseidon. — Não posso deixar tudo na mão de apenas quatro Deuses, sendo que há outras dezenas sentados nesta cúpula. Façam o que foram designados a fazer ou pereçam, não os criei para serem monarcas, os criei para serem Deuses.
Jungkook pressionou os lábios, tentando conter o sorriso, pois sua vontade era de gargalhar da cara de paisagem de Poseidon, mas conseguiu segurar o riso. Olhou disfarçadamente para Seiryu, que o encarava com um sorriso também, ele e Poseidon eram do mesmo escalão de Deuses, mas apenas o Deus grego se sentia superior ao restante. Quando Cosmos voltou a se sentar no trono, assim como surgiu, de repente ele partiu, deixando somente Lia para trás, que sorriu ao voltar a ter controle sobre o próprio corpo. Com isso os Deuses estavam liberados da convenção, por isso aos poucos eles foram desaparecendo, fazendo com que se despedisse de Jayce, Lia e Cameron, antes de fechar os olhos e partir também.
O Cosmos lhe dava o poder entrar e sair da cúpula, por isso era algo fácil de fazer.
— JK? — Kate o chamou, fazendo-o piscar algumas vezes antes de encará-la.
— Sim? — Perguntou confuso, abrindo um pequeno sorriso. Apesar de passar algum tempo fora da realidade, o que acontecia na cúpula não afetava o tempo da terra.
— Você viajou por alguns segundos — ela riu.
— Desculpe, sobre o que estávamos falando?
— Preciso ir para a área dos golfinhos para alimentá-los, você consegue dar conta daqui? — Ela perguntou, se levantando. — Qualquer coisa chamo alguém para te ajudar.
— Não, está tudo bem, pode ir — ele sorriu, fazendo-a assentir antes de se afastar.
— Então, vamos lá bebê, vamos aprender a nadar? — Jungkook perguntou segurando um filhote de foca nos braços, caminhando para fora do "berçário dos bebês", onde cuidavam e tratavam os filhotes dos animais.
Jungkook estava trabalhando como veterinário e biólogo em um instituto de vida marinha na Austrália, onde tratava e cuidava dos animais antes de levá-los de volta ao mar. Naquele momento, estava ensinando um filhote de foca a nadar, pois a mãe foi para o instituto ferida após ser atingida pelo motor de um barco, acabando por dar a luz ao filhote dentro do instituto. Como não podia devolvê-la ao mar sem que soubessem nadar e comer, era seu trabalho ensiná-la até que a mãe pudesse cuidar, porém ela ainda estava se recuperando. Jungkook deu um beijinho de esquimó na pequena foca branca, que o encarava com seus grandes e curiosos olhos escuros, queria apertá-la em seus braços, mas não podia, por isso caminhou até um dos tanques.
— Vamos lá meu amor, está na hora de conhecer a água — entrou no tanque, com as bordas das calças dobradas, para não molhá-las. — Acho que a água está muito quente para você...
Ainda com a pequena foca nos braços, Jungkook olhou em volta, se certificando que ninguém olhava para ele, antes de se abaixar e alterar a temperatura da água usando seus poderes, deixando-a bem gelada. Sendo um filhote, a pequena foca tinha uma camada espessa de pêlos, o que a protegia do frio e a deixava em agonia em águas muito quentes, por isso deixou a água na temperatura ideal para ela. Após terminar a colocou na água rasa, que batia até seus tornozelos, normalmente o pessoal usava galochas, mas ele gostava de sentir a água em contato com a pele, por isso entrou descalço, segurando-a pela parte de baixo de sua cabeça, deixando seu corpo se acostumar com a água. O filhote de início estranhou um pouco, mas depois balançou as nadadeiras, por isso com um sorriso orgulhoso, Jungkook abaixou seu focinho com cuidado, fazendo algumas bolhas saírem de seu focinho, antes de levantá-la novamente.
— Está vendo? Isso acontece quando você mergulha seu focinho na água, que tal bater as nadadeiras? — Jungkook perguntou, como se falasse com uma criança humana. — Vamos, vou te ajudar.
Jungkook mostrou como ela deveria fazer, usando a mão livre para subir e descer as nadadeiras traseiras do filhote, que rapidamente fez o que ele instruiu, batendo as nadadeiras. Ainda sustentando seu corpo, Jungkook a ajudou a boiar, até que batesse as nadadeiras dianteira e conseguisse nadar sozinha, soltando-a devagar, vendo o filhote aos poucos ter autonomia e nadar sozinho. Quando ele estava nadando sem sua ajuda, Jungkook sorriu grande, feliz por ter ajudado o filhote a nadar, vendo-o timidamente abaixar o focinho, mergulhando a cabeça na água, conhecendo seus limites. Ficou cerca de meia hora observando o bebê no tanque, vendo-o nadar com mais confiança depois de um tempo, ousando dar alguns giros na água.
— Parabéns bebê, você foi muito bem! — Jungkook disse como um pai orgulhoso. — Que tal voltar para sua mãe? Você precisa se alimentar. — Como se entendesse o que ele dizia, a pequena foca se aproximou da borda, para que ele pudesse pegá-la. — Muito bem! — Sorriu ainda mais, pegando-a, antes de enrolá-la em cima da toalha.
— JK! — Ouviu alguém chamá-lo aos berros, junto a passos rápidos. Assim que virou-se em direção a voz, viu Dylan, seu colega de trabalho, correndo em sua direção. — Precisamos da sua ajuda!
— O que houve? — Perguntou preocupado. — Algum animal se feriu?
— Não, pelo contrário, uma lontra mordeu a Millie — ele disse afobado, fazendo-o arregalar os olhos. — Ela já está sendo tratada, não foi nada sério, não se preocupe.
— Ainda bem — suspirou aliviado. — Mas o que uma lontra faz aqui na Austrália? — Perguntou confuso, pois não haviam espécies de lontras concentradas naquela região.
— Ela foi resgatada de um navio de contrabando, estavam com muitos animais, vieram aqui para buscar algumas espécies de cobras, mas foram pegos pelas autoridades — disse ofegante. — A lontra foi trazida até nós, junto com algumas cobras aquáticas, mas ela está ferida.
— Deixe-me adivinhar, está sob estresse e não deixa ninguém chegar perto? — Perguntou preocupado, fazendo Dylan assentir. — Estou indo, pode levar este filhote até a mãe dele? Ela está no centro de reabilitação.
— Claro — ele pegou o filhote no colo, antes de Jungkook correr para a clínica, ainda descalço.
Casos como aquele infelizmente não eram raros, assim que um animal ficava famoso nas redes sociais, aumentava a procura por ele, mesmo que fossem animais silvestres e não domésticos, o que consequentemente, aumentava o valor deles no contrabando. Correu até a clínica veterinária, onde passava a maior parte de seu tempo, vendo uma comoção em volta de uma das mesas, notou também uma pequena lontra arreganhando a boca e mostrando os dentes para seus colegas, que aparentemente tentavam sedá-la. Quando se aproximou, notou o ferimento em seu pescoço, próximo a uma de suas patas dianteiras, era um corte, provavelmente causado por uma lâmina a julgar pelo tamanho. Assustada do jeito que estava, provavelmente tentou fugir dos contrabandistas, acabando por se ferir.
— Ah ele chegou! — Lorry disse suspirando aliviada, ela era sua superiora, responsável pela clínica. — Jungkook por que você está correndo por aí descalço?! Esqueça, dêem espaço para ele passar. — Ela disse empurrando todo mundo que estava em seu caminho, fazendo-o rir. — Vai JK, use seus encantos e acalme a ferinha.
— Vocês estavam tentando sedá-la? — Perguntou se aproximando da mesa, sendo notado pela lontra, que se encolheu mais no canto e mostrou os dentes. — Está tudo bem... — Ele disse a ela, com a voz suavizada.
— Por ela ser muito arisca, não conseguimos examiná-la — uma de suas colegas suspirou, ela segurava a seringa com o sedativo. Ao encará-la melhor notou que ela era uma nova funcionária, provavelmente entrou no começo do mês, junto com outros contratados.
— Não se preocupem, temos o JK — Lorry disse dando um tapinha em suas costas. — Não há qualquer animal que tenha entrado aqui que ele não tenha acalmado com a voz de anjo dele, vai JK, faz a tua magia aí.
Jungkook riu e negou com a cabeça, Lorry não sabia de seus poderes ou sua verdadeira identidade, mas acreditava que ele tinha uma conexão forte com os animais marinhos, coisa que ele de fato tinha. Com o passar de seus muitos anos vividos, Jungkook aprendeu a se comunicar com os animais marinhos, apesar de não ouvi-los falar como o Doutor Dolittle ouvia, sua conexão com eles o permitia simplesmente saber o que os incomodava. Por isso com cuidado se aproximou da mesa, puxando uma cadeira e se sentando de frente para a pequena lontra, que ainda estava encolhida e assustada. O jeito mais fácil de acalmá-la era com a canção dos filhos do mar, que sua mãe o ensinou, pois assim como o canto das sereias, ela tinha o poder de induzir todos os seres vivos. Mas haviam muitas pessoas em volta, iria afetá-los também.
— Está tudo bem, ninguém vai te machucar — Jungkook disse com calma, vendo a pequena lontra o encarar fixamente antes de inclinar um pouco a cabeça para o lado, fazendo-o sorrir e deixar que o brilho azul de seus olhos cintilarem por poucos segundos, revelando sua identidade a ela. — Venha...
Jungkook estendeu a mão, vendo a pequena lontra ainda um pouco assustada se aproximar, caminhando lentamente até que estivesse ao alcance de sua mão. Deixou que ela tocasse o focinho em sua palma, antes que fizesse um carinho singelo em sua cabeça, deixando-a mais à vontade para se aproximar. Ouviu cochichos atrás de si, chamando-o de Doutor Dolittle e fazendo-o rir soprado, mas voltou a concentrar-se na lontra, acariciando sua cabeça enquanto analisava seu ferimento. Era um corte irregular, sua pele realmente havia sido rasgada por algo afiado, provavelmente algum ferro, ela precisava ser operada para que tivessem certeza que o material que a cortou não tivesse soltado nenhuma lasca. Jungkook olhou para trás, pedindo a seringa para a nova funcionária, que não demorou a lhe entregar.
— Está sentindo muita dor, não é? — Perguntou ao notar que a pequena lontra deitou a cabeça sobre sua mão, respirando de maneira irregular. Ela era uma lontra jovem, estava exausta e assustada, além de ferida. — Nós vamos cuidar de você, por isso pode descansar, você foi muito forte.
A pequena lontra o encarou antes de se deitar, deitando a cabeça sobre sua mão esquerda, fechando os olhos e deixando que ele fizesse o que tinha que fazer, por isso sorriu orgulhoso, fazendo um carinho singelo com seu polegar perto de seu focinho. Jungkook direcionou seu olhar para Lorry, que sem precisar de mais instruções se aproximou e pressionou a área onde iria aplicar o sedativo, por isso, com muito cuidado Jungkook iniciou a pulsão. A pequena lontra não reclamou da dor que a agulha causava por conta da picada, mas não prolongou o sofrimento dela, injetando o sedativo com lentidão, retirando a agulha em seguida, que Lorry logo a pegou. Jungkook passou a acariciar a lontra, até que o sedativo fizesse efeito e ela adormecesse sobre sua mão, fazendo-o sorrir e se levantar.
— Prontinho — ele disse sorrindo, vendo a nova equipe chocada e seus colegas mais antigos baterem palmas, fazendo uma careta exagerada de orgulho.
— Como você fez isso? — A moça que antes segurava a seringa perguntou chocada.
— Esse é um dos muitos segredos do nosso JK — Dylan apareceu de repente, abraçando-o pelos ombros. — Eu ouvi boatos de que durante a noite ele vira um boto e engravida as mulheres.
— Isso não é uma lenda do folclore brasileiro sobre o boto cor de rosa? — Jungkook perguntou rindo.
— É sim, mas eu tenho certeza que a ordem está errada — Millie disse com o cenho franzido, ela estava com um curativo no dedo. — Ele não deveria se tornar um homem durante a noite em vez de um boto? Como ele engravida as mulheres?
— Vocês estão questionando como um boto engravida as mulheres e não como um homem vira um boto? — Lorry perguntou confusa, fazendo-os gargalharem.
— GENTE! — Uma das novas biólogas entrou correndo na clínica, chamando a atenção de todos. Ela colocou as mãos sobre os joelhos, tentando recuperar o fôlego, parecia que ela tinha corrido uma maratona.
— Nossa Alison, o que aconteceu? — Lorry perguntou preocupada.
— Algum problema com as cobras? — Dylan perguntou confuso, mas Alison apenas negou, respirando fundo.
— Um bombeiro muito gostoso chegou procurando pelo JK — ela disse com os olhos arregalados.
— Oh, um bombeiro muito gostoso? — Lorry abriu um sorriso malicioso antes de olhar em direção a Jungkook, que acabou rindo também. — Será que não conhecemos um bombeiro gostoso que vem atrás do nosso Doutor Dolittle de vez em quando?
— Quem é ele?! — Alison perguntou eufórica.
— Meu marido — Jungkook sorriu orgulhoso mostrando a aliança pendurada por um cordão de ouro em seu pescoço, pois não podia usar anéis na clínica, fazendo-a arregalar os olhos, antes de sua boca se abrir em choque.
— Não se preocupe Alison — Dylan disse largando seus ombros, antes de caminhar até ela e dar uns tapinhas em suas costas. — O senhor Kim e o JK já arrasaram muitos corações desde que ele chegou há três anos no instituto, você simplesmente foi mais uma vítima da beleza deles.
— Vocês são tão bobos — Jungkook riu e depois revirou os olhos. — Estou liberado hoje Lorry?
— Claro que está meu bem — ela sorriu olhando o horário no celular. — Vai lá que seu bombeiro gostoso está te esperando.
— Obrigado — sorriu, caminhando para fora da clínica.
Se despediu do pessoal antes de passar pela porta, caminhando até a área dos funcionários, sem conseguir conter o sorriso, era sempre assim quando Taehyung ia lhe buscar no trabalho. Assim que chegou na área de funcionários, retirou seu jaleco e o pendurou no cabide notando que ainda estava descalço, o que o fez rir de si mesmo e pegar seus crocs no armário — Taehyung odiava crocs, diziam que era a pior invenção da humanidade — calçando-os antes de colocar sua mochila nas costas, chegando se seu celular e as chaves do carro estavam em seu bolso. Assim que se certificou que não estava esquecendo de nada fechou o armário, caminhando para fora da área de funcionários, sabendo exatamente onde Taehyung estava esperando-o. Andando apressadamente Jungkook chegou ao tanque de tubarões, onde ele sempre estava observando-os e o encontrou distraído olhando para o tanque, alheio aos olhares que recebia da equipe do instituto.
Naquele momento ele usava apenas a parte de baixo de sua farda, que era uma calça preta com faixas verdes néon e uma camiseta preta que marcava tudo aquilo que Jungkook conhecia tão bem. Taehyung ficava extremamente bonito naquela farda, não que de fato ele precisasse se esforçar para ficar bonito, pois Jungkook sabia que mesmo vestindo um saco de batatas ele ficaria lindo, mas o uniforme de bombeiro lhe caia muito bem. Quando Taehyung virou a cabeça em sua direção um sorriso enorme surgiu em seus lábios, fazendo-o sorrir também, inconscientemente seus passos ficaram mais rápidos, ansioso por estar nos braços de Taehyung, que não demorou a abri-los, ponto para recebê-lo. Jungkook circulou seus braços em volta dele, sentindo-o lhe abraçar com força, antes de se afastarem alguns centímetros, apenas para que seus lábios pudessem se tocar.
— Oi, meu gatinho — Taehyung sussurrou contra seus lábios, fazendo-o sorrir ainda mais.
— Oi Tae — deixou mais um selar em seus lábios, antes de se afastar e entrelaçar seus dedos.
— Como foi o seu dia? — Perguntou caminhando em direção a saída, juntos.
— Incrível, ensinei um filhote de foca a nadar e acalmei uma lontra que estava ferida — disse com um sorriso orgulhoso, vendo um sorriso parecido nos lábios de Taehyung. — E você?
— Hoje tivemos um resgate, salvamos duas crianças que foram deixadas em casa sozinhas — disse junto com um suspiro. — Enquanto a mãe estava no trabalho o pai saiu para ir no mercado, nesse meio tempo houve um curto circuito na rede elétrica da casa, causando um foco de incêndio, quando chegamos, a casa inteira já tinha sido tomada pelo fogo.
— Meu Deus... — Jungkook disse deixando que sua expressão mostrasse a sua preocupação. — As crianças estão bem? — Sentiu seu peito apertar ao ver a expressão de Taehyung murchar.
— Inalaram bastante fumaça, estavam desacordadas quando conseguimos retirá-las da casa — ele disse fazendo um carinho em sua mão, enquanto caminhavam até a saída. — Quando o pai chegou em casa, ele chorou muito ao ver as filhas sendo resgatadas inconscientes, enquanto os vizinhos falavam da casa e das coisas que eles perderam, ele estava em prantos por causa das filhas.
— Uma casa, móveis e os objetos dela são substituíveis, as filhas não, não consigo nem imaginar o que ele estava sentindo — Jungkook disse vendo Taehyung assentir.
— Crianças não podem ser deixadas sozinhas em nenhum momento, elas não sentem o perigo como nós sentimos — olhou em seus olhos, assim que chegaram ao estacionamento. — A filha mais velha queimou grande parte do corpo, ela estava muito próxima ao foco de incêndio, ela tem apenas seis anos, tentou apagar o fogo jogando água com um copo. A mais nova tem quatro, estava caída há alguns metros da irmã, sem queimaduras, mas inalar a quantidade de fumaça que elas inalaram é fatal. — Ele suspirou, parando quando chegaram em frente ao carro. — Eu resgatei a irmã mais velha, apliquei os primeiros socorros e agora estou esperando notícias do meu chefe para saber se ela conseguiu sobreviver.
— Vai dar tudo certo Tae, você vai ver — o abraçou, tendo seu aperto retribuído.
— Mesmo trabalhando há anos com isso, ainda é uma sensação muito sufocante não conseguir salvar alguém — suspirou, caminhando até a porta do carro, sentando no banco do passageiro logo em seguida. Jungkook não demorou a fazer o mesmo.
— Que mudança tivemos não é? — Disse colocando a chave na ignição.
— Como assim? — Perguntou curioso.
— Ah, é que algumas há centenas de anos nós matamos... Hoje salvamos — disse ligando o carro e dando partida, saindo do estacionamento.
— Verdade — ele riu.
— Você acha que conseguiria matar alguém hoje? — Perguntou curioso.
— Para proteger alguém que eu amo? Sem hesitar — olhou em sua direção, arrancando um sorriso seu. — Gatinho precisamos passar no mercado antes de ir para casa, a comida do Tannie tá acabando e nós precisamos de algumas coisas também.
— Vamos lá agora? — Perguntou, tomando outro rumo na rota, para que fossem ao supermercado mais próximo.
— Você não vai com essa abominação, né? — Perguntou, lhe encarando de esguelha.
— Hã? Que abominação?
— Essa ratoeira que você chama de sapato — disse apontando para os seus crocs. — Se você quer fazer eu passar vergonha, anda do meu lado usando uma calcinha fio dental.
— Ah Tae para! Meu crocs não é feio — riu ao se imaginar andando de calcinha fio dental no mercado.
— Tem razão, ele não é feio, ele é horrível! — Fez uma careta.
— Você um dia vai usar e vai gostar — disse sorrindo. — E quando isso acontecer, eu vou te zoar por um ano inteiro.
— Isso não vai acontecer — cruzou os braços, convicto.
— Veremos.
Durante o caminho para o mercado eles ficaram conversando sobre o que comprariam, precisavam de alguns produtos de higiene e limpeza, além de alguns alimentos. Como Taehyung era bombeiro, gostava de manter seu corpo em forma, então Jungkook acabava por acompanhá-lo, entrando em dietas saudáveis e fazendo exercícios para manter o físico. Quando chegaram até o supermercado mais próximo, estacionaram o carro e caminharam juntos até a entrada, pegando um carrinho de compras. Compraram o que precisavam sem se preocupar com o valor, pois com o passar dos anos eles foram acumulando riquezas, agora seriam considerados bilionários, a fortuna deles era protegida por órgãos governamentais. Porque seria estranho uma pessoa tão rica não ser conhecida na mídia, mas eles precisavam ser invisíveis.
Poucas pessoas sabiam sua identidade no governo, mas cada país tinha informações básicas sobre os Deuses que às vezes mudavam de endereço, morando cada um em um país por dez anos, para esconder sua juventude inesgotável. Claro, para alguns Deuses isso era um absurdo, eles queriam ser famosos, queriam estátuas deles em todos os lugares, mas não era assim que as coisas funcionavam. Cameron particularmente detestava Deuses assim, inclusive vandalizou alguns monumentos de alguns deles, somente porque estava irritado com a demonstração descarada de poder. Cameron dentre todos era o que tinha a personalidade mais forte, odiava a maior parte dos Deuses que estavam na cúpula, por isso sequer conversava com eles. Mas era uma boa pessoa.
No momento, Jungkook e Taehyung estavam morando na Austrália, mas já visitaram quase todos os países do mundo. Lia estava na Inglaterra, trabalhando como bióloga ambiental em um projeto, Jayce e Yoongi estavam no Brasil, por ser um país tropical e quente a maior parte do tempo, ideal para o Deus do fogo — apesar de Yoongi não gostar muito —, Cameron estava nos Estados Unidos, passando raiva, pois apesar de ser o país mais poluente ao meio ambiente e a atmosfera, eles não faziam absolutamente nada para mudar aquilo. Então estavam todos tentando ajudar o mundo infiltrados em ambientes ligados aos seus elementos, para tentarem evitar que o mundo morresse. Contou aquilo a Taehyung enquanto estavam no mercado, dizendo o que o Cosmos havia dito a eles, mostrando o quanto estava feliz por ter sido autorizado a tentar ajudá-los diretamente.
— Poseidon tentou encrencar com você de novo? — Taehyung perguntou, ajudando-o a passar os produtos que compraram no caixa.
— E ele já perdeu alguma oportunidade de me provocar? — Revirou os olhos. — Mas o próprio Cosmos colocou ele no lugar dele. Eu sinto que no futuro ele e os irmãos vão acabar se rebelando.
— E o que acontece se eles fizerem isso? — Perguntou curioso.
— Com um estalar de dedos o Cosmos colocaria um fim na existência deles, assim como foi fácil criá-los, seria fácil para ele destruí-los.
— Nossa...
— O Cosmos é o ser mais poderoso existente, ele cria e destrói universos, ninguém pode contra ele — disse sorrindo, feliz por ele ser um ser magnânimo e justo. — Poseidon não pode nem mesmo contra mim, quem dirá com o Cosmos.
— Acho extremamente excitante dormir ao lado do Deus mais poderoso que existe — disse mordendo o lábio inferior, o que o fez rir.
— Bobo — disse sorrindo. Enquanto estava fazendo o pagamento, ouviu o celular de Taehyung tocar, este que não demorou a atender.
— Oi chefe — ele ficou tenso assim que atendeu, mas logo um sorriso enorme surgiu em seus lábios. Não ouviu com perfeição o que o chefe dele dizia, mas entendeu a palavra "parabéns". — Obrigado!
— O que houve? — Perguntou assim que ele desligou a chamada.
— Ele me trouxe notícias sobre o salvamento das irmãs — ele disse com um sorriso radiante, ajudando-o a pegar as sacolas. — Ele disse que elas estão bem, a irmã mais velha já acordou e apesar de ter se queimado bastante, estava com o quadro estável.
— Parabéns amor, você conseguiu salvar mais uma vida hoje — deixou um beijo em sua bochecha, mostrando todo o seu orgulho.
— Obrigado gatinho — disse abrindo o sorriso quadrado lindo que ele tinha. — Em comemoração, eu vou fazer a janta hoje!
— Você sempre faz — Jungkook riu.
— Por isso nós ainda estamos vivos — piscou em sua direção, tirando sarro de sua comida, mesmo que ele tivesse razão. Jungkook era bom em muitas coisas, cozinhar não era uma delas, com certeza perderiam a "imortalidade" se comessem da suas iguarias culinarias.
— Você tem um ponto — gargalhou ao caminhar para fora do supermercado.
(...)
— Tae, já pensou para onde nós iremos depois da Austrália? — Jungkook perguntou deitado no sofá, esperando a vez dele, porque o combinado era Taehyung cozinhar e ele lavar a louça. Tannie estava deitado em sua barriga, enquanto fazia carinho em seus pelos e mexia no celular com a mão livre.
— Tem algum lugar que você não queira ir de jeito nenhum? — Ele perguntou enquanto temperava a carne. Por conta da comemoração, Taehyung estava fazendo um hambúrguer caseiro, saindo da dieta dos dois.
— Hã... — Jungkook pensou, largando o celular. — Kuwait com certeza eu não iria, lá é muito quente e raramente chove, a Rússia com certeza também não é uma opção, não irei para um país homofobico como aquele... Talvez o Brasil? Jayce fala muito bem de lá, das pessoas e da cultura.
— Fomos lá há muitos anos, em 1925 eu acho? — Ele fez uma careta pensativa. — Com certeza deve ter mudado muito.
— Para o Brasil então? — Perguntou se sentando no sofá para encará-lo.
— Qualquer lugar que você esteja pra mim é perfeito — ele disse sorrindo, acabando por arrancar um sorriso seu também.
— Tae você colocou o seu uniforme na lava e seca? — Lembrou-se que não viu onde ele colocou a roupa após tomar banho.
— Hã... sim... claro — disse com um tom de voz suspeito, fazendo Jungkook frisar o olhar. — Foi a primeira coisa que eu fiz.
— Você esqueceu né?
— Esqueci...
— E as suas cuecas sujas? — Perguntou colocando Tannie no chão antes de caminhar até seu marido, vendo-o pressionar os lábios e não encará-lo. — Você deixou elas no cesto, não é Kim Taehyung? Espero que você não tenha deixado mais uma jogada no chão do banheiro depois de tomar banho.
— Eu te amo — disse sorrindo forçado em sua direção.
— Se eu entrar no banheiro e achar ela no chão eu vou fazer você comer — frisou o olhar, fazendo o sorriso dele vacilar.
— Gatinho eu estava animado para fazer o jantar... — Fez um bico, fazendo Jungkook suspirar, todo dia ele dava uma desculpa diferente.
— Eu vou deixar passar só porque hoje é um dia especial — disse após suspirar, vendo um sorriso ressurgir nos lábios de Taehyung antes dele puxá-lo para um beijo.
— Já que estamos fazendo porcaria para comer, que tal algumas bebidas? — Perguntou enchendo-o de beijinhos, antes de se afastar e guardar a carne que estava temperando. — Vou comprar algumas.
— Por que não pede por delivery? — Perguntou ao vê-lo calçar seus crocs, pronto para sair. Queria fazer um comentário sobre aquilo, mas se fizesse, ele iria tirar, por isso resolveu ficar quieto até encontrar o momento perfeito para esfregar na cara dele que estava usando as suas "ratoeiras".
— Tem uma loja aqui na esquina, não posso me entregar ao sedentarismo — respondeu pegando sua carteira e celular.
— Faz sentido — sorriu.
— Você quer algo? — Ele perguntou já com a mão na maçaneta.
— Que você se perca no... — Estava pronto para dizer o que dizia sempre, mas ao vê-lo ali, parado em frente a porta da casa deles com aquele sorriso apaixonado e olhos brilhando em carinho, resolveu mudar o discurso. Caminhou até a porta e colocou seus chinelos, segurando na mão de Taehyung logo em seguida. — Na verdade, vamos nos perder juntos.
~🖤~
E chegamos ao fim da nossa aventura meus bolinhos! Espero que vocês tenham gostado <3
Obrigada por todo o apoio e comentários de vocês, essa fic foi uma das que eu mais gostei de escrever e desenvolver. Espero que meu esforço tenha agradado vocês.
Nos vemos nas próximas fics!
Tag da fic no twitter:
#dentesdodiabo
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top