28 - narciso
arte: @boom_sate225 | twitter
Leon Martinez já não confiava no delegado...agora ele desprezava o homem. Usar fotos da sua filha era golpe baixo, uma chantagem que não perdoaria. Foi motivo suficiente para avisar Eiji no instante que adquiriu informações relevantes. O assunto continuava sendo um tópico sensível para o financeiro, Martinez lembrava vividamente do quanto perdeu naquele outono.
Depois do velório de Cole, suas emoções estavam completamente instáveis. Queria ir atrás dela e por isso, abriu o jogo com todo mundo. Estava finalmente pronto para enfrentar o processo de adoção, porém, não era mais tão simples.
A família da sua amiga de infância se voltou contra Leon quando descobriu que ele era o pai da criança e Layla, sua esposa, foi embora na mesma noite.
Martinez checou o relógio e balançou as pernas, impaciente ao verificar os números no visor. Faltavam duas senhas para ser chamado. Esse, pelo menos, era o último compromisso da semana. Levou mais 40 minutos até que fosse atendido por um loiro de meia-idade.
- Como posso ajudar, senhor?- ele sorriu de maneira cansada.
- Quero abrir uma poupança.- Leon disse, ajustando a gravata conforme o gerente iniciava o procedimento.
☾☼
Eiji
Viver sem o Ash era estranho...criamos uma rotina nos últimos 6 meses. Ainda assim, sabia que a distância seria benéfica para nós. Jamais me perdoaria se tratasse ele com ressentimento. Reencontrei a minha antiga casa com passos pesados e um peito apertado. Trouxe minhas duas malas para dentro e tossi pelo cheiro de mofo. O lugar precisava ser arejado, então comecei pela janela da sala.
A sensação de que Cole estaria no cômodo seguinte dificultava a minha respiração, eu não devia ter vindo sozinho. Tateei o bolso em busca do meu celular e entrei nos contatos favoritos, não confiava na minha cabeça durante as crises. Levei o dobro do tempo necessário, meus dedos tremeram durante todo o processo. Por sorte, Valerie apareceu em 20 minutos, um feito admirável se tratando de Nova York.
No instante que abri a porta, ela largou a bolsa no chão e me envolveu num abraço caloroso. Valerie era parecida com Cole nisso...o carisma deles facilmente chegava em seu coração.
- Sinto muita falta dele.- solucei, desmoronando em seus braços.
- Vai ficar tudo bem, Eiji.- acariciou meu cabelo numa forma de consolo.
Ela repetiu a frase como um canto, deixando que eu colocasse a saudade para fora. Vez ou outra, eu tinha a impressão de que ela também derramava algumas lágrimas, Cole e ela eram bem ligados. O sol estava quase se pondo quando enfim me acalmei.
- Obrigado, Valerie.- agradeci baixinho.
- Estou sempre aqui para você.- prometeu, agora se acomodando no sofá.
- Eu também.- sorri com os lábios e ela espelhou o gesto.
Vasculhei a dispensa da cozinha em busca de algo para servir, encontrando nada além do que chá de capim cidreira, um dos favoritos de Cole. Esquentei a água e dispus as xícaras na mesa de centro, onde o celular de Valerie vibrava com dezenas de notificações.
- Que papel de parede bonito.- elogiei, tentando descontrair o clima.
- Ah, obrigada. Sou muito fã de mitologia grega, conhece a história de Narciso?- Valerie se animou e os olhos acinzentados praticamente brilharam com a oportunidade de explicar.
- Não, mas o nome é familiar.- menti, incentivando ela a continuar- Adoraria escutar.
Ela descreveu como o belo rapaz captou a afeição da ninfa Eco, mas jamais a correspondeu, pois se apaixonara pelo próprio reflexo. Narciso era orgulhoso demais. Irada, Eco condenou Narciso a uma eternidade de solidão naquele rio e o transformou numa flor após a sua morte.
- Narciso sofreu um destino terrivelmente poético.- Valerie concluiu, tomando um gole do chá, e eu assenti em concordância.
- Posso te pedir outro favor?- ela fez que sim- Queria ajuda pra embalar as coisas do Cole.
☾☼
Devia ter sugerido o encontro com Leon mais cedo...hoje ainda era quarta. Minha ansiedade estava me matando, era difícil aceitar tudo o que mudou desde a nossa ligação na segunda. Desliguei a televisão e encarei meu reflexo na tela preta com batimentos acelerados.
Preciso fazer isso, já enrolei demais.
Mandei a mensagem enquanto terminava a janta, recebendo uma resposta somente depois de lavar a louça. Dormi menos de 3 horas nessa noite. Sing apareceu na hora marcada, de calça jeans surrada e uma camisa branca lisa, me cumprimentando com o habitual cansaço nos olhos escuros. Entrei no carro e ele agarrou o volante com uma expressão preocupada.
- Tem certeza disso?- Sing quis confirmar.
- Sim.- disse, engolindo em seco e ele deu partida.
A rádio tocava New York, New York de Frank Sinatra e falhei em esconder o sorriso que tomou do meu rosto, lembrando de Lynx dançou comigo no apartamento. Parece que foi há uma eternidade atrás. Desmanchei a curva em meus lábios, entretanto, era inadequado para alguém a caminho do presídio.
- Eiji? Sing?- Shorter Wong pronunciou nossos nomes surpreso, ele nos fitou como se fossemos desaparecer a qualquer momento- Não precisavam ter vindo até aqui.
- Queria ter vindo antes.- franzi a testa, notando o quão magro estava, e Sing cruzou os braços em desconforto.
- Sei que não vão acreditar em mim...mas sou inocente.- Shorter balançou a cabeça em negação- No dia do crime, eu estava trabalhando num quiosque próximo ao estúdio e aparentemente, vendi a água que levaram pro ensaio de vocês. Como eu ia saber? Os fardos vem lacrados...eu só tinha que colocar no refrigerador. Qualquer um pode ter adulterado depois que entreguei. Usaram um currículo antigo que enviei à Vogue para sustentar a queixa e me prenderam por engano, eu nem sabia que existiam flores venenosas.
- Flores?- Sing vocalizou o que morreu na minha língua.
- Sim, estão me acusando de ter colocado narciso na água.- Wong respondeu.
- Eu preciso de um momento.- levantei da cadeira, sufocado com a informação.
- Desculpa, Shorter.- Sing correu atrás de mim.
Nossos pertences foram devolvidos e por instinto, verifiquei se havia algo urgente. Sing apenas guardou o seu celular no bolso. Abri o grupo da agência e minha pressão baixou, começar o tratamento com remédios seria inevitável.
☼
Ash
- Chefe, temos um problema.- Arthur irrompeu pela porta e estalei a língua em irritação- Com Leon Martinez.
- Qual é a situação?- Blanca demandou.
- Acompanhei os passos dele e mostrei a foto da criança...como você pediu, mas ele não reagiu bem. Leon se recusou a cooperar com a investigação, passou os últimos dias em escritórios de advocacia e visitando os bancos onde tem conta.
- Fala logo, cacete.- cruzei os braços, impaciente.
- Ele está morto.- Arthur anunciou e um silêncio pesado invadiu a atmosfera.
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nota da autora:
- não esqueça de votar e comentar, isso ajuda bastante a promover a história -
- Eiji está começando a seguir em frente, embalou as coisas do Cole e decidiu procurar conforto em outras pessoas além da Jess e o Ash. Será que foi uma boa escolha?
- Temos menos um suspeito na história. O assassino está agindo...quais serão os próximos passos do Blanca e seus agentes?!
Obrigada por lerem! amo vocês <3
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