E se for tarde demais?
Lalisa Manoban
Algumas horas antes...
Nunca em toda sua vida esteve tão possessa quanto estava naquele momento, não importava quantas vezes socava, chutava ou apunhalava a Oliver com suas facas, nada era o suficiente para aplacar sua fúria. Naquele momento ela havia arrancado mais um dos dentes do escudeiro, que quase não conseguia se manter consciente após os golpes que levou, enquanto Taehyung o mantinha sobre a mira de sua runa, tornando seu sofrimento ainda pior, mas aquilo não era o suficiente para Lisa, pois ela queria que ele sentisse o Jennie sentiu enquanto passava dias doente por culpa dele. Determinada, caminhou até as sementes de ricina e pegou um punhado em sua mão.
— Nos vemos no inferno — ela disse ao segurá-lo pelo colarinho e colocar as sementes em sua boca, forçando-as para dentro ao segurar seu queixo com força e restringir sua respiração tampando seu nariz.
Se debatendo para tentar respirar, Oliver não teve outra alternativa, senão engolir as sementes, pois Lisa não o libertou até ter certeza que ele havia engolido todas. Quando soltou o homem, ela se afastou, vendo-o tossir e cuspir mais um dos seis dentes que perdeu ao ser espancado. Caminhou até ficar ao lado de Taehyung que permanecia quieto e de braços cruzados, apenas deixando-a que se vingasse. Tentando se acalmar, Lisa respirou fundo sentindo seus punhos doerem e, ao analisá-los, constatou que havia machucado suas mãos, mas não se arrependia nem um pouco de suas ações. Olhando para Oliver novamente decidiu colocar um fim naquela situação de uma vez por todas.
— Vamos nos livrar dele, Capitão — Lisa disse colocando uma das mãos sobre a cintura.
— O que pretende? — Ele perguntou ainda sem tirar os olhos do Oliver.
— Vamos arrastá-lo para a mata, onde ninguém irá encontrá-lo e deixá-lo morrer lá — disse, vendo Oliver lhe encarar com os olhos marejados e assustados. — Mesmo que alguém o encontre e tente ajudá-lo, a ricina vai matá-lo em poucos dias.
— Acho ótimo — Taehyung disse sem perder a concentração, focado em deixar Oliver mergulhado no medo o máximo que conseguisse.
Lisa sorriu e caminhou até Oliver, que tentou se arrastar para longe com as mãos presas, mas ela o alcançou e o colocou de pé, fazendo-o andar enquanto o arrastava para a mata. Taehyung os seguiu, enquanto o escudeiro mancava por conta de seus hematomas e provavelmente algumas costelas quebradas. Os arquejos e gemidos de dor dele não a abalava, pois Jennie passou dias chorando de dor, arquejando todas noites por causa dos vômitos, alucinando por causa do veneno e Lisa faria Oliver sentir cada mínima sensação de sofrimento, até que sentisse o arrependimento dele manchando suas mãos de vermelho.
A cada passo Oliver choramingava de dor, o que fez Lisa segurá-lo com mais firmeza e arrastá-lo com mais rapidez para longe do descampado, fazendo-o tropeçar nos próprios pés e Taehyung ter que ajudá-la a arrastá-lo. Quando chegaram até a mata, caminharam por alguns minutos, até que não conseguissem ver o descampado atrás deles, largando Oliver no chão aos pés de uma enorme árvore, esta que seria sua lápide. Lisa abaixou-se e soltou suas mãos, retirando o casaco de Oliver, que sequer tinha forças para tentar afastá-la, pois mesmo que houvesse algum mínimo resquício de força para isso, Taehyung ainda o mantinha preso ao medo paralisante de sua runa.
Quando estava com o casaco de Oliver nas mãos, ela amarrou uma das mangas com força em seu pulso, antes de contornar a árvore e fazer o mesmo com a outra manga, mantendo-o preso na árvore. Lisa se afastou e o observou, ele estava com o nariz quebrado, sem os dentes e cheio de ferimentos e escoriações, causada por suas mãos acostumadas a quebrar ossos, naquele momento Lisa provou que ninguém tocaria em sua mulher e sairia vivo, pois para proteger Jennie, Lisa lutaria com o próprio diabo e venceria.
— Uma morte patética para um homem patético — Lisa cuspiu em Oliver, enojada somente em olhar para o quão humilhado ele estava.
— A bruxinha me fará companhia no inferno — ele olhou para cima, sorrindo mesmo diante da morte.
— Espere sentado no colo do diabo, Oliver — Lisa disse antes de acertar um chute em sua cabeça, forte o suficiente para desacordá-lo.
Quando a cabeça de Oliver pendeu para baixo, ela sabia que havia conseguido desmaia-lo, retirou um de seus canivetes de dentro de sua bota e caminhou até a árvore, usando a lâmina afiada para escrever no tronco "aqui jaz um assassino". Ao se afastar olhou para a cena a sua frente até que ela estivesse gravada em sua mente, não queria jamais esquecer aquela cena, suas mãos ardiam e a adrenalina ainda corria por suas veias, a sensação de ter feito justiça a aliviava. Lisa não se sentia culpada por ter se vingado, na realidade, ela se sentiria pior se soubesse que Oliver havia tentando matar o amor de sua vida e fugido, mas com ele sobre seus pés, prestes a morrer da maneira que tentou matar Jennie, a deixava completamente satisfeita.
— Chega a ser poético — Lisa disse ainda olhando para o sangue pingando na camisa de Oliver. — Um assassino morrendo da mesma maneira que mata suas vítimas.
— Há um tempo, achava que morreria nas mãos de algum inimigo também — Taehyung disse olhando para Oliver, atraindo o olhar de Lisa, que arregalou os olhos ao notar que ele estava muito mais pálido que antes e com os lábios arroxeados. — Seguindo essa lógica... meu inimigo desde o início era eu mesmo.
Antes que Lisa pudesse perguntar se ele estava bem, Taehyung tossiu sangue e pareceu com dificuldades para recuperar o fôlego, Lisa não soube o que fazer, por isso deu alguns tapas em suas costas tentando ajudá-lo, porém ao notar que ele não estava engasgado, mas sim sem ar, ela não soube o que fazer. O Capitão caiu de joelhos e se agarrou em seus braços, em desespero por tentar respirar e não conseguir, o que fez Lisa se desesperar junto a ele sem saber como ajudá-lo, tudo o que pôde fazer foi assistir enquanto o sangue se acumulava sobre suas bochechas a ponto de deixá-lo roxo. Quando Taehyung perdeu a consciência e caiu desacordado após se debater um pouco, Lisa tentou segurá-lo, mas o deitou sobre os galhos e as folhas secas para que pudesse examiná-lo e entender o que estava acontecendo.
— Capitão?! — Lisa deu alguns tapinhas em seu rosto, antes de colocar o ouvido sobre seu peito, ouvindo os batimentos de Taehyung reduzindo. — Ai meu Deus...
Em completo desespero Lisa levantou o queixo de Taehyung, tampou seu nariz e encheu os pulmões de ar antes de pressionar sua boca contra a dele, soprando levemente e se afastando em seguida, olhando para seu peito, tentando encontrar alguma movimentação, mas após não encontrar nenhuma tentou novamente, repetiu a ressuscitação mais três vezes. O gosto de sangue tomou sua boca enquanto tentava ressuscitá-lo, mas aquilo não estava surtindo efeito, então com as mãos trêmulas Lisa tentou ouvir novamente seu coração, mas seus batimentos estavam tão fracos que sequer conseguia ouvi-los com precisão. Sem saber o que fazer, ela segurou o braço dele e usando toda sua força o colocou sobre suas costas.
— Aguente somente mais um pouco Capitão — Lisa implorou, sentindo o bolo em sua garganta ressurgir ao correr para longe da mata com Taehyung inconsciente sobre suas costas, usando toda sua força para suportar o peso e correr o mais rapido que conseguia.
(...)
Jeon Jungkook
Tempos atuais...
O clima entre os Deuses estava péssimo, muitas coisas aconteceram em pouco tempo e agora todos estavam completamente perdidos no próprio luto, afundados em sua própria tristeza. Jungkook sentia-se cheio, mesmo que tivesse chorado muito, seu corpo e sua mente parecia um copo cheio d'água prestes a transbordar, precisava encontrar alguma maneira de conseguir livrar-se daquela sensação, sequer foi capaz de conter sua tremedeira desde que Eveline e Ryan morreram. Enquanto caminhavam rumo à entrada por onde haviam chegado, prontos para voltarem, a porta do santuário surgiu diante deles, como se soubesse que precisam dela para saírem. Jayce estava com um corte superficial em sua garganta e Lia ainda estava se recuperando de sua letargia.
Quando olharam para trás uma última vez, viram Seiryu e Genbu encarando-os, enquanto os outros Deuses permaneceram em seus lugares, apenas acompanhando-os com o olhar, mas não conseguiu evitar olhar para a redoma, vendo Evie e Ryan sendo deixados para trás em seu descanso eterno. Quando passaram pelo guardião, ele estava esperando-os atrás da porta, com o olhar brilhando em curiosidade e caiu na risada quando notou que faltavam duas pessoas em seu grupo. Jungkook não tinha tempo e nem ânimo para lidar com piadas naquele momento, por isso apenas suspirou e caminhou até a caverna por onde haviam entrado, ignorando as risadas da raposa. Jayce e Lia espelharam seus atos, escolhendo preservar o próprio psicológico do que ceder ao desdém da raposa entretida.
Enquanto caminhavam pela caverna, assim como tinha sido quando entraram, as arandelas começaram a se acender, iluminando precariamente o caminho. Mal precisou se aproximar para a caverna começar a mudar de forma, criando uma grande rachadura para que pudessem passar pela fenda. Jungkook sequer olhou para trás novamente ao sair da caverna, olhando para o céu e vendo o sol em todo seu esplendor, suspirou aliviado ao senti-lo acalentar sua pele com o calor de seus raios. Disposto a não perder mais tempo olhou para o mar à sua frente, pensando no faria agora que não tinha mais um barco para levá-los embora, por isso suspirou e virou-se em direção a Lia quando teve uma ideia.
— Lia, você consegue criar um barco para nos levar de volta? — Perguntou, vendo-a fazer uma careta.
— Eu posso tentar, mas sei que há todo um planejamento para montá-lo — ela caminhou até que as ondas baterem em seus pés, erguendo as mãos. — Então talvez ele não flutue, já que eu não entendo muito de embarcações.
Apesar do que falou, ela criou um pequeno barco de madeira, juntando-as uma por uma até que finalmente a embarcação ganhou forma, era um pouco maior que uma canoa, mas tinha o mesmo formato. Quando terminou ela encarou sua criação, parecia insegura de que realmente cumprisse o que prometia, por isso para testar, Jungkook caminhou até o barco, subindo na madeira e ficando de pé. Aparentemente ele estava bem firme e para confirmar se flutuava, o arrastou com uma pequena correnteza para longe da orla, vendo-o balançar e ranger, mas flutuar sobre a corrente. Com cuidado, o levou de volta para a orla, para que Jayce e Lia subissem, avisando que caso o barco não aguentasse, ele daria um jeito de levá-los usando a água do mar.
O que deixou Jayce um tanto pálido de nervoso.
Durante o caminho Jungkook sentia o sangue do Seiryu, sentindo tanto sua composição quanto seu peso no bolso de sua calça, era um frasco pequeno com uma quantidade ainda menor de sangue, mas parecia pesar toneladas. Sabia o que o sangue poderia fazer, tinha certeza que Taehyung e Jennie seriam curados, mas seu maior medo naquele momento, era chegar tarde demais. Lia e Jayce estavam muito quietos, assim como ele próprio, pois não havia de fato algo para conversarem porque seus pensamentos estavam todos envoltos do acontecido há pouco. Jungkook sentia-se triste por não ter salvo Evie e irritado por não ter desconfiado de Ryan.
Até que lembrou-se de Oliver e seu medo triplicou, pois Taehyung e os tripulantes não sabiam que ele era escudeiro de um traidor, que poderia esfaqueá-los pelas costas como Ryan havia feito, temia que ele causasse algum mal. Jungkook voltou a tremer e para se acalmar decidiu fazer o que sempre fazia quando estava aflito, inclinou-se sobre o barco e tocou a água do mar, fechando os olhos e deixando que somente o cheiro, som e a energia do oceano mareasse sua mente. Podia sentir as correntes, a água fria e som acalmar as batidas de seu coração, como se arrancassem as sensações ruins de seu corpo, o que o fez cantarolar a melodia da música que sua mãe o ensinou, cantando a letra apenas em sua cabeça.
Eu ouço sussurros do mar
Com o bater das ondas ele está a cantar
No meu ouvido o som adentrar, dizendo que a terra não é o meu lar
Sinto o meu peito se aquecer
E suas ondas me acolher
Talvez seja um chamado
Da correnteza que está ao meu lado
Juntos aos meu irmãos quero ir
Sentindo as ondas me engolir
Talvez meu lugar não seja aqui
Pois sinto as águas me invadir
Eu ouço sussurros do mar
dizendo que a terra não é o meu lugar
Que nas profundezas eu vou me encontrar
Pois sou o seu filho e lá é meu lar
Ao abrir os olhos novamente Jungkook viu o límpido e azul oceano, junto ao seu próprio reflexo, apesar de ainda ter dificuldades em reconhecer a si mesmo, porque seus cabelos brancos e olhos tão claros ainda eram uma novidade, era como olhar para o reflexo de sua mãe. Naquele momento, sentiu sua aflição diminuir ao imaginar que, tanto sua mãe, quanto seu pai estavam apoiando-o onde quer que estivessem naquele momento, e sorriu ao notar que desde pequeno, sua mãe — com sua doce canção — estava lhe mostrando qual era o seu lugar. Agora, mais calmo, Jungkook pôde tirar um pouco do peso de suas costas, apesar de ainda se sentir aflito com o pensamento de estar chegando tarde demais.
Quando enfim o barco estava chegando na praia, onde havia um cais repleto de barcos e pescadores, Jungkook endireitou-se e suspirou aliviado, ali era o ponto principal do porto da China, mas para evitar os piratas de Ching Shih, o Nevrine não poderia ser atracado ali. Quando estavam se aproximando do porto notaram uma pessoa sentada na beira do cais, ele olhava para as próprias botas e assim que seus olhares se encontraram ele se levantou depressa, encarando-o com um temor no olhar visível mesmo da distância que estavam. Foi a primeira vez desde que conheceu Namjoon que o viu com aquela expressão de medo, o que fez o sangue em suas veias gelar novamente.
— Segurem-se — Jungkook pediu a Lia e Jayce antes de criar uma corrente ainda mais forte, levando-os com rapidez até o cais. Assim que chegaram, Namjoon o ajudou a sair do barco, assim como ajudou os outros também.
— Onde estão Eveline e Ryan? — Ele perguntou com o cenho franzido.
— Depois eu conto tudo o que houve — segurou em seus braços, preocupado com a expressão em seu rosto. — O que aconteceu? Por que está tremendo? — Perguntou ao senti-lo trêmulo sob seus dedos.
— Jennie pediu que eu esperasse por vocês aqui — ele disse respirando fundo. — Por favor... me diz que você conseguiu o sangue do dragão — seus olhos imploravam para que ele dissesse sim.
— Conseguimos — assentiu, fazendo-o suspirar aliviado antes de agarrar suas mãos.
— Precisamos ir até Taehyung, rápido! — Ele o puxou, fazendo-o caminhar às pressas, até que logo em seguida começaram a correr, sendo seguidos por Jayce e Lia.
— Namjoon, o que houve?! — Jungkook perguntou sentindo o desespero tomar seu corpo novamente. Mas eles não pararam de correr pelo meio do porto, indo em direção ao centro.
— Os pulmões de Taehyung pararam de funcionar devido a doença dele — sua voz embargou, mostrando a Jungkook como a situação estava afetando-o, pois dentre todos os tripulantes, Namjoon era o mais calmo e centrado. O coração de Jungkook errou uma batida ao assimilar o que ele havia dito, junto ao bolo que cresceu rapidamente em sua garganta. — Ele estava com Lisa quando começou a passar mal e teve uma parada respiratória, ela tentou reanimá-lo, mas não adiantou.
— Namjoon... — Jungkook começou a chorar quando os pensamentos intrusivos começaram a tomar sua mente.
— Ele ainda está vivo — esclareceu, ainda correndo. — Mas não sabemos até quando, porque ele chegou ao hospital inconsciente e os médicos disseram que ele havia entrado em coma por conta da falta de oxigenação. — A cada palavra Jungkook sentia seu peito se apertar ainda mais, junto a uma angústia que o matava de dentro para fora. — Os médicos estão ventilando seus pulmões remotamente, mas disseram que ele não irá acordar... e se pararem de ventilar, ele terá uma parada cardíaca e morrerá.
Aquilo quase o derrubou, imaginar Taehyung morrendo o deixou sem chão, as lágrimas rapidamente embaçaram sua visão, se não estivesse sendo guiado por Namjoon tinha certeza que teria se perdido ou tropeçado em seus próprios pés. Se antes, havia conseguido se acalmar, aquilo havia acabado com tudo, não era justo, chegou até ali por causa de Taehyung, ele não poderia morrer agora, não depois de tudo o que fizeram. Por isso mesmo que quisesse desabar, mesmo que suas esperanças estivessem se dissolvendo como água no açúcar, ele se agarraria a aquele mínimo fio de esperança. Taehyung ainda estava vivo e aquilo bastava no momento, então mesmo que as lágrimas e a dor em seu peito o deixasse quase letárgico, forçou suas pernas a correrem mais rápido.
— Tem mais uma coisa... — Namjoon disse assim que viram o hospital a alguns metros. — Descobriram que a doença do Taehyung é contagiosa, houve um surto dela em outro continente há alguns anos, que matou uma civilização inteira, Jimin suspeita que o pai deles tenha passado a ele. — Jungkook suspirou, pois era uma notícia ruim atrás da outra. — Ele está sendo mantido em quarentena, junto a Lisa.
— A Lisa? Por que? — Franziu o cenho.
— Quando ela estava tentando socorrê-lo, tentou fazer uma respiração boca-a-boca, o que acabou fazendo com que Lisa entrasse em contato com o sangue dele — Namjoon explicou, deixando-o ainda mais aterrorizado, pois se a doença dele realmente fosse contagiosa como Jimin havia suspeitado, Lisa com certeza iria contrair a doença. — Eles não a deixaram se aproximar de Jennie desde que chegou, ela foi sedada para não oferecer risco aos outros pacientes, porque eles ainda não sabem como é feita a transmissão.
— Que merda... — Jungkook praguejou, e Namjoon apenas assentiu.
Lia e Jayce estavam logo atrás deles, ouvindo tudo em silêncio, enquanto Namjoon o guiava para dentro do hospital onde haviam deixado Jennie, que antes era um lugar calmo, mas agora estava um caos. Haviam diversos médicos e enfermeiras andando de um lado para o outro, carregando panos e outros utensílios, enquanto os pacientes estavam sendo movidos para outros lugares. Jungkook rezou que aquilo tudo não fosse por causa de Taehyung ou teria problemas para explicar a situação depois, mas naquele momento, ele resolveu focar-se somente em curá-lo. Quando chegaram à parte isolada, encontraram diversos médicos em volta do corpo de Taehyung, enquanto Jimin chorava ao ser impedido de se aproximar do irmão, pois as enfermeiras barravam sua passagem.
Lisa estava deitada em uma maca ao lado da dele, inconsciente, enquanto algumas enfermeiras a examinavam. Assim que viu Taehyung o coração de Jungkook deu um salto em seu peito, pois ele estava pálido e não reagia ao ter o médico bombeando ar com uma máscara ligada a um pequeno reservatório de ar, onde ele tinha que apertá-la constantemente, simulando a respiração humana. Algumas enfermeiras estavam ouvindo seu coração por um tipo de cone, que estava sendo posicionado em seu peito, enquanto outra sentia a pulsação de seu pulso. No momento em que a enfermeira que ouvia o coração de Taehyung levantou a cabeça e fez um movimento negativo, o bolo na garganta de Jungkook se prendeu naquela região, pois o médico suspirou e retirou a máscara do rosto dele.
— Me deixem passar — Jungkook pediu as enfermeiras que barravam sua passagem, assim como faziam com Jimin. Estava sentindo o mundo desabar sob seus pés, sentia que a vida de Taehyung estava escorrendo por entre seus dedos.
— Você não pode se aproximar, é uma área de quarentena — uma das enfermeiras disse em inglês, mas com um sotaque bem forte. — Há um grande risco de contaminação.
— Não importa, eu preciso ir até ele! — Gritou, tentando se desvencilhar das enfermeiras. O que chamou atenção de alguns médicos, que tentaram ajudá-las a contê-lo, dizendo algo em mandarim que ele não entendia. — ME SOLTEM!
Não importa a força que usasse ou o quanto implorasse para deixá-lo passar, pois os médicos simplesmente não lhe davam ouvidos, o que começou a desesperá-lo, porque enquanto estava preso ali, ele estava perdendo Taehyung. Aquilo estava deixando-o em pânico, fazendo a adrenalina correr por suas veias desenfreadamente e sua respiração voltando a se alterar, juntamente com seu coração acelerado, que naquele momento beirava a parada cardíaca. Ele precisava chegar até Taehyung e fazê-lo beber o sangue do Seiryu ou o perderia para sempre, por isso movido pelo completo desespero, Jungkook explodiu. Assim como havia acontecido no santuário, os desenhos voltaram a ressurgir sobre a sua pele, juntamente com a sensação de algo crescente em seu peito.
Tudo o que fez foi gritar novamente, trazendo junto ao seu grito um raio que atingiu o hospital, assustando a todos que estavam ali. Mas o que facilitou a passagem de Jungkook por entre as enfermeiras e os médicos, foi a paralisia que causou neles e em todos a sua volta, assim como Seiryu havia feito com eles pouco tempo atrás. Sentia cada gota de sangue do corpo de cada uma das pessoas que estava a sua volta, era simplesmente fácil manter aquela constância na paralisia, sequer precisava fazer esforço para mantê-los daquela maneira. Sabia que estava fora de controle, pois os desenhos que tatuavam suas mãos e até mesmo seus amigos paralisados provavam isso, ele não conseguia controlar sua intensidade, por isso a paralisia afetava a todos que estavam próximo a ele.
Mas naquele momento, Jungkook não se importou com a chuva torrencial que castigava o lado de fora ou as dezenas de pessoas paralisadas a sua volta, pois agora ele conseguia chegar até Taehyung, o único que não havia sido afetado por seu descontrole. Assim que se aproximou, a primeira coisa que fez foi colocar a cabeça sobre o peito dele, tentando ouvir — mesmo que mínima — as batidas de seu coração, para que tivesse certeza que ainda tinha tempo de salvá-lo, mas ao não escutar absolutamente nada um soluço irrompeu de sua garganta. Com as mãos trêmulas, Jungkook pegou o frasco e abriu a boca de Taehyung, pingando duas gotinhas de sangue dentro dela, após isso fechou o frasco e aguardou.
— Tae, por favor... — Chorou, tocando em suas bochechas geladas, notando como ele estava pálido, gélido e seus lábios haviam perdido a coloração rosê que tanto amava. — Por favor, acorda!
Desesperado, tentou novamente ouvir seu coração, somente para constatar que nem mesmo uma única batida era ouvida, a dor que sentia no peito se tornou maior, juntamente com seus soluços e a chuva do lado de fora, que estava tão forte a ponto de bater as janelas do hospital. Chorou sobre o peito dele, implorando que reagisse, mas nada aconteceu, por isso movido novamente pelo desespero pegou o frasco novamente, pronto para dá-lo mais algumas gotas do sangue do Seiryu. Porém desistiu, pois se Taehyung não ingerisse o sangue jamais chegaria até a corrente sanguínea dele, apenas ficaria alojado em sua garganta. Colocou seu cérebro para trabalhar, porque precisava dar um jeito de fazer o sangue dele se mesclar ao do dragão.
O desespero e o luto já estavam sabotando-o, pois sua mente não conseguia focar em outra coisa que não fosse em sentir a morte dele, mas Jungkook não iria desistir até que Taehyung se levantasse. Até que algo chamou sua atenção, assim como sentia o sangue de todos os que havia paralisado, ainda podia sentir o sangue de Taehyung, pois enquanto não estivesse coagulado ainda podia senti-lo, então movido por um impulso de esperança subiu em cima da maca, sentando sobre a barriga dele antes de estourar os botões de sua camisa, deixando sua pele exposta e mostrando a runa envolta em seu pescoço. Tentando ignorar sua incessante tremedeira, Jungkook colocou as mãos sobre o peito dele e fechou os olhos.
Conseguiu sentir o sangue dele parado em suas veias, por isso traçou o caminho delas com os dedos, procurando alguma que chegasse diretamente ao coração dele, decorando todo o percurso que teria que seguir. Assim que terminou de mapear abriu os olhos novamente, implorando ao universo que sua ideia funcionasse, então usando seu rompante de coragem, Jungkook abriu novamente o frasco, usando seus dons para tirar somente uma única gota de dentro dele. Concentrando-se como nunca antes, Jungkook levou aquela gota até a boca de Taehyung, guiando o caminho dela até que entrasse na artéria que levava diretamente ao coração dele.
Jungkook estava focado totalmente no que fazia, pois não poderia perder aquela gotinha, ou confundi-la com o sangue de Taehyung, porque ela precisava chegar até o coração dele sem perder sua composição ou se fundir ao sangue dele. Traçando o caminho com os dedos, conseguiu fazer aquela gotinha chegar ao coração, deixando que a partir dali ela se mesclasse ao sangue. Levantou o olhar, encarando o rosto de Taehyung, esperando qualquer sinal de que aquilo havia funcionado. Seu próprio coração pulsava desenfreadamente em seu peito, as lágrimas ainda escorriam por suas bochechas e suas mãos trêmulas tocavam a pele fria do peito dele, mas sua falta de resposta estava deixando-o em pânico novamente.
Deixou outro soluço escapar, aquela era sua última esperança e não havia funcionado, agora que o véu da realidade cruel havia caído sobre sua cabeça, Jungkook desmoronou, chorando em cima do corpo de Taehyung, pois, novamente, ele perdeu tudo, novamente o universo tirou dele alguém que amou profundamente, e agora, ele não tinha mais forças para se levantar. Sentiu-se completamente impotente por não ter conseguido salvá-lo, assim como não conseguiu salvar Evie. Agora Jungkook estava sozinho novamente, quebrado novamente, pois quando finalmente alguém consertou seu coração em pedaços, o mundo lhe tirou essa pessoa.
Seus soluços não o deixavam sequer respirar normalmente, doía tanto que sentia que alguém estava apunhalando seu peito com uma lâmina em brasa, imaginar que agora teria que viver séculos ou até mesmo milênios sentindo a dor de não tê-lo mais ao seu lado o destruía. Sentir a pele fria de Taehyung sobre seus dedos deixava tudo pior, pois o lembrava que nunca mais sentiria o calor de suas mãos juntas, o conforto quentinho de seus braços em volta de seu corpo ou até mesmo a maciez de seus lábios quentes juntos aos seus. Mas o que fez seu coração errar uma batida, foi sentir uma pulsação sob seus dedos, fazendo com que ele se sentasse às pressas novamente, encarando a expressão serena de Taehyung.
Ainda trêmulo e com medo de estar se agarrando a uma ilusão, espalmou sua mão direita mais precisamente sobre o peito de Taehyung — pronto para sentir a decepção feri-lo novamente —, ao constatar que aquela pulsação não passou de um fruto de sua mente fragilizada, mas não foi isso que aconteceu. Jungkook arregalou os olhos e soluçou novamente ao sentir uma pulsação ainda mais forte contra sua palma, sendo seguida por outras, quando finalmente o coração de Taehyung voltou a bater com força em seu peito. Os desenhos que pintavam sua pele parecia ganhar ainda mais nitidez, pois uma euforia tão grande o tomou que sentia o poder transbordar por seus dedos, mas o que o fez voltar a chorar foi Taehyung abrindo os olhos abruptamente e puxando o ar com força para seus pulmões.
Nunca Jungkook seria capaz de explicar o que sentiu ao ver aos poucos a pele bronzeada de Taehyung ganhar novamente aquela coloração que tanto amava, ou ver os olhos castanhos e intensos encararem os seus, mesmo que banhados em confusão. Seu coração estava disparado em sua caixa torácica, batendo em sintonia com o de Taehyung, também disparado sob sua palma, mostrando que seus esforços em salvá-lo não haviam sido em vão, não dessa vez. Jungkook sentiu uma felicidade tão grande que não soube colocar em palavras, mas seu corpo a expressou em lágrimas, fazendo-o soluçar ainda mais, enquanto os olhos confusos de Taehyung varriam seus braços repletos de desenhos.
— E eu achando que você não poderia ficar mais bonito — ele disse levando a palma até sua bochecha, limpando suas lágrimas.
Jungkook não conseguiu responder, porque o choro de alívio e alegria não permitiu, o que o fez fechar os olhos, incapaz de conter suas lágrimas, até que sentiu Taehyung se sentar e abraçá-lo, deixando seus peitos juntos, fazendo ambos os corações baterem em sintonia. Poderia dizer que estar nos braços do Capitão novamente estava acalmando sua atônia, mas ao contrário de confortá-lo, Taehyung começou a chorar também, soluçando em seus ombros, fazendo com que tivesse que acariciar seus cabelos, tentando acalmá-lo. Ele parecia estar chorando de alívio também, por não ter morrido, por não ter sido aquele o ponto final de sua história, pois não existia ninguém que amasse mais a própria vida do que Taehyung.
— Eu não sinto dor — ele fungou, afastando-se um pouco, para que pudesse olhar em seus olhos. Fazendo uma careta chorosa logo em seguida. — Acho que nunca enxerguei tão bem quanto agora, você é tão lindo... — Deixou um beijo sobre seu nariz, fazendo-o sorrir por entre as lágrimas. — Isso significa que deu certo? Eu estou curado?
— Está sim — Jungkook respondeu com um sorriso grande, fungando junto a Taehyung, que acabou rindo da situação que se encontravam. — Por pouco quase te perdi. — Seu sorriso se desfez, fazendo com que mais lágrimas escorressem por sua bochecha.
— Mas não perdeu, eu estou bem — com toda a delicadeza do mundo ele secou suas lágrimas. — Porra, eu estou tão feliz! — Ele disse abrindo o maior sorriso que já viu, fazendo-o sorrir também. — Tudo isso graças a você, obrigado.
— Se você ousar fazer eu passar por uma situação parecida com essa novamente, eu mesmo irei matar você com minhas próprias mãos — disse com a voz embargada, fazendo-o assentir.
— Jungkook porque você está dessa forma? — Perguntou confuso, levantando sua mão, mostrando os desenhos azuis que se espalharam sobre ela.
— Jayce disse que ficamos assim quando perdemos o controle — fungou após explicar, sentindo seu nariz escorrer. Taehyung arregalou os olhos e olhou em volta, parecendo somente naquele momento lembrar de onde estavam.
— A chuva... você não afundou o mundo em um dilúvio, né? — Lhe encarou com um sorriso torto, fazendo-o rir soprado ao negar com a cabeça. — Mas porque todos estão parados dessa maneira desde que acordei?
— Quando cheguei, você estava morrendo e eu precisava lhe entregar o sangue do Seiryu, mas eles não queriam deixar eu me aproximar — desviou o olhar, repentinamente envergonhado de suas ações. — Eu explodi e isso acabou acontecendo, sendo sincero eu não sei como parar. Me sinto cheio, há um peso nas minhas costas que não consigo me livrar desde que vi você deitado na maca.
— Cheio? — Perguntou confuso.
— Sinto que eu atingi o meu limite, não consigo me acalmar — tentou explicar de uma maneira melhor, fazendo Taehyung assentir, parecendo entender.
— Você está sobrecarregado — constatou e Jungkook assentiu. — Tudo o que eu preciso fazer então é acalmá-lo?
Jungkook iria perguntar como ele faria isso, mas antes mesmo que fizesse sua pergunta, ele lhe entregou sua resposta. Seus lábios foram tomados pelos dele com muita delicadeza, suas mãos correram por suas bochechas e pescoço enquanto movia sua boca de maneira lenta e extremamente doce, com movimentos lentos e gentis, fazendo um arrepio subir por todo seu corpo. Seus olhos se fecharam no momento em que suas bocas se encaixaram, mas a forma cuidadosa com a qual Taehyung o tocava, o carinho singelo que ele fazia em seus cabelos e pescoço o derreteram completamente, pois ele estava sendo tão amável que o fez suspirar.
Taehyung com suavidade levou os dedos até seu queixo, fazendo um pouco de pressão para baixo, entreabrindo seus lábios para que tivesse liberdade de beijá-lo da maneira que queria, deslizando a língua ao encontro da sua, nublando qualquer tipo de pensamento seu. Naquele momento, Jungkook entendeu o que Taehyung estava fazendo, assim como ele havia feito no bangalô para distraí-lo da raiva, ele estava tomando completamente sua mente para que não pensasse em nada além das sensações que estava lhe causando. Jungkook acabou sorrindo durante o beijo, pois realmente aquela tática funcionava com ele, os beijos de Taehyung o desmontava completamente.
— Está mais calmo? — Ele perguntou ainda com os lábios próximos ao seus, fazendo-o assentir com um sorriso. — Posso fazer uma pergunta que está me deixando curioso desde que eu acordei?
— Pode.
— Por que você está sentado no meu colo? Não que eu esteja reclamando, jamais — descendo as mãos para sua cintura, fazendo-o rir ainda mais.
— Eu precisava ter fácil acesso ao seu peito, então subi em você — explicou, vendo-o assentir. Agora que seu choro havia parado, conseguia enxergá-lo bem sem a visão borrada pelas lágrimas, por isso acariciou seu rosto e deixou diversos beijos sobre suas bochechas e nariz. — Você realmente me assustou muito, Tae.
— Eu sei, sinto muito que tenha te preocupado dessa maneira, prometo que isso não vai voltar acontecer — disse olhando em seus olhos. Segurando suas mãos, deixando um beijo casto sobre elas, o que fez Jungkook notar que os desenhos não estavam mais visíveis, assim como a chuva do lado de fora havia sido controlada. — Que tal libertá-los agora? Ver Jimin paralisado com o rosto inchado por causa do choro está me deixando muito agoniado.
Jungkook assentiu, sem saber exatamente como desfazer a paralisia porque sequer sabia como havia feito. Levantou-se do colo de Taehyung e colocou-se de pé ao lado da maca, vendo-o fazer o mesmo e ficar ao seu lado, segurando em sua mão junto a um sorriso. Jungkook retribuiu seu sorriso e entrelaçou seus dedos antes de fechar os olhos, tentando se concentrar, ele sentia o sangue deles, é como se ele tivesse travado as movimentações de seus corpos usando cada gota do líquido escarlate dentro deles. Ele estava "segurando" aquilo, então tudo o que fez foi soltar, o que fez que todos quase caíssem ao serem libertados da paralisação, seguido por gritos de desequilíbrio e olhares assustados. Algumas pessoas chegaram a cair sem conseguir manter a estabilidade do próprio corpo.
Jayce e Lia fizeram uma careta, olhando em sua direção como se dissessem: "de novo?", o que o fez abrir um sorriso de pedidos de desculpas. Jimin e Namjoon foram os primeiros a correrem em direção a eles, os dois com lágrimas nos olhos e com as emoções à flor da pele, os dois pularam nos braços de Taehyung, abraçando-o com força enquanto ele apenas sorria, mas seu sorriso se desfez e seus olhos também marejaram. Jimin chorava como uma criança abraçando-o, o que acabou fazendo com que Taehyung tivesse que esconder o rosto no pescoço do irmão, também chorando, tornando aquilo uma grande bagunça de lágrimas. Era a segunda vez que via as lágrimas de Taehyung somente aquele dia, a primeira vez que o viu chorar havia sido nos Dentes do Diabo, quando quase morreram, mas agora conseguia notar a diferença.
Era um choro de alegria, mas principalmente de alívio, pois ele tinha medo da doença ser o grande fim do seu legado.
— Nunca mais morra na minha frente Taehyung! — Jimin disse aos prantos, abraçando o irmão, que assentiu. — Que porra, segunda vez que você faz isso! — O Capitão riu, o que o fez lembrar que Jimin sentiu essa agonia quando o mar engoliu os dois nos Dentes do Diabo.
— Bem vindo de volta Tae — Namjoon disse após sair do abraço dos três, tocando em seu ombro com um sorriso cheio de covinhas.
— Obrigado Nam — Taehyung sorriu, mostrando o lindo quadrado que Jungkook tanto gostava em seu sorriso. Ele fungou e limpou as lágrimas, antes de ser surpreendido pelo abraço de Lia e Jayce.
— Apesar de querer incendiá-lo algumas vezes, eu fico feliz que esteja bem — Jayce disse também sorrindo.
— Obrigado foguinho — disse dando-lhe um tapinha nos ombros, arrancando um riso soprado do Deus. Mas, de repente, Taehyung arregalou os olhos, parecendo se lembrar de algo. — O Ryan! Nós pegamos o Oliver envenenando a Jennie a mando do Ryan! Ele está conspirando contra nós.
— Nós sabemos — Lia disse com tristeza na voz e um sorriso que ao invés de mostrar felicidade, mostrava o quanto aquilo a machucava. Não era um sorriso de alegria, era uma tentativa de dizer que estava "tudo bem" quando na verdade não estava nada bem. — Já está tudo resolvido sobre isso.
— Resolvido como? — Ele perguntou confuso, mas Jungkook apenas segurou sua mão novamente e negou com a cabeça.
— Este é um assunto muito delicado, explico em um outro momento, tudo bem? — Apesar de confuso, Taehyung pareceu entender pela sua expressão tristonha que aquele assunto parecia afetá-lo negativamente, por isso apenas assentiu.
— Temos outros problemas para lidar agora — Jimin disse chamando a atenção de todos, até que ele apontou para frente. Quando Jungkook direcionou o olhar para onde ele apontava arregalou os olhos, pois todos estavam lhe encarando, tanto médicos quanto pacientes.
"Imagino que mesmo durante a paralisia eles tenham visto o que eu fiz" Jungkook pensou, sentindo-se extremamente desconfortável com os olhares que estava recebendo.
— 你... — O médico disse em mandarim, apontando em sua direção com os olhos arregalados e um semblante assustado, mas de repente, um saco de ouro foi colocado sobre sua mão, fazendo-o olhar em direção a pessoa que lhe entregou.
— Você não viu nada — Jennie disse sorrindo, apesar de sua aparência estar tão ruim quanto a de Taehyung algumas horas antes. O médico olhou para o saco, sentiu o peso dele e em seguida olhou para Jennie.
— 我們回去工作吧 — ele disse virando as costas. Não entendeu o que ele falou, mas todos simplesmente fizeram como ele e viraram as costas, seguindo os próprios caminhos e afazeres.
— O ouro é mais poderoso que o poder de qualquer Deus — Jennie disse sorrindo, mas cambaleou, fazendo Jungkook correr em direção a ela, segurando-a pelos braços.
— Como está se sentindo? Quando eu saí você estava péssima — ele perguntou, notando como ela estava fria e trêmula em seus braços.
— Ainda estou, mas graças a isso pelo menos consigo me manter consciente — ela mostrou seu pulso, onde havia um desenho feito com alguma lâmina muito afiada. Jungkook arregalou os olhos ao ver algumas gotas de sangue escorrendo pelos cortes. — Não se preocupe, é uma runa desenhada por um das enfermeiras, que também é uma bruxa. — Ela sorriu, parecendo feliz em encontrar outra mulher como ela. — Graças a essa runa o envenenamento foi retardado, mas ainda vou morrer em breve.
— Não vai — ele disse retirando o frasco com o sangue de Seiryu de seu bolso. Jennie olhou para o frasco com os olhos brilhantes, um sorriso se formou em seus lábios. — Seiryu pediu que eu levasse em consideração a vontade das pessoas, nunca perguntei a você se gostaria de ter uma vida "eterna".
— Em qualquer outra situação eu teria negado, mas eu encontrei algo que faz a eternidade valer a pena — ela disse olhando em direção a Lisa, que ainda estava inconsciente na maca ao lado da que Taehyung estava. Jungkook sorriu e assentiu, ele agora entendia bem o que ela estava sentindo.
Jungkook abriu o frasco e a encarou, vendo o momento em que ela fechou os olhos e abriu a boca, pronta para receber a "cura da mortalidade", por isso não demorou a entregar a ela, pingando uma única gota do sangue do dragão entre seus lábios. Quando a viu engolir, Jungkook se afastou um pouco, observando-a para ver se teria alguma diferença instantânea, como foi com Ryan. Demorou alguns segundos, até que sua palidez começou a dar lugar ao rubor em suas bochechas, as bolsas escuras embaixo de seus olhos sumiram e seus lábios adotou uma coloração mais avermelhada. Jennie abriu os olhos de repente, parecendo extremamente surpresa com algo, antes de descer o olhar, notando que o corte em seu pulso havia coagulado, apesar de não ter se curado.
Assim como havia acontecido com Taehyung, sua aparência estava saudável, não havia qualquer vestígio de veneno ou doença, ela parecia ainda mais jovem do que era antes de ser envenenada. Ela olhou para as próprias mãos, em seguida as colocou sobre o rosto, com uma expressão estarrecida, enquanto olhava em seus olhos, demonstrando todo o seu espanto. Jungkook não sabia ao certo as mudanças que ela estava sentindo em seu corpo, mas julgou ser parecido com o seu despertar, quando seu corpo pareceu mais leve e não havia qualquer sensação de dor ou desconforto de quando usava a runa, era como se alguém tivesse arrancado as enfermidades com as próprias mãos.
— Isso é assustadoramente incrível — ela disse abrindo um sorriso incrédulo. — Nunca me senti tão bem quanto agora... é assim que vocês se sentem o tempo todo? — Perguntou a Jungkook, que assentiu. — Uau.
— Acho que mais uma pessoa precisa experimentar essa sensação, Jennie — Namjoon disse de onde estava, com um sorriso pequeno, apontando em direção a Lisa.
— Me permite? — Jennie perguntou a Jungkook, estendendo a mão a ele, que lhe entregou o frasco com contento.
Jennie então caminhou até a maca de Lisa, sentando-se na lateral do colchão, fazendo um carinho nos cabelos dela com um sorriso bobo nos lábios, antes de levar o frasco em direção aos lábios dela, porém se deteve no caminho. Jungkook franziu o cenho ao ver Jennie beber o conteúdo do frasco, fechando-o logo em seguida e deixando-o de lado, para logo em seguida se inclinar sobre Lisa e beijá-la, fazendo com que arregalasse os olhos e abrisse um imenso sorriso. Olhando em volta notou que tinha alguns médicos e enfermeiras observando-as, alguns pareciam extremamente enojados ao ver Jennie beijando a namorada, mas a bruxa não poderia estar se importando menos com os olhares, pois sua atenção estava focada totalmente em Lisa.
Jungkook ficou um tanto envergonhado por ficar encarando a cena, por isso desviou o olhar, acabando por encontrar o olhar de Taehyung, que também estava com um sorriso sem graça no rosto, o que fez os dois conterem uma gargalhada. Quando notou — por sua visão periférica — que o beijo de Jennie havia se findado voltou a observar, vendo que agora Lisa estava despertando de sua inconsciência induzida pelos médicos. De início ela pareceu confusa, mas assim que viu o rosto de Jennie próximo ao dela arregalou os olhos e se sentou, abraçando-a com força, arrancando um sorriso da namorada, que retribuiu seu abraço com muito agrado.
— Me diz que isso não é um sonho e você está curada — Lisa perguntou assim que se afastou, segurando o rosto de Jennie entre suas palmas.
— Não é um sonho, Jungkook cumpriu a promessa que fez a você — ela sorriu, fazendo com que Lisa olhasse em sua direção. Jungkook apenas sorriu, vendo o sorriso de Lisa crescer exponencialmente.
— Ai meu deus, Nini! Você está curada! — Lisa disse eufórica, puxando-a para mais um beijo banhado de saudade. Mas se afastou com cenho franzido, em seguida fez uma careta. — Você está com um gosto estranho, o que você comeu antes de me beijar?
— Talvez seja o gosto do sangue do Seiryu com uma pitada de morte — ela riu, fazendo Lisa arregalar os olhos.
— O sangue do Seiryu? — Ela perguntou chocada, fazendo Jennie assentir.
— Eu tomei a liberdade de torná-la um ser imortal — Jennie disse tateando os bolsos da namorada. Jungkook viu Lisa paralisar quando Jennie pegou um pequeno saquinho de couro, abrindo-o e pegando dois anéis que estavam dentro dele, colocando em seu dedo anelar e colocando o outro no dedo de Lisa. — Sim, eu aceito me casar com você.
— O-o que? — Lisa estava em completo choque, vendo Jennie rir antes de olhar em direção a Taehyung.
— Capitão, poderia fazer as honras? — A bruxa perguntou com um sorriso enorme, fazendo Taehyung assentir e caminhar até elas.
— Uhum — ele pigarreou, mas antes de falar olhou em volta, antes de seu olhar cair sobre Jungkook e os outros. — Alguém tem algum tipo de fita de tecido ou algo que eu possa usar para amarrá-las?
— Ah! Permita-me — Lia disse caminhando até as duas. Assim que estava diante de Jennie e Lisa juntou as mãos delas, fazendo com que entrelaçassem os dedos e os levantou na altura de seus rostos.
— As tulipas brancas representam o amor forte, inabalável e eterno, enquanto o algodão com toda sua delicadeza representa o amor e a alegria na visão de alguns — enquanto ela explicava, suas mãos se moviam, criando um tecido de algodão branco em volta dos pulsos e punhos delas, fazendo também surgir uma tulipa branca por entre as mãos delas. Assim que terminou, suas mãos estavam ligadas pela fita e pela flor. — Que elas simbolizem o amor de vocês daqui em diante.
— Obrigada — Jennie sorriu com lágrimas nos olhos, fazendo Lisa encará-la com um sorriso apaixonado.
— Então vamos lá — Taehyung disse sorrindo, atraindo a atenção das duas. — Na data de hoje, sob a presença de testemunhas mortais e divinas, estamos presenciando o matrimônio entre duas mulheres que se amam muito. — Jennie e Lisa se encararam com um sorriso de orelha a orelha. — Kim Jennie, você aceita Lalisa Manoban como sua companheira, esposa e parceira para toda a vida?
— Aceito — disse com convicção.
— Lalisa Manoban, você aceita Kim Jennie como sua companheira, esposa e parceira para toda vida? — Ele repetiu a pergunta.
— Aceito — ela respondeu com tanta convicção quando Jennie.
— Com os poderes a mim concedidos, e as declaro, casadas — Taehyung disse fazendo um movimento aleatório com as mãos, como se soubesse o que estava fazendo, arrancando diversas gargalhadas das testemunhas "mortais e divinas". — Vocês já podem se beijar e selar o matrimônio.
Jennie e Lisa se encararam por alguns antes de se aproximarem lentamente, deixando que seus lábios se encontrassem de maneira lenta, formando um beijo delicado e casto diante de todos. Jungkook e os outros resolveram bater palmas, comemorando o matrimônio das duas, que agora sorriam com os lábios ainda selados, antes de se separarem e manterem os olhares conectados, transmitindo diversas emoções e sentimentos somente com a conexão de olhares. Lisa afastou-se um pouco, somente para pegar a mão de Jennie e levá-la aos lábios, deixando um beijo sobre sua aliança, enquanto Jennie sorria demonstrando toda sua felicidade a qualquer um que quisesse ver.
~🖤~
Digam-me, consegui arrancar algumas lágrimas?
Não se preocupem, no próximo é só lágrimas de prazer, prometo :)
O próximo capítulo é o último do arco, mas ainda tem um epílogo para deixar o coração de vocês quentinho.
Arte da Deusa NYX <3
Betado por fakelove_luv♥️
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