Está em seu sangue

Jeon Jungkook

Jungkook deixava sua mente trabalhar em uma saída alternativa para aquela situação, alguma história para contar ou alguma desculpa convincente para dar ao homem que apontava a arma em sua direção. Este que trajava uma blusa branca aberta no peito, calça preta e botas. E embora suas roupas fossem simples, somente pela qualidade do tecido, Jungkook conseguia, de longe, saber que eram caras; os anéis e brincos reluziam sob a luz do sol, seu mosquete era tão brilhoso quanto suas joias e dava para ver do coldre que a espada também ostentava o mesmo luxo, ele esbanjava ostentação.

O cabelo dele era castanho e possuía uma faixa entre os fios, sobre sua testa, junto as madeixas tinham algumas correntes com pingentes, provavelmente ouro. "Ótimo", Jungkook pensou, pois, se tem uma coisa que ele sabia, era que piratas bem sucedidos em suas aventuras possuíam muitas riquezas, então agora todos os rumores que escutou sobre aquela embarcação faziam sentido. Ele olhou em volta, vendo muitos marujos encarando-o, todos com espadas nos coldres, prontos para a batalha caso ela viesse até eles. A mulher que estava atrás de si continuava com a pistola apontada em sua direção e o olhar incisivo do capitão o fez engolir em seco.

— Vou perguntar novamente — O capitão disse, engatilhando seu mosquete. — O que você, um corsário, faz em minha Aurora?

"Pensa, Jungkook, pensa..." , essa frase foi reproduzida diversas vezes em sua cabeça.

— Não sou um corsário — disse a primeira coisa que veio a sua mente, se arrependendo de imediato ao ouvir o capitão rir.

— Está vestido como um.

— É um disfarce, me vesti como eles para poder sair do navio sem que me parassem.

— Então o que você é? — Ele lhe encarava como se soubesse de todos os seus segredos.

— Um fugitivo. Estavam me recrutando para o exército do rei, aí eu fugi.

— E foi parar em um navio corsário, que continua sendo dos soldadinhos do rei? — Jungkook mordeu o interior de sua bochecha, estava difícil convencer aquele homem. — Vamos fazer o seguinte: levem ele para o calabouço e, assim que encontrarmos uma ilha, o deixamos lá junto ao nosso outro "passageiro".

— Não! Por favor, não façam isso — Jungkook se desesperou quando viu dois homens indo em sua direção. — Eu sou um pirata também!

— Você diz ser muitas coisas, mas a única da qual eu tenho certeza que é verdade, é que você é um mentiroso — O capitão disse, colocando seu mosquete no coldre novamente.

— É sério! — disse aflito, pois os dois homens que lhe seguravam agora o arrastavam para debaixo do convés. — Por favor, acredite em mim!

— Por que eu deveria? — Ele ergueu uma sobrancelha em sua direção.

Jungkook o encarou com medo, mas virou seu pescoço a fim de olhar para onde estava sendo levado. Eles desceram às escadas e caminharam até chegar em um lugar com três celas e, após pegarem seus pertences, o colocaram dentro de uma delas. Jungkook olhou para o capitão, que caminhava até a grade, parando alguns passos de distância e pegando seus pertences quando um de seus homens os estendeu para ele, com a mulher que estava logo atrás deste, encarando-o. Jeon sabia que se o deixassem em uma ilha, seria uma deserta e lhe dariam uma arma com apenas uma bala — como seu pai fazia com traidores no Nevrine.

O moreno observou em volta. Não havia qualquer possibilidade de fugir, pois assim que ojogaram lá dentro, colocaram um cadeado imenso. Ele jamais conseguiria abrir aquilo e mesmo que conseguisse, para onde iria? Ele viu o capitão revirar suas coisas até achar o saco onde guardava o ouro, aquilo sim pareceu interessar o homem, que não demorou a abrir o saco, para ver quanto havia ali dentro. A mulher ainda lhe encarava de braços cruzados, não parecia brava ou ameaçadora como antes, apenas transparecia curiosidade com sua situação.

— Sem armas? — O capitão perguntou com o cenho franzido. — Quem em sã consciência invade um navio desarmado?

— Eu não entrei aqui com essas intenções — Jungkook se justificou, pois, sua única saída seria convencer aquele homem de que ele não era uma ameaça.

— Quais são suas reais intenções então? — Ele deixou o saco de dinheiro com a mulher e voltou a atenção para si novamente.

— Eu falei a verdade quando disse que estava fugindo, eu não sou corsário, embora eu estivesse entre eles. Eu não tinha escolha senão estar ali.

— Por que?

— Era estar entre eles ou estar lutando em guerras. — Aquilo, de fato, não era uma mentira.

— Então decidiu invadir um navio pirata — O capitão constatou com uma sobrancelha erguida.

— Acredite, não era minha primeira opção...

— Sabe o que parece? — O capitão perguntou cruzando os braços, seu olhar estava cético. — Um desertor, você fugiu da luta e teve que se esconder para não ser pego por seus amiguinhos.

— Não! — Agora Jungkook estava ainda mais assustado, pois os desertores eram enforcados em praça pública para morrerem na vergonha. — Por que eu entraria em um navio se eu realmente fosse um desertor? Esse deveria ser o último lugar que eu viria. Sou um pirata, eu juro, mas tive que viver entre eles!

— Lorota — O capitão se afastou para ir embora e os outros três fizeram o mesmo —, você será despachado na primeira ilha que encontrarmos.

— Não, por favor! — Jungkook estava a ponto de chorar de frustração. Tentou pensar em algo rápido e quando teve uma ideia, foi mais rápido ainda em tentar se salvar. — Todo homem tem direito a voto nas questões do momento, direito a uma porção igual de provisões e utilizá-las ao seu modo, a não ser que a escassez obrigue o racionamento.

O capitão parou de caminhar e o encarou com o cenho franzido, igualmente os outros que estavam ao seu lado.

— Como...? — Ele lhe encarou com o semblante banhado em confusão.

— Todo homem só pode ser chamado no seu turno, conforme a lista, pois fora dele está livre para descansar e fazer o que desejar. Porém, se defraudar a companhia, o castigo é ser abandonado numa costa deserta para ser encontrado por outro navio — Jungkook sabia aquilo de cor e salteado por conta de seu pai. — As velas devem ser apagadas às oito horas da noite. Depois desta hora, quem desejar continuar a beber o deve fazer no convés; As pistolas, espadas e demais armas devem sempre estar limpas e prontas para a batalha.

— Capitão esse é...? — Um dos homens perguntou baixinho e o capitão assentiu.

— O código de conduta dos piratas — ele respondeu, encarando fixamente Jungkook. — Continue.

— Crianças e mulheres não são permitidas a bordo. Quem embarcar pessoas disfarçadas é punido com a morte — Jungkook continuou vendo a mulher ao lado do capitão revirar os olhos. — Desertores, durante combates, são punidos com abandono em uma costa deserta ou morte; as disputas são resolvidas em terra com um duelo de pistolas ou espadas. Vence o duelo de pistolas quem não for atingido. No duelo de espadas, perde o primeiro a sangrar; O capitão e o contramestre devem receber dois quinhões do saque ou tesouro. O imediato, o mestre e o oficial armeiro, um quinhão e meio e demais oficiais um quinhão e um quarto.

— Onde aprendeu isso? — Perguntou, parecendo apenas intrigado com a informação. — Um corsário jamais saberia o código de conduta dos piratas.

— Meu pai me ensinou, ele era um pirata, cresci em um navio como este.

— Por que partiu para um navio corsário, então? Traindo seu sangue.

— Meu pai morreu, eu não queria nem pisar naquele navio porque eu me lembrava dele, assim como a pirataria em si, porque ele se orgulhava muito do que era — Jungkook resolveu ser sincero mais uma vez. — Por favor, não me mate ou me jogue em uma ilha, eu não fiz nada de errado! Se é tributos que quer, pode ficar com meu ouro.

O capitão o encarou com um olhar incisivo por alguns instantes, parecendo ponderar sobre o que havia falado. Jungkook rezava para que ele acreditasse em suas palavras, que o deixasse vivo, seu objetivo nem era mais aprender a ler o mapa naquele momento, mas sim sobreviver para poder fazer isso um dia. Ele encarava o capitão com medo e expectativa, esperando que o mesmo tivesse clemência e, após alguns minutos apenas o encarando, ele virou-se e simplesmente começou a caminhar para fora do calabouço.

— Lisa, chame Namjoon e venham até minha cabine, quero discutir sobre algo com vocês — O capitão disse à mulher ao seu lado, que assentiu e o seguiu para fora. — Dino e Mingyu, podem voltar aos seus trabalhos.

— Sim, capitão. — Os dois disseram em uníssono.

Jungkook apertou às grades da cela, mordendo o lábio inferior com medo de perguntar se o deixariam ali, mas ao julgar pelas atitudes e os passos deles se distanciando do lugar, a resposta era sim. Mas antes que os degraus acabassem e ele saísse do lugar onde estava, o capitão olhou para trás, encarando-o de uma maneira um tanto enigmática antes de seguir seu caminho novamente. O que aquilo significava? Haviam acreditado? O poupariam ou o jogariam em uma ilha deserta? A incerteza estava corroendo-lhe os ossos. Por isso, colocou sua mão esquerda sobre a runa em seu peito, e a apertou.

— Eu ouço sussurros do mar — começou a cantar baixinho, aquela música acalmava seus nervos. Fechou seus olhos e deixou apenas o barulho do mar o envolver. — Com o bater das ondas ele está a cantar. No meu ouvido o som a adentrar, dizendo que a terra não é o meu lar...

Estava concentrado cantando quando um barulho ao seu lado o assustou, ele deu um pequeno pulo de onde estava e direcionou seu olhar para onde o barulho havia vindo. Viu apenas um saco grande — parecia ser de batatas — que estava se movendo de maneira suspeita; havia uma pessoa dentro dele, se contorcendo, querendo sair. Jungkook colocou sua runa para dentro de sua camisa novamente e se aproximou das grades, tentou alcançar o saco e não conseguiu; pediu a quem estava dentro dele que tentasse seguir sua voz, para que pudesse ajudá-lo.

O saco, que antes estava encostado na madeira do barco, se jogou no chão e tentou se arrastar até a grade onde Jeon estava. Ele fazia sons estranhos e parecia fazer um esforço fora do comum para se arrastar. Quando finalmente os dedos de Jungkook alcançaram o saco, ele usou toda sua força para puxá-lo para mais perto, deixando-o escorado nas grades da cela enquanto o abria com rapidez. No momento em que abaixou o saco arregalou os olhos, pois reconheceu o rosto de seu capitão...

— Capitão Benjamin? — Jungkook perguntou confuso, vendo que ele estava amordaçado. E após tirar a mordaça de sua boca, o ajudou a sair do saco. — O que aconteceu com você?

— Fui capturado quando estava andando por um beco durante a noite, não sei quem me pegou, bateram na minha cabeça — ele explicou, chutando o saco para longe de seu corpo. Ainda estava com as mãos e as pernas amarradas. — Onde nós estamos?

— Em um navio pirata, na Aurora, a indomável — Jungkook explicou a ele, vendo o semblante de Benjamin empalidecer.

— O capitão Tahang está aqui? — Se embolou na hora de pronunciar o nome.

— Tahang? — Perguntou confuso, mas julgou ser o homem que havia lhe prendido na cela. — Sim, ele está aqui.

— Droga! — Fez uma careta e começou a bater as costas na grade, fazendo Jungkook franzir o cenho — Droga, droga, droga!

— Por que?

— Alguns anos atrás, nosso navio encontrou com a Aurora no meio do mar mediterrâneo, ele afundou nossa pequena frota, deixou somente o nosso navio de pé — explicou com um olhar perturbado no rosto. — Disse para nós voltarmos e contarmos ao rei quem era o verdadeiro dono dos mares.

— Certo, isso não explica o porquê ele te raptou — disse, olhando para suas costas na grade.

— Eu posso te contar essa história. — Uma terceira voz disse de repente, assustando os dois que estavam dentro da cela. Era um homem de cabelo preto com olhos bem puxados e uma cicatriz vertical no olho direito. — Meu nome é Yoongi, navego com o capitão Taehyung há cinco anos. Quer saber o porquê sequestramos seu capitão?

— Sim...? — perguntou receoso, olhando para Yoongi e para Benjamin, que estava encolhido.

— Seu capitão é um desertor covarde — A expressão daquele homem ficou sombria de repente. — Nosso capitão foi clemente, os deixou partir sob a promessa de que nunca cruzariam seu caminho novamente, mas o que o Benjamin fez? Correu para o colinho do rei e armou uma emboscada para nós no Atol das Orcas.

— Droga, droga, droga! — O capitão dizia baixinho e repetidamente, assustando Jungkook.

— De maneira covarde, esperou nós atracarmos o navio no porto para nos pegar com a guarda baixa, em uma taberna. Estávamos apenas bebendo quando ele e vários dos soldadinhos do rei invadiram a taberna e mataram todos que entravam em seu caminho — explicou, olhando nos olhos de Jungkook. — Nós lutamos pela nossa vida até que o último corsário caísse, enquanto Benjamin fugia pelos fundos da taberna. Nosso capitão jurou vingança pelos companheiros mortos, demorou um pouco para encontrá-lo, mas aqui está ele.

— Você fugiu da luta? — Jungkook perguntou chocado para Benjamin, que apenas ficou quieto e não respondeu. Se os corsários que estavam sob comando dele soubessem, teriam feito um motim e o enforcado. — Você deixou todos lá para salvar a própria pele?

— Pois é — Yoongi disse, chamando sua atenção, ele estava de braços cruzados lhe encarando de maneira incisiva. — Ouvi que você tem sangue de pirata correndo nas veias. É ao lado deles que você escolheu ficar?

— Não estou do lado de ninguém. — Se defendeu ao ver o olhar de decepção no rosto dele. — Não sou um corsário nem um pirata.

— Sim, você não é um pirata, nem um corsário — ele disse, se afastando para subir as escadas. — É um traidor, de ambas as partes.

Jungkook ficou parado vendo a silhueta de Yoongi desaparecer depois de subir às escadas. Ele ficou com aquilo na cabeça, afinal, ele não era um traidor, porque nunca pertenceu, de fato, a nenhum dos dois. Fez tudo o que fez apenas para sobreviver e manter o legado de seu pai longe de mãos gananciosas, que até hoje ainda buscam pelo tesouro dele. Se é para ser chamado de traidor por isso, que seja. Mas o caso de Benjamin era diferente, ele havia deixado seus companheiros para trás, para que morressem enquanto ele salvava a própria pele.

Jungkook jamais faria algo assim, porque seu pai lhe ensinou a nunca fugir de uma batalha, seja ela qual for.

Estava enojado com o ato dele. Podia tolerar suas idiotices, a soberba e a completa inexperiência em navegação, porque ele era capitão do navio principal do rei, mas agora entendia como alguém igual a ele conseguiu chegar até onde chegou, às custas da vida de outras pessoas. Jungkook não falou mais com Benjamin, se distanciou dele e o deixou tremendo sozinho na outra cela, sequer pensou em ajudá-lo a tirar as amarras. Ficou feliz por ele ser um completo inútil no mar e não terem travado tantas batalhas, pois se algo muito complicado aparecesse, ele e a tripulação morreriam pela falta de escrúpulos de seu capitão.

Ficaram ali em silêncio por algumas horas, até que o capitão — que agora sabia se chamar Taehyung — retornou com Lisa e um homem que não conhecia; eles estavam com os semblantes sérios e Jungkook se levantou, esperando pelo que diriam sobre seu destino. O olhar do capitão da Aurora caiu sobre Benjamin, que ainda estava sentado — pois estava amarrado — e que o encarou com os olhos banhados em medo. Taehyung não esboçou qualquer outra expressão que não fosse de nítido desprezo, mas logo voltou a lhe encarar.

— Você sabe duelar? — Taehyung perguntou e Jungkook assentiu.

— Sei atirar e lutar também — disse, vendo Lisa fazer uma expressão admirada.

— Sabe navegar? — O capitão perguntou e Jungkook negou. — O que você fazia no navio dos corsários?

— Ajudava a tripulação e nas guerrilhas.

— Isso me basta — Taehyung disse e em seguida direcionou o olhar para Lisa. — Solte-os. — Apontou para os dois que estavam nas celas.

— Sim, capitão — ela disse, abrindo a cela onde Jungkook estava para, em seguida, fazer o mesmo com Benjamin.

— Vamos levá-los para o convés — Taehyung o puxou pelo braço e o homem ao lado dele caminhou até a cela de Benjamin, colocando-o sobre os ombros sem qualquer delicadeza.

Jungkook decidiu não perguntar o que fariam, afinal, estava claro que ele havia decidido seu futuro e seria inútil discutir, não importa quais fossem as barganhas, suas chances de sucesso eram nulas. Quando subiram as escadas, os raios fortes do sol bateram em seu rosto, fazendo-o frisar o olhar até se acostumar com a claridade. Quando enfim sua visão foi se adaptando ao ambiente claro, viu que os tripulantes pararam o que estavam fazendo para observar. Taehyung o soltou e o deixou ao seu lado, Benjamin foi jogado no chão próximo à borda do navio, gemendo de dor pela brutalidade.

— Hoseok. — O capitão chamou um dos homens que estava parado de braços cruzados, vendo-o se aproximar, ele estava com uma espada no coldre. Taehyung virou em direção ao homem que carregava Benjamin, tirou a espada que estava na sua cintura e entregou a ele. — Estamos nos aproximando de uma ilha, prove que sabe lutar. Se ganhar, te deixo viver; se perder, te expulso do meu navio. — Jogou a espada em suas mãos e se afastou.

— Certo — Jungkook disse.

Que escolhas ele tinha no final das contas?

— Quais são às regras, capitão? — Hoseok perguntou, empunhando sua espada. Às pessoas que estavam próximas se afastaram, criando um círculo onde apenas os dois estavam no meio dele.

— Desarme — Taehyung disse, de braços cruzados. — Quem desarmar o oponente primeiro vence.

— Pode fazer uns cortezinhos? — Hoseok perguntou, sorrindo, e Jungkook ergueu uma sobrancelha em sua direção.

— Se quiser — Taehyung riu e todos os tripulantes o seguiram.

— Nossa, como vocês são engraçados — Jungkook não conseguiu conter sua língua, fazendo seu oponente rir ainda mais antes de adotar uma postura defensiva. — Então eu também posso fazer uns cortezinhos, não é?

— Se você conseguir — Hoseok disse com um sorriso ladino antes de avançar em sua direção.

Jeon foi rápido em se defender, bloqueando o ataque com sua espada, o barulho das lâminas se chocando soou alto, mas não demorou para outros ataques surgirem. Por causa dos anos que passou com corsários, ele adotou um estilo de luta mais polido e formal, que fazia com que seu braço esquerdo ficasse escondido em suas costas, porém, aprendeu com um pirata, então sua agressividade e agilidade faziam jus aos ensinamentos do capitão Junghyun. O tilintar das lâminas era música para seus ouvidos, amava aquilo.

Hoseok era rápido e não deixava nenhuma abertura em seus ataques, o que fazia com que ele tivesse sempre que estar atento em sua própria defesa, mas uma coisa que notou é que ele estava muito focado nos ataques, deixando sua perna e seu braço esquerdo desprotegidos, uma vez que estava compenetrado em acertá-lo, por isso, Jungkook usou um pouco mais de força em sua investida. Quando sua espada colidiu com a dele violentamente, Hoseok foi obrigado a recuar um passo e aquela foi sua chance. Com uma destreza sem igual, o moreno girou sua espada no ar, segurando com a lâmina em direção ao seu corpo, antes de se abaixar e passá-la na coxa de seu oponente.

Hoseok praguejou e se afastou ainda mais, segurando a espada com firmeza nas mãos; agora os dois apenas se encaravam a alguns passos de distância. Ele desceu seu olhar para a ferida que havia causado em sua perna e riu. Jungkook não o cortou com a intenção de matá-lo ou amputar sua perna, era um corte superficial, somente para arrancar algumas gotas de sangue. Alguns dos tripulantes soltaram exclamações admiradas e o sorriso de Hoseok só aumentou ainda mais.

— Estamos quites — sorriu e Jungkook franziu o cenho. Olhou para baixo, procurando algum ferimento, até ver um pequeno corte em seu braço direito e erguer as sobrancelhas em surpresa. — Acho que eu estraguei seu uniforme. — disse sínico, arrancando uma risada nasalada sua. — Finalmente, um adversário à altura, isso vai ser interessante.

— Concordo — Jungkook sorriu, estava eufórico, não havia sentimento melhor do que a adrenalina de uma luta.

Os dois se prepararam para lutar de novo, o sorriso não saia do rosto deles e, por um momento, Jungkook se esqueceu da plateia que lhe assistia, era sempre assim quando estava com uma espada na mão. Junghyun e o filho lutavam sempre que tinham a oportunidade, nos Shabat Shalom os tripulantes faziam apostas sobre quem seria o vencedor do dia, embora soubesse que seu pai lhe deixava ganhar algumas vezes. Por isso sempre gostou de duelos, principalmente quando era somente para demonstrar suas habilidades, como naquele momento.

Hoseok era muito bom e isso ele teve de admitir, havia sido golpeado sem sequer notar, mas não deixaria aquilo acontecer novamente, então, por este motivo, focou-se em seus ataques, como seu adversário fazia anteriormente. Eles dançavam uma coreografia de espadas pelo navio, suavam e sorriam a cada golpe, desviavam de ataques e investiam com tudo o que tinham. Nenhum dos dois davam aberturas para novos golpes, o que estava fazendo aquela luta durar um pouco mais do que deveria.

Ambos estavam se cansando e os tripulantes já haviam escolhido seu favorito, alguns apostavam em quem iria ganhar enquanto outros apenas gritavam. Sentia o olhar de todos em cada um de seus movimentos, principalmente do capitão, que Jungkook sabia estar lhe analisando. Sabia que se as coisas continuassem daquele jeito, nunca terminaria o duelo. Tinha que mudar de estratégia, mas, aparentemente, Hoseok teve a mesma ideia, pois jogou o corpo contra o dele e o obrigou a colocar as duas mãos na espada para impedir que ela fosse para seu pescoço.

Ele queria uma luta corporal — Jungkook notou —, e se era o que ele queria, era isso que teria. Usando toda a sua força, afastou Hoseok de seu corpo e o deu uma rasteira, fazendo com que suas costas batessem na madeira do navio. Sem perder tempo, segurou o pulso do seu braço dominante e tentou usar o cabo da sua espada para colidir com a dele e desarmá-lo, mas seu pulso também fora segurado, agora os dois se encaravam sem ter a mínima ideia do que fazer a seguir. Estavam ambos segurando o pulso um do outro, as espadas se encontravam inutilizadas agora que estavam com os braços imobilizados, mas após um sorriso surgir nos lábios de Hoseok, Jungkook sentiu as pernas dele contornarem sua cintura e prendê-lo.

Usando muita força, a julgar pela expressão em seu rosto, Hoseok usou as pernas para derrubá-lo e inverter as posições, fazendo com que Jungkook ficasse por baixo de seu corpo, da mesma forma que ele estava anteriormente. Precisava tomar alguma atitude, pois pelo olhar no rosto do pirata, ele já tinha um plano de como desarmá-lo naquela posição, por isso, no momento em que seu pulso direito foi em direção a madeira pela força de seu oponente, seu punho esquerdo bateu na mão dele, fazendo ambos largarem a espada por causa da dor.

Um silêncio tomou o navio, pois os dois haviam sido desarmados ao mesmo tempo, Jungkook havia batido na mão onde estava a espada de Hoseok e ele batido em seu pulso, onde também estava sua espada. Os dois se encararam confusos, quem havia sido o vencedor do duelo? Após um coro de gritos da tripulação, Hoseok levantou-se, saindo de cima de seu corpo e oferecendo a mão para ajudá-lo a levantar. Quando ambos estavam de pé, eles se encararam a alguns palmos de distância.

— Empate? — Hoseok estendeu a mão em sua direção com um sorriso gigante.

— Empate! — Jungkook disse, aceitando o aperto de mãos. Assim que o aperto acabou, ele direcionou seu olhar para o capitão.

— Estou impressionado — Taehyung disse com uma expressão serena. — Qual o seu nome?

— JK — informou rápido, vendo o capitão erguer uma sobrancelha.

— Bem vindo a tripulação da Aurora, JK — disse, fazendo Jungkook arregalar os olhos e os tripulantes gritarem em comemoração. — Vou ficar de olho em você, então nada de gracinhas.

— Sim, capitão! — Jungkook disse sorrindo grande, pouco se importando de estar em um navio cheio de piratas, afinal, ele ficaria vivo. Era um risco ocupacional. Virou-se para o homem que havia lhe entregado a espada.

— Pode ficar com ela — sorriu, formando duas covinhas em suas bochechas. — Meu nome é Namjoon, sou o navegador da Aurora. Bem-vindo à tripulação.

— Obrigado! — retribuiu o sorriso.

— Terra à vista, capitão! — Lisa gritou do alto da proa.

— Ora, ora — Taehyung sorriu e olhou para Benjamin. — Está na hora de levarmos nosso prisioneiro para dar um passeio. — Desviou sua atenção para um dos tripulantes. — Yoongi, você poderia fazer as honras?

— Com todo o prazer, capitão — sorriu e caminhou até as cordas para descer o bote.

— Subam as velas e desçam a âncora. — O capitão disse a Lisa e ela deu às ordens ao restante da tripulação.

A partir dali, todos correram em direção ao cabrestante, para que pudessem baixar a âncora e parar o navio. Quando o peso de ferro desceu, a embarcação parou. Yoongi já havia baixado o bote e agora caminhava até Benjamin, que se debatia pedindo para soltá-lo, mas teve a mordaça novamente posta sob sua boca. Taehyung caminhou até o outro capitão e o colocou sobre os ombros. Todos estavam quietos, observando-os. E quando chegou na borda, jogou Benjamin do navio, fazendo com que todos ouvissem somente o baque do corpo dele na madeira do bote.

Taehyung e Yoongi desceram pela escada, todos os tripulantes foram para a borda do navio assim que os dois sumiram das vistas; Jungkook também foi, querendo ver o que ia acontecer agora. Ele viu os dois que estavam no bote remar até uma minúscula ilha que não estava muito longe. Era apenas um pedaço de terra com meia dúzia de árvores espalhadas por ela, era tão pequena que conseguiam ver através das árvores o outro lado. Assim que chegaram até ela, arrastaram o desertor para fora do bote e o deixaram na areia, não o desamarraram, apenas o deixaram lá com uma pistola.

Provavelmente só havia uma bala dentro dela.

Jungkook sabia que aquele era o destino cruel dos desertores, ser deixado em uma ilha deserta com nada mais do que uma bala na pistola era como uma sentença de morte; a bala serviria para alertar algum navio ou para atravessar a própria cabeça quando a fome e a sede estivessem insuportáveis demais. Quando Taehyung e Yoongi estavam de volta na Aurora, eles subiram novamente o bote e o capitão deu as ordens para continuar navegando. Em poucos minutos, todos já estavam de volta em seus afazeres. Jungkook olhava em volta quando viu a aproximação de Taehyung.

— Seu destino teria sido o mesmo que o dele — disse assim que estavam de frente um para o outro.

— Por que poupou minha vida? — Não conseguiu conter a curiosidade, não havia motivos para Taehyung ter o deixado entrar para a Aurora.

— Sinto que tem algo diferente em você — falou olhando para a runa em seu peito, que Jungkook sequer havia notado que estava fora de sua camisa. — Torça para que eu não esteja errado ou você fará companhia ao Benjamin naquela ilha. Vou ficar de olho em você. — Caminhou em direção a sua cabine e parou ao lado de um homem loiro. — Jimin dê roupas a ele e algum cargo que não esteja vago, por favor. Não consigo sequer olhar para aquele uniforme horrível.

— Sim, capitão! — O rapaz loiro disse e olhou em sua direção.

Jungkook estava parado esperando algum comando, assim que o rapaz — Jimin no caso — largou as cordas das quais estava amarrando no navio, ele o chamou com a mão, sinalizando que era para segui-lo, coisa que fez rapidamente. O seguiu para dentro do navio, caminhando pelo mesmo lugar que havia saído quando Lisa o encontrou vagando pelo o que parecia ser um depósito, passaram por uma porta e adentraram um local que estava cheio de redes. Constatou que era ali que os tripulantes dormiam, pois em algumas redes tinham objetos como chapéus e roupas.

Caminharam por entre as redes até chegarem em um baú no final do lugar, Jimin o abriu e revelou várias peças de roupas, pareciam usadas, algumas bem gastas e rasgadas, enquanto outras pareciam novas. Ele pegou uma camisa branca e levou até o nariz, por sua expressão não parecia estar fedendo, por isso colocou-a em seu braço enquanto procurava por outra coisa, pareceu encontrar o que queria ao puxar uma calça marrom e analisá-la. Jimin o encarou de cima a baixo e depois fitou a calça.

— Talvez fique um pouco apertada, mas é a melhorzinha que tem — entregou as roupas a ele e voltou a procurar algo no baú. — Como está calor, acho que não vai querer um casaco, mas lhe darei um para usar durante a noite.

— Certo — concordou, colocando a camisa por cima de seu uniforme, medindo para saber se serviria em seu corpo.

— Como você aguenta ficar com essas roupas? — O loiro perguntou-lhe, encarando todas as suas vestes. O uniforme dos corsários consistia em uma camisa branca com babados no peito e nas mangas, um sobretudo azul cheio de bolsos e uma calça também branca, uma meia da mesma cor que as calças e um sapato preto. — Você está em águas tropicais, vai cozinhar dentro dessa roupa.

— Estou acostumado com elas, embora ficar sem talvez seja ótimo — admitiu.

— Há quanto tempo estava com os corsários?

— Na tripulação de Benjamin, um ano e meio mais ou menos, sempre estou mudando de tripulação, mas, ao todo, navego com eles há oito anos — disse fazendo Jimin arregalar os olhos. — Estou no mar desde os treze anos.

— Navega há mais tempo que eu — sua voz deixava nítido que estava surpreso. — É extremamente raro aceitar crianças a bordo, mas se forem como o meu irmão eu consigo entender. Quantos anos você tem?

— Vinte e quatro — Jimin pareceu pensativo por um instante.

— E os outros três anos? — Perguntou fazendo Jungkook franzir o cenho. — Você disse que está no mar desde os treze, que navegou com os corsários há oito anos e se meus cálculos estiverem corretos, até seus vinte e quatro anos restam outros três.

— Passei três anos navegando com piratas.

— Isso explica por que Tae não te jogou na ilha junto com o Benjamin — assentiu para o nada, concordando com os próprios pensamentos. — Meu irmão odeia corsários.

— Você e o capitão...? — Deixou em aberto, com medo de estar tirando conclusões precipitadas.

— Sim, somos irmãos por parte de pai — explicou e Jungkook assentiu. — Não, ele não é o mais velho, todos sempre me perguntam isso e por mais que não pareça, eu sou mais velho que ele.

— Tudo bem — riu e olhou em volta. — Onde eu posso me vestir?

— Tem um banheiro ali no cantinho, ele é pequeno, vai ter que fazer contorcionismo se quiser se trocar lá dentro — apontou para um canto.

— Serve. Obrigado — sorriu e caminhou até o banheiro do qual Jimin havia falado.

Banheiro não era a palavra certa para descrever aquele cubículo, pensou Jungkook, pois não havia a menor chance daquele buraco ser chamado privada, era literalmente um buraco na madeira e todos os dejetos eram jogados no mar. Ele tampou o nariz assim que o forte odor de urina e fezes atingiram suas narinas, jurou que ardia de tão forte que estava. Ele decidiu não demorar muito ali dentro, por isso fechou a porta e colocou a espada que lhe deram no canto antes de começar a se despir.

Quando havia trocado todas as suas roupas, as juntou nos braços, pegou sua espada e partiu para fora daquele banheiro o mais rápido possível, seu nariz realmente estava começando a arder com aquele fedor horrível. Quando saiu, Jimin estava lhe esperando encostado na parede de madeira, de braços cruzados. Quando o viu sair, se aproximou e pegou seu uniforme, jogando-o dentro do baú onde havia pego as roupas que agora estava vestido. Ele pegou um coldre marrom que havia pendurado em um cabideiro preso na parede e o jogou em sua direção.

— Pode usar esse, é meu, mas não uso já que o Tae me deu um novo — disse, mostrando o coldre de couro preto e lustroso que havia em sua cintura. — Vêm, vamos achar alguma coisa para você fazer.

Jungkook assentiu e seguiu Jimin para o convés do navio novamente, estava um pouco mais tranquilo agora que sabia que não ia morrer naquele momento, mas as palavras de Taehyung não paravam de se repetir em sua cabeça: "Torça para que eu não esteja errado, ou você fará companhia ao Benjamin naquela ilha". O que ele queria dizer com aquilo? Ele estava ou não seguro ali? Não sabia o que era, mas torcia para o capitão estar certo no que ele estivesse pensando a seu respeito, pois aquilo lhe garantiria segurança.

Quando chegaram no convés, viram alguns homens limpando o chão de madeira, enquanto outros estavam arrumando cordas, fazendo barris, afiando espadas e alguns apenas sentados sem fazer nada. Jimin conversou com algumas pessoas, perguntando se precisavam de ajuda com algo, mas todos negavam, por isso foram caminhando por todos os lugares do navio, o que fez o moreno conhecer o lugar superficialmente. Enquanto andava, ele viu quatro mulheres — contando com Lisa —, elas faziam suas próprias tarefas e pareciam estar acostumadas com a pirataria.

— Achei que não aceitavam mulheres nos navios — Jungkook disse a Jimin, vendo uma delas limpando uma pistola.

— Outros não aceitam, mas a Aurora sim, o Tae não tem esse tipo de preconceito idiota — explicou, sem parar de andar. — Elas são ótimas no que fazem, por isso Taehyung as aceitou na tripulação. A Lisa, por exemplo, é a intendente dele. — Jungkook arregalou os olhos com aquela informação.

— Nossa...

— Pelo seu choque, imagino que não havia mulheres nos navios que fez parte — disse rindo e ele negou. — A Lisa é uma ótima líder, o Tae disse que se ela tivesse um navio seria a capitã dele, por isso a colocou como intendente.

— Qual é o seu cargo?

— Médico — respondeu simples. — Quando vocês se quebram, eu que conserto.

— Faz sentido — riu.

— Todas as patentes altas estão ocupadas nesse navio, por isso acho que você vai ser ajudante de algum deles, como... — ele olhou em volta, procurando por alguém. Quando seus olhos pararam em Yoongi ele o puxou até si. — Yoon! Você precisa de ajuda com algo?

— Acho que não. Por que? — Questionou, olhando intercaladamente entre os dois, parando seus olhos em Jungkook — Agora, sim, você parece um pirata.

— E o que ele parecia antes? — Jimin perguntou, curioso.

— Um traidor — disse sem rodeios.

— Já falei que não traí ninguém — Jungkook respondeu com o semblante raivoso. — Não sou um corsário e nem um pirata!

— Então o que você é aqui, na Aurora? — Ergueu uma das sobrancelhas em desafio. — Um hóspede?

— Ok! — Jimin bateu uma palma, interrompendo a troca de farpas dos dois. — Vejo que aqui está tudo ótimo, vou ver se alguém está precisando de um ajudante.

— Coloca ele para limpar o banheiro — Yoongi alfinetou antes que Jimin arrastasse Jungkook para longe. — Deve estar familiarizado a ficar rodeado de merda.

— Qual é o seu problema comigo, hein? — o moreno se soltou do aperto de Jimin e se colocou à frente de Yoongi, que também ergueu o queixo em sua direção.

— Ei, chega vocês dois! — Jimin se colocou entre eles. — Yoon para de provocar.

— Não fiz nada — deu de ombros sorrindo.

— Babaca! — Jungkook disse entre dentes, fazendo o sorriso de Yoongi aumentar ainda mais enquanto Jimin o empurrava para longe. — O que eu fiz para ele? Desde que ele me viu não para de me encher. — Disse depois de voltar a caminhar.

— O Yoon é assim mesmo. Ele não confia em você por isso te trata assim, mas ele é um doce.

— Um doce estragado — bufou fazendo Jimin rir. — Qual a função dele aqui?

— Ele é o nosso mestre artilheiro, ninguém é melhor que ele quando o assunto é armas e canhões — explicou, vendo Jungkook revirar os olhos. Claro que ele tinha que ser alguém importante, pensou ele.

— Quem mais tem funções importantes? — Perguntou querendo parar de falar de Yoongi.

— Hm... — Jimin olhou em volta. — Ah, tem o Hoseok, ele é o contramestre do navio, embora seja o melhor em combate com espadas, a função dele é manter esse navio inteiro e abastecido. O Namjoon é o navegador e o Jin é o cozinheiro. Inclusive, você sabe cozinhar?

— Mais ou menos, por que?

— Talvez você possa ajudar o Jin na cozinha, como ele faz tudo sozinho, você pode auxiliar no preparo da comida enquanto não encontro uma função para ti.

— Faço qualquer coisa — sorriu.

(...)

— Tudo menos isso... — Suspirou ao pegar e organizar o terceiro saco de batatas na cozinha.

— Para de reclamar, olha seus braços, força para levantar peso não falta — Jin disse enquanto descascava cenouras em uma rapidez absurda.

— O problema não são meus braços e sim minhas costas — resmungou.

Estava na cozinha ajudando o cozinheiro há algumas horas, pensou que iria ajudá-lo a cozinhar, mas não, ele o colocou para organizar a bagunça que estava lá dentro, dizendo que, por estar sempre cozinhando, não tinha tempo para isso. Então ele arrumava os sacos com comida enquanto Jin cozinhava no fogão à lenha; ele usava um caldeirão enorme e Jungkook fez uma nota mental de perguntar a Jimin depois quantas pessoas estavam naquele navio. Pois aquela quantidade de comida era muita, normalmente nos navios dos corsários eram entregues frutas, pães, bolos e enchiam cantis com água e suco, nunca era uma refeição completa como Jin fazia naquele momento.

O sol já havia se posto e agora o véu da noite os cobria, contemplando-os com a belíssima vista para o céu estrelado, embora Jungkook estivesse vendo tudo pela micro janela que havia na cozinha, mas que, de acordo com Jin, não ficariam ali por muito tempo, pois daqui a pouco teria uma enorme fila para pegar comida. Percebeu que aquela noite seria bem fria por conta da maresia e dos ventos fortes. Embora ame ficar no mar, não tinha boas lembranças quando o assunto era marés agitadas.

Se não fosse o trabalho braçal que estava fazendo ali e o mormaço do fogão à lenha, provavelmente estaria tremendo de frio. Esperava que tivessem casacos para lhe dar ou sua noite naquele barco seria muito longa e agonizante. Quando Jin anunciou que o ensopado de legumes estava pronto, foi instruído a tocar um sino que tinha preso na parede e sem demora fez o que lhe foi pedido. Após tocar a sineta indicando que o jantar estava pronto, aos poucos a fila do qual Jin havia comentado se formou.

Enquanto o mais velho colocava comida nas tigelas de barro, Jungkook entregava pães e talheres para os tripulantes, louco para ser sua vez de comer, o cheiro do ensopado estava ótimo e estava faminto, sua barriga roncando alto era a prova disso. Sentiu vontade de cuspir no pão quando chegou a vez de Yoongi, mas decidiu apenas ignorar sua presença e agradeceu imensamente quando ele fez o mesmo; na vez de Hoseok ele sorriu grande e Jungkook retribuiu o sorriso. Lisa agradeceu com uma reverência, sendo um sinal de respeito entre os asiáticos e retribuiu, já que, embora tenha nascido na américa, sua descendência era asiática também.

Na vez de Taehyung, ele pegou seus alimentos olhando nos olhos de Jungkook, deixando-o nervoso. Por que ele fazia aquilo? Sempre lançando olhares enigmáticos como se estivesse desafiando-o a algo ou tentando descobrir seus segredos mais obscuros, por isso soltou o ar que nem sabia que estava segurando quando ele pegou sua comida e se virou para ir embora. Por um momento incrivelmente rápido, Jungkook teve um vislumbre de algo no peito do capitão, como um colar, mas voltou a sua atenção assim que mais uma pessoa veio pegar seu pão e talher.

Quando enfim todos da fila já estavam com suas comidas, foi a vez dos dois que estavam servindo se alimentarem. Eles pegaram cada um uma tigela e um pão, tampando o caldeirão e subindo em direção ao convés. Caminharam para lados opostos assim que chegaram lá, Jin foi sentar junto a Yoongi enquanto Jungkook caminhou até a beira do navio, queria observar o mar enquanto comia. Encostou seu quadril na beirada e virou o pescoço para observar o navio quebrando o espelho d'água. O ensopado de Jin estava delicioso e o frio não o incomodava tanto, embora estivesse deixando suas bochechas geladas.

Ele sentia que tinha uma conexão com o mar, não sabia se era porque seu pai era pirata e nutria também a mesma admiração pelo oceano, ou se ele simplesmente amava a sensação que os sons da água lhe traziam. Seu progenitor contava que não havia sensação melhor que dormir ouvindo o barulho das ondas, ou de fechar os olhos e sentir o cheiro da maresia em contato com seu nariz. Após fechar seus lumes e encher seu peito de ar, ele constatou que seu pai estava certo. O caldo quente, o vento frio, a maresia, tudo era tão tranquilizador que Jungkook mal ouvia as vozes dos tripulantes à sua volta.

Deixando sua distração de lado, antes que seu ensopado esfriasse, Jungkook cortou um pedaço do pão e o mergulhou no caldo, levando a boca e mastigando com gosto. Deveria elogiar Jin pelo excelente dote culinário que ele tinha, estava tão bom que teve que segurar um gemido de satisfação. Estava faminto, devorou o pão tão rápido que soltou um suspiro frustrado, os legumes ainda boiavam no caldo e Jungkook não demorou em comê-los, sentindo o gosto bom das batatas e cenouras em conjunto com o caldo bem temperado.

Jungkook...

Uma voz o chamou no horizonte escuro que o cercava e ele rapidamente virou o pescoço para encarar o que estava o chamando, a voz o chamou de novo e um arrepio subiu por todo seu corpo, pois ele já ouvira aquela voz, anos atrás quando estava se afogando. Procurou por todos os lugares, mas como da última vez que ouvira, não havia absolutamente nada nem ninguém ali, temia estar ficando louco. Não era difícil os marinheiros enlouquecerem no mar, por simples medo ou talvez desespero de estar no meio da imensidão azul sem ver definitivamente nada no horizonte.

Desde de o dia que havia se afogado, Jungkook tem notado coisas estranhas acontecendo, como uma voz o chamando no mar algumas vezes e sonhos estranhos, o mais comum era sonhar que estava no fundo do oceano enquanto uma mulher cantava, ela parecia querer nina-lo com a canção, inconscientemente aprendendo a cantar a melodia. Já havia cantado algumas vezes, pois ela parecia lhe acalmar de uma forma muito mais eficaz que qualquer outro método, mas queria entender que tipo de sonhos eram aqueles.

Ele sabia onde conseguir a resposta, mas seu pensamento não mudou, ele não pediria ajuda àquelas que traçaram o destino de seu pai e o levaram para longe dele, por mais que soubesse que a culpa não era delas, precisava culpar alguém para diminuir a dor de ter perdido a única coisa importante que tinha na vida. Suspirou e voltou sua atenção ao seu ensopado, já estava quase acabando, mas sua fome havia diminuído por conta dos pensamentos acerca da morte de seu pai.

Levantou seu olhar e viu a tripulação rindo e conversando enquanto comiam, o clima era completamente diferente dos navios corsários do qual fez parte, todos pareciam amigos, enquanto no navio de Benjamin, por exemplo, era só trabalho e mais trabalho. Estavam tão cansados de ficarem andando em círculos e tentando não surtar com os comandos do capitão que qualquer oportunidade que tinham ficavam longe um do outro, buscando um pouco de paz. Viu Yoongi sorrindo enquanto falava com Jin, Jimin e Namjoon também conversando e Taehyung o encarando.

Aquilo o fez arregalar os olhos, pois ele estava com os olhos fixos em si, o que o fez indagar há quanto tempo estava lhe observando. Será que ele havia o visto procurar por algo no mar? Se sim, devia estar achando que era algum lunático. Queria entender o porquê ele sempre lhe encarava com aquele olhar intimidador. Talvez por não confiar e manter sua palavra de que ficaria de olho nele, ou porque estava tramando seu fim e estava se divertindo com sua tranquilidade momentânea? Não sabia, mas não soube o que pensar ao ver ele sorrir antes de desviar o olhar.

— Qual o problema das pessoas desse lugar afinal? — Resmungou baixinho.

~🖤~

Desculpa a demora, mas espero que vocês tenham gostado :)

O que estão achando? Me dêem o feedback de vocês por favor, essa é a obra que eu mais estou empolgada no momento, quero saber o que estão achando dela.

A partir dessa att eu farei a betagem sozinha, o que pode vir com alguns erros, já que eu sou meio lerda com essas coisas. Obrigada pelos bebês que me ajudaram com a betagem até agora Vickzyyy e moon_wakanda♥️

O trabalho de vocês é incrível, não duvidem disso, a decisão de parar com a betagem foi minha, pelos meus próprios caprichos. Mas foi incrível trabalhar com vocês (╥﹏╥)♥️

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#dentesdodiabo

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