As cores do Arco-íris

Olá Bolinhos! Demorei um pouquinho, desculpe, mas é que esse capítulo foi bem difícil de escrever.

Ele está bem pesado, então não leiam se não estiverem se sentindo bem ok? Porque não há um pingo de felicidade aqui :(

Boa leitura <3

~🖤~

Jeon Jungkook

— O que? — Perguntou confuso, estranhando o sorriso de Ryan.

— Eu decidi seguir outros planos, os meus planos — seu sorriso aumentou ainda mais, antes de virar-se em direção ao Seiryu e pedir: — Paralise-os.

Jungkook arregalou os olhos no momento em que sentiu seu corpo estagnar, sequer teve tempo de ter qualquer outra reação, pois assim que os olhos do Seiryu foram em direção a eles, seu corpo enrijeceu instantaneamente. O coração de Jungkook acelerou na hora, pois a sensação repentina de não conseguir mover sequer um de seus dedos era assustadora, o que o fez encarar o Dragão com pavor nos olhos, encontrando apenas tristeza sendo refletida neles. Ryan pareceu muito contente, pois bateu palmas e caminhou em direção a eles, os observou de perto como uma criança ganhando o melhor dos presentes, o que fez os olhos de Jungkook — a única coisa que conseguia mover — o seguir.

O véu de entendimento caiu sobre sua consciência, fazendo-o finalmente processar o que estava acontecendo, Ryan era o traidor, sequer precisava de muito mais para saber, pois por que ele os paralisaria para seguir os planos deles? Agora fazia sentido o que havia lido no diário de Avír, o porque ele pessoalmente não havia dado a localização do santuário a Ryan, isso mostrava o porquê ele escolheu Eveline para ser portadora de seu diário, porque ele sabia que Ryan não era quem dizia ser. Jungkook sentiu-se um idiota por ter acreditado na historinha triste que ele havia contado, como um pobre coitado com uma benção que não ajudava em sua doença, uma mascara que lhe caiu muito bem.

— Eu sabia que Seiryu poderia nos controlar por conta de nossa composição, mas é bizarro — Ryan disse parando em frente a Jayce. — Um garoto de dezessete anos, doente, conseguiu usar um Deus celestial para paralisar outros quatro Deuses… — Colocou a mão sobre a boca, mas ainda sem conseguir conter o sorriso, até que seus olhos pousaram sobre sua irmã. — Seiryu, leve Eveline para algum lugar onde não possa nos ver e nem nos ouvir, não quero que ela presencie isso.

Jungkook pôde ver pelo canto do olho Eveline simplesmente virando as costas e caminhando para longe deles, deixando-o ainda mais assustado, pois o que Ryan queria fazer que não queria que a irmã assistisse?

— Permita que eles consigam falar — Ryan olhou para o dragão, que assentiu. Jungkook apesar de sentir o corpo paralisado, conseguiu mexer o pescoço, o que o fez olhar em direção a Jayce e Lia, que o encararam também com os olhos assustados.

— Ryan, o que está acontecendo? — Lia perguntou, ganhando um sorriso do rei, que se aproximou dela, deixando Jayce inquieto ao seu lado, resmungando que não conseguia se mexer.

— Oh minha doce Lia — Ryan levou os dedos até o rosto dela, fazendo um singelo e delicado carinho em sua bochecha, antes de colocar uma mecha do cabelo dela atrás da orelha. Ela parecia assustada, pois virou o rosto, fugindo do toque dele. — Não precisa temer, eu jamais a machucaria.

— Imagino que não tenha a mesma consideração por nós dois — Jungkook disse com a voz banhada em decepção. Porém Ryan sequer olhou em sua direção.

— Sabe, eu cresci sendo protegido do mundo, nunca tive o que eu realmente quis, sempre foi incubido um dever a mim e eu não tinha escolha senão seguir pelo caminho que me designaram — ele suspirou, olhando para Lia, como se Jungkook sequer valesse sua atenção. — Me chamam de garoto abençoado, dizem que eu sou um milagre, que eu estou destinado a um futuro muito afortunado, mas nunca me deram a chance de fazer minhas próprias escolhas. — Ryan segurou a mão Lia, mas seu corpo parecia relutar por conta da paralisia, estava rígida, mas isso não o impediu de segurar sua mão. — Eu nasci já sendo um rei, mesmo que o homem que estivesse sentado no trono não fosse eu, todos sabiam que ele era meu. Um Deus me deu um presente e um destino já traçado e eu nunca tive escolha, enquanto Eveline, mesmo sendo amaldiçoada não estava presa às algemas do meu pai.

— Pobrezinho do rei desamparado — Jayce disse com um sarcasmo dilacerante. — Enquanto sua irmã era queimada na fogueira por simplesmente ter nascido, você era tratado como se fosse de porcelana.

— Tratado como se fosse de porcelana? — Pela primeira vez desde que havia começado a falar, Ryan desviou sua atenção de Lia, olhando em direção a Jayce com um olhar banhado em fúria. — O que você sabe sobre a minha vida? Eu cresci sentindo dores por conta do escasso conhecimento do que me acometeu desde o nascimento, a dor não era somente da minha doença, mas por conta dos venenos que meu pai me fazia beber desde muito novo, doses pequenas, incapaz de matar, apenas de causar uma dor agonizante por horas! Tudo para que eu desenvolvesse imunidade ao veneno, porque eu sou o pilar de Vallone e muitos querem a minha morte. — O rei caminhou em direção a Jayce, que mesmo paralisado não abaixou a cabeça, encarando-o com um olhar brilhante em laranja, mostrando que ele estava possesso. — Fui obrigado a abrir mão da minha infância para assistir meu pai torturando pessoas, matando inimigos, aprendi a banhar uma espada antes mesmo de aprender a ler! Enquanto Eveline crescia em uma torre, sendo amada e cuidada por Avír!

— Ele também te amava — Jungkook disse sentindo a tristeza e a raiva tomar seu corpo, pois apesar de tudo, Avír fez o que pôde para salvá-lo, para cuidar e ensiná-lo como seu próprio filho.

— Me amava? — Ele riu sem humor algum, antes de explodir. — Ele era um Deus! Ele poderia ter matado o meu pai, libertado tanto a mim quanto a Eveline do nosso lixo de vida uma vez que ninguém poderia contra ele, mas não, ele escolheu salvar ela da fogueira, enquanto meu pai fazia isso comigo. — Ryan virou-se na direção contrária a eles e estourou os botões de sua camisa, afastando o tecido e mostrando suas costas.

Jungkook arregalou os olhos ao ver diversas cicatrizes espalhadas por sua pele, ele conhecia bem marcas como aquela, um dos piratas do navio de seu pai também as tinha após fugir de um traficante de humanos na África. O homem foi vendido como escravo e chicoteado ao tentar fugir, até que seu pai o salvou, matando o mercador que vendia homens, mulheres e crianças como uma mercadoria, libertando-os. Seu pai dizia que mesmo tendo acolhido aquele homem em sua tripulação e salvo diversas famílias da crueldade do ser humano, aquela barbaridade estava sendo feita em todos os cantos do mundo, mas como era somente um homem contra o mundo, seu pai jurou salvar aqueles que aparecem diante de suas vistas, mesmo que não pudesse salvar todos.

Pois era isso que ele e o Nevrine representavam, a liberdade.

— Meu pai me chicoteou repetidamente, me culpando por não avisar a ele que Avír era um Deus após ter salvo Eveline, pois eu como seu aluno deveria saber — Ryan virou-se em direção a eles novamente, arrumando a camisa sobre seus ombros, mesmo que não pudesse mais abotoá-la. — Ele disse que essas cicatrizes me fariam lembrar a quem eu devia minha lealdade. Enquanto eu era chicoteado, o que Avír estava fazendo? Cuidando da pobre Eveline, que havia acabado de passar por mais um episódio traumático em sua vida, me deixando mais uma vez desamparado, a sombra dela.

— Ele tentou fazer da sua vida mais suportável Ryan — Jungkook disse vendo-o fazer uma careta de desdém.

— Me diz Jungkook, como você sabe de tudo isso? — Ele cruzou os braços. — Como sabia onde era a entrada do santuário?

— Por conta do diário de Avír — ele respondeu sem hesitar.

— Claro — Ryan riu incrédulo. — E ele entregou esse diário a Eveline não é? A protegida dele, enquanto eu precisava do sangue do Seiryu para viver ele escolheu ela, novamente!

— Ele sabia que você não merecia sua confiança e muito menos a vida eterna — Jungkook olhando no fundo de seus olhos, deixando claro toda a sua decepção e raiva explícita. Porém Ryan apenas riu e caminhou em direção a Seiryu, virando as costas para eles.

— Acredito que é neste momento que você implora a mim Jungkook — parou ao lado de Seiryu, acariciando suas escamas, antes de virar o pescoço para encará-lo.

— Implorar? — Foi a vez de Jungkook rir em desdém.

— Sim, porque eu tenho algo que você quer — sorriu antes de desembainhar sua espada, passando a lâmina escura pelas escamas de Seiryu, que permaneceu quieto, apenas deixando que seu sangue rolasse. O corte foi superficial, o suficiente para sangrar, mas não para matá-lo.

Ryan retirou um pequeno frasco do bolso de sua calça e o usou para recolher o líquido vermelho que pingava da ferida do dragão, o que fez Jungkook franzir o cenho, por que ele, um Deus celestial não estava se curando? Jungkook sabia por conta dos diários de seu pai, que todos os Deuses se regeneravam, até mesmo o mais fraco deles, então por que Seiryu não? Mas quando seus olhos caíram do frasco para a espada de Ryan, tudo fez sentido, pois não havia outra explicação para o brilho vermelho — que antes pensava ser rubis — que desenhava linhas e letras em um dialeto diferente do que conhecia na lâmina, aquela não era apenas uma espada normal. Quando seus olhos encontraram os de Ryan, ele estava sorrindo antes de afastar o frasco das escamas do Seiryu e levantá-lo na altura de seu nariz, como se erguesse uma taça.

— Saúde! — Ele disse antes de virar o conteúdo do frasco garganta abaixo, fazendo-os assistir enquanto ele se tornava um ser imortal, antes de jogar o frasco para longe quando terminou de beber todo seu conteúdo. — Estranhamente, o gosto não é tão bom quanto imaginei. — Disse respirando fundo e olhando para suas mãos, descartando suas luvas e parecendo admirado com algo.

— Que se engasgue com isso! — Jayce disse com grosseria, o que não pareceu abalar Ryan, que notou o olhar de Jungkook caindo sobre a espada novamente.

— Curioso? — Perguntou ao erguer a lâmina, mostrando as linhas vermelhas brilhando com o sangue de Seiryu na lâmina.

— Você blefou quando contou sobre a origem desta espada, não é? — Jungkook perguntou sentindo-se um tolo por não ter desconfiado.

— Você acreditou tão facilmente que até me surpreendeu — Ryan riu, colocando sua mão livre sobre a cintura. — Essa espada na verdade estava perdida há séculos, até que eu enviei alguns homens de minha confiança procurá-la, acabando por encontrá-la em um sarcófago no Egito. Ela tem o poder de ceifar a vida de qualquer ser vivente, seja ele homem, ou Deus, pois foi feita com o sangue de um Deus da morte.

— Isso explica a cor estranha — Jungkook revirou os olhos, irritado com sua própria ingenuidade.

— Não é nada pessoal, mas eu realmente não estou mais afim de ficar perdendo tempo com vocês — Ryan diz jogando o frasco na grama.

Jungkook ainda estava paralisado, apesar de não ter parado de tentar sair da paralisia, não teve qualquer sucesso, seu corpo era como um pedaço de rocha. Ele viu o rei caminhar até Lia, a cada passo que ele dava em direção a ela seu peito se apertava, pois mesmo ele tendo dito que nunca a machucaria, agora sabia que não podia confiar em qualquer palavra que ele dissesse, pois ele não era nada mais que um traidor. A história que ele contou não o deixou condescendente, pois eram apenas justificativas para ser uma ruim, uma vez que Eveline passou por situações horríveis também, mas não descontou todo seu medo e raiva em ninguém como o irmão fez. Ryan estava apenas buscando uma justificativa que deixasse sua mente menos pesada, queria que acreditassem que o mundo o deixou assim.

Talvez ele estivesse certo, mas naquele momento, Jungkook tinha medo do que ele poderia fazer com Lia, por isso não conseguiu pensar em outra coisa se não o medo dela machucá-la.

— Lia, meu lindo raio de sol — Ryan acariciou suas bochechas com ternura antes de sorrir, seu sorriso era diferente de todos os falsos que ele já direcionou a ele. Ao que parece, Lia realmente havia conquistado o coração frio do rei. — Fique ao meu lado, eu serei bom para você, jamais a machucaria ou partiria seu coração se escolher entregá-lo a mim…

— E o que está fazendo agora Ryan? — Uma lágrima escorreu por sua bochecha, deixando Jungkook angustiado, pois a tristeza não combinava com Lia.

— Eu sei o que parece, mas se escolher ficar ao meu lado eu farei o meu melhor para deixá-la feliz, lhe darei tudo o que dsejar — ele parecia um tanto desesperado. — Tudo o que eu quero é que me reconheçam, saibam que um humano trouxe o fim das guerras, que um humano conseguiu domar um Deus… pense quantas pessoas salvaremos com o sangue do Seiryu.

— Você não consegue ver o quão errado está, não é? — Lia perguntou com a voz embargada, fazendo com que mais lágrimas rolassem por suas bochechas. — Você não quer pôr um fim nas guerras, quer dominá-las, o Seiryu não é um instrumento do qual você pode usar, ele é um ser que tem o direito de viver sua liberdade tanto quanto você. — Os olhos de Lia, apesar de tristes mostravam toda sua decepção para Ryan, que parecia muito afetado por suas palavras. — Nem todos merecem a imortalidade Ryan e você me mostrou isso.

Aquilo pareceu ser o suficiente para desarmar o rei, que pareceu receber uma punhalada diretamente em seu peito, pois ele a olhou com os olhos banhados em sofrimento e se afastou dela, como se tocá-la o ferisse profundamente. Jungkook conteve um sorriso, orgulhoso de Lia por sua sabedoria, pois mesmo sendo uma Deusa jovem, mostrou a todos que Éretz escolheu bem sua sucessora. Era nítido que os sentimentos de Lia eram recíprocos, talvez fosse seus sentimentos em conflito com suas responsabilidades que estavam arrancando suas lágrimas, pois ela havia se apaixonado por alguém que não merecia nem mesmo o mínimo afeto dela. Quando Ryan pareceu se recuperar de sua rejeição, apenas assentiu em silêncio e fechou as mãos em punhos, abaixando o olhar por alguns segundos.

— Tudo bem, eu não irei obrigá-la a ficar comigo e manterei minha promessa de não machucá-la — o rei disse caminhando em direção a Jayce, voltando a brandir sua espada.

— Ryan… o que fará? — Lia perguntou assustada, contendo um grito quando o rei colocou a lâmina sobre o pescoço de Jayce.

— Arrependo-me de não tê-lo transformado em cinzas enquanto pude — Jayce disse sem temer a espada. O pescoço do Deus do fogo começou a tomar uma coloração alaranjada e um vapor passou a sair de seu corpo, sua pele parecia uma brasa em contato com a lâmina, mais não pareceu surtir o efeito que ele desejava.

— Seus poderes são inúteis contra ela, então poupe suas forças — Ryan disse encostando a lâmina com mais força no pescoço de Jayce, que gemeu quando um pequeno corte foi feito.

— O que você quer Ryan?! — Jungkook gritou, tentando desviar a atenção do rei.

— Quero que me escolham como seu sucessor — ele disse olhando em seus olhos, o que o deixou perplexo. — Se fizerem isso, pouparei a vida dele.

— Não façam isso, mesmo que ele me mate — Jayce disse com o olhar fixo em Ryan.

— Sabe o que acontecerá se você morrer sem um sucessor, não sabe? — O rei perguntou com uma sobrancelha arqueada.

“O elemento deixará de existir com a morte do Deus” Jungkook lembrou-se.

— Colocando em uma balança, as coisas seriam piores com você se tornando um Deus, então essa é a minha decisão com um Deus de verdade — Jayce sorriu desafiador. — Eu nunca o escolherei como meu sucessor, mesmo que eu perca a minha cabeça por isso.

— Pois é isso mesmo que acontecerá — Ryan disse com raiva, tomando impulso para decapitá-lo.

— NÃO! — Lia gritou em desespero, ganhando a atenção do rei. — POR FAVOR NÃO FAÇA ISSO RYAN, EU VOU COM VOCÊ! — Todos olharam em sua direção, vendo os olhos dela banhados em terror e tristeza, as lágrimas agora corriam desenfreadas por seu rosto. Mas Ryan apenas sorriu, como se esperasse por isso. — Então por favor, poupe-o… ele é minha única família.

— Lia não… — Jayce disse com delicadeza, mas sua voz deixava claro seu medo de perdê-la.

— Tenho a sua palavra de que irá comigo se eu poupá-lo? — Ryan perguntou esperançoso e Lia assentiu, fazendo o sorriso dele aumentar ainda mais. — Então temos um acordo.

Lia chorou demasiadamente, como se estivesse assinado sua sentença de morte, o que resultou em soluços enquanto Ryan caminhava em direção a ela e limpava suas lágrimas com delicadeza, feliz por tê-la. Jungkook sentiu a raiva se misturando com um sentimento dilacerante de impotência por vê-la se entregar a ele daquela maneira, mas o que poderia fazer? Se ele ousasse manipular a água para fazer algo Seiryu rapidamente o impediria, tinha medo de reagir e acabar matando Lia, Jayce ou Evie, que ainda permanecia afastada deles, as consequências de seus atos poderiam ser mortais, estava com as mãos atadas. Jayce estava possesso ao seu lado, vendo sua preciosa família se entregando nas mãos do inimigo para salvá-lo, enquanto ele não podia fazer nada, o peso da impotência caía sobre o ombro dos dois.

Enquanto estavam paralisados sobre a presença do Seiryu, não teriam chances contra Ryan, que tinha uma arma capaz de matá-los.

— Não se preocupe Lia — Ryan disse com ternura. — Não lhe darei mais motivos para chorar no futuro. Por isso espero que entenda, eu manterei minha promessa, mas ainda há coisas que eu preciso fazer.

— O que? — Ela perguntou confusa, enquanto o rei apenas sorria para ela.

— Durma bem — Ryan disse a ela antes de virar-se em direção a Seiryu. — Você consegue deixá-la inconsciente?

— Temporariamente, mas será extremamente doloroso — o dragão avisou. O que fez Jungkook arregalar os olhos e levar o olhar até Ryan, que focou novamente no rosto assustado de Lia.

— Será rápido, eu prometo — Ryan disse antes de virar-se para encarar Seiryu novamente. — Faça.

— NÃO! — Jungkook e Jayce gritaram juntos quando os olhos azuis do dragão se voltaram em direção a ela.

Lia arregalou os olhos e apenas deixou o terror banhar sua expressão ao olhar para as íris azuis do dragão, antes de sua boca se abrir e o sangue começar a ser drenado para fora de seu corpo. Jungkook encarou horrorizado Seiryu sugar todo o sangue de Lia para fora, formando uma grande bolha de sangue sobre sua cabeça, até que ela pareceu começar a perder a consciência. Jayce gritou em desespero ao seu lado, ao ver a quantidade de sangue que se acumulava na bolha sobre sua cabeça, antes que Lia perdesse de vez a consciência. Mas Jungkook não pôde deixar de notar a dor e o desespero no rosto dela antes de seus olhos se fecharem, deixando somente a sombra de seu sofrimento marcada em rastros sobre suas bochechas.

Lia desabou sobre os braços de Ryan quando todo seu sangue foi retirado de maneira cruel.

Sua pele negra naquele instante estava sem aquele adorável rubor em suas bochechas que tanto encantava a todos, seus olhos estavam fechados e seus lábios esbranquiçados. Jungkook sentiu uma dor dilacerante atingir seu peito, pois tinha certeza que Lia havia acabado de ser abraçada pela morte, mesmo sabendo que ela acordaria em breve, vê-la naquele estado o deixava sem chão, pois não pôde fazer nada para impedir. Quando seus olhos pousaram sobre Jayce, notou lágrimas escorrendo por suas bochechas e um semblante banhado em dor, antes de abaixar a cabeça e deixar um soluço eclodir por sua garganta. Quando voltou a encarar Ryan, ele deitava o corpo já rígido de Lia sobre a grama, enquanto a bolha de sangue se tornava vapor e se misturava ao ar.

— Quanto tempo tenho até ela acordar novamente? — Ryan perguntou ao dragão.

— O suficiente para o corpo dela repor o sangue que perdeu — Seiryu disse com os olhos banhados em tristeza ao ver Lia deitada sobre a grama.

— É o bastante — Ryan levantou-se e olhou em direção a Jungkook e Jayce. — Leve-a para um lugar seguro e traga Eveline até nós, mas claro, não permita que eles possam estragar meus planos.

Seiryu assentiu e com delicadeza o corpo de Lia levitou, sendo levada para longe deles como se estivesse apenas dormindo, enquanto tudo o que podiam fazer era assistir seu corpo sendo levado para longe deles, sem ter sequer noção da dor e as sensações horríveis que ela estava sentindo enquanto seu corpo se recuperava. Depois disso, seu próprio corpo voltou a paralisar por completo, pois seu pescoço enrijeceu como o restante de seus membros, deixando-o novamente como um mero espectador das ações de Ryan. Quando Eveline apareceu novamente sobre suas vistas, ela estava com o cenho franzido, olhando para o irmão com a expressão banhada em confusão, antes de seu olhar se voltar para Jungkook e Jayce.

— Ryan… O que está acontecendo? — Ela perguntou confusa.

— Há muito o que explicar Evie — Ryan disse adotando seu falso tom amável e seu sorriso fingido. — Mas primeiro, Seiryu, pode libertá-la de sua paralisia. — Novamente o dragão apenas assentiu e Eveline pareceu extremamente aliviada por voltar a ter controle sobre seu corpo novamente.

— Por que eles ainda estão paralisados? — Eveline perguntou olhando para Jungkook e Jayce, mas a expressão de confusão foi substituída por uma de preocupação ao ver o rosto choroso de Jayce.

— Por que ele está chorando? — Ela perguntou preocupada, antes de olhar em volta. — Onde está Lia?

— Ela saiu para pensar melhor, estávamos tendo uma conversa séria — Ryan disse com um suspiro, deixando Jungkook confuso com seu teatro. — Jungkook e Jayce não concordaram, por isso os paralisei para que pudessem deixar você escolher o caminho do qual seguir, enquanto Lia foi espairecer, chateada, mas ainda assim pensando no melhor para você.

— O melhor para mim? — Ela perguntou partilhando da mesma confusão que Jungkook.

— Evie… eu tenho uma proposta a fazer — Ryan se aproximou, segurando em suas mãos com delicadeza. — Nós alcançamos nossos objetivos, poderemos curar Taehyung, Jennie e a mim, mas também posso libertá-la de seu fardo.

— Me libertar? — Se possível, ela pareceu ainda mais confusa. — Não estou entendendo onde quer chegar Ryan…

— Sim, agora que tenho sangue do Seiryu e seu apoio, posso proteger melhor o reino, não preciso mais ficar preso ao palácio, mas acima de tudo, agora posso ajudá-la — ele sorriu, segurando suas mãos com mais firmeza, transparecendo uma alegria que agora Jungkook sabia ser falsa. — Evie, eu posso carregar o fardo por você, posso libertá-la de seu destino, te dar uma vida melhor, longe de toda essa bagunça celestial.

— Como? — Ela franziu o cenho.

— Se me tornar seu sucessor, você poderá aproveitar sua vida como você sempre quis, sem deixar que os deveres ou a imortalidade a impeça — seu sorriso causava náuseas a Jungkook, pois estava tentando conseguir de Eveline, o que não conseguiu dos outros Deuses. Sequer poderia avisá-la das mentiras do irmão por conta da paralisia. — Eu posso lhe garantir essa vida, posso te tirar dessas algemas que colocaram em você.

— Oh… — Ela piscou algumas vezes, antes de abrir um pequeno sorriso. — Isso seria incrível Ryan.

— Então você aceita? — Ele pareceu contente.

— Seria incrível, mas eu já escolhi meu sucessor — Eveline disse com um sorriso pequeno.

O sorriso de Ryan morreu na hora, mas ele rapidamente tentou se recompor, abrindo um sorriso que demonstrou o quão chocado e decepcionado estava, uma vez que seus planos foram completamente frustrados. Jungkook quis rir, queria gargalhar na verdade, sua língua coçava para desdenhar do pequeno rei ambicioso ao assistir seus planos cair por terra, mas infelizmente estava paralisado e não poderia demonstrar o quão satisfeito estava ao vê-lo tão sem jeito. Mas também estava curioso, quem Eveline havia escolhido para ser seu sucessor? Temeu que fosse Taehyung, pois ele se tornaria um alvo para Ryan, mas Eveline não era próxima a ele para escolhê-lo, então quem? Ela já ter escolhido mostrava que apesar de tudo, Eveline não queria uma vida eterna, para ela a imortalidade não era um presente, era parte de sua maldição.

— Já escolheu? — Ryan tentou disfarçar suas verdadeiras emoções, ainda mantendo um pequeno sorriso no rosto. — Isso é… incrível Evie! — Ele a abraçou, olhando em direção a Jungkook, demonstrando a raiva que sentia, como se pudesse ver o desdém em seu olhar. — Quem você escolheu?

— O bebê de Jisoo — ela disse ao se afastarem, o que fez Ryan arregalar os olhos. Jungkook mais do que nunca quis gargalhar, visto que ele não poderia tentar ser o sucessor tão cedo enquanto o bebê não crescesse para escolhê-lo e se atentasse contra a vida dele todos os seres vivos morreriam sem oxigênio. — Ele tem uma mãe e um pai incríveis, tenho certeza que será um grande Deus.

— Mas por que o escolheu? — Ryan perguntou com o cenho franzido.

— Jennie teve uma visão — Eveline sorriu, mas aquilo não pareceu agradar Ryan. — Ela disse que eu o escolheria e isso nos salvaria, eu não entendi bem, mas ela me mostrou uma de suas visões. O bebê se tornará um homem incrível no futuro, por isso eu estava segura de minha decisão.

— Claro, Jennie sempre nos surpreendendo com suas visões — ele pareceu bravo antes de suspirar e sorrir. — Foi uma ótima escolha Evie, aproveite sua liberdade. — Ele voltou a segurar suas mãos, com um sorriso fingido nos lábios. — Mas Jungkook tem algo a dizer a você.

— O que? — Ela virou-se em sua direção.

Jungkook pode descrever em ordem cronológica todas as vezes que sentiu uma dor ou um temor extremo, mas seus medos não foram suficientes para equiparar o que sentiu ao ver Ryan contornar Eveline e sacar sua espada. Jungkook forçou-se contra a paralisia para tentar se mover ou gritar, mas não conseguiu, apenas viu o momento em que a lâmina escura atravessou o corpo de Eveline, que deixou o sorriso morrer quando sentiu-se apunhalada. Jungkook sentiu uma dor atravessar cada músculo de seu corpo ao ver o olhar da pequena Deusa cair sobre a lâmina atravessada em sua barriga, como se pudesse sentir o que ela sentia, porque o rei fez questão de afundar a lâmina até o cabo da espada encostar em suas costas. O sangue começou a se acumular em volta do corte, enquanto Eveline tentava levar as mãos trêmulas até a lâmina, mas foi incapaz de tocá-la.

As lágrimas correram desenfreadas pelas bochechas de Jungkook ao ver Eveline cuspir o sangue entalado em sua garganta antes de cair de joelhos, suas mãos agora estavam em volta da lâmina, sem saber o que fazer, o olhar perdido dela levantou-se em sua direção, buscando ajuda a ele, mas novamente, não pôde fazer nada, apenas deixar as lágrimas rolarem. Jungkook estava assistindo Eveline morrer, estava assistindo-a pedir ajuda e não podia ajudá-la, seu olhar clamava por acolhimento, por socorro, mas ele estava preso a aquela paralisia sem poder ajudá-la e aquilo estava dilacerando-o de dentro para fora. Ryan a contornou, ficando de frente para ela e de costas para Jungkook, olhando-a de cima vendo-a sangrar sob seus pés.

— As coisas poderiam ter sido diferentes Evie — apesar de sua voz soar firme, suas mãos tremiam. — Assim que eu remover essa lâmina a perderei para sempre.

— P-por que? — Ela perguntou com os lábios manchados de sangue, enquanto deixava as lágrimas rolarem. Ryan também ficou de joelhos, para que pudesse olhá-la nos olhos.

— Eu não irei conseguir seguir em frente, pois toda vez que eu olhar para o seu rosto eu vou me lembrar de tudo o que eu tento esquecer com tanto empenho — sua voz embargou, mostrando pela primeira vez um pouco de sinceridade. — Mas eu quero que você saiba, que isso não é culpa sua… isso é culpa do nosso pai e de Avír, por terem me feito acreditar que eu seria alguém diferente do que realmente sou.

A resposta de Eveline foi um soluço, junto a mais sangue sendo expelido de sua garganta através de uma tosse.

— As coisas realmente poderiam ter sido diferentes, me desculpa — Ryan chorou, fazendo o bolo na garganta de Jungkook aumentar ainda mais ao notar que apesar de tudo, ela era a única família dele. E por isso não conseguia perdoá-lo, pois sendo ela a única pessoa que ele tinha, deveria valorizá-la e não livrar-se dela. — Nascemos na família errada Evie, poderíamos ter sido mais próximos se não fosse por nosso pai, mas espero que você entenda… eu preciso continuar e você é a âncora que me prende ao passado. — Ele levou os dedos trêmulos até o rosto dela, hesitando em tocá-la, mas descansou a palma sobre sua bochecha.

— E-eu entendo… — Ela chorou, parecendo sentir uma dor além da física. — Mas q-quero que me entenda também.

Eveline ergueu os braços, para tocar o rosto do irmão, fazendo um carinho singelo junto a um sorriso pequeno e doloroso de assistir, pois era um sorriso triste. Mas Eveline respirou fundo e fechou os olhos por alguns segundos, quando voltou a abri-los novamente o brilho prateado dançou sobre suas íris, criando uma corrente de vento que a ajudou a puxar Ryan para um abraço, fazendo com que a lâmina o atravessasse também, mantendo-os juntos em um abraço mortal. Jungkook arregalou os olhos, sentindo o bolo em sua garganta já grande ser ainda mais difícil de engolir, pois ouviu o gemido de dor de Ryan ao ter a lâmina escura atravessada em seu corpo também.

A cena que estava sendo obrigado a assistir era torturante, porque estava vendo duas pessoas feridas pela vida, dois irmãos condenados a um destino terrível morrerem diante de suas vistas, duas pessoas jovens que tinham todo um caminho a percorrer sendo vítimas de seus próprios medos. Eveline abraçava seu irmão com lágrimas nos olhos, deitando a cabeça sobre seu ombro enquanto as mãos de Ryan caíam ao lado de seu corpo, a mão trêmula dela foi em direção ao fios castanhos do rei, acariciando-os com extrema delicadeza. Jungkook estava com falta de ar, incapaz de expressar suas emoções devidamente, a dor transbordava de seu corpo através de suas lágrimas, enquanto sentia sua cabeça doer e sua visão embaçar por conta do choro.

Sequer podia olhar para Jayce, buscando qualquer apoio.

— Eu sempre soube que você não era sincero comigo Ryan — Eveline disse baixinho, como se o ninasse em seus braços, o que tornava tudo ainda mais doloroso. — M-mas se o que você poderia me oferecer era um amor pela metade, eu aceitaria, porque eu te amo… mesmo que não fosse sincero, você me fez muito feliz. Então eu te perdoo Ryan, porque você é meu irmão, minha família e eu j-jamais poderia odiá-lo, porque ninguém nasce mau, a vida o deixou dessa forma e eu o aceitarei de qualquer maneira. — Ela abriu os olhos, levando-os até Jungkook e Ryan. — Mas não posso deixá-lo destruir um mundo tão bonito, pois nascemos na família errada, p-porém, nem todos são como ele sabe? Então não vamos condená-los como nos condenaram, deixe-os livres para que escrevam o próprio destino.

Naquele momento Jungkook entendeu o que Avír tinha dito em seu diário, “ele estava tentando salvar Eveline, mas não queria revelar a verdadeira identidade de Ryan na esperança de poupá-lo também” constatou enfim. Ele os amava de maneira igual, apesar de Ryan nunca ter acreditado nisso.

— Adeus Ryan — Eveline disse com a voz embargada quando a cabeça de Ryan pendeu sobre seu ombro. Mas o que deixou o coração de Jungkook em pedaços foi ver que ela estava com dificuldades em se manter acordada, no entanto olhou em sua direção para dizer: — Adeus…

No momento em que o grilhão dourado que adornava o pescoço de Seiryu partiu-se e caiu no gramado, desaparecendo logo em seguida, Jungkook soube que Ryan estava morto, pois o dragão olhou em direção a eles e pôde sentir a paralisia finalmente desaparecer. Agora que não havia nada o prendendo a dor foi colocada para fora na forma de um soluço, antes de correr em direção aos dois, sentindo suas mãos trêmulas antes de colocar dois dígitos sobre o pescoço de Eveline, rezando para encontrar ao menos uma frágil pulsação, porém não sentiu absolutamente nada, somente sua pele gélida em contato com seus dedos. Mesmo sem esperanças fez o mesmo com Ryan, somente para constatar que os dois estavam mortos.

Jungkook levantou-se e caminhou para longe deles, vendo Jayce de joelhos no chão, sentindo o luto, mas naquele momento ele não prestou atenção naquilo, pois seu corpo fervilhava, precisava colocar seus sentimentos para fora antes que acontecesse algum desastre. Quando estava longe o suficiente ele gritou, deixando a que a dor atravessasse seu corpo como uma flecha, gritou até que sua garganta doesse e sentiu-se fraco, patético, por não ter impedido aquele final, estava extremamente raivoso e decepcionado consigo mesmo, por isso explodiu. Caiu de joelhos e deixou que aquele sentimento ruim saísse de seu corpo, curvando-se sobre o chão e chorando sem conter seus soluços.

Fechou os olhos com força, havia acabado de assistir a morte de duas pessoas por conta de uma maldita profecia que não fora capaz de impedir, sentiu raiva de Ryan por tê-los traído e por ter atentado contra a vida de Lia e Jayce, mas naquele momento tudo o que sentia era uma raiva e uma dor que não cabia em seu peito por tê-lo visto morrer nas mãos da propria irmã. Sentia que algo estava transvordando de seu corpo, mas só abriu os olhos quando sentiu um aperto em seu ombro, quando ergueu-se novamente notou primeiramente Jayce, que parecia tão quebrado quanto ele, mas em seguida seus olhos foram para a água que os contornava, eram gotas, litros e mais litros se agrupando e se separando em volta deles, circulando-os devagar, como se tentassem acalentá-lo.

— Seiryu disse que o que fazemos aqui não afeta o mundo mortal, mas você precisa se acalmar — Jayce disse com a voz embargada, o que fez surgir uma careta chorosa em seu rosto novamente, pois os dois precisavam se acalmar. Porém não pôde respondê-lo, porque ele abaixou-se e segurou suas mãos, levantando-as na altura de seus olhos, assustando-o quando viu desenhos tão azuis quanto o brilho de seus olhos ao usar seus poderes. Os desenhos não tinham uma forma definida, apenas subiam de seus dedos até sumirem por dentro de sua camisa. — Isso acontece quando perdemos o controle ou usamos nosso poder em seu máximo, se não fosse por Seiryu, você teria criado um tsunami.

— Desculpe — apoiou-se em Jayce, deitando a cabeça em seu ombro, respirando fundo para tentar se acalmar, notando que os desenhos em sua pele estavam gradativamente se apagando.

Ficaram daquela maneira por alguns minutos, tentando consolar um ao outro, até que se levantaram e limparam suas lágrimas, mas Jungkook foi incapaz de olhar para Eveline e Ryan por muito tempo sem sentir aquela dor dilacerante do luto e impotência atravessar seu peito. Juntos caminharam até eles novamente, sem saber o que fazer naquele momento, mas suas atenções foram tomadas por Lia, que caminhava com dificuldade até eles. Jayce correu em direção a ela, abraçando-a com força, enquanto era retribuído com um choro quebrado da pequena Deusa, mas no momento que os olhos dela focaram nos irmãos abraçados no chão, ela se separou de Jayce, encarando-os com o cenho franzido.

Jayce a ajudou a caminhar até eles, porque ela parecia com dificuldades para caminhar, mas assim que se aproximou o suficiente para entender a cena o choro a tomou novamente, fazendo com que ela desabasse sobre o gramado, chorando alto ao ver sua amiga e o garoto por quem nutria sentimentos, mortos diante de seus olhos. Jungkook assim como Jayce se abaixaram para consolá-la, cada um de um lado em um abraço lateral, enquanto deixavam Lia sentir seu luto com diversos soluços, até que ela fechou os olhos e abaixou a cabeça, incapaz de continuar olhando para os dois. Novamente ficaram deixando os sentimentos e as lágrimas saírem, até que não houvesse mais nada.

— Precisamos dar a eles um funeral digno — Lia disse levantando e limpando as lágrimas, levando o olhar até Jungkook logo em seguida. — Me ajuda?

— Claro — Jungkook também limpou as lágrimas e se levantou. — O que preciso fazer?

— Eu não não posso transmutar seres humanos, por isso quero que crie uma redoma em volta deles usando água, para que eu possa transformá-la em cristal, assim eles ficaram conservados no santuário por toda eternidade… e isso impedirá que outros peguem a espada de Ryan — ela disse olhando para a lâmina escura, atraindo o olhar de Jungkook, que notou que os “rubis” ainda brilhavam com o sangue dos dois irmãos manchado na lâmina.

— Tudo bem… — Concordou.

Jungkook respirou fundo e ergueu suas mãos trêmulas, concentrando-se em criar água, evitou criar em volta deles imediatamente, para que o sangue em volta deles não se misturasse à água. Agora que sabia como fazer era extremamente fácil criar algo sem precisar de uma fonte, por isso deixou-a sair de suas mãos como se fossem uma extensão sua — e eram mesmo —, acumulando-se até criar uma grande bola de água, antes de ver Lia aproximar-se e com cuidado descer a redoma que havia criado e preenchido com seu elemento, até que a água cobriu Eveline e Ryan, fazendo seus cabelos flutuarem antes de Lia com apenas um toque transformar sua água em cristal. Sequer dando tempo do sangue se misturar ao líquido transparente, deixando os dois irmãos eternizados daquela maneira, abraçados e com expressões serenas.

Mas Lia ainda não tinha acabado, pois após cristalizar a redoma ela ajoelhou-se e colocou as mãos sobre a grama, fazendo diversas flores vermelhas crescerem em volta do cristal, preenchendo todo o espaço em volta deles com as “flores da morte”. Jungkook já havia lido sobre essas flores em um livro na casa de sua mama Maria, eram conhecidas como Lírio-da-aranha-vermelha ou Higanbana, simboliza a perda, a dor, a saudade e a morte. Quando Lia ficou de pé novamente, observou o campo de flores que criou em volta da redoma, enquanto os dois irmãos descansavam eternamente nos braços um do outro, onde pertenciam, mas não os deixaram aproveitar o consolo um do outro.

— Essas flores jamais morrerão, enquanto os dois estiverem descansando aqui, elas os farão companhia — Lia disse com a voz embargada.

— Cuidaremos bem deles — Genbu disse aproximando-se da redoma, encarando os dois irmãos. Ela era de fato uma tartaruga imensa, chegava a ser maior que eles, havia realmente uma cobra em sua cauda. — Mas vocês deveriam se apressar. — Ela olhou especificamente em direção a Jungkook antes de dizer: — Hoje é o último dia de seu companheiro, ele não suportará mais.

Jungkook arregalou os olhos, sentindo todo seu corpo tensionar com o que ela havia lhe dito, o que o levou a olhar desesperadamente em volta, procurando pelo frasco que Ryan havia usado para coletar o sangue de Seiryu. Mas encontrar um frasco tão pequeno em meio a todas aquelas flores seria impossível, o que o fez entrar em desespero e passar a mão por seus cabelos, até que teve um estalo e encarou o dragão, que tinha os olhos focados nele também. Jungkook podia sentir Seiryu, por isso em um ato de desespero estendeu a mão direita e procurou sentir o sangue dele no frasco, pois ele também podia manipular o sangue, então seria mais fácil de encontrar o frasco.

Quando Jungkook sentiu algo a se agarrar ele o puxou, vendo o frasco saltar das flores até sua mão, usando o sangue do Seiryu como condutor de seu poder. Assim que estava com o frasco em sua mão, correu até o dragão, ajoelhando a sua frente e estendendo o frasco em sua direção, em completo desespero para salvar a vida de Taehyung. Havia acabado de presenciar duas mortes, mas ainda havia duas pessoas que ele poderia salvar e Jungkook não falharia com eles também, por isso com os olhos marejados ele encarou Seiryu, disposto a fazer qualquer coisa para que o dragão lhe entregasse um pouco de seu sangue.

— Seiryu, eu preciso do seu sangue para salvar duas pessoas importantes para mim, você poderia me ceder um pouco? — Jungkook perguntou com a voz embargada, vendo as íris azuis do dragão encará-lo. — Por favor…

— Acredito que esse seria o mínimo que eu poderia conceder depois de tudo o que aconteceu — Seiryu sorriu e olhou para a ferida que Ryan havia feito em meio a suas escamas, fazendo uma pequena quantidade de sangue sair e ser transportada até seu frasco, enchendo-o. — Use-o com sabedoria.

— Muito obrigado! — Jungkook chorou ainda mais, agradecido que mesmo após trazer Ryan para controlá-lo, Seiryu estava sendo clemente com ele.

— Mas preciso que estava ciente de algo Jungkook — o dragão disse atraindo sua atenção. — Nossa vida é finita, não somos eternos, o tempo apenas não nos afeta como afeta os humanos, mas um dia deixaremos de existir, como tudo que já foi criado. — Seiryu aproximou um pouco mais de Jungkook, ficando a poucos metros de seu rosto. — Depois de beber meu sangue, o coração de quem o tomar irá bombear sangue celestial, ele não morrerá enquanto seu coração estiver pulsando sob seu peito. Porém, existem três formas de morrer após ter meu sangue correndo por suas veias: se um Deus matá-lo, após arrancar seu coração ou com a espada de Ryan.

Seu olhar caiu sobre a espada escura que atravessava o corpo dos dois irmãos, que agora estava selada junto a eles dentro da redoma de cristal.

— Ao contrário de um Deus, eles não possuem rápida regeneração, por isso não pensem que se tornarão imortais, o tempo apenas irá correr mais devagar, mas em um dado momento, como nós, eles deixarão de existir — Seiryu continuou, atraindo sua atenção. — Isso pode levar décadas, séculos ou milênios, mas eles não serão eternos, pois a eternidade só existe para os mortos.

— E lembre-se — Genbu chamou sua atenção. — Nem todos querem que o tempo pare. — Ela direcionou o olhar até Eveline, fazendo com que o bolo em sua garganta aumentar. — Deixe-os escolher seus próprios caminhos.

— Tudo bem… — Jungkook assentiu, mas voltou seu olhar em direção a Seiryu. — Me desculpe por tê-lo trazido até você, eu não fazia ideia dos planos dele.

— Até Deuses cometem erros — Seiryu sorriu gentimelmente. — Mas não havia como você prever, as coisas eram para terem acontecido da maneira que aconteceu, mesmo que Avír tenha tentado salvar a alma do garoto, o destino dele era perecer diante da própria ganância. 

— Mas a profecia… — Jungkook tentou argumentar, mas o dragão apenas sorriu.

— Bruxas são mensageiras, mas elas não podem ver nosso futuro — ele explicou, fazendo-o assentir, sabia daquilo, porque Jennie já havia lhe dito aquilo. — Então tudo poderia se alterar caso um Deus resolvesse seguir por outro caminho. No momento em que Avír a escolheu como sucessora, Eveline se tornou uma Deusa, por isso nem mesmo Erlin, a bruxa mais poderosa que existiu conseguiu prever o caminho que ela seguiria.

— Então não havia nada que eu pudesse fazer? — Jungkook fungou, sentindo-se triste.

— Você fez muita diferença Jungkook, ela teria ficado ao lado do irmão se você não tivesse mostrado a ela que nem todos são como as pessoas que ela tinha medo — ele sorriu. 

 — Creio que você havia feito uma promessa a ela não? — Genbu questionou com um sorriso.

Jungkook a encarou antes do bolo surgir em sua garganta novamente e assentir, após fechar a tampa do frasco e gaurdá-lo ele se levantou, caminhando até ficar de frente para redoma, olhando para Lia e Jayce, que estavam de mãos dadas com os rostos inchados por conta do choro recente. Quando estava de frente para dois irmãos, entre as flores vermelhas, Jungkook fechou os olhos por alguns segundos, lembrando-se de quando Eveline e ele juntaram seus poderes, quando sentiu o quão quebrada e triste ela estava. Por isso ele abriu os olhos, olhando para expressão serena dela antes de levantar as mãos, juntando diversas particulas de água sobre a redoma, criando um lindo arco-íris sobre eles.

— Como prometido Evie, aqui estão as mais diversas cores do arco-íris — Jungkook disse olhando para as sete lindas cores que coloriam o santuário.

~🖤~

Peguei pesado né?

Espero que eu tenha conseguido passar toda a dor dos personagens, todas suas imperfeições e medos com o que eu escrevi. Tentei deixar o mais humano possível.

Ainda há mais um ou dois capítulos fora o epílogo, tentarei não demorar muito, mas as coisas estão um pouco corridas. Mas de qualquer forma, a aventura dos Taekook na pirataria está chegando ao fim.

Obrigada por terem lido <3

Interajam comigo no twitter?
#dentesdodiabo

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