5 - azul como o céu

Ash

- Desculpe, esqueci de te enviar o número do apartamento.- Eiji disse, trancando a porta- Tenho andado meio desligado, eu geralmente não sou assim.

- Tá tudo bem, não foi difícil de encontrar.- era verdade, esse lugar deveria prezar mais pelos dados dos moradores, tirar a informação do vigia não me custou nem 30 segundos.

Eu baixei o capuz ao entrar na casa, estudando o interior discretamente com as mãos no bolso do meu jeans. O espaço era grande para um apartamento em Nova York e eu apostava que as cortinas sempre cobriam as janelas por estar abafado, se até a luz do sol lhe incomodava...ele estava mesmo na pior. As paredes brancas estavam intocadas, como se ele não tivesse se dado ao trabalho de expor seus gostos a quem visitava e o único vestígio de decoração eram as prateleiras compostas por revistas.

- Se importa de tirar os sapatos?- Eiji solicitou baixo atrás de mim, o tom oscilando entre desinteresse e sua tentativa de me receber bem.

Virei para fazer como pediu e deixei o tênis que eu calçava ao lado da entrada, onde Okumura ainda remanescia estático. A minha aproximação repentina fez com que ele endurecesse sua postura, entretanto.

- Relaxa, eu não vou te matar enquanto dorme.- brinquei, eu estava mais do que acostumado a intimidar as pessoas ao meu redor.

- Não estou preocupado com isso.- Eiji suspirou e passou por mim, se acomodando no sofá branco em formato de L para ligar a televisão- Só perdi o costume de estar perto dos outros.

- Espera, vai confiar num completo estranho?!- fiz uma careta ao indagar.

- Tenho motivos para desconfiar de você?- apoiou a cabeça preguiçosamente na almofada verde e felpuda.

- Não.- neguei confuso com a sua reação, ninguém jamais baixava a guarda por inteiro comigo- Mas não faça isso de novo, é perigoso.

- Se Jessica confiou em você, eu sei que não há com o que me preocupar.- Eiji respondeu, dando ombros e eu me juntei a ele, sentando no extremo oposto do sofá.

- Então, você veio mesmo do Japão?- chequei os porta-retratos na mesa de centro, que estavam virados para o móvel e assim, escondiam as fotos.

- Sim, foi o sotaque ou a aparência que me entregou?- clicou em um anime de basquete e manteve os olhos pretos fixados na tela.

- Os costumes, como tirar o sapato para não trazer sujeira da rua para casa ou ser terrível em dizer não.- levantei as sobrancelhas e ele esboçou um sorriso, provavelmente para não me desagradar- E isso também, você não está muito a fim de papo, mas continua para não me deixar desconfortável.

- Correto. Você estudou a minha cultura, Ash?- confirmou sereno, apesar de ter se encolhido um pouco com as minhas observações.

- Você só é bem transparente.- ele pausou a série e assentiu, algumas mechas do escuro cabelo caíram no rosto magro com o movimento- Não que seja uma coisa ruim.

- Quantos anos você tem?- Okumura perguntou, trocando o assunto e soprando os fios para longe.

Nós comentamos sobre isso na entrevista com a Jessica mais cedo, porém, acho que foram muitas informações de uma vez só. O que foi me dito sobre ele ficou memorizado, entretanto...ganhar fama e o respeito da mídia num país estrangeiro em 5 anos era de se impressionar.

- Tenho 23 e você tem 25, né?- Eiji fez que sim com a cabeça- Vir para cá aos 20 para investir na sua carreira deve ter sido uma baita aventura.

- Vai me perguntar sobre o Cole?- ele murmurou pesaroso, como se não pudesse evitar a questão e esperasse que eu fosse tocar na ferida em algum momento.

- Não, só se você quiser falar sobre.- eu o tranquilizei, nunca gostei que se intrometessem demais nos meus assuntos e não faria o mesmo com os outros.

- Obrigado.- agradeceu, suavizando o semblante e voltando a assistir o anime.

A história era interessante e me peguei fazendo companhia para Eiji, torcendo internamente pelo time do protagonista. Eventualmente, percebi que ele sempre dava um jeito para não se separar de sua câmera ao avistá-la em sua mão durante a abertura que me deixou disperso. Devia estar lá antes de eu chegar, parecia já ser parte dele.

Não trocamos nenhuma palavra até o relógio marcar 9 da noite. Finalizamos uns 3 episódios juntos e fomos atrás da janta, que consistiu em esquentar duas marmitas no microondas. Eram legumes demais para mim, mas não reclamei. Okumura não parecia muito animado para comer também e me mostrou o quarto que eu ficaria logo após lavar a louça.

- Fique à vontade e se precisar de algo, me avise.- se despediu e eu sinalizei que entendi- Boa noite, Ash.

- Boa noite, Eiji. Obrigado.

Ele havia separado uma toalha, sabonete, shampoo, escova de dente e trocado o jogo de cama antes que eu chegasse, julgando pela textura lisa. Foi por isso que não se lembrou de me mandar mensagem com o número do apartamento...era melhor do que qualquer canto que já morei e eu demorei para desmontar a mochila, tentando compreender o motivo dele ser tão cordial com um desconhecido.





Eiji

Dormir, como sempre, foi difícil naquela noite. Os pesadelos me acordaram 3 vezes durante a madrugada e em todas, eu cautelosamente verificava o corredor para me certificar de que não chamei a atenção de Ash no cômodo ao lado. Ter alguém morando comigo novamente era estranho, as únicas pessoas com quem dividi minha casa foram minha família e o Cole.

O ponto positivo é que até então, interagir com Ash não me cansava, ele sabia quais limites cruzar para fazer conversa e o silêncio não era desagradável. Portanto, eu não precisava me atentar para evitar julgamentos e tópicos sensíveis com ele. Ao amanhecer, fui para a cozinha na intenção de preparar o café e a claridade quase me cegou no trajeto. A cortina da extensa janela fora aberta e Ash Lynx estava sentado de frente para ela.

Vestindo uma camisa social azul-bebê e calças num tom mais escuro, ele parecia se camuflar com a coloração do céu matinal. Tateei ingenuamente pela minha câmera em meu ombro e ele subiu uma perna para a plataforma. Se conseguiu posar com tanta naturalidade uma hora dessas, ele realmente nasceu para modelar.

- Bom dia, Eiji. Dormiu bem?- desviou o olhar da vista e apoiou o braço no joelho elevado, deitando a cabeça ali em seguida.

- Posso te fotografar?- pensei alto e eu imediatamente me arrependi.

Quem responde um bom dia assim?

- Claro que pode.- sorriu presunçoso com o elogio indireto- Fico feliz que gostou da minha roupa, é a mais arrumada que tenho.

- Jessica vai gostar.- falei enquanto pegava minha máquina fotográfica.

As duas fotos que tirei ficaram melhores do que eu esperava, talvez eu não estivesse tão enferrujado assim.

- Vamos, você toma banho e eu cuido do que vamos comer.- levantou num pulo e eu assenti, atrasar no primeiro dia dele não soava bem.





Ash

- Eu sei que a cozinha não é meu forte.- admiti a derrota com a caneca entre os dedos, o café que coei estava péssimo- Não precisa tomar tudo.

- Não tem problema, mas eu fico com essa parte de agora em diante.- ele pareceu genuíno ao rir melodiosamente e eu engoli em seco pela surpresa.

Ele riu?!

A curvatura nos finos lábios desapareceu em questão de segundos, como se ele se punisse pelo ato ou estranhasse o som. O que eu sabia era que queria arrancar mais risadas dele.



nota da autora:

- não esqueça de votar e comentar! isso ajuda bastante a promover a história -

- Gostaram deles se conhecendo? O Ash repara em tudo, meu deus.

- Se puderem, deem uma olhadinha no cover dessa semana! Tá anexado aqui. Só consigo lembrar de banana fish quando ouço agora kkkk.

- Espero que tenham gostado, não teve muita coisa nesse cap, mas logo temos novidades na investigação.


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