Navegando entre corsários

(...)

Alguns dias depois...

Jungkook perdeu as contas de quantas vezes teve que desmentir os boatos que circulavam ou fugir de piratas que o perseguiam, até mesmo os moradores de Palaciana queriam saber se ele possuía a posse do mapa de Junghyun. Trabalhar no Cálice do Canalha nunca foi desafiante, só tinha que limpar as mesas e servir os clientes, não era lá um grande desafio diário, porém, agora, a quantidade de clientes triplicou e muitos foram lá somente para saber se os boatos eram verdade. O nome "Jeon Jungkook" estava na boca de todos os habitantes e piratas; Jeon não queria nem imaginar até onde esses boatos haviam chegado, senão estaria com sérios problemas.

O jovem estava lidando bem com a situação. Não havia gasto nem um centavo do dinheiro que seu pai lhe dera e tinha um teto e comida para se manter, por isso nunca reclamava de trabalhar para Jihye e seu marido, que estavam mais do que agradecidos, pois sua presença ali estava atraindo muita freguesia. Mas as coisas começaram a sair do controle quando alguns clientes tentavam tirar o lenço de seu rosto, querendo a todo custo saber sua identidade, alguns até o encurralaram em becos para tentar conseguir a verdade ou a localização do mapa.

Mas o que todos deveriam ter ciência é que ele era filho de um dos maiores piratas que já existiu e seu pai, Junghyun, jamais entregaria um tesouro tão valioso nas mãos de alguém indefeso. Nos dias que Jungkook estava com seu pai no Nevrine, eles treinavam arduamente. O pirata o ensinou tudo o que ele precisava saber para se defender, desde como empunhar uma espada a atirar com mosquetes e pistolas; luta corporal e até mesmo a identificar fraquezas em seus oponentes. Nunca que seus ensinamentos foram tão úteis quanto naquele momento, em que, a cada esquina, Jungkook era abordado por homens gananciosos e dispostos a tudo para conseguir o mapa do tesouro.

O golpe mais ousado que tentaram aplicar nele foi uma mulher que executou. Ela entrou como ajudante na taberna para auxiliar com a grande quantidade de clientes. No início, não se aproximou dele, mas ao fazer isso, foi para defendê-lo de um cliente bêbado e insistente, que havia segurado seu pulso e tentado persuadi-lo a contar onde estava o mapa. Jeon agradeceu-a e os dois se apresentaram, a moça se chamava Han Eunji e eles se tornaram grandes amigos após aquilo. Jungkook pensou ter encontrado um pouco de paz, mas na realidade, ele estava caindo direitinho na teia de Eunji, que poderia facilmente se chamar Viúva Negra.

Jungkook estava começando a ter sentimentos por ela — que ele percebeu estar passando dos limites de apenas uma amizade — e Eunji pareceu estar tão envolvida quanto ele, por isso, decidiu se entregar à moça de coração e alma, como o garoto bom e ingênuo que ele era. De início, eles não tiveram nada muito especial fora o que eles já tinham, mas um dia Jungkook retirou seu lenço e revelou sua identidade a Eunji, que apenas sorriu para ele e os dois tiveram o primeiro beijo naquele momento. Pensou ter encontrado pela primeira vez um porto seguro depois que seu pai morreu.

Eles namoraram por meses, até o dia em que os dois beberam demais e as coisas evoluíram para algo mais quente do que estavam habituados. Jungkook havia se esquecido completamente de que, às vezes, a melhor artimanha contra alguém era a dependência emocional; as teias estavam perfeitamente tecidas e Jungkook já estava preso nelas. Enquanto sentiam o calor do corpo um do outro e partilhavam seus sentimentos — ou assim pensou Jungkook — algo deveras estranho aconteceu, pois durante o ato, entre os beijos Eunji perguntou sobre o tesouro. Jungkook sentiu todo o seu corpo paralisar, estavam os dois ainda vestidos, a saia do vestido de Eunji estava erguida e Jungkook a pressionava contra a parede.

Era a primeira vez de Jungkook e ele já havia se arrependido antes mesmo de terminar o ato.

Embora o calor e o álcool se fizessem presentes em sua mente e corpo, aquilo pareceu um banho de água fria, pois sua mente ficou sóbria em segundos, de repente tudo fez sentido e Jungkook riu incrédulo de sua própria ingenuidade. Saindo de dentro dela, Jungkook a colocou no chão e fechou sua calça e cinto, sequer conseguindo olhar para o rosto de Eunji, pois saber que tudo aquilo era apenas para conseguir o mapa lhe deixava enojado demais. Seu pai estava certo, mulheres eram inteligentes demais para serem subestimadas, deveria saber que essa inteligência também poderia ser usada para conseguir algo, nesse quesito elas eram exímias manipuladoras.

Eunji pareceu confusa por um instante, mas quando notou que Jungkook havia vestido seu lenço novamente, ela correu em sua direção e segurando seu braço perguntou o que havia feito de errado, mas Jungkook apenas a encarou com indiferença, por mais que tivesse sentimentos por ela, ele jamais aceitaria um amor pela metade. Quando enfim Eunji notou que estava sendo dispensada, ela se enfureceu, ameaçando revelar sua identidade caso a deixasse. Ele sequer se importou com aquilo, soltou seu braço e caminhou para fora do quarto, cansado daquela perseguição. Ele iria embora daquele lugar, deixaria para trás seu nome e sua origem, pois se alguém teria aquele tesouro em mãos, seria ele.

Naquela noite, Jungkook não dormiu. Juntou seus poucos pertences e partiu antes mesmo do sol nascer, deixando para trás apenas um papiro agradecendo Jihye pela moradia e comida, mas que agora ele iria viver por conta própria. Jungkook pagou a um pescador para levá-lo até Vallone, o porto mais próximo a Palaciana, ali seria sua primeira parada. Teria que dar um jeito de ir o mais longe possível dali, para um lugar onde ninguém vá reconhecê-lo. Quando chegou em Vallone, a primeira coisa que Jungkook fez foi procurar por estadia e quando a encontrou, era hora de bolar um plano, pois agora ele precisava de dinheiro.

Nos dias seguintes, o rapaz foi à procura de algum lugar onde pudesse juntar algumas moedas de ouro, mas ninguém estava disposto a contratar alguém que usava um lenço no rosto e se recusava a dizer o próprio nome. Após três dias de pura frustração, Jungkook teria de fazer algo que nunca iria se orgulhar, mas foi o que seu pai também lhe ensinou a fazer: saquear. Mesmo não querendo ser um pirata, Junghyun lhe ensinou seu ofício, o treinou para que pudesse identificar as pessoas mais fáceis e as que deveria passar longe. Estava na hora de colocar em prática tudo o que havia aprendido novamente.

Jungkook, sinceramente, nunca imaginou que seria tão fácil saquear as pessoas de Vallone; ele havia conseguido arrecadar muitas moedas de ouro e prata apenas furtando bolsos de bêbados e viajantes. Não se orgulhava do que estava fazendo, mas precisava sobreviver de alguma forma e se roubar era sua única saída, era isso que ele faria. Mas algo muito interessante sobre Vallone era que era uma capital rica, pois o monarca vivia naquele local, ou seja, as ruas eram repletas de guardas e corsários, o que explicava o relaxamento das pessoas quanto às próprias coisas, achavam estar seguros de ladrões.

Mas havia algo muito mais útil: alguns corsários também bebiam como piratas — às escondidas — por isso foi muito fácil sequestrar um deles e tomar seu lugar no navio que zarpou assim que o sol nasceu. Jungkook era um rapaz alto, não tinha nenhuma dificuldade em se passar por adultos e vestir o uniforme dos corsários. Quando foi abordado pelo capitão, precisou apenas dizer que havia acabado de receber ordens de superiores aos quais não fora questionado. Rindo internamente de sua própria astúcia, Jungkook imaginou que seu pai estaria muito orgulhoso do que ele havia se tornado, onde quer que ele estivesse agora. Foi fácil se passar por um corsário, suas maiores dificuldades foram apenas a exagerada formalidade e juras ao rei.

Mas, de fato, havia sido uma de suas melhores ideias invadir o barco de corsários, assim ele poderia aprender um pouco de cartografia e navegação, pois foram umas das poucas coisas que seu pai não lhe ensinou, porque ele sempre disse que não queria se tornar um pirata. Jungkook havia se apresentado como JK aos tripulantes e não usava mais seu lenço, já que ninguém daquele lugar o reconheceria, assim ele passou dias e mais dias junto a tripulação daquele navio, que tinha o objetivo de encontrar piratas e extingui-los dos mares de seus monarcas.

Jungkook revirou os olhos com aquilo, pois o mar não tinha dono, mas diziam ser propriedade do rei.

Assim como fazia no Nevrine, Jungkook gostava de ficar observando o mar durante a noite, mas como os tripulantes não tinham permissão de sair naquele horário, ele tinha que se contentar com uma pequena brecha — que eles chamavam de janela — para observar o mar. Ele apertava a runa de seu pai em sua palma nesses momentos, pois sentia-se extremamente bem ao fazê-lo, às vezes tinha a impressão que a pedra estava aquecida entre seus dedos, passando um calor aconchegante. Mas quando amanhecia, Jungkook precisava voltar a atuar, porque, infelizmente, ele teria que aguentar aqueles homens até aprender a ler o mapa que seu pai lhe deixou.

(...)

Oito anos depois...

— Vamos, homens! Puxem essas cordas mais rápido, deixem de ser preguiçosos! — O capitão gritou no leme.

— Por que ele não vem ajudar a puxar então? — Jungkook resmungou enquanto puxava as cordas com o restante da tripulação, estavam subindo as velas do *traquete.

— Juro que se ele falar mais alguma coisa sobre demorar... Eu me jogo no mar! — seu colega corsário, Bambam, disse entre dentes.

— Lesmas seriam mais rápidas que vocês — o capitão gritou novamente e Bambam sussurrou um palavrão.

— Quer que eu segure o seu chapéu para não molhar? — Disse rindo e Bambam revirou os olhos com bastante ímpeto.

— Espero que se engasgue no seu sarcasmo, Jk — respondeu baixo e Jungkook gargalhou, colocando mais força para puxar as cordas.

— Não vejo a hora da gente atracar — disse distraído, enquanto amarrava as cordas no mastro.

— Finalmente teremos um pouco de descanso — Bambam suspirou.

Estavam há mais de uma semana navegando, os recursos estavam começando a se esgotar e acabaram por ter que racionar a comida para que chegassem vivos até o porto mais próximo, tudo porque o capitão deles era um palerma, havia calculado errado a rota e eles navegaram em círculos por três dias. Os tripulantes estavam de saco cheio daquele capitão, porém precisavam dele e do navio se quisessem ter dinheiro para comer, e por mais intolerante e chato que fosse o capitão, ele era dono da principal frota de corsários do rei. Jungkook imaginava que talvez fosse por isso que ele era tão soberbo e fútil, ter tanto poder e título o havia deixado com o ego inflado demais, pois o cara se achava dono do mar e isso ele, definitivamente, não era. Seu navio não era tão rápido quanto o de alguns piratas e ele não era tão inteligente quanto eles.

Neste momento, eles estavam se preparando para atracar em Venados, um porto grande e rico em comércios. Era um ótimo lugar para abastecer o navio, ter um pouco de descanso e, claro, as mais variáveis tabernas com as mais diversas bebidas que eles poderiam provar. Quando enfim o navio atracou no cais e a âncora foi solta, os corsários suspiraram aliviados por finalmente sair um pouco daquela banheira flutuante que chamavam de navio. Um por um eles foram saindo do navio após pegarem alguns pertences; Bambam se despediu de Jungkook, dizendo que o encontraria mais tarde.

O Jeon também não demorou a descer da embarcação junto com seus poucos pertences, pronto para gastar a mixaria que ganhou naquela tripulação. Eles não tiveram bons resultados naquela aventura e o pouco que o navio conseguiu arrecadar teve de ser dividido para os mais de sessenta tripulantes e isso, definitivamente, não havia sido uma boa empreitada! Jungkook tinha dinheiro para comprar algumas bebidas e talvez uma bota nova, pois as suas estavam caindo aos pedaços. Ele precisava achar um navio onde o capitão não fosse tão incompetente, pois não chegaria a lugar nenhum se continuasse assim. O objetivo dele naquele navio era aprender a navegar, ou ao menos aprender a ler um mapa, mas, infelizmente, o capitão era péssimo nisso e a grande maioria dos tripulantes eram tão burros quanto ele, então Jungkook jamais conseguiria aprender alguma coisa ali.

Foi aos suspiros que ele chegou em uma pousada, pagou ao proprietário a estadia de um dia e caminhou até seu quarto, disposto a tomar um longo banho e dormir um pouco, precisava tirar o cheiro de mar e suor que estava impregnado em seu corpo. Retirou suas roupas e as separou, levaria suas vestes para o proprietário e pagaria por uma lavagem. Seu uniforme estava em uma situação deplorável, precisava ser lavado com urgência, antes que elas começassem a andar sozinhas.

Jungkook encheu a banheira com água fria, sem se importar em esquentá-la, estava um calor infernal no porto e precisava se refrescar de alguma forma. Ele afundou seu corpo na água e suspirou. Aquilo era tudo o que ele precisava, um pouco de paz e dois minutos sem ter alguém invadindo seu espaço, pois essa era uma das coisas que ele jamais iria se acostumar, dormir e acordar ao lado de um monte de marmanjo que pareciam extremamente confortáveis em ficar invadido a privacidade alheia. Com os olhos fechados, aproveitando a sensação geladinha que a água lhe causava, Jungkook olhou para baixo, vendo pendurado em seu pescoço a runa de seu pai.

Em todos os anos que esteve navegando junto aos corsários, viu poucas runas como a que ele tinha agora, mas estranhamente, a dele era diferente, pois todas as runas que ele já viu eram de algum animal. Ele ouviu vários mitos sobre as runas, alguns diziam que lutaram com algum animal e a runa apareceu sobre seu cadáver, outros contavam que elas simplesmente apareciam em seus pertences, mas se tinha uma coisa que todo pirata contava, era que as runas que escolhiam seu portador, não o contrário. Os mais supersticiosos dizem que ela lhe dava habilidades incomuns como força, velocidade e inteligência, mas que era extremamente raro runas escolherem alguém.

Jungkook queria saber que runa era aquela em seu pescoço e o que ela fazia. Se fosse verdade e ela lhe desse habilidades, quais eram elas? Ele sabia onde conseguir essa resposta, mas se recusava veemente a recorrer a isso, pois jamais iria se aproximar daquelas que traçaram o destino de seu pai. Quando notou que estava imerso demais em seus próprios pensamentos, Jungkook pegou a esponja que havia disposta ali e começou a se ensaboar, querendo tirar qualquer mau cheiro de seu corpo. O mar era um lugar lindo, mas passar muito tempo sobre ele sem tomar banho por vários dias atraia odores muito ruins, principalmente em seu cabelo — que estava um pouco longo pela falta de corte — que ele fez questão de lavar.

Quando estava limpo, ele secou seu corpo e vestiu as poucas roupas limpas que possuía, que consistia em uma camisa branca com os cordões abertos em seu peito e uma calça preta desgastada, mesmo que fossem vestes simples e poderiam facilmente serem chamadas de farrapos, ele não estava reclamando, pois passava dias usando o uniforme dos corsários do re, usar algo seu era reconfortante. Jungkook pegou suas vestes sujas e a chave de seu quarto, desistindo de dormir naquele horário e sair para beber um pouco. De qualquer forma, teria a noite toda para descansar e ele queria aproveitar. Por isso deixou as roupas com o proprietário junto com o dinheiro e saiu, pronto para se divertir um pouco.

(...)

— Quantas garrafas você tomou, Bambam? — Jungkook indagou rindo, seu colega não estava falando nada com nada.

— Só... duas — disse com um sorriso frouxo no rosto.

— Você é muito fraco com bebida — Jungkook riu, bebendo seu rum.

— Não estou acostumado a beber bebidas fortes, só uma cerveja ou um vinho fermentado.

— Meu pai fazia eu beber rum desde os treze anos — comentou, ainda rindo.

— Meu pai era um bêbado que bebia sozinho tudo o que encontrava, já eu comecei a beber depois que eu entrei para a tripulação — ele dizia de uma maneira meio embolada.

— Acho que para aturar o capitão a gente tem que estar alcoolizado mesmo.

— Juro que eu tenho vontade de socar a cara dele toda vez que ele vem com aquela cara pau dizendo que a gente estava indo para o lugar errado, sendo que é a segunda vez só esse mês que nós navegamos em círculos e não encontramos nenhum navio por conta daquela banheira flutuante que ele chama de embarcação — Bambam externou aquilo que todos da tripulação queriam dizer sóbrios. — Se ele ao menos aceitasse a ajuda dos navegadores não estaríamos quase vivendo na miséria.

— Falando nele, você o viu em algum lugar? — Jungkook olhou em volta. — Não vejo ele desde que saímos do navio.

— Deve estar sendo soberbo em algum outro lugar — resmungou sem dar muita importância e Jungkook deu de ombros.

— Só estou esperando uma oportunidade para sair dessa tripulação e entrar em outra. Tenho sorte que sempre há desertores entre os corsários e novos tripulantes, posso entrar e sair sem fazer muita falta — disse, continuando a olhar em volta, vendo vários corsários rindo e bebendo. Seu olhar se encontrou com um dos marujos do navio, que de vez em quando lançava olhares sugestivos em sua direção quando estavam no mar.

— Meu sonho é ir para outro navio também — Bambam suspirou, mas Jungkook estava ocupado trocando olhares com outro cara. — Você soube?

— Do que?

— Encontraram uma bruxa aqui no porto, ela ajuda os piratas a fugir de nós — Bambam disse alheio ao olhar assustado que Jungkook deu para ele. — Alguns tripulantes foram falar com ela para ver se conseguiam alguma informação sobre o que fazer para ganhar um pouco de ouro. Você quer ir? Eu sei onde é.

— Não, quero distância de bruxas — disse desviando o olhar para outro lugar.

— Dizem que elas não ajudam corsários porque somos homens do rei.

— Elas têm toda razão nisso.

— Somos melhores que os piratas, não matamos ninguém, nem roubamos e muito menos somos fora da lei — Bambam disse e Jungkook riu soprado.

— Corsários matam piratas, roubam a fortuna deles usando a desculpa de estar recuperando algo que pertence a coroa e a maioria de nós que somos piratas desertores ou fugitivos da guerra, viramos corsários para não nos tornarmos soldados — Jungkook disse olhando para a moça que veio lhe servir mais bebida, que sorriu em sua direção.

— É verdade, mas somos diferentes de qualquer maneira — disse bebendo mais um gole de seu rum.

— Sim... somos — Jungkook disse baixinho.

Jungkook realmente não se considerava um corsário, mas também não queria ser um pirata, porque ambos os lados possuíam defeitos, embora ele fosse mais contra os corsários por forçar essa monarquia ridícula, onde o rei manda e você obedece. Estranhamente, ele se aborreceu com aquela conversa, talvez porque o pai dele era um pirata e ele estava tomando as dores alheias, mas também porque seu pai não era um homem tão bondoso com os outros como era com ele. Distraído, ele notou o olhar da moça que estava servindo as mesas em sua direção, ele manteve o contato visual e ela sorriu antes de acenar com a cabeça e caminhar para os fundos, chamando-o para ir com ela. Jungkook sorriu e deixou sua bebida na mesa, disposto a ter uma ótima noite.

Quando chegou aos fundos da taberna, encontrou a mulher sorrindo para si. Ela abriu uma porta e entrou, fazendo com que ele também adentrasse o quarto. A moça passou os braços em volta do seu pescoço e os dois não demoraram a juntar seus lábios, sedentos por mais contato, dispensando qualquer enrolação. Fazia muito tempo que Jungkook não saia com ninguém, precisava urgentemente de um pouco de sexo para extravasar na cama todo o estresse no mar, e Jungkook tinha sorte, pois aquela mulher parecia muito disposta a lhe proporcionar isso. Os dedos dele foram para o corpete do vestido que ela usava, querendo se livrar daquelas roupas, que lhe impediam de admirá-la.

— Qual o seu nome? — Jungkook perguntou quando se separaram para tirar o vestido que ela usava.

— Sana — ela respondeu enquanto abria o cinto da calça que ele vestia.

— Prazer, Sana — sorriu quando desfez o laço do corpete dela. — Meu nome é Jk.

— O prazer é todo meu — ela sorriu. Mas os dois levaram o olhar até a porta quando ouviram a madeira ranger, Jungkook foi rápido em cobrir o corpo da mulher com o seu ao ver o mesmo homem que estava trocando olhares consigo há pouco tempo, entrar.

— O quarto está ocupado — Jungkook disse olhando para o homem, que agora lembrava se chamar Vernon.

— Percebi — ele disse com um sorriso ladino nos lábios. — Achei que estivesse rolando um clima entre você e eu ali atrás.

— Estava, mas agora estou acompanhado — respondeu vendo o sorriso de Vernon aumentar.

— Se a bela dama atrás de você aceitar, podemos nos divertir juntos — Jungkook ergueu as sobrancelhas surpreso pelo pedido, mas virou-se para a Sana, vendo-a morder o lábio inferior de maneira pensativa. — Dois é melhor que um, querida.

— Tenho certeza que sim — ela respondeu e Jungkook riu soprado.

— Então o que estamos esperando? — Jungkook perguntou com um sorriso ladino.

O Jeon nunca pensou que estaria em uma situação como aquela, porém, em vez de estar assustado, a ideia de ter duas pessoas na cama junto a si, na realidade, era muito mais excitante em sua opinião. Por isso, quando se virou para continuar onde havia parado com a Sana, sentiu o corpo de Vernon colado em suas costas, Jungkook se questionou do porquê nunca tivera aquela ideia antes. Os três estavam excitados demais para ligarem para o fato de estarem com roupas ou não, por isso, com a Sana ainda de vestido, Jungkook apenas a deitou na cama, subindo em cima dela e tirando sua *ceroula sem demora, sentindo Vernon curiosamente explorar sua bunda por cima da calça.

Jungkook sorriu antes de descer seus lábios para os lábios da moça e chupa-los com força, deixando que suas mãos fizessem o trabalho de apertar cada curva do corpo delineado dela, sentindo o tecido correr por entre seus dedos. Ele puxou o ar por entre os dentes ao sentir um tapa ser deixado em sua bunda, Vernon agora direcionava os dedos para seu cinto. Jungkook já estava excitado, não havia se tocado há muito, por isso a cada suspiro e aperto de Sana em suas madeixas eram um estímulo a mais que seu cérebro enviava diretamente a seu pau, que estava cada vez mais duro e dolorido.

— Levanta o quadril pra mim? — Jungkook pediu com os lábios bem próximos aos de Sana, que assentiu.

A garota fez o que ele pediu e se apoiou no colchão antes de erguer seu quadril, o rapaz puxou devagar o tecido que a cobria, fazendo-a suspirar com o lábio inferior entre os dentes, mas suas bochechas coraram ao ter sua intimidade exposta. Jungkook — agora de joelhos — se afastou dos toques de Vernon e puxou Sana pelos braços, colocando-a entre os dois, que não perderam tempo em dar prazer a ela. Jungkook deixava diversos beijos e chupões em seu pescoço enquanto Vernon focava no outro lado. Suas mãos iam explorando todo o corpo dela, até ele descer seus toques até chegar onde queria e fazer movimentos circulares.

Ela gemeu alto e aquilo deixou seu corpo ainda mais quente, Jungkook se afastou para ver as expressões dela enquanto não parava de estimulá-la, mas soltou um gemido contido quando sentiu uma palma acariciar sua ereção por cima da calça. Vernon ainda beijava o pescoço de Sana, porém seu olhar estava completamente focado em si enquanto a palma deslizava sobre seu pau, descendo e subindo por suas bolas, fazendo seu corpo ter alguns espasmos. Jungkook nunca pensou que dar e receber prazer ao mesmo tempo era um de seus fetiches, mas estava gostando até demais das carícias e dos gemidos de Sana próximo ao seu ouvido.

Quando seu dedo deslizou do clitóris para a vagina, ela teve um espasmo e gemeu ainda mais alto, pois Jungkook não perdeu tempo em penetrá-la, sentindo seu interior quente e úmido pressionar seu dedo em um aperto gostoso. Enquanto sentia Vernon adentrando sua calça e o tocando diretamente, deixava um gemido escapar de seus lábios e logo fechou os olhos, focado em não parar de estimular Sana, a puxando com sua mão livre para um beijo enquanto sentiam o calor inundar o quarto e o suor banhar seus corpos. Era uma bagunça de toques, de beijos e estímulos, era gostoso e Jungkook sentia seu corpo responder a cada toque e sons vindo de seus parceiros.

Vernon fechou a mão em punho em volta de sua glande, fazendo pressão com seus dedos. Jungkook, naquele momento, sentiu seu abdômen se contrair e abriu a boca em um gemido mudo, separando seus lábios dos de Sana, que também gemia. Vernon parecia estar amando ver suas expressões de prazer, pois ele subia e descia as mãos devagar, espalhando o pré-gozo com seu polegar para deslizar seus dedos com mais facilidade. Jungkook apertou a cintura de Sana enquanto seu corpo se contraia, sua boca produzia sons baixos e manhosos.

Por mais excitante que fosse provocá-los com seus gemidos, olhares e toques, Jungkook sentia seu pau latejar na mão de Vernon. Precisava se aliviar, então decidiu fazer algo que seria prazeroso para os três, para deixá-los no ápice do êxtase. Ele se afastou do corpo de Sana, vendo sua boca aberta e sua expressão entregue, Vernon a segurava pelos cabelos — que estava uma bagunça de fios dourados — beijando seu pescoço e clavícula descobertos pelo vestido. O olhar dos dois agora estavam em si, que tirava sua calça e se deitava na cama, chamando Sana para sentar em suas coxas com pequenas batidinhas.

O olhar dos dois estavam focados em seu pau, que estava ereto e molhado pelo pré-gozo. Jungkook possuía um pênis mediano e os poucos pelos que haviam ali o deixavam ainda mais convidativo, por isso Sana não demorou a engatinhar em sua direção e sentar-se em suas coxas. Vernon logo se aproximou também, levantando o vestido da mulher ali presente para que eles pudessem ver o momento em que ela se encaixou sobre seu pau e desceu devagar, fazendo Jungkook gemer e segurar em sua cintura com força.

Sana espalmou suas mãos em seu peito e cavalgou, gemendo e fazendo Jungkook delirar com aquele aperto gostoso em seu membro. Vernon não ficou de fora, ele colocou dois dedos na boca de Sana e a fez chupá-los, enquanto se masturbava atrás de seu corpo. O quarto era pequeno, por isso qualquer um que estivesse passando por perto ouviria o que estavam fazendo ali, já que Jungkook levantava seu quadril de encontro ao de Sana e a mão de Vernon em seu próprio pau faziam um barulho molhado.

Quando estavam há um tempo daquela forma Vernon retirou seus dedos da boca de Sana e os direcionou para debaixo de seu vestido, quando um gemido alto e manhoso saiu dos lábios dela, Jungkook soube que ele estava preparando-a para um sexo anal. O que, estranhamente, fez seu corpo se aquecer ainda mais ao ver as expressões dos dois de camarote enquanto Sana ainda cavalgava em seu colo, fazendo seu pau pulsar em seu interior. A mão esquerda de Vernon foi em direção ao ombro de Sana, fazendo-a se curvar um pouco mais, enquanto sua mão direita encaixava seu pênis, pronto para penetrá-la.

Ela pareceu desconfortável no início, por isso Vernon sussurrou coisas doces para confortá-la e Jungkook a puxou para mais um beijo, a fim de tentar distraí-la da dor. Ela sorriu entre o beijo, mas as lágrimas escaparam por seus olhos denunciando a dor que sentia. Vernon parecia grande e provavelmente estava doendo, mas o rapaz estava sendo cuidadoso para não a machucar, fazendo o suor se acumular em seus fios platinados. Após um tempo parados, Sana, apoiou-se em suas mãos e ondulou seus quadris, fazendo os dois gemerem pelo movimento, mas continuaram buscando por mais daquela sensação gostosa novamente.

A partir dali eles perderam o controle. Era uma bagunça de sensações, gemidos e movimentos. Sana revirava os olhos com os dois estímulos, Jungkook e Vernon gemiam toda vez que ela contraia seu corpo, deixando os movimentos, a partir daquele momento, fortes e com profundas investidas no interior dela. A cada segundo, o prazer de ambos aumentava e a necessidade de acelerar suas investidas também, por isso, deixaram a excitação tomar o controle e apenas seguiram com o que seus corpos pediam. Jungkook estava enlouquecendo, não só pelo estímulo em seu pau, mas pela sensação de ter duas pessoas consigo na cama.

Ele sentia algo forte e quente subindo de sua virilha e sabia que já estava perto. Os gemidos dos outros dois não estavam ajudando e muito menos o estímulo em seu pau, ele sentia o interior de Sana pressionando sua glande toda vez que ela subia e descia em seu membro sensível. De seus lábios, apenas lamúrias e gemidos saiam, ele mal conseguia focar em outra coisa fora os movimentos dos dois na cama. Quando seus olhos alcançaram os do outro rapaz, a sensação de formigamento cresceu, pois ele lhe encarava avidamente enquanto metia com força em sua parceira.

— Sana, eu vou gozar... — Jungkook anunciou, sentindo o formigamento aumentar.

— Pode gozar dentro, eu estou usando o *pessário — ela disse encarando-o e sorriu. — Eu vou gozar também.

Dito isso, Sana aumentou os movimentos com seu quadril, fazendo o moreno jogar a cabeça para trás e gemer alto, ele estava extremamente sensível por conta da falta de sexo, por isso quando sentiu o interior da garota lhe pressionar ainda mais, indicando o orgasmo dela, ele veio logo depois. Sua mente nublou por um instante, e teve certeza que perdeu a consciência por alguns segundos. Até mesmo sua respiração engatou, seu pau pulsou em sensibilidade enquanto se desfazia completamente dentro dela. Sana parou com os movimentos enquanto seu corpo era tomado por espasmos, ela estava ofegante e de olhos fechados, mas assim que recobrou a sanidade, sorriu e se afastou dos dois.

— Isso foi muito bom rapazes, espero que voltem para repetir, mas agora eu preciso voltar ao meu trabalho — ela disse enquanto abaixava seu vestido e pegava sua ceroula do chão. Ela partiu do quarto após deixar um sorriso aos dois.

— Isso é uma pena — Vernon disse chamando a atenção de Jungkook. Ele masturbava seu pênis, ainda duro. — Ainda não gozei, aguenta mais uma rodada?

— Por que não vem descobrir? — Jungkook sorriu, abrindo as pernas para Vernon, que também abriu um sorriso, verdadeiramente satisfeito.

— Preciso te preparar? — Ele perguntou, se colocando entre as pernas do outro rapaz.

— Precisa. Faz muito tempo que não faço sexo, devo estar bem apertado — disse com o lábio inferior entre os dentes, Vernon tinha um corpo de dar água na boca.

Aquela informação pareceu agradar e muito o rapaz, que não conteve o sorriso e levou a mão até seu pau que estava extremamente sensível por conta do último orgasmo que tivera. Devido a isso, quando os dedos quentes de Vernon se fecharam em volta de sua extensão, Jungkook gemeu e se contorceu. Ele sentia uma dor gostosa por causa da hiper sensibilidade e da morosidade dos movimentos dele, parecia querer enlouquecê-lo. O gozo ainda presente na ponta de seu falo ajudou a lubrificar ainda mais o ato. Jeon estava gemendo e se contorcendo quando viu Vernon levar sua mão livre até a boca, lubrificando três dedos.

— Por que a gente nunca tinha ficado no navio? — Jungkook questionou entre seus gemidos.

— Você nunca me dava aberturas para uma aproximação, achei que não gostasse de homens — respondeu após levar seus dedos até a entrada do moreno e contorná-la.

— Faça toda essa espera valer a pena então.

Jungkook puxou o pescoço de Vernon, para que pudesse alcançar sua boca e provar aqueles lábios que antes chupavam os próprios dedos. Era um beijo afoito, os dois estavam ansiosos e excitados demais para irem devagar. O calor já estava ali, o sexo que havia acontecido agora pouco com Sana parecia apenas uma preliminar para o que estava acontecendo agora, porque só deixou o corpo de Jungkook ainda mais quente. Quando sentiu os dedos de Vernon lhe invadirem, gemeu na boca dele, tentando descontar o prazer que estava sentindo, pois fazia tempo que não sentia nada dentro de si.

— Você geme tão gostoso — Vernon disse, resvalando seus lábios nos de Jungkook.

Vernon deslizou o terceiro dedo para dentro e começou a aumentar a velocidade, entrando e saindo rapidamente, abrindo e fechando os dedos em movimentos de tesoura para alargar o máximo que conseguia em seu interior deveras apertado. Jungkook deixou um gemido alto escapar e curvou suas costas quando sentiu um certo lugarzinho ser tocado, fazendo Vernon sorrir e estimular sua próstata repetidamente, deixando-o se contorcer no colchão. Jungkook sentiu sua respiração engatar e sua saliva passar a escorrer por sua bochecha, uma quantidade imensa de pré-gozo estava sendo expelido e melando seu falo já um tanto avermelhado.

Por reflexo, ele segurou o pulso de Vernon, tentando parar seus movimentos que estavam acertando sua próstata com bastante ímpeto, mas mesmo parado, ele curvou os dedos e o fez gemer manhoso novamente. Após isso, ele removeu os dedos e se masturbou, espalhando lubrificante em seu pau, gemendo enquanto olhava para si, tendo os olhos de Jungkook fixados em sua mão, que subia e descia no próprio falo; ele estava tão duro que parecia doloroso. Vernon se inclinou sobre seu corpo e voltou a beijá-lo com fervor, suas línguas dançavam juntas enquanto ele esfregava o pau em sua entrada, que se contraia em ansiedade.

Quando Jungkook sentiu o pau dele entrando vagarosamente em si, fechou os olhos com força, sentindo aos poucos sua extensão tomar espaço dentro de si, enquanto sentia a língua dele enrolando-se na sua. Vernon saiu de dentro devagar e entrou novamente, ainda sentia uma ardência por conta da falta de sexo, mas sabia que logo a dor passaria e daria lugar ao prazer. Jungkook gemia baixinho com as pernas entrelaçadas na cintura do rapaz, enquanto suas unhas deixavam rastros vermelhos na pele de suas costas. Os movimentos dele eram gostosos e lentos, deixando-o se acostumar com a intrusão.

Vernon parecia estar se controlando muito para não o foder com força, mas após algumas estocadas ele pareceu perder esse autocontrole e, depois de cessar o beijo, se impulsionou com mais força, indo mais fundo e gemendo com o ato. Jungkook viu estrelas em um misto de dor e prazer, seu gemido foi deveras alto e manhoso. Segurou os fios platinados de Vernon ouvindo-o gemer rouco em seu ouvido. Os movimentos a partir daquele momento eram fortes, fundas investidas no interior de Jungkook. A cada segundo, o prazer de ambos aumentava e a necessidade de acelerar os movimentos também.

As investidas estavam cada vez mais rápidas e Jungkook gemia ainda mais alto a cada vez que o pau de Vernon roçava em sua próstata. Ambos gemiam em uma verdadeira sintonia, o suor cobria seus corpos e o prazer estava deixando-os tontos. Ele foi do céu ao inferno várias vezes e gemia com isso, pois era uma mistura enlouquecedora de dor e prazer. Jungkook se masturbava de forma atrapalhada e gemia sôfrego. Vernon foi o primeiro a gozar retirando seu pau de dentro. Melando seu abdômen com a prova de seu prazer, ele revirou os olhos enquanto se desfazia em jatos. Porém, em vez de esperar seu orgasmo, Jungkook sorriu e trocou suas posições.

— Você me deixou duro, agora vai me fazer gozar — sorriu, encaixando o pau do Vernon em si.

— Me use como quiser — sorriu e direcionou suas mãos até a cintura de Jungkook, que ainda estava coberta pela camisa branca.

— Espero que você aguente, pois eu realmente sou incansável na cama.

(...)

Jungkook agora estava de pé, enquanto Vernon estava ofegante em cima da cama, ele parecia exausto e, embora Jeon também estivesse, ele preferia descansar em uma cama onde não tivesse gozo para grudar em seu corpo e, de preferência, dormir banhado. Por isso, vestia as roupas que havia tirado, sentando na beira da cama para colocar suas botas surradas. Ele podia sentir um incômodo em sua bunda e o suor em seu peito, mas estava satisfeito e seu parceiro também, por isso não estava reclamando. Então, quando se levantou para sair, olhou para trás uma última vez, há tempo de ver Vernon se sentar no colchão.

— Você realmente é incansável, hein — disse sorrindo em sua direção, o que o fez sorrir também.

— Eu avisei você.

— Espero que possamos voltar a repetir o que fizemos.

— Eu também espero — Jungkook disse antes de abrir a porta e sair.

Ele realmente esperava repetir aquela experiência, mas não sabia se queria ou não voltar para o navio, ele estava perdendo tempo naquela tripulação, onde ele só trabalhava para receber uma merreca e não tinha nenhum avanço em sua busca. Ele precisava dar um jeito de ler o mapa, ficar andando em círculos no meio do oceano não era a melhor maneira de aprender. Passou anos sem sequer saber diferenciar leste e oeste e não seria naquele navio que ele aprenderia algo. Jungkook tocou seu peito, procurando pela runa presa na corrente, confirmando se ela ainda estava ali. Jamais poderia perder aquilo que seu pai tanto cuidou em vida, por isso suspirou aliviado ao sentir a pedra intacta em seu devido lugar.

Quando chegou no local onde estava anteriormente com Bambam o encontrou em pé, cantando junto com outros corsários da tripulação, ele mal se mantinha em equilíbrio e tinha uma garrafa de rum na mão. Jungkook apenas riu e caminhou para fora da taberna, estando atrás de dois homens, que pareciam ir na mesma que ele, por isso caminhou calmamente. Não estava com pressa e, definitivamente, estava dolorido demais para sequer pensar em acelerar o passo, ele divagava em seus próprios pensamentos, desejando um segundo banho, que ele definitivamente tomaria naquela noite.

— Ouvi que Aurora, a indomável, atracou no porto hoje a noite — um dos homens que estava na sua frente comentou com o outro.

— A destruidora dos sete mares?

— Essa mesma!

— Mas porque eles viriam para cá?

— Ouvi dos pescadores que eles estavam cheios de ouro, então a aventura havia sido um sucesso. Eles estavam abastecendo o navio, parecem que vão partir amanhã de manhã mesmo.

— Será que eu conseguiria entrar na tripulação? — O homem perguntou, ganhando uma gargalhada como resposta.

— 'Tá brincando? Para entrar na tripulação da Aurora, você tem que ser escolhido pelo capitão ou pagar um tributo a ele.

— É muito caro?

— Deve ser, todos temem a Aurora, porque o capitão dela é muito inteligente, não teve um navio que não caiu pelos canhões dele — os dois caminharam por um caminho divergente após a última fala.

Jungkook ergueu as sobrancelhas com aquela conversa, de fato era muito interessante saber que tinha um navio rápido e um capitão inteligente a bordo dele. Abriu um sorriso imenso, pois ele, definitivamente, entraria para aquela tripulação, teria que usar todas as economias que juntou, mas era a melhor opção que ele tinha no momento. Jungkook voltou para a pousada e juntou suas coisas após pegar suas roupas com o proprietário do lugar. Ele tomou um banho e foi contar as moedas de ouro que tinha guardado para emergências e, embora não fosse muito, era o suficiente para ser um "tributo" decente ao capitão do navio.

Jungkook se perguntava que tipo de corsário aceitava tributos, mas sabia que sempre haviam gananciosos no meio marítimo, seu capitão atual era um ótimo exemplo, não perdia uma oportunidade de se "mostrar" diante do rei para ganhar alguma menção honrosa ou um título importante entre os corsários. Ele usaria a mesma tática que fazia para entrar nos outros navios que esteve durante esses últimos anos, ele entraria dentro de um *lastro e sairia após o navio zarpar, deixando seu esconderijo após se afastar do porto e indo falar com o capitão, iria dizer que havia sido mandado por ordens do rei. Ninguém nunca o questionava quanto a veracidade daquilo, um a mais ou um a menos na tripulação não fazia diferença, esperava apenas que um capitão inteligente também não o fizesse.

Dormiu pouco naquela noite, pois precisava sair bem cedo para poder entrar no lastro sem que ninguém o visse, esperava apenas que não desconfiassem do peso. Antes mesmo do sol nascer, Jungkook vestiu seu uniforme e saiu da pousada, apressando o passo até chegar no cais. Quando chegou, viu apenas alguns pescadores arrumando as redes, provavelmente querendo aproveitar a maré alta para pescar. Tentou passar despercebido por entre eles, caminhando sorrateiramente entre as coisas que seriam colocadas no navio, procurou por algum lastro com água e a despejou toda no mar.

Antes que alguém o pegasse em flagrante ele entrou no barril e colocou a tampa, agora era só esperar alguém carregar o barril para dentro e ele iria sair para se esconder em algum lugar abaixo da proa do navio, a partir dali ele poderia se infiltrar entre a tripulação e nem seria notado. Jungkook perdeu as contas de quanto tempo ficou ali dentro, tinha certeza que haviam se passado horas, ele até cochilou lá dentro agarrado às suas coisas, acordou apenas quando sentiu o barril onde estava escondido ser carregado. Agora, já desperto de seu cochilo, ele se preparou para colocar seu plano em prática.

— Levem tudo para dentro rápido, o capitão quer zarpar logo! — Jungkook ouviu uma voz feminina e franziu o cenho.

— Lisa, vai com calma que eu estou com uma ressaca horrível — um homem respondeu.

— Problema é seu, não mandei você beber.

— Grossa... — O cara murmurou baixinho com um timbre manhoso.

— Eu falei para você não beber tanto, Hobi.

— E eu ia saber que teria essa ressaca horrorosa? Eu nunca tive ressaca na vida.

— Seria estranho você não ter ressaca depois de eu ter te encontrado caído do lado da *latrina — Jungkook sentiu o barril sendo deixado no chão e as vozes se afastaram.

Ele franziu o cenho, estranhando a situação, pois normalmente não aceitavam mulheres nos navios, diziam serem perigosas demais, traiçoeiras e um peso para a tripulação, tanto nos navios piratas quanto nos navios de corsários, por isso ficou extremamente chocado ao escutar a voz de uma mulher em meio a tripulação da Aurora. Mas aquele não era o seu foco, deveria estar com os ouvidos bem atentos para qualquer movimentação, afinal só poderia sair dali quando o navio zarpasse do porto e estivesse longe o suficiente da praia para que não pudesse voltar. Ficou dentro dele durante mais algumas horas, até que as vozes ficassem mais baixas.

Ele ouviu os tripulantes conversando sobre o destino e para levantarem a âncora, esperou mais um tempo até ouvir as vozes dizendo estarem animadas para encontrar mais um navio, então Jungkook soube que aquele era o momento certo. Ele abriu o tampo do barril e espiou os arredores, estava em um lugar escuro, parecia estar abaixo da proa a julgar pelo som das pegadas na parte superior. Quando se certificou que não havia ninguém ali, ele amarrou suas trouxas em suas costas e saiu do barril, procurando um lugar para se esconder.

Aquele cômodo estava cheio de barris e sacos, provavelmente areia e comida, para balancear o peso do navio. Jungkook precisava achar algum lugar — que não fosse apertado o suficiente para atacar sua claustrofobia — que pudesse lhe servir de esconderijo e uma janela. Mas algumas coisas chamaram a sua atenção, algumas botas e casacos estavam pendurados no canto do lugar. Jungkook franziu o cenho ao notar que aquelas não eram as vestes que os corsários costumavam usar, nem aquelas botas, mas o que mais lhe chamou a atenção foi um chapéu de três pontas.

— Ah não... — Jungkook sussurrou.

Não podia ser aquilo, estavam atracados em um porto cheio de corsários e soldados do rei... Mas isso de certa forma explicaria o porquê chegaram durante a madrugada e zarparam antes do sol se ostentar no céu.

Caminhou com cuidado, olhando para a escada, pois sabia que se alguém viesse dali ele não conseguiria se esconder a tempo, o veriam e seu plano provavelmente daria muito errado — já estava dando, na verdade —, pois ele queria sair dali debaixo somente quando estivesse afastado o suficiente, e ele só teria certeza disso quando visse o mar. O único problema foi ele estar focado demais na escada e não terminar de checar se o local onde ele estava se encontrava vazio, haviam bifurcações ali e ele não estava atento às movimentações atrás de si, só notou que tudo havia dado, de fato, errado quando sentiu algo encostar em sua nuca e um barulho que ele conhecia muito bem, por isso ergueu suas mãos.

— Ora ora, um clandestino — a mesma voz feminina que havia ouvido anteriormente pronunciou calmamente. — Um dos cachorrinhos do rei ainda, que surpresa.

— Não quero arranjar problemas...

— Deveria ter pensado nisso antes de invadir a Aurora — ela disse pressionando a pistola com mais força em sua cabeça. — Ande, suba as escadas, sem gracinhas ou eu atravesso uma bala na sua cabeça.

— Tudo bem.

Jungkook internamente se xingava e tentava controlar os batimentos acelerados de seu coração. Ele estava perdido, certamente morreria ou seria jogado no mar, aquilo foi de fato um plano muito mal calculado. Caminhou devagar até as escadas e subiu um passo de cada vez, sentindo o cano da arma pressionar sua nuca a cada instante. Quando chegou até a parte superior da proa, o sol bateu em seu rosto, fazendo-o frisar o olhar até que ele se adaptasse à claridade. As pessoas que antes trabalhavam erguendo as velas do mastro e as que estavam apenas de passagem ali pararam para ver o que estava acontecendo.

Piratas, Jungkook constatou o óbvio por conta das vestimentas e a *Jolly Roger no alto do mastro.

— Chamem o capitão, temos um clandestino na Aurora — a mulher que estava atrás de si disse alto. Jungkook viu um dos homens correr para longe deles.

— Por favor, eu realmente não quero confusão — Jungkook suplicou a ela.

— O capitão que vai dizer o que fazer com você agora — ela respondeu firme.

Jungkook rezou para qualquer deus que estivesse lhe ouvindo naquele momento, que o ajudasse a sair daquela situação vivo, pois passou anos em um navio pirata, sabia que eles não toleravam clandestinos. Todos estavam em volta dele, encarando-o de cima a baixo, principalmente seu uniforme, que deixava claro que ele era um corsário do rei e estava bem óbvia a inimizade que piratas e corsários tinham entre si. Quando ouviu os passos a sua frente, ele ergueu a cabeça, vendo próximo ao manche alguém descer as escadas até estar na proa, viu o homem que havia corrido para chamar o capitão e um homem alto a sua frente.

A julgar pela pose imponente, roupas e armas em seu coldre, aquele era o capitão.

— O que um corsário faz na minha Aurora? — Ele disse tirando seu mosquete do coldre e apontando para o seu peito. Jungkook engoliu em seco diante do olhar e voz daquele homem.

Estava de frente para um pirata — pior ainda, estava de frente para um capitão — no navio dele, no território dele, cercado pelos marujos dele e, é claro, sem lugar para correr ou se esconder, pois estava no meio do mar e, como havia calculado anteriormente, longe da praia. Ele conhecia a fama de capitães piratas, seu pai não era exceção, mas o olhar daquele homem lhe causava um arrepio na espinha, pois ele lhe dizia que estava certo em temê-lo. Jungkook temia morrer, temia deixar de lado sua busca, seu propósito, por isso mesmo que estivesse com medo, ele não iria morrer ali.

Não importa o que tivesse que fazer, não iria deixar para trás o legado de seu pai.

~🖤~

Fiquem atentos, vocês verão MUITAS referências aos Piratas do Caribe, pois obviamente, me inspirei no universo dele para escrever <3

Tag da fic no twitter:

#dentesdodiabo

*Traquetre:

Designa-se por traquete a vela que se encontra no mastro com o mesmo nome. É a vela de maior dimensão do mastro de vante.

*Pessário:

O pessário foi usado como método contraceptivo no final do século 18 e início do século 19 na Europa. Este dispositivo desconfortável era colocado no colo do útero da mulher por até quatro meses (parece uma rolha).

*Ceroula:

Roupa feminina e masculina com duas pernas. Usado sob as calças, que cobre da cintura até o tornozelo; ceroila, ceroilas, ceroula.

*Lastro:

Lastro é a expressão do transporte marítimo, que significa água que é posta nos porões para dar peso e equilíbrio ao navio, quando está sem carga, afim de manter a estabilidade. O lastro consiste em qualquer material usado para dar peso e/ou manter a estabilidade de um objeto.

*Latrina:

Latrina é um compartimento fechado, vaso sanitário ou de escavação no solo para dejeções; banheiro, sanitário.

*Jolly Roger:

São conhecidas como Jolly Roger, qualquer uma das várias formas das bandeiras dos navios de piratas, sendo a mais conhecida a caveira com os ossos cruzados, uma bandeira composta de um crânio humano sobre dois ossos longos colocados em "x", sobre um fundo preto e vazio.

Observações:

Eles navegam pelos mares de todo mundo, mas a língua falada por eles na fic é inglês, mesmo os de origem asiática. Porque grande parte da estória eles estão nos mares americanos.

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