Em todo o seu limite
Kim Taehyung
— Por que essas coisas só acontecem nos piores momentos?! — Jungkook passou as mãos pelos cabelos, expressando sua indignação. — Temos três pessoas doentes e uma grávida, definitivamente não é o melhor momento para um confronto.
— Mas agora são circunstâncias diferentes! — Ryan disse chamando a atenção deles. — Há quatro Deuses a bordo, talvez ninguém precise lutar.
Todos olharam uns para os outros de maneira pensativa — humanos contra deuses, definitivamente seria extremamente fácil — por isso após chamar Jisoo a estrategista, seguiram em direção a sua cabine para decidirem o que iriam fazer. Não contou a ninguém, mas ele não estava em sua melhor condição no momento, seu peito ainda doía com o pequeno incômodo, fora o seu corpo que estava extremamente pesado, mas ao menos não estava com a persistente sensação de febre. Em sua cabine naquele momento estavam reunidos: Jisoo, Namjoon, Jimin, Jungkook, Lia, Jayce, Eveline e Ryan, além claro, dele mesmo, que estava tentando não se sentir sufocado com o lenço em seu rosto.
— Qual o seu plano? — Jungkook perguntou a Ryan.
— Eu não sei como funcionam as guerrilhas de vocês, se seguem algum padrão de defesa e ofensiva, mas eu cresci estudando sobre guerras, talvez possamos criar uma estratégia onde somente os Deuses lutam — Ryan disse com sua seriedade de rei. — Já que eles são imortais e poderosos, seriam nossa melhor chance de vitória, vocês se opõem? — Perguntou aos Deuses, vendo-os negarem.
— Mas deixando claro que nunca matei ninguém intencionalmente — Jayce disse com um suspiro pesaroso. — Não sei se eu conseguiria...
— Deixe o trabalho sujo comigo — Jungkook disse sorrindo.
— Talvez somente os dois sejam necessários seguindo a lógica de Ryan — Jisoo disse de braços cruzados. — Somente Jungkook e Jayce conseguem dar conta de um navio, se incendiarem as velas e encurralá-los com o fogo, basta somente afundá-los no mar.
— Lia e Eveline podem cuidar da defesa do Nevrine — Ryan seguiu a ideia de Jisoo. — Para evitar que eles consigam atingi-los com os canhões, Lia consegue controlar os metais, não é? — Perguntou a ela, que assentiu. — Você pode mudar o rumo das balas, talvez até inutilizar os canhões deles. Evie pode criar uma barreira, usando a gravidade para impedir que as balas consigam atingir o navio.
— É uma ótima ideia! — Jisoo concordou. — Seguindo esse plano, conseguiremos nos livrar da Ching Shih rapidamente e de maneira bastante efetiva.
— CAPITÃO! — Lisa entrou na cabine de maneira afoita, atraindo a atenção de todos. — Tem mais um navio vindo em nossa direção.
— Mais um?! — Taehyung perguntou incrédulo, vendo sua imediata assentir. — Quem?
— A Jolly Roger é uma caveira vermelha rodeada por espinhos — ela disse fazendo Taehyung rapidamente adquirir uma expressão desgostosa.
— Quem é? — Jungkook perguntou, olhando em sua direção.
— Anne Bonny — suspirou cansado, sabia que ela viria atrás dele em algum momento. — Esposa do falecido John Rackham, que matei quando estava conquistando as águas tropicais Americanas.
— Vingança então — Jungkook disse encarando-o, o que o fez assentir.
— Ela não irá parar até ter o meu sangue nas mãos — Taehyung cruzou os braços.
— Ainda podemos seguir o mesmo plano, apenas dividindo as funções de Jayce e Jungkook — Ryan disse a Jisoo vendo-a assentir.
— Não — Taehyung disse chamando a atenção de todos, principalmente Jungkook, que o encarou com o cenho franzido. — Mantenha o plano, eu lidarei com Anne e sua tripulação sozinho.
— O que? Não! — Jungkook disse com uma expressão confusa. — Como você sozinho vai lidar com um navio Taehyung? Você não é imortal, um tiro certeiro e o perdemos.
— Você me subestima Jungkook — Taehyung sorriu e abaixou o lenço, para que todos pudessem ver sua expressão decidida. — Nunca se perguntou como um adolescente conseguiu conduzir um navio e uma tripulação sozinho? Como um adolescente alcançou o topo tão rápido? — O encarou com um sorriso. — Posso não ser imortal, mas não sou um humano comum, graças a isso. — Retirou sua runa de dentro de sua camisa.
— Tae isso não é uma boa ideia! — Jungkook se aproximou, com nada mais que preocupação pura no olhar. — A runa não te torna invencível, vai se machucar.
— Sua falta de fé me magoa Jungkook — riu nasalmente, mas estava decidido. — Eu irei sozinho e isso não é negociável, assista o seu namorado provar que ele é digno de ser parceiro de um Deus.
— Tae eles têm mosquetes e canhões, sei que pode lidar com espadas, mas você não é a prova de balas! — Jungkook estava nitidamente se aborrecendo com sua teimosia.
— Eu posso torná-lo a prova de balas — Lia disse sorrindo para Taehyung, o que fez um sorriso surgir em seus lábios também. — Se Evie disser que pode lidar com a defesa sozinha, posso ajudar Taehyung enquanto ele batalha sozinho. — Ela olhou para a Deusa do ar, que arregalou os olhos e olhou para o irmão, que assentiu sorrindo.
— Farei o meu melhor — Eveline disse com um sorriso pequeno.
— Se você voltar com um arranhão sequer eu termino de te quebrar — Jungkook disse com um revirar de olhos, o fez Taehyung sorrir. — Lia por favor, o proteja para que eu possa bater nele quando estivermos sozinhos.
— Pode deixar — ela riu.
— Vamos repassar o plano para a tripulação então? — Jisoo perguntou e todos concordaram.
(...)
Taehyung estava naquele momento enfaixando suas mãos, pois ele lutaria apenas com os próprios punhos.
Jungkook estava repassando os planos junto a Jayce no convés, enquanto ele se preparava para ir para a batalha com Anne sozinho, ele nunca havia lutado apenas usando sua força e agilidade, nunca havia usado sua runa em todo o seu limite, mas chegou a hora de mostrar a sua tripulação e aos Deuses que ele não era o Capitão a toa. Ele não deixaria seu corpo pesado e sua doença diminuir seu desempenho, ele era um predador, nasceu para ser o caçador e não a caça. Anne Bonny queria seu sangue por ter matado o amor da vida dela, apesar de compreendê-la — pois se estivesse em seu lugar, faria o mesmo — ele fez uma promessa a Jungkook e ele era um homem de palavra.
— Tae — Jungkook o chamou da porta da cabine. — Elas chegaram...
— Certo — deixou seu chapéu sobre o cabideiro, pois não queria nada o atrapalhando durante a luta.
— Por favor tome cuidado — Jungkook pediu assim que se aproximou. — Se houver qualquer complicação não hesite em me chamar e...
— Jungkook — o chamou assim que notou que ele estava se perdendo em seus pensamentos e preocupações. — Não se preocupe, voltarei sem qualquer arranhão, eu prometo. — O viu prender o lábio inferior entre os dentes e assentiu, o que o fez sorrir e segurar sua mão ao caminhar para fora da cabine.
Quando saíram todos os tripulantes estavam no convés, todos armados com suas espadas e mosquetes, mas agiriam apenas se o plano não fosse bem executado e algo saísse do controle. Os outros três Deuses estavam na parte mais alta do navio, ao lado do leme, enquanto esperavam por ele, que caminhava de mãos dadas com Jungkook em direção às escadas. Quando estavam lado a lado uns com os outros, os olhares foram direcionados aos dois navios, que estavam cercando o Nevrine, indo cada um para um lado enquanto estavam ancorados esperando a aproximação dos dois, Ching Shih à direita e Anne Bonny à esquerda, as duas posicionadas na parte mais alta de seus respectivos navios.
— Há quanto tempo Capitão Taehyung — Anne disse sorrindo. Ela usava um corset e seu cabelo castanho liso caía sobre os ombros nus, expostos por sua camisa branca folgada. — Espero que não se esquecido de mim.
— Infelizmente sua cara feia vive aparecendo nos meus pesadelos durante a noite — disse fazendo uma falsa expressão assustada, o que fez Anne revirar os olhos. — Mas confesso que estou surpreso, estava com tanto medo de me enfrentar sozinha que teve que pedir ajuda a Ching Shih?
— Temos interesses em comum — Ching Shih disse de braços cruzados, ao contrário de Anne, suas roupas eram diferentes, todas com características culturais de seu país e ao contrário dos tripulantes de sua parceira, todos em seu navio usavam uma Dao*. — Ouvi que um certo Pirata estava interessado em tomar os meus domínios.
— Hoje, com a sua morte tomarei o restante de sua frota — Taehyung sorriu, mas desviou seu olhar para Jungkook, que o encarou antes de levar às costas de sua mão até os lábios, deixando um beijo sobre ela. — Mas quem irá conquistar essa vitória, não será eu.
— O que? — Ching Shih franziu o cenho, com os olhos focados em Jungkook, que se aproximava da borda do navio junto a Jayce.
— Permita-me que eu me apresente — ele disse subindo na borda do navio, segurando uma das cordas, igualmente a Jayce. — Meu nome é Jeon Jungkook, filho do Capitão Junghyun e Mayim, Deusa da água. — Após sua fala Ching Shih ergueu as sobrancelhas, antes de começar a gargalhar e ser acompanhada por sua tripulação.
— Deusa da água é? — Ela caçoou, mas Jungkook não perdeu seu sorriso. — Quem é o seu amigo? Filho da Deusa do cobre? — Riu ainda mais, desdenhando da cor dos cabelos e olhos de Jayce.
— Quer se apresentar? — Jungkook perguntou sorrindo, olhando para Jayce.
— Meu nome é Jayce Embers — ele se apresentou, erguendo a mão direita e criando uma bola de fogo, fazendo com que Ching Shih e sua tripulação paralisassem, os sorrisos deram lugar ao medo em questão de segundos. — O Deus do fogo.
Antes mesmo que a Capitã chinesa pudesse responder, Jayce jogou a bola de fogo contra uma das velas com rapidez e precisão, fazendo o fogo se espalhar e consumi-la aos poucos, todos da tripulação de Ching Shih entraram em pânico assim que a madeira do traquete começou a estalar. Jungkook olhou para trás uma última vez, encontrando seus olhos pedindo com o olhar para que tomasse cuidado, fazendo Taehyung lhe direcionar um sorriso tranquilizador antes que ele se virasse e pulasse da borda do navio. Com isso o plano entrou em execução, Eveline fechou os olhos e ergueu as mãos assim que os canhões de Ching Shih foram posicionados, enquanto Lia o encarou, esperando o momento que também entraria em ação, por isso Taehyung sorriu e estalou os dedos.
— Lhe darei uma chance, Anne — Taehyung disse caminhando até a borda do navio, pronto para pular assim como Jayce e Jungkook fizeram. — Você não terá outra oportunidade como essa, então não a desperdice.
— Não estou vendo seus canhões a postos Capitão — Anne disse analisando o Nevrine, vendo que todos estavam em posição de batalha, mas seus canhões estavam recolhidos.
— Eles não irão lutar comigo — Taehyung disse pulando da borda do navio, fazendo com que todos os homens de Anne apontassem seus mosquetes em direção a ele. Assim que aterrissou no convés do navio dela, levantou a cabeça e sorriu, vendo dezenas de armas miradas em sua direção. — Vamos fazer um jogo?
— Um jogo? — Anne ergueu uma sobrancelha, encarando-o de cima a baixo, notando que sequer uma espada ele carregava. — Que tipo de jogo?
— Irei lidar com todos os seus tripulantes sem usar qualquer tipo de arma fora meus punhos — colocou a mão sobre a cintura, sorrindo ladino. — Mas você será a última, terá que esperar a sua vez.
— Só isso? — Ela perguntou com desdém, fazendo-o assentir. — Então eu posso estimular meus tripulantes, não é? Se são somente essas as regras, você não irá se importar certo? — O sorriso no rosto dela deixava claro que era uma trapaceira, mas Taehyung se garantia, por isso deu de ombros. — Darei quinhentas moedas de ouro ao marujo que trouxer a cabeça dele pra mim.
Os tripulantes de Anne sorriram e o encararam com sangue nos olhos, o que o fez sorrir e os encarar com desdém, antes de deixar que o poder de sua runa o tomasse por completo. Disse a Jungkook quando estavam na taberna que ao se concentrar podia escolher quem gostaria de afetar com a influência de sua runa, nunca havia usado o poder dela em todo seu limite, mas estava louco para descobrir o que ela fazia com as pessoas, pois se uma fera do mar parou com o poder dela, imaginava o que aconteceria com os humanos. Por isso, junto a um sorriso deixou-se ser tomado pela runa, deixando sua visão completamente isenta de cores, vendo apenas um padrão de cores sóbrias e sem qualquer tonalidade fora do padrão cinza.
Sabia que suas irises haviam sido tomadas por suas pupilas, cobrindo suas escleras, porque sempre que usava o poder da runa sem segurar-se ao controle isso acontecia, era como se seu corpo fosse tomado por uma força maior, que clamava para ser libertada. Taehyung viu os marujos que estavam mais próximos hesitar ao ver seus olhos, o que fez um sorriso ladino surgir em seus lábios, o mais próximo que chegou de libertar seu poder máximo foi com o Peixe do Diabo, mas se conteve por medo de afetar Jungkook. Estava na hora de testar seus limites, por isso deixou que a fera que estava adormecida se soltasse de suas correntes, fazendo sua presença pesar sobre os ombros de cada um que estava a sua frente.
Os marujos de Anne começaram a tremer, fazendo com que os mosquetes em suas mãos tremulassem e perdessem a estabilidade, os que estavam mais próximos recuaram, sentindo sua presença esmagadora rasgar completamente a coragem deles, expondo-os ao medo mais paralisante que haviam sentido em toda a miserável vida deles. Riu de desdém assim que notou o quão fácil seria lidar com aquela situação, Taehyung levantou o olhar até encontrar os olhos confusos de Anne — que o Capitão fez questão de deixar de fora da influência de sua runa —, ela encarava seus tripulantes com a expressão completamente desarranjada, sem entender o porquê todos estavam paralisados, ver sua confusão só aumentava ainda mais sua satisfação.
— O que estão fazendo?! — Ela gritou, assustando a todos. — Atirem nele!
Naquele momento, os tripulantes de Anne pareceram lembrar que tinham armas à disposição deles que os permitiam matá-lo sem terem que se aproximar, por isso ele voltou a ser o alvo da mira de cada um deles. Anne sorriu em sua direção de maneira debochada, porém seu sorriso morreu no momento que os cartuchos começaram a cair de dentro dos mosquetes, deixando todos os tripulantes totalmente alarmados, mas o que causou choque foram os ferros dos mosquetes começando a se retorcerem, como se fossem moldados por um frágil tecido. A Capitã, confusa e enfurecida pegou seu mosquete e apontou em direção a Taehyung, mas ele também se retorceu antes que ela pudesse atirar e foi atirado para o mar com força, deixando-a confusa.
— Sintam-se honrados, pois vocês estão na presença de uma Deusa — Taehyung disse sem tirar o sorriso do rosto. Após sua fala todas as armas que estavam sobre as mãos dos marujos voarem em direção ao oceano, enquanto o Capitão apontava em direção a Lia, que estava com as mãos estendidas e com os olhos brilhando com um verde cintilante. — Porém, morrerão nas mãos do diabo.
Taehyung sorriu ao ver os olhares assustados de todos irem em sua direção, antes de partir para cima dos tripulantes, que não sabiam se lutavam ou corriam, o que lhe deu a vantagem e assim que alcançou o primeiro marujo, o agarrou pelo pescoço enquanto seus olhos assustados mal tiveram tempo de acompanhar seus movimentos, por isso foi extremamente fácil quebrar os ossos de seu pescoço e matá-lo com apenas uma mão. Jimin sempre foi apaixonado por tudo o que envolvia medicina e o corpo humano, leu mais livros na infância do que Taehyung leu a vida inteira, mas tinha uma coisa em específico que seu irmão contava que agora estava tendo a oportunidade de ver com os próprios olhos.
Jimin lhe explicou uma vez que quando uma pessoa acaba em uma situação muito tensa, seu corpo entra em um estado de alerta máximo, que ele chama de luta ou fuga, seu coração acelera e seu cérebro se prepara para tomar uma atitude, seja ela correr ou lutar. Quando seus olhos completamente escuros focaram em sua próxima vítima, notou que ela arregalou os olhos e sacou sua espada, fazendo-o sorrir, pois ao contrário do que imaginou ele decidiu lutar e não fugir. Porém mesmo armado com uma espada, ele não era páreo para Taehyung usando o poder de sua runa, que com uma agilidade sem igual torceu o pulso do marujo com força, ouvindo-o gritar junto ao som dos ossos de seu pulso se partindo. Evitando sofrimento desnecessário, Taehyung fez o mesmo que havia feito com o outro, quebrando seu pescoço logo em seguida.
Antes de partir para sua próxima vítima, permitiu-se distrair-se um pouco, apenas para olhar para sua mão e averiguar se ao usar sua força máxima estava se machucando, mas não havia qualquer machucado ou ossos quebrados. Ouviu Anne gritar, pedindo para irem todos para cima dele, fazendo com que finalmente — apesar da influência da runa sobre eles — tomarem coragem de irem para cima dele. Taehyung não seria páreo para eles se viessem todos para cima dele com espadas, por isso agradeceu quando Lia cuidou dessa parte por ele, enrolando as lâminas e as deixando inutilizáveis. Por isso aproveitou o atordoamento deles para golpeá-los com socos usando toda a sua força, acabando por matar uns e incapacitar outros, deixando um rastro de corpos no chão. Seu corpo estava pesado e sua respiração mais acelerada, mas lutou com cada marujo que veio em sua direção.
Tudo o que ouvia eram os sons dos canhões do navio de Chang Shih tentando acertar o Nevrine e os gritos dos tripulantes, provavelmente por conta de Jayce e Jungkook, que provavelmente estavam fazendo um massacre. Mas Taehyung não ousou se distrair novamente, nocauteando todos que entravam em seu caminho, quando só havia corpos a sua volta ele parou um momento para regular a respiração, notando somente naquele momento o quão acelerado estava seu coração. Havia sangue em suas roupas e mãos, mas após uma avaliação em si mesmo, notou que o líquido escarlate não era seu e sorriu, pois agora só havia Anne de pé, que estava com um olhar horrorizado e o observava caminhar em sua direção com uma postura totalmente defensiva.
— Você é um demônio... — Ela disse retirando uma faca de sua bota. Taehyung olhou para Lia, pedindo com um acenar para que ela não se livrasse daquela faca.
— Deixarei que fique com ela, para não ser injusto — Taehyung disse subindo as escadas e ficando a alguns metros dela. — Mas saiba que você não irá me golpear com ela, prometi ao meu namorado que voltaria para ele sem qualquer arranhão.
— Um namorado? — Anne riu com desdém. — Neste ramo de trabalho? O destino dele será o mesmo que o de John, virá um pirata imundo tirar a vida dele por absolutamente nada.
— Foi John que veio até mim, Anne — Taehyung suspirou. — Não o matei por nada, era ele ou eu, a tripulação dele ou a minha. Ambos somos capitães, sabe como as coisas funcionam, pode me culpar, mas ele escolheu o caminho dele quando veio atrás de mim.
— Terei a minha vingança Capitão — Anne adotou uma pose de luta, encarando-o com ódio puro. — Não o matarei, o deixarei apenas machucado o suficiente para não se mexer e em seguida matarei seu amante.
— Quer tentar matar ele primeiro? Gostaria de ver sua cara de frustração quando não conseguir — Taehyung riu, mas acabou tossindo e excretando sangue de sua boca, o que chamou a atenção de Anne.
— Não me diga que você está morrendo? — Ela riu, fazendo-o rir também.
— Sim estou e por isso sua derrota vai ser tão humilhante — limpou o sangue de seus lábios e adotou uma pose defensiva. — É bom que seja boa em lutas, pois não pouparei minha força com você.
— Não pedi que fizesse isso.
(...)
Jeon Jungkook
Ele definitivamente era imortal.
Jungkook perdeu as contas de quantos tiros levou e continuou vivo, Jayce também estava cheio de sangue e marcas de balas espalhados pelo peito, braços e pernas. Eles ainda se feriam e sentiam dor, porém seus corpos cicatrizavam em uma velocidade tão grande que a dor era passageira, sentiam apenas o impacto da bala e em seguida ela era expulsa pelo seu corpo, antes da ferida cicatrizar e não restar nem mesmo uma cicatriz. Como havia dito a Jayce, estava fazendo o trabalho sujo enquanto ele deixava o navio inutilizável, havia atirado e matado todos os tripulantes de Ching Shih, enquanto tentavam inutilmente acertar o Nevrine, mas Eveline estava fazendo um ótimo trabalho com a defesa.
Nada conseguiu ultrapassar sua barreira, fazendo com que todas as balas dos mosquetões e canhões caíssem no mar.
— Você matou todos? — Jayce disse com uma careta, olhando para os corpos no chão.
— Nem todos, Ching Shih sumiu — Jungkook limpou o suor de sua testa, procurando pela Capitã. — Irei procurar por ela, acho que se escondeu abaixo do convés. — Encarou Jayce novamente, notando que ele evitava ao máximo encostar nos corpos ao caminhar. — Volte para o Nevrine, assim que eu matá-la irei afundar esse navio.
— Certo! — Disse caminhando pelo convés, procurando por uma corda para que pudesse voltar.
Jungkook respirou fundo e correu até às escadas, procurando pela Capitã na parte de baixo do navio. Não havia mais ninguém naquela parte, apenas redes e uma bagunça que não tinha no Nevrine, parecia que um tornado havia passado por lá. Quando estava pronto para descer mais um lance de escada, assustou-se com uma presença surgindo à sua frente abruptamente, antes de sentir uma dor excruciante no peito. Jungkook gritou de dor e recuou, tentando fugir do que estava ferindo-o, mas suas costas bateram contra a madeira da parede, fazendo a dor aumentar ainda mais. Suas mãos foram instintivamente para o que estava machucando-o, o que fez tudo piorar, pois suas palmas foram cortadas.
Quando seu olhar caiu para baixo, notou a lâmina de uma Dao perfurando estrategicamente, o seu coração.
— Percebi que não importa onde leva um tiro, você e seu amigo se curam rapidamente — Ching Shih disse empurrando ainda mais a lâmina, fazendo Jungkook gritar e sentir sua visão escurecer por um lapso momentâneo. — Mas também notei que vocês sentem dor, então como deve ser se curar a cada giro que eu der na minha Dao?
— Sua... — Gemeu de dor assim que ela girou a espada, cortando suas mãos, que tentava segurar a lâmina.
— Sabe... todos os homens que você matou lá em cima, eram uns imprestáveis, não tinham onde cair morto — ela levantou o olhar, encontrando os seus, antes de tirar uma adaga do cinto e cravá-la em sua barriga. Gritou, sentindo cada milímetro da faca adentrar sua carne e espalhar a dor por todo o seu corpo. — Mas ainda assim, eram os meus parceiros, por isso eu quero que você sinta, cada mísero segundo de dor, por eles.
Jungkook gritou, sentindo seus olhos marejarem cada vez mais a cada facada que ela direcionava sobre seu abdômen repetidamente. Apesar de suas feridas e cortes se curarem, a dor que sentia a cada uma delas era agonizante, estava com falta de ar, não conseguia sequer organizar seus pensamentos para encontrar uma maneira de sair daquela situação. A Dao ainda permanecia estava cravada em seu peito, enquanto Ching Shih o esfaqueou repetidamente no mesmo ponto, sem lhe dar qualquer pausa para conseguir se recuperar. Porém quando ela finalmente parou de golpeá-lo, quando finalmente Jungkook acreditou que teria um alento durante aquela tortura, ela fez algo pior.
Jungkook já esteve entre a vida e a morte anteriormente, porém nunca esteve preso a vida e nunca desejou a morte. Mas naquele momento, ele clamou que seu sofrimento tivesse um fim.
Ching Shih usou a adaga — agora manchada com seu sangue — para atravessar sua garganta, restringindo completamente sua respiração. Jungkook agonizou e se debateu, sentindo seu corpo colapsar pela falta de oxigênio, suas mãos foram em direção às dela, tentando tirar a lâmina de seu pescoço, mas não conseguiu. As lágrimas escorriam por sua bochecha e em desespero, sua boca se abriu e fechou diversas vezes procurando por ar, mas tudo o que conseguia fazer era cuspir sangue, no momento que perdeu a consciência, mal teve tempo de recobrar os sentidos, pois assim que abriu os olhos agonizou novamente. Jungkook pela primeira vez em toda sua vida, clamou que o matassem e parassem com aquela sensação desesperadora.
Um trovão forte assustou Ching Shih, que torceu novamente a Dao, vendo-o chorar com os lábios manchados de sangue, tentando implorar que ela parasse, mas apenas balbuciava sons desconexos e a qualquer sentido. Jungkook queria fazer alguma coisa, qualquer coisa, mas seu corpo não lhe obedecia, estava em completa dor e agonia, estava em estado catatônico. O mar começou a castigar o navio, fazendo-o balançar, o que fez Ching Shih ter que buscar estabilidade, assim que o encarou arregalou os olhos, assustada com o que estava vendo. Jungkook mesmo estando em aflição, conseguiu notar suas irises cintilantes sendo refletidas nos olhos dela. Tentou balbuciar, implorar novamente, mas não conseguiu.
— Sei que em algum momento alguém virá procurá-lo, mas até lá, você irá sofrer da pior maneira que eu encontrar — ela disse torcendo a adaga fincada em seu pescoço.
Jungkook chorou ainda mais, implorando com os olhos para que ela parasse, sentia mar tão agitado quanto ele, ouvia a chuva forte junto aos trovões, denunciando seu desespero. Ching Shih tinha um olhar penetrante, sádico, amando presenciar seu desespero, mas foi extremamente abrupta a maneira como seu semblante satisfeito mudou para um de agonia. A Capitã largou Jungkook de repente, que caiu no chão agora que não estava sendo pressionado contra a parede, vendo-a gritar enquanto o fogo a consumia aos poucos. Ela se debateu antes de cair no chão, gritando e tentando apagar as chamas que desfiguraram toda sua pele e a transformava em nada mais que um grande cadáver carbonizado.
Em algum momento Ching Shih parou de gritar e se debater, seu corpo encolheu antes das chamas simplesmente sumirem, deixando somente pedaços de tecido e um cadáver queimado. Jungkook ainda em desespero retirou a adaga de seu pescoço em um impulso, fazendo o oxigênio fluir novamente, fazendo-o puxar o ar com bastante ímpeto e desespero. A dor que o tomou fora indescritível, suas mãos tremiam ao passar os dedos sobre o pescoço, sentindo a presença da lâmina mesmo que ela não estivesse mais ali. Porém a pior dor agora se alojava em seu peito, com a lâmina da Dao atravessando seu corpo, tentou removê-la, mas a dor que aguda sentia ao tentar tirá-la o impedia de concretizar o ato. Os seus olhos ainda ardiam por conta das lágrimas, mas mesmo sua visão estando embaçada, viu Jayce parado, encarando o cadáver em estado de choque.
— Ja-Jayce — o chamou, vendo-o tirar a atenção de Ching Shih, para finalmente encará-lo. — Me ajuda. — Pediu aos prantos. Jayce apesar de estar com uma expressão horrorizada, correu em sua direção, antes de se ajoelhar na sua frente.
— Meu deus o que eu faço? — Perguntou aflito, até que seus olhos focaram na poça de sangue que havia se formado durante a tortura de Ching Shih.
— Tire a Dao, eu não consigo sequer tocá-la — sua voz saiu tão embargada, que deixava claro que estava implorando por ajuda. Ao contrário de minutos atrás, que implorava que Ching Shih o matasse.
— Tudo bem — Jayce assentiu e segurou o cabo do sabre, fazendo uma careta de dor surgir no rosto de Jungkook novamente, fazendo-o se encolher e contrair os dedos dos pés, cobertos pela bota. Apesar de tentar ser delicado, a dor ao sentir cada centímetro da lâmina saindo de seu corpo o fez chorar alto.
Jungkook ainda estava tremendo, seu corpo já havia se curado assim que a lâmina deixou seu peito, não havia mais nenhuma ferida ou dor, porém havia algo psicológico como se ainda pudesse sentir o ferro da lâmina em contato com a sua pele. Jayce parecia tão atônito quanto ele, evitando olhar para qualquer outra coisa que não fosse a Dao sobre suas mãos, ficaram ali por alguns minutos, tentando acalmar os nervos, até que Hoseok e Namjoon e Yoongi chegaram, preocupados com o sumiço deles. Jungkook ainda estava em choque, seu corpo ainda tremia de medo e sua cabeça girava em torno das inúmeras sensações negativas que sentiu, ele foi levado pelos tripulantes, que estavam quase carregando-o. Assim que estava sobre o Nevrine novamente, ele sentou-se em uma cadeira.
— O que houve?! — Lia perguntou preocupada, Eveline também parecia aflita ao seu lado. — Eu senti um aperto no peito, de repente o mar começou a se revolver e o céu a escurecer.
— Está coberto de sangue... — A Deusa do ar disse assustada.
— Ching Shih me encurralou e me torturou... — Jungkook disse aceitando o copo de água que Jimin estendeu a ele, bebendo o líquido frio, sentindo o copo tremular junto às suas mãos. — Onde está o Tae?
— Estou aqui — ouviu sua voz junto ao som de seu corpo aterrissando na madeira. Assim que seus olhos se encontraram uma ruga de preocupação surgiu no rosto do Capitão, que correu em sua direção. — O que houve?! Esse sangue é seu?!
— Sim — suspirou aliviado, mas seu rosto se contorceu em uma careta de choro e o olhar de preocupação de Taehyung se tornou mais intenso. Estendeu os braços, estava assustado, não conseguia se livrar daquele medo e angústia.
— O que houve? — Taehyung o acolheu nos braços, apertando-o com força. — Está tremendo tanto...
— Encontrei Ching Shih torturando-o, aproveitando-se do fato que nos curamos e não morremos, para machucá-lo repetidas vezes e de várias maneiras diferentes — Jayce respondeu ainda em estado apático, sem demonstrar qualquer reação. Lia preocupada se aproximou, segurando em sua mão, tentando consolá-lo.
— Oh meu amor eu sinto muito — Taehyung o consolou, acariciando seus cabelos, enquanto seus dedos trêmulos o seguravam com força.
— E-eu não consigo me acalmar — disse praguejando, sua voz ainda estava embargada e sentia as sensações de corpo confusas, não havia mais perigo, mas sentia as lâminas perfurando-o em seu subconsciente.
— Vamos, vou banhá-lo e acalmá-lo — Taehyung disse levantando-se, tomando-o em seus braços, pronto para carregá-lo para a cabine.
— Não! Eu tenho que afundar os navios — Jungkook disse segurando em sua camisa. Apesar de suas palavras, sequer conseguia conter a grande nuvem de tempestade sobre suas cabeças. Agradecia que ao menos não chovia mais.
— Eu faço isso — Lia disse estendendo uma mão em direção a casa navio.
Todos que estavam sobre ambos os navios estavam mortos e outros feridos demais, se não estavam mortos ainda, estariam em breve. Lia estava com as mãos abertas, porém foi fechando-as devagar, enquanto os navios estalavam e se partiam aos poucos, as madeiras estavam sendo quebradas, até que os dois fossem partidos ao meio. A Deusa da Terra não parou de destruí-los até ter a certeza de que ele estava afundando, naquele rumo Jungkook não precisaria interferir, os navios iriam afundar de qualquer maneira, com sua ajuda ou não. Agradeceu por não ter que tomar nenhuma atitude, pois não tinha certeza de que suas mãos trêmulas fariam um bom trabalho, por isso suspirou e só deitou sua cabeça no peito do Capitão.
— Deixe-me cuidar de você gatinho, você já fez muito — Taehyung sussurrou para que somente ele o escutasse.
— Tudo bem — não podia negar, sentia-se exausto, mas não fisicamente.
— A toda velocidade para o nosso destino! — Taehyung gritou, fazendo os tripulantes assentirem e tomarem seus rumos. — Iremos atracar no porto mais distante da cidade, entraremos em território hostil, todos devem se misturar. Ching Shih não tem apenas um navio e uma tripulação, por isso vamos evitar confrontos. — Taehyung caminhou em direção a cabine, mas parou ao lado de Lisa, que não carregava seu costumeiro sorriso. — Vamos cuidar dos nossos antes de qualquer coisa.
— Obrigada Capitão — Lisa lhe estendeu um sorriso fraco. A imediata estava abatida desde que Jennie passou mal.
Taehyung assentiu e caminhou em direção a cabine, empurrando a porta com as costas e fechando-a com o pé, enquanto tentava respirar fundo e acalmar as diversas sensações negativas de seu corpo. O Capitão o sentou sobre a cama, se afastando para encher a tina que ficava atrás de um biombo de madeira e tecido, enquanto o observava de maneira silenciosa, apenas ouvia o som da água sendo despejada. Banhos eram um luxo que os piratas tinham apenas quando faziam paradas em portos, então surpreendeu-se ao notar que Taehyung tinha uma banheira em sua cabine, pois era notório pelo cheiro forte de suor dos corpos dos piratas do Nevrine que aquilo era uma realidade deles também.
— Está se perguntando por que tenho uma banheira na cabine? — Taehyung riu baixo, sem encará-lo.
— É curioso... nem mesmo Benjamin tinha uma — Jungkook disse vendo o Capitão caminhar em sua direção.
— Jimin insistiu para termos uma, pois disse que certos ferimentos se não fossem lavados devidamente poderiam se tornar fatais — Taehyung disse ajoelhando a sua frente, olhando nos olhos. — Vimos um tripulante do meu pai perder uma perna por conta disso, a ferida infeccionou e iniciou a putrefação, sua perna teve de ser amputada.
— Que horror...
— Sim — uma expressão serena surgiu em seu rosto quando olhou para suas mãos, antes de segurá-las e subir o olhar, mantendo contato visual. — Não temos água quente, mas você precisa se banhar, ver essa quantidade de sangue em seu corpo está me deixando agoniado.
— Por conta de sua runa? — Perguntou inocentemente, deixando que Taehyung desabotoar sua camisa. Mas ele negou com a cabeça.
— Me perturba saber que todo esse sangue é seu — ele suspirou pesaroso, antes de ajudá-lo a se levantar e retirar o restante das peças. Jungkook não se incomodou com sua nudez, assim como Taehyung não estava olhando-o com malícia. — Venha, irei ajudar a se banhar.
O Capitão o levou até a tina de madeira, Jungkook notou que havia apenas água suficiente para cobrir suas pernas, por isso mesmo a água estando fria ele sentou-se nela, sentindo sua pele se acostumar aos poucos com a temperatura da água, mas logo relaxou. Taehyung pegou uma esponja antes de molhá-la e passar sobre seus braços, fazendo-o fechar os olhos e aproveitar seu banho, sua cabeça recostou-se na madeira da tina e deixou-se ser banhado, sentindo a delicadeza dos toques sobre sua pele. Suas mãos trêmulas se fecharam quando sentiu a esponja ser passada por seu peito, mas assim que sentiu-a passar por seu pescoço seus olhos se abriram abruptamente e segurou o pulso de Taehyung, que o encarou surpreso.
— O que houve? — Perguntou preocupado, ao notar seu olhar assustado e sua mão trêmula apertando seu pulso. O coração de Jungkook estava disparado, mas soltou a mão dele ao notar sua reação.
— Desculpe... é que Ching Shih me apunhalou no pescoço — abaixou a cabeça, sentindo-se envergonhado. Tentou engolir o bolo que surgiu em sua garganta e evitou olhar para o Capitão. — Está muito recente, sinto como se a faca ainda estivesse aqui...
— Sinto muito — Taehyung suspirou com pesar, atraindo o olhar de Jungkook.
— Pelo que? — Perguntou confuso. — Não foi culpa sua.
— Mas poderia ter sido evitado, eu deveria ter previsto que algo assim poderia acontecer — o encarou com os olhos banhados em culpa. — Era óbvio que algo assim poderia acontecer, Ching Shih era uma mulher dissimulada e apesar de imortal, você ainda é um humano. Se eu não tivesse sido tão prepotente, essa situação poderia ter sido evitada.
— Tae... — Virou o corpo em direção a ele, segurando em suas bochechas para que olhasse em seus olhos. — Você não poderia prever isso, nosso plano foi executado com sucesso, o que houve foi apenas um infeliz imprevisto.
— Um imprevisto que teríamos evitado se eu não tivesse ignorado o óbvio — suspirou pesaroso.
— Meu pai costumava dizer que o óbvio não existe, que é algo relativo, cada um tem uma visão diferente sobre essa palavra — sorriu pequeno, apesar de suas mãos tremerem, apenas a presença de Taehyung era o suficiente para acalmá-lo. — A obviedade é um conceito que as pessoas usam para se sentirem inteligentes, mas vira uma maldição quando algo sai do controle, deixando essas pessoas com um sentimento de culpa por não ter notado o "óbvio", assim como você agora. — Jungkook puxou o rosto de Taehyung delicadamente, deixando um beijo sobre sua testa. — É natural as coisas fugirem do nosso controle Tae, apesar de ser uma lembrança que jamais esquecerei, fico feliz por ter sido eu e não você a passar por isso.
— Eu prometi estar sempre ao seu lado, mas quando você mais precisou...
— Você sempre esteve Taehyung — o interrompeu. — Eu nunca mais quero ouvir você se culpar pelos erros dos outros, poderia ter sido qualquer um no meu lugar, acontece que eu estava no lugar errado e na hora errada, mas ainda bem que era eu. Outros não teriam a mesma sorte que eu tive.
— Como eu não pude impedir que isso acontecesse — Taehyung disse segurando uma de suas mãos, que ainda segurava suas bochechas. — Farei tudo o que estiver ao meu alcance para fazê-lo esquecer o que houve, haverá tantas memórias boas, que as ruins não terão espaço em sua cabeça.
Jungkook sorriu grande, sentindo-se extremamente sortudo por ter alguém como Taehyung ao seu lado, inclinando-se para deixar um beijo sobre seus lábios, sendo retribuído com tanto carinho e delicadeza que quase se derreteu na tina, sorrindo entre o beijo e fazendo com que um sorriso surgisse no rosto do Capitão também. Quando Taehyung voltou a banhá-lo, pediu que permanecesse com os olhos abertos, enquanto passava a esponja pelas áreas que Ching Shih havia o ferido, a voz rouca do Capitão sussurrava para que olhasse em seus olhos, para focar-se somente nele e em seus toques. A delicadeza da qual ele limpou o sangue de seu pescoço e peito fez seu coração se acalmar.
Quando estava totalmente limpo, seco e vestido Jungkook segurou nas mãos de Taehyung, que o encarou confuso enquanto o levava até uma cadeira e o sentava nela, sentiu os olhos dele seguirem cada movimento seu, enquanto caminhava até o barril de água que ele usou para encher a tina, voltando de lá com um recipiente com água e um pano limpo. Assim como Taehyung havia feito, o ajudou a se despir e molhando o pano começou a limpá-lo, tirando qualquer resquício de sangue de seu corpo, notando um sorriso apaixonado surgir nos lábios dele enquanto passava o pano por seu rosto, pescoço, braços e peito. Notou também o quanto sua pele estava quente e como não havia percebido que ele estava com febre esse tempo todo.
— Tae como está se sentindo? — Perguntou, ajudando-o a se vestir novamente com roupas limpas.
— Péssimo — admitiu com um suspiro e um sorriso fraco. — Sinto-me como se um exército tivesse passado por cima de mim. A dor em meu peito está aumentando a cada dia.
— Vamos pedir para Jimin lhe dar um remédio — Jungkook disse espalmando suas mãos nas bochechas de Taehyung. — Sua febre está alta.
— Tudo bem — assentiu e segurou sua mão, pronto para sair da cabine. Porém antes que tocasse na maçaneta alguém bateu na porta.
— Capitão? — Namjoon o chamou atrás da madeira, fazendo Taehyung se apressar a abrir a porta. — Temos mais um problema.
— O que houve? — Perguntou preocupado.
— Ryan está tendo uma crise — Namjoon informou com um suspiro. — Jimin está cuidando dele e de Jennie, o rei reclama de dores fortes por todo seu corpo enquanto Jennie está tendo alucinações. Oliver disse que isso acontece com o rei há anos, desde o seu nascimento para ser mais exato, mas especificou que ele precisava de auxílio médico ou poderia infartar por conta do estresse.
— Estamos muito longe do nosso destino? — Taehyung perguntou e Namjoon negou.
— Chegaremos em uma hora, no máximo.
— Certo, irei conversar com Jimin para saber o que fazer com eles quando chegarmos — o Capitão disse olhando para Jungkook, antes dos três caminhar até as escadas.
— Jungkook! — Eveline o chamou, quando o viu passar pelo convés. Ela caminhou em sua direção às pressas, parando a sua frente. — Posso falar com você por um momento?
— Tudo bem — olhou em direção a Taehyung. — Irei encontrá-lo assim que ouvir o que ela tem a dizer.
— Certo — o Capitão assentiu e seguiu Namjoon, deixando-os para trás.
— Sobre o que você gostaria de falar comigo? — Jungkook perguntou curioso. Eveline olhou em volta, vendo os tripulantes fazendo a limpeza do convés, por isso segurou em sua mão e o levou até o leme, onde não havia ninguém.
— Eu preciso lhe entregar algo — ela disse assim que estavam longe dos ouvidos curiosos, retirando de dentro de seu casaco um livro com capa de couro, estendendo em sua direção.
— O que é isso? — Perguntou pegando o livro, porém quando iria abri-lo ela o impediu.
— Este é o diário de Avír, ele pediu para que eu o entregasse ao Deus que eu mais confiasse — ela disse olhando-o nos olhos. — Ele foi muito específico com as instruções, pediu que este livro fosse lido apenas quando estivéssemos em solo asiático, que ninguém poderia saber da existência dele fora eu e o Deus que eu escolhesse.
— Mas o que tem neste livro? — Perguntou confuso.
— Eu não sei, uma das instruções dele era de que apenas o Deus que eu escolhesse poderia ler, como foi um pedido dele eu não podia ignorar — ela disse encarando o livro em suas mãos. — As últimas palavras de Avír direcionadas a mim antes de partir foram: "nem tudo é o que parece".
Jungkook arregalou os olhos, pois aquelas foram as últimas palavras de Amélia antes de ser castigada por revelar algo proibido.
~🖤~
Reta final hein galera? E dessa vez não tem novo arco :)
Estimo mais três ou quatro capítulos, mais um epílogo. Estou animada, estava sonhando com esse final HÁ TEMPOS!
Espero que vocês estejam gostando até aqui e que gostem do desfecho dela <3
Dao: é uma categoria de espadas chinesas com lâmina de fio de corte único. Por vezes é chamado de "facão chinês".
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