As origens
Em um mundo em que a pirataria é a principal força dominante, aquele mais temido e respeitado entre os piratas, certamente, será também o mais reconhecido. O maior objetivo dos piratas é saquear o máximo de riquezas que seus navios conseguissem carregar, encher seus bolsos com as mais preciosas joias e guardar o maior número de patrimônio que puderem. Grandes piratas ficaram conhecidos por desbravar os mares mais assustadores em busca dos tesouros mais preciosos, alguns tiveram êxito e outros sequer voltaram de suas aventuras, deixando seus ossos perdidos em algum lugar dos sete mares. Mostrando a veracidade de um ditado muito popular entre os piratas:
Mortos não contam histórias.
E, em um lugar muito distante, surgiu um pirata que ficou conhecido como "o desbravador dos setes mares". De origem oriental, ele fez seu nome ser conhecido por todos os piratas e corsários, o grande Jeon Junghyun, o maior saqueador pirata de todos os tempos. Não houve sequer um tesouro perdido que não foi desbravado e tomado por ele, que fazia história encontrando as maiores riquezas que eram alvo dos olhos gananciosos de seus inimigos. Mas, até mesmo lendas morrem, e, infelizmente, ele não foi uma exceção. Porém, como toda lenda, Junghyun deixou uma história para trás, junto também de todo o tesouro que ele encontrou em todos esses anos navegando. Anos saqueando e desbravando ilhas e tesouros que estavam escondidos em algum lugar dos mares.
Como um bom pirata, ele deixou um mapa para trás, a fim de que alguém digno encontrasse o que ele passou a vida conquistando. E não havia ninguém melhor para herdar suas riquezas do que seu maior tesouro, seu filho: Jeon Jungkook, que com apenas dezesseis anos teve que fugir para que ninguém tomasse de si o que seu pai havia lhe deixado de herança. E agora, com vinte e quatro anos, o rapaz estava mais que decidido a evitar piratas, pois se havia alguém que teria aquele tesouro em mãos, não seria ninguém mais do que ele mesmo.
(...)
Oito anos antes...
— Se preparem para atracar! Desçam a âncora! — Jungkook pôde ouvir seu pai ditar as ordens aos marujos e sorriu.
Após muitos dias no mar, ele finalmente ia poder sair da cabine do capitão e aproveitar a brisa fresca de um dia ensolarado. Ficou tanto tempo enfurnado naquele lugar com seu pai que, com toda certeza, estava com uma aparência deveras pálida pela falta de sol. E mesmo que Jeon goste de aproveitar a noite estrelada e o cheiro da maresia durante a sossegada noite no navio, ele também não via a hora de poder pisar em terra firme, mesmo que, estranhamente, ele se sentisse extremamente bem e acolhido no mar. Acordando de seus devaneios, Jungkook decidiu levantar-se e pegar o lenço de caveira que sempre cobria seu rosto quando estava fora da cabine de seu pai, amarrando-o em sua cabeça e mascarando sua identidade.
Quando seu pai adentrou a cabine, Jungkook já estava pronto para partir, o pirata sorriu para seu filho e o chamou com um acenar de cabeça para que saíssem da embarcação, e como era o *Shabat Shalom, o capitão e tripulação iriam aproveitar o sábado da paz em uma taberna, bebendo até que seu fígado não aguentasse mais. E claro, Jungkook iria com seu pai aproveitar seu dia de folga no porto de Palaciana enquanto abasteciam o navio com mais provisões para que pudessem navegar em breve novamente. Juntos eles saíram de Nevrine, o navio de Junghyun, para caminharem até o "Cálice do Canalha", a taberna mais conhecida de Palaciana, famosa por fornecer um dos melhores rums que os piratas já tiveram o prazer de provar.
Jungkook foi recebido muito bem pela tripulação de seu pai — como sempre quando era visto por eles —, embora nunca tivessem visto seu rosto, sabiam que ele queria se manter longe da pirataria, mas não queria se manter longe do mar. Jeon cumprimentou a todos à medida que caminhava ao lado de seu pai que parecia extremamente feliz ao ir se divertir com seu filho e amigos. Quando enfim chegaram à taberna, foram recebidos por gritos e comemorações por parte dos marujos, que já estavam lá junto com os poucos clientes que não se importavam com a presença de piratas no lugar.
— Um brinde ao capitão Junghyun! — Um homem gritou erguendo um grande caneco na mão. — O desbravador dos sete mares! — Um coro de gritos soou após sua fala, fazendo o citado rir.
— Não me usem como desculpa para beber, seus bêbados! — disse ainda rindo, arrancando diversas risadas de seus tripulantes. O capitão puxou o filho para o lugar mais isolado da taberna.
— Vou poder beber hoje? — Jungkook sorriu para seu pai após abaixar o lenço que cobria seu rosto, este que retribuiu seu sorriso ladino, retirando o chapéu de três pontas da cabeça. Os dois estavam sentados em uma das mesas dispostas ali.
— Se você conseguir.
— Adoro um desafio — sorriu ainda mais.
— Aposto que você não consegue virar três copos — Junghyun disse com um sorriso presunçoso.
— O que eu ganho se eu virar os três copos?
— O que você quer ganhar? — O capitão o encarava com curiosidade. Jungkook pensou por alguns instantes.
— Quero escolher nosso próximo destino — disse sorrindo, mas franziu o cenho ao ver a expressão de seu pai murchar. — O que foi?
— Você não vai comigo para o próximo destino.
— O que? Como assim não vou? — Jungkook franziu o cenho. — Nunca ficamos separados depois que me pegou na casa da mama.
— Agora as coisas vão ser diferentes, você vai ter que se virar sem mim.
— Por que? — O rapaz definitivamente não entendia o que era aquilo tão de repente.
— Lembra quando eu te busquei na casa da mama e disse a você que eu ficaria ao seu lado até o destino nos separar? — o rapaz assentiu, nunca se esqueceria daquele dia. — Meu destino já estava traçado quando eu fui atrás de você.
— Como assim pai?
— Há alguns anos eu conheci uma bruxa, ela viu a marca da morte no meu peito — Junghyun disse com uma calma assustadora, o que deixou Jungkook trêmulo de onde estava. — Ela me disse que eu conseguiria tudo o que eu mais queria na vida, mas que em uma certa data e em um certo horário, eu morreria, e não importa o quanto eu tentasse fugir, a morte viria até mim não importa onde eu estivesse.
— Pai, você não pode acreditar em bruxas! Pelos deuses, onde já se viu isso?! — Jungkook não estava gritando, embora essa fosse sua vontade, ele estava apenas muito descrente do que acabara de ouvir. — Bruxas são mulheres traiçoeiras!
— Jungkook, vou lhe dizer uma coisa e quero que você leve isso com você pelo resto de sua vida — Junghyun disse extremamente sério. — Bruxas nunca mentem, então não há dúvidas sobre meu destino.
— Eu não acredito nisso.
— Mesmo assim, você não virá comigo. Irei morrer no mar, mas não o levarei junto comigo, você foi a única coisa boa que eu fiz nessa vida e graças àquela bruxa eu consegui ter um tempo com você antes de partir.
— Pai, pára com isso, eu não vou ficar para trás!
— Sim, você vai — proferiu com um tom que não deixava brechas para discussão. — No futuro, você vai entender que minha morte foi necessária, eu já cumpri o meu objetivo, então está na hora de eu descansar.
— Por que você está tão conformado com isso? Pai, você não vai morrer! Não pode, eu finalmente tenho meu pai ao meu lado e eu não vou te perder agora — Jungkook segurou suas lágrimas, ele não acreditava na bruxa que havia dito aquilo a seu pai, mas somente de imaginar que não o veria mais sua garganta se fechava.
— Eu já atingi todos os meus objetivos, não tenho nenhum arrependimento, já estou preparado para o que está por vir, não importa o que seja. E quero que você esteja também, quando eu partir não desista do mar, eu sei o quanto você ama sentir a maresia e observar o reflexo das estrelas na água.
— Pare de falar como se você realmente fosse morrer, droga! — Jungkook disse um tanto impaciente e seu pai apenas sorriu.
— Eu encontrei a minha felicidade, Jungkook, e espero que você aceite o tesouro que eu lhe deixei e o dívida com alguém que confie. Ele me trouxe muitas alegrias, são minhas conquistas, quero que elas lhe tragam o mesmo sentimento — ele sorria de maneira calma, com seu sorriso amarelado.
— Eu definitivamente não vou ficar para trás.
— Por favor, não torne isso ainda mais difícil meu filho, não é fácil dizer adeus.
— Então não diga — Jungkook o encarou com os olhos suplicantes, mas se recusando a derrubar uma lágrima que fosse.
— Não posso partir sem me despedir de você, eu não vou voltar dessa aventura e infelizmente não há nada que você possa fazer — ele acenou com a mão para uma moça que servia as mesas junto ao dono da taberna, Jungkook voltou a cobrir sua identidade. — Olá Jihye, traga duas garrafas de rum.
— Por favor — Jungkook completou e seu pai sorriu. Jihye caminhou para longe deles.
— Ela que vai cuidar de você quando eu for embora amanhã pela manhã — Junghyun disse vendo a expressão de Jungkook ficar ainda mais desgostosa.
— Não sou nenhuma criança, não preciso que cuidem de mim.
— Sinto muito Jungkook, mas você ainda é uma criança sim — o rapaz bufou irritado e cruzou os braços.
— Foda-se — disse impaciente. Em qualquer outra situação seu pai o repreenderia por falar com ele daquela forma, mas Junghyun apenas sorria, o que estava fazendo o interior de Jungkook se revirar ainda mais.
— Vamos aproveitar o Shabat Shalom Jungkook, não teremos mais dias como esse juntos — disse se animando de repente, fazendo Jungkook suspirar. Ele não podia fazer nada, apenas acreditar que seu pai havia sido enganado pela bruxa.
(...)
Na manhã seguinte...
— Não faça nada imprudente Jungkook, e obedeça a Jihye — Junghyun disse sério, olhando-o nos olhos.
— Não tenho mais cinco anos pai — Jungkook revirou os olhos, ainda de braços cruzados, nem um pouco contente de estar sendo deixado para trás.
— Isso aqui vai te ajudar a se manter por um tempo — colocou sobre sua mão um saco cheio de moedas de ouro.
Embora Jungkook tenha pedido incessantemente para ir junto com o pai, o capitão estava irredutível em sua decisão, não havia nada que ele pudesse fazer, a palavra do capitão era absoluta, os marujos jamais o deixariam subir no navio se soubessem da ordem de Junghyun. Jungkook estava com uma expressão desgostosa no rosto, mas seu peito estava apertado, pressentindo algo muito ruim, ele não queria acreditar nas palavras da bruxa, porém, aquele sentimento ruim não o deixava em paz nem mesmo por um momento desde que seu pai havia lhe contado aquilo.
— Você é muito jovem ainda, daqui uns anos vai me entender — Junghyun disse após ver os olhos furiosos de Jungkook, o capitão relaxou a expressão e um sorriso singelo surgiu em seus lábios um tanto ressecados.
— Eu realmente espero que você volte — desmanchou a carranca e o encarou com os olhos brilhando em preocupação.
E como tinha acontecido nos últimos dois dias, Junghyun apenas sorriu e bagunçou seus cabelos, mas para a tristeza de Jungkook ele não lhe respondeu, apenas se virou para caminhar até o navio. Quando o capitão estava se virando, o sol bateu em algo no peito dele e Jungkook pode ver a runa que ele carregava para todo lugar consigo brilhar em um belíssimo azul ciano, era uma pedra encantadora que seu pai havia pendurado em um cordão, deixando-a sempre junto de seu peito. Jungkook nunca entendeu o que era aquela *runa, pois o pirata apenas dizia que um dia ele saberia, por isso, esperava que seu pai voltasse para lhe contar o que ela significava.
Jungkook se mantinha com o lenço preto em seu rosto, escondendo sua identidade, afinal, havia se tornado um hábito permanecer com o rosto escondido, por isso, ainda com o rosto coberto, ele acenou para a tripulação de Nevrine, que após a chegada do capitão no convés se preparava para zarpar. O jovem pôde ouvir a voz de seu pai comandando sua tripulação, mandando içar as velas e puxarem a âncora; haviam poucas pessoas no cais onde estava, vendo o navio se afastar, aproveitando que o vento estava a favor deles naquele dia. Jungkook ficou parado ali por horas, vendo o barco se afastar cada vez mais e sumir na imensidão azul do mar.
Suspirando pesaroso, o rapaz caminhou de volta para o Cálice do Canalha, indo se encontrar com Jihye e ver se tinha algum serviço para ele na taberna, já que ela era a esposa do dono. Apenas Jihye sabia como era o rosto de Jungkook, porque ele não se importou em mostrar-se para ela, pois a mulher definitivamente não era uma pirata, então não havia nenhum risco de se revelar. Ele passou dias acordando, trabalhando, indo até o cais e indo dormir, sendo essa a sua rotina diária, e embora se mantivesse bastante ocupado trabalhando na taberna, saía todos os dias para observar o mar, sentado na beira do cais, esperando-o.
Jungkook fez isso por muitos dias, ele parecia até um morto vivo; acordando, trabalhando, e indo para o cais, todos os dias, sem falta. Um dia quando estava em mais um dia de trabalho, ouviu um dos clientes dizer que tinha visto o navio Nevrine vindo em direção ao porto de Palaciana, os olhos de Jungkook brilharam e imediatamente ele largou seu trabalho para correr até o cais, onde o navio provavelmente estaria. E quando viu a grande embarcação de seu pai, seu peito se aqueceu e um alívio intenso se apoderou de seu corpo, ele esperou com um grande sorriso no rosto o navio atracar no porto. Quando finalmente o navio atracou, Jungkook esperou seu pai sair e lhe dizer que tudo não passava de uma brincadeira de mal gosto.
Mas, isso não aconteceu.
Na verdade, o imediato de seu pai, um homem que naquele momento não se lembrava o nome, caminhava em sua direção com uma expressão triste e um chapéu de três pontas nas mãos. Jungkook sentiu o ar faltar, sabia exatamente de quem era aquele chapéu, mas recusou-se a imaginar o porquê ele estava nas mãos daquele homem e não na cabeça de seu pai. Quando o homem aproximou-se dele com o chapéu em mãos, ele o encarava com pesar, Jungkook levou seus olhos ao restante da tripulação, que naquele momento tiravam os seus chapéus também.
— Jungkook, eu sinto muito... — O homem lhe estendeu o chapéu de seu pai, que foi segurado hesitantemente pelo jovem. — Houve uma tempestade, o Nevrine aguentou bem, mas seu pai foi arrastado por uma onda e não voltou a emergir.
— Mas... Por que só ele? — Jungkook olhou para o homem à sua frente e viu ele olhar para o chão.
— Não sabemos, ninguém mais foi levado pelo mar, somente ele. Não conseguimos encontrar o corpo, só o chapéu — ele completou e Jeon engoliu em seco, sentindo sua garganta se fechar. — Jungkook, o Nevrine...
— Não o quero, fiquem com ele, não quero nada do que estiver nesse navio — ele sequer ficou para ouvir qualquer outra palavra dita por aquele homem.
Jungkook caminhou de volta para o Cálice do Canalha, disposto a esquecer completamente o que acabara de ouvir, tinha certeza que havia algum engano, seu pai não havia morrido, ele certamente havia conseguido se refugiar em alguma ilha ou flutuado até ser resgatado por outro navio. E quando chegou à taberna, Jungkook caminhou até o pequeno quarto que Jihye havia separado para ele nos fundos, quando entrou fechou a porta e sentou-se em sua minúscula cama, mirou os olhos em direção ao chapéu e seus orbes se encheram de lágrimas.
— É mentira... — Sua voz já se encontrava embargada quando tirou o lenço do rosto. — Tenho certeza que você vai voltar com aquele sorriso irritante no rosto e dizer que tudo não passava de superstição.
Jungkook chorou tudo o que não chorou na frente de seu pai, Jihye e a tripulação do Nevrine, deixando que a dor que atravessava seu peito fosse sentida com toda a sua intensidade. Ele passou o restante do dia daquela forma, parando de chorar somente quando o sono tomou seu corpo e ele adormeceu com as bochechas e os travesseiros úmidos por conta de suas incessantes lágrimas. Na manhã seguinte, Jungkook acordou um pouco mais tarde que o habitual, pois o sol brilhava forte do outro lado da janela, notou na cômoda que ficava ao lado de sua cama um pão e uma caneca, provavelmente com chá a julgar pelo cheiro doce.
Jihye estava com pena dele.
Levantou-se da cama sentindo sua cabeça doer, ainda sentia um vazio horrível e não sabia explicar a dor que dilacerava seu peito, mas, mesmo assim, comeu o que Jihye havia deixado para si, pegou o prato e caneca para levá-los para a cozinha da taberna, para que pudesse lavá-los, não se esquecendo de colocar seu lenço. Quando chegou na cozinha viu algumas pessoas que trabalhavam lá lhe encarando de esguelha, seus olhares transmitiam pena e outros curiosidade, ele ignorou todos e fez o que tinha que fazer. O dia seguiu da mesma forma que todos os outros, só que um pouco mais desagradável porque o assunto do momento no Cálice do Canalha era a morte do capitão Junghyun; haviam até piratas ali, alguns do Nevrine e outros mais afastados de outros navios.
— Ouvi da tripulação do Nevrine que o capitão deixou um tesouro escondido, mas que ninguém sabe a localização, só o filho dele — um homem bêbado "cochichou" alto o suficiente para algumas pessoas das mesas afastadas escutarem ele.
— O Jungkook? O garoto que sempre anda de lenço? — Outro homem perguntou ao bêbado, que assentiu. Jungkook podia sentir o olhar do homem em suas costas enquanto limpava as mesas. — Acha que o tesouro do capitão é muito valioso?
— Tá brincando? O Nevrine navegou em mares que nem mesmo o Edward Teach teve coragem de navegar, os tesouros dele devem ser mais valiosos do que nós podemos imaginar.
— Jungkook, recomendo que você vá tomar um ar lá fora — Jihye apareceu ao seu lado e o rapaz prontamente concordou.
— Volto ao anoitecer — Jungkook deixou o pano sobre a mesa e se afastou. — Ou não.
Ele caminhou para fora do Cálice do Canalha pelos fundos, querendo evitar ao máximo as pessoas do porto de Palaciana, pois se aquele era o assunto principal dos piratas, com certeza chegaria aos ouvidos dos habitantes e dos corsários do rei. Resolveu ir até o cais e se sentar na beirada para aproveitar um pouco o sol e o som das ondas batendo na areia da praia, isso sempre o acalmava, e era exatamente isso que ele precisava: paz. Evitando chamar muita atenção, Jungkook fez a rota mais longa até o cais, evitando passar por vielas muito movimentadas, ainda mais agora que haviam chegado mais piratas no porto, o lugar estava um caos.
Quando finalmente estava no cais, Jungkook caminhou até estar na ponta dele, suspirando aliviado ao ver o local quase vazio, às poucas pessoas que estavam ali não pareciam dar a mínima para a sua presença. Sentou-se na madeira e deixou suas pernas balançarem no ar após tirar suas botas, ele fechou os olhos e deixou os raios de sol esquentarem seu rosto ao virar a cabeça para cima, apoiando-se em suas mãos. O barulho das ondas era como um poderoso tranquilizante, Jeon tentava não pensar em seu pai, para assim evitar que aquela calmaria não se transformasse em desespero, o som das pessoas ao longe não adentravam seus ouvidos que buscavam apenas pelas ondas do mar.
Jungkook ficou ali por muito tempo, até notar que o sol já não estava mais tão forte quanto antes. E ao abrir os olhos, observou o céu encoberto por muitas nuvens escuras e pesadas, parecia que iria cair uma tempestade em pouco tempo, pois o mar estava bastante agitado, suas ondas estavam mais violentas e a correnteza parecia dez vezes mais forte do que antes. Jungkook definitivamente não estava ligando para a chuva que estava por vir, seria até bom molhar um pouco a cabeça, por isso nem se mexeu de onde estava, ficando ali por mais alguns minutos até que sua paz foi perturbada por uma fala:
— Está vindo uma tempestade por aí garoto — Jungkook virou seu pescoço para ver quem era. Notou ser um pescador, a julgar pelo chapéu e a rede de pesca em seus ombros. — O mar está bem agitado, é perigoso ficar na ponta do cais.
— Vou ficar bem, obrigado — disse com a voz mansa. O homem deu de ombros e virou as costas para ir embora.
Jungkook realmente não estava ligando que ia se molhar, e embora o mar estivesse realmente bem agitado, as ondas não estavam alcançando o cais onde estava sentado. Ele voltou a fechar seus olhos e se concentrar no som do oceano à sua volta, recolhendo-se em sua bolha novamente, pois nela a realidade não adentrava, nela poderia esquecer a forte dor que a falta de seu pai lhe causava. Pequenas gotas começaram a cair sobre seu rosto e Jungkook permaneceu de olhos fechados, sentindo-as molhar ainda mais seu rosto e roupas, até que a chuva estivesse forte o suficiente para deixá-lo encharcado.
O jovem pôde ouvir um trovão soar bem próximo a ele, o que o fez abrir os olhos de abrupto, aquilo sim era um indicativo de que precisava ir embora, mas outra coisa chamou sua atenção; ele estava tão absorto em seu próprio mundo que nem percebeu quando a maré subiu e seus pés ficaram submersos na água. Jeon se assustou quando uma onda bateu no cais, mostrando que em breve ele estaria submerso pelo mar, então rapidamente se levantou e calçou suas botas, pronto para sair de lá antes que a maré o engolisse.
Quando colocou sua bota, Jungkook se preparou para correr, porém, se encolheu ao ver um raio acertar o chão bem próximo da praia, fazendo-o tremer com o estrondo alto do trovão logo em seguida, pois se aquele raio tivesse acertado a areia ele certamente teria sido eletrocutado. Por isso não esperou por mais nenhum raio antes de correr até a praia, mas uma grande onda bateu em seu corpo com força, derrubando-o na madeira, quase o arrastando para água. Jungkook sentiu a adrenalina acelerar seu coração quando seus dedos se fecharam em volta da madeira, segurando-se com força antes que fosse empurrado para o mar.
Entretanto, ele sequer teve tempo de se levantar, pois outra onda veio e dessa vez a força dela o empurrou para o mar.
Jungkook sentiu a correnteza arrastá-lo para o fundo, mas nadou para a superfície e encheu seus pulmões de ar o máximo que o lenço em seu rosto permitiu, antes de uma onda cobri-lo novamente e arrastá-lo para cada vez mais longe da praia. Jeon sentia seu corpo sendo arrastado com muita força, fazendo o desespero se aflorar em seu corpo, pois ele não estava conseguindo voltar para a superfície, o barulho em seus ouvidos mostrava o quão fortes estavam às ondas e que seu corpo estava afundando cada vez mais. E colocando ainda mais força em seus movimentos, tentou emergir novamente, mas algo o fez paralisar e olhar em direção a imensidão escura que lhe cercava.
"Jungkook..."
Alguém estava lhe chamando, podia ouvir uma voz soar como um eco em seus ouvidos, mas não via absolutamente ninguém e indubitavelmente duvidava que havia alguém ali, pois, como alguém conseguiria lhe chamar estando submerso? Jungkook ouviu novamente a voz lhe chamar e virou-se para o outro lado, vendo somente o escuro das águas do mar, sem qualquer sinal de que havia alguém ali com ele. Quando sentiu seu pulmão clamar por ar, empenhou-se em voltar para a superfície, no entanto, em seus devaneios ele apenas foi levado mais para o fundo sem perceber, nadou o mais rápido que seu corpo suportava para tentar o mais rápido possível trazer oxigênio aos seus pulmões, mas tudo parecia tão longe...
Quando seu corpo estava chegando ao limite, Jungkook entrou em desespero, ele sentia que em algum momento iria tentar procurar por ar e seu nariz seria invadido pela água salgada do mar, e debateu-se quando seu corpo começou a colapsar pela falta de oxigênio. Quando enfim seu corpo chegou ao limite, Jungkook entreabriu os lábios, instintivamente buscando por algum oxigênio, mas a água invadiu sua boca e tampou ainda mais sua respiração, fazendo-o se afogar e seu corpo ter alguns espasmos por conta da invasão da água em seu corpo, obstruindo suas vias respiratórias.
Após isso, tudo ficou escuro e silencioso.
(...)
— Vamos garoto, acorde! — Jungkook podia ouvir uma voz um tanto longe, seu nariz estava sendo pressionado e seus lábios sendo prensados de uma maneira um tanto dolorosa por alguém. Quando tentou respirar e não conseguiu, seu corpo se curvou, expelindo a água que havia em sua garganta e nariz. — Graças aos deuses...
Jeon começou a tossir sentindo seu corpo todo doer e seu nariz e garganta arderem, de uma maneira um tanto desesperada tentando trazer ar aos seus pulmões, também pôde ouvir uma voz masculina tranquilizando-o e afagando suas costas enquanto tossia e inspirava com força o ar, sentindo seu peito doer toda vez que respirava fundo. Com ajuda do homem — que Jungkook parou agora para olhá-lo — ele se sentou, o homem parecia ser o mesmo pescador que havia alertado sobre a tempestade, embora a mente confusa de Jungkook não conseguisse processar exatamente o que havia acontecido.
— Achei que estava morto — o homem sentou-se na areia também e Jungkook olhou em volta, estavam na praia próxima ao cais.
— O que aconteceu? — voltou a olhar para o homem.
— Não sei exatamente, voltei para o cais para ter certeza de que eu havia amarrado as cordas do meu barco quando vi seu corpo na beira da praia — Jungkook tentava se lembrar do que havia acontecido, ele se lembrava apenas de ter caído na água e que tudo ficou escuro. — Você estava tentando se matar?
— Não... Eu só estava pensando, não percebi quando a tempestade ficou tão forte.
— Foi realmente muita sorte eu ter te encontrado, tome mais cuidado! — O homem pareceu estar lhe dando uma bronca, então Jungkook abaixou a cabeça e assentiu. — Vamos, vou te acompanhar até a sua casa.
O homem se levantou e Jeon se preparou para fazer o mesmo, mas parou ao sentir algo em sua palma. Quando Jungkook abriu sua mão direita viu uma pedra azul ciano muito familiar, e ao se lembrar de onde a tinha visto, sentiu seu peito doer e uma vontade absurda de chorar, pois aquela era a runa que seu pai nunca largava dizendo ser extremamente especial. E se ela estava no oceano, quer dizer que seu pai provavelmente também estava, porém, se tivesse acontecido com ele o mesmo que tinha acabado de acontecer consigo, não teria como ter esperanças, pois não tinha ninguém para salvá-lo no meio do oceano.
Seu pai estava, de fato, morto.
~🖤~
Esse foi apenas um prólogo, introduzindo o passado do Jk, agora as coisas começam a tomar rumo :)
Essa estória promete vários mistérios e desafios, espero que vocês gostem! <3
Tag da fic no twitter: #Dentesdodiabo
*Shabat Shalom:
Literalmente, Shabat Shalom significa "Sábado de Paz", mas também pode ser interpretado como "paz no seu descanso semanal", e costuma ser usado entre os judeus durante o período do Shabbat, que começa ao pôr-do-sol de sexta-feira e termina no pôr-do-sol de sábado.
*Runa:
As Runas são símbolos mágicos e sagrados usados pelos povos antigos da Europa setentrional com finalidades diversas, que abrangiam desde o envio de mensagens, elaboração de magias, curas físicas e espirituais e mancia, ou seja, adivinhação.
Observações:
Os piratas não tem uma religião definida, ou seja, cada um tem a sua própria crença.
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