23 - hábitos do coração

As luzes piscavam de maneira familiar dentro da boate apertada e a música, estridente como ele gostava. No entanto, Sing agora cambaleava até a saída do clube barulhento, tateando o jeans em busca do celular...e esbarrando em absolutamente todo mundo no processo. 

Jogou a garrafa de cerveja vazia no lixo mais próximo e gritou em comemoração ao acertar seu alvo, recebendo um olhar de julgamento do casal que passava por ele. Murmurou um pedido de desculpas para as mulheres e se escorou na vitrine de uma loja fechada para resolver o que precisava. Em seguida, discou o número sem sequer conferir a agenda, impressionado por lembrar de cabeça.  

-

- Alô, chefe. Desculpa pelo horário, mas preciso dar um aviso.

- Sing, sou eu.- isso explicava o número memorizado, ele pensou.

- Ah, Val! Melhor ainda.- sorriu, aumentando o volume da chamada- Diz pra Randy que amanhã vou ter que pegar uma folga.

- Não inventa, temos um ensaio importante para promover. Onde você tá?

- Po, eu...não sei.- checou ao redor para tentar encontrar alguma referência- Vou pegar meu carro e daqui a pouco estou em casa. 

- Espera aí! Não pode dirigir assim, Manda a localização que eu vou até você.

- Que bonitinho, vai vir cuidar de mim?

- Manda a localização, Sing.- repetiu impaciente. 

- Tá, vou mandar.

-


Os dois repetiam o diálogo como se estivessem recitando um roteiro. Já era a terceira vez no mês que ela recebia ligações dele no meio da madrugada. Sing bebia até cair nessas festas e ela era obrigada a colocá-lo nos trilhos. Sing era estagiário por ainda estar na faculdade e, apesar de ter sido contratado como recepcionista, também cumpria as funções que Valerie designava.

Então, a marketeira dirigiu o mais rápido que o trânsito permitia que fizesse, baixando os vidros para que ele a reconhecesse quando chegasse no local. Ela acenou bruscamente ao parar na esquina da balada e Sing entrou assim que avistou os cabelos cor de mel, infestando o interior do veículo com o cheiro de bebida.  

- Valeu por ter vindo.- balbuciou o agradecimento, praticamente desmoronando no banco. 

- Por nada.- respondeu cansada e deu partida no carro.

Ela balançou a cabeça em negação ao ver que nem colocar o cinto, Sing estava em condições de fazer. Valerie aproveitou o sinal vermelho e afivelou o cinto por ele. 

- Me dá a chave do seu carro, amanhã vamos passar para buscar.- pediu, diminuindo o volume da rádio.

Sing a entregou, grato por ter encontrado rápido, e fechou os olhos ao reclamar da tontura. Valerie entendia o lado dele, mesmo odiando a preocupação que acompanhavam suas noites. De certa forma, todos criaram hábitos ruins depois da morte de Cole. Ela, por exemplo, não suportava mais a ideia de descansar. 

Precisava manter a mente ocupada 24 horas ou se afundava no luto. Nos 3 meses em que ficou afastada da empresa, Valerie participou de mais de 10 clubes para evitar a tristeza que a invadia. Hoje, com as pendências do trabalho, o balé era suficiente para anestesiar o sentimento.

O sinal abriu e ela encarou o trajeto em silêncio, já que Sing apagou minutos depois. Valerie só conseguia torcer para que ele encontrasse outra forma de lidar com o trauma. 



☾☼



Ash

Hoje era um dos dias bons, algo irônico considerando a maneira que começou. Eiji acordou tendo outra crise e quando se acalmou, explicou que sonhou com Cole...uma lembrança feliz. Ouvir foi como atravessar uma adaga pelo meu coração, mas não deixei nada transparecer.

Fazia um mês desde o seu aniversário, desde que o vi na beira daquela janela e aceitei que meus sentimentos passavam de amizade. Os paparazzis continuavam tendo material para deixar a agência intocada com nosso namoro de mentira. Nessa tarde, fomos flagrados juntos na lavanderia e acabei mostrando o dedo do meio para um dos fotógrafos. O imbecil não parava de insistir para que nos beijássemos.

Eiji exibiu um sorriso discreto com minha atitude e, do nada, agarrou minha mão para voltarmos ao apartamento. Ele deu risada da cara que Arthur fez ao ter que nos seguir pela rua e eu ruborizei tanto com o gesto que era impossível ter passado despercebido. Por sorte, Eiji não fez nenhuma menção a situação. 

Nunca sei o que esperar dele.

Okumura conversou com a família durante a janta e teve que me apresentar para a irmã, que  realizou um interrogatório completo com a saída da mãe. Eiji contou que era uma jogada de marketing e pediu que ela guardasse segredo, argumentando que o resto da casa estranharia o fato dele estar morando comigo em menos de 1 ano. Ele não traduziu a última parte por educação e tive que deduzir a partir do pouco que aprendi.

Tenho estudado japonês desde o momento que me falou que eu deveria conhecer seu país.

Sua irmã não acreditou muito na explicação, porém, concordou em ficar quieta. Ver os dois interagindo fez com que eu sentisse falta do Griffin e assim, mandei uma mensagem para o meu irmão enquanto eles se despediam. Terminamos de comer, eu lavei a louça e agora, escolhíamos um novo anime.  

- Sabe o que eu tava lendo esses dias?- puxei assunto e ele ergueu as sobrancelhas em curiosidade, realocando almofada entre nós em meu colo- Que o Natal de vocês é diferente.

- Ah, verdade!- animou-se, deixando o controle de lado- Temos árvores de natal e luzes espalhadas pela cidade, mas é um feriado voltado para casais. É costume marcar encontros na data e passar o ano novo com a família.

- Não tem ceia?!- instiguei, mesmo já tendo lido um artigo inteiro sobre as tradições japonesas na semana passada.

Eiji ama falar do Japão...e eu gostava de ouvir sobre o lugar em que ele cresceu.

- Geralmente, comemos frango frito e bolo de morango.- disse nostálgico.  

- Não acredito. Isso devia ser um crime...me diz que gosta mais do natal americano.

- Gosto dos dois.- fez bico, clicando no anime de comédia- Olha, esse aqui parece ser bom!

- Merece uma chance.- dei ombros e me acomodei no sofá.

Vimos 5 episódios e era realmente interessante: um espião que adotou uma criança telepata e sem saber, casou com uma assassina para preservar a paz da nação. 

- Ele parece com você, Ash.- Eiji comentou, apontando para o protagonista, e eu franzi o lábio em confusão- Os dois são inteligentes, lutam bem e são absurdamente bonitos.

Numerou as semelhanças com a maior naturalidade e eu desviei o olhar, meus batimentos saltavam em resposta ao elogio descarado.   

- Acho que não, eu sou mais bonito.- brinquei numa tentativa de disfarçar e ele revirou os olhos, avançando para o próximo episódio.

Funcionou.

- Desculpa aí, miss universo!- Okumura declarou e eu gargalhei alto.



☾☼



Leon Martinez ignorou o celular que vibrava na mesa de centro, concentrando a sua atenção na partida de futebol americano a frente. O telão focou na imagem de um pai com uma garotinha e ele desligou a televisão, massageando a têmpora. A tela brilhou com uma nova chamada e Leon conferiu mais uma vez, atenderia de imediato se fosse Layla.

- Esse delegado não tem mais o que fazer não?- estalou a língua em irritação e ativou o modo avião- Já respondi todas as malditas perguntas dele.

Caminhou até o quintal da casa e podou sua muda de lírios favoritos, a jardinagem era como terapia para ele. Tomou um banho e jantou uma pizza requentada, detestando a quietude instalada. Julgou Blanca por escolher passar o sábado a noite resolvendo problemas de trabalho, mas no fim...não estava muito diferente. Era nítido que sua vida era vazia sem elas.



nota da autora:

- não esqueça de votar e comentar, isso ajuda bastante a promover a história -

-  Agora que vocês conheceram um pouco melhor os hábitos de cada um, quem virou o suspeito principal de vocês? Por que será que o Blanca tá atrás do Leon?

- Quis entregar umas cenas fofas do Ash com o Eiji para honrar o espírito natalino, gostaram?

- Feliz ano novo antecipado! Espero que estejam todos bem.


Obrigada por lerem! amo vocês <3

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