22 - algo para ficar

arte: @boom_sate225 | twitter

Ash

Eu não tinha certeza se estava respirando. Precisava chegar até ele, atravessar aquele pequeno quarto e impedir que meu mundo acabasse. Nada mais importava. O barulho do trânsito abaixo nem sequer era captado pelos meus ouvidos enquanto angústia, como jamais conheci, esmagava meu coração. 

- EIJI, NÃO!- a suplica me escapou, aguda. 

Vidro estilhaçou no chão e ele hesitou, atendendo meu pedido desesperado ao afastar-se da janela escancarada. Eiji girou os calcanhares e nossos olhares se encontraram, puxá-lo para perto foi automático.  

- Desculpa, eu...não queria que você visse isso.- Okumura praticamente desmanchou no meu embrace.

Como chegou a esse ponto? Eu devia ter prestado mais atenção nele.

Quis tanto acreditar que ele estava melhorando que perdi os sinais. 

- Tá tudo bem, você está aqui.- passei por cima do meu pânico e tentei oferecer algum tipo de consolo.

Afaguei os fios pretos com cuidado e ignorei a urgência de gritar para que nunca mais me assustasse assim. A adrenalina ainda corria pelas minhas veias, bagunçando meu raciocínio...mas, por algum milagre, a necessidade de acalmá-lo conseguia ser maior. 

- Eu só to tão cansado, Ash- sussurrou fraco, tremendo conforme os soluços se intensificavam- Não aguento mais ser um fardo para todo mundo. 

- Eiji, você nunca foi um fardo na vida de ninguém...você é importante.

Principalmente para mim.

Bem mais do que eu imaginava ser capaz de considerar alguém.

- Como não?! Tudo isso é minha culpa, Cole está morto por minha culpa. Seria bem melhor se eu desaparecesse de uma vez.

- Não fala uma coisa dessas como se realmente acreditasse- disse, cerrando o punho em frustração- Só tem um culpado nessa história.

É injusto que ele se sinta responsável por isso...Eiji foi quem mais perdeu naquele dia.

Okumura se desvencilhou do meu peito e segurei seu queixo de leve. Ergui sua face para perto da minha e estudei os escuros olhos, irritados pelo choro. Palavras não seriam suficientes para transmitir o que eu queria...então teria de servir.

Acariciei o rosto magro e limpei as lágrimas com o dorso de minha mão, desejando que ele encontrasse algo para ficar. Que se agarrasse a qualquer resquício de esperança forte o bastante para fazer toda essa dor valer a pena.

Eiji apenas me fitou sereno, como se finalmente conseguisse escapar do estado de pânico, e relaxei a postura ao contemplar a mudança de semblante. As linhas de preocupação estavam  abandonando seu semblante quando um raio cruzou os céus e quebramos o contato visual pela surpresa. Meu corpo reclamou da distância instituída quase imediatamente.

- O que é aquilo?- Eiji repentinamente indagou, apontando para a sacola que derrubei ao entrar no quarto.

- Ah, eu tinha até me esquecido- massageei a têmpora, rindo- Era o seu presente de aniversário.

- Meu Deus- ergueu as grossas sobrancelhas, curioso- Será que quebrou?!

- Relaxa, foi melhor assim. Eu não sou bom com presentes.

- Impossível, a culinária é sua única falha- brincou, numa tentativa de descontrair o clima- O que você tinha comprado?

- Um globo de neve...de Tokyo- cocei a nuca, envergonhado por ter escolhido algo tão simples- Eu queria comprar um da sua cidade, só que não encontrei nas lojas daqui. Aí pensei em pedir online, mas não ia chegar a tempo. 

- Poxa, devia ser lindo. Desculpa por estragar isso também.- Okumura lamentou e algumas gotas de chuva invadiram o cômodo, molhando seu futon.

- Eiji...você tem que parar de pedir desculpas pelo o que não está no seu controle. Caiu porque eu tinha algo mais importante para segurar na hora, não foi sua culpa.

- Tá bom- sorriu, com os olhos puxados lacrimejando novamente- Promete que vou ganhar outro?

- Prometo.- garanti, espelhando seu sorriso.

Uma coleção inteira de globos de neve, se for preciso.






Observei os prédios se dissiparem com a velocidade do carro, escorado na janela manchada pela chuva que se agravava. Eiji dormia pacificamente em meu ombro, imune aos ruidosos relâmpagos afora, e Arthur me encarava desconfiado de seu banco.

A lembrança do ensaio na semana passada nublava minha mente, repassando a maneira como ele me defendeu daquele diretor e meu orgulho não se feriu. Okumura parecia prestes a socar o babaca depois dele sugerir que eu pulasse o almoço para tirar as próximas fotos. 

Deve ter sido a primeira vez que eu o vi tão irritado com alguém e a memória fez com que meus lábios se curvassem num sorriso discreto. Eiji provavelmente não fazia ideia, mas mesmo em seu estado mais frio...conseguia ser caloroso com sua gentileza.

Notei como a minha atitude mudava na presença dele e o conceito de impossível era maleável caso ele precisasse de alguma coisa. Ah, eu estava apaixonado e inevitavelmente condenado. O medo que me consumiu diante da possibilidade de perdê-lo mais cedo, confirmava essa teoria com todas as letras.

Era como se tivessem anunciado que os paraquedas estavam quebrados e eu aparecesse para saltar de bom grado. Não que eu questionasse minha escolha. Se tivesse que acontecer com alguém, fico feliz que seja ele. O problema era que...nunca seria reciproco. 

Eu sempre seria o único enfrentando a queda.

Expulsei o pensamento deprimente e me convenci de que, considerando o meu passado, estar ao lado dele já era mais do que eu merecia. Entramos no estacionamento da agência e abri o celular para avisar Valerie que chegamos. 






Eiji

No momento que pisei fora do elevador, confete estourou e a equipe inteira apareceu para cantar parabéns para mim. Jessica segurava o bolo enquanto Valerie obrigava Leon a usar o chapéu de aniversário e Shorter filmava a cena com um largo sorriso no rosto. 

Max exibia um cartaz com meu nome e idade escritos em um glitter azul. Não consegui conter a risada depois de vê-lo. Sing assobiou alto no meio da bagunça, ganhando um olhar de censura da Jess. Lynx permanecia à minha direita, batendo palmas junto ao coro. 

Rondei a recepção com meus olhos e absorvi os pequenos detalhes que fizeram questão de decorar. Os balões cuidadosamente espalhados e a sequência de fotos penduradas numa especie de varal. Eram fotografias tiradas nos meus últimos ensaios com Ash.

E pensar que tiveram todo esse trabalho por mim.

Randy se aproximou para que eu apagasse a vela e entreabri a minha boca para agradecer na sequência. Ela entregou o bolo para Sing colocar na mesa de centro e o time formou um circulo ao meu redor. Felicidade e um senso de pertencimento me preencheram, mas a pontada de culpa por ter tentado morrer horas atrás ainda estava presente. 

- Não se atreva a dizer que não precisava, Eiji Okumura.- Jessica antecipou minha fala e eu balancei a cabeça em negação, ainda sorrindo.

- Eu tenho muita sorte de ter vocês- reformulei a frase e os sete me envolveram num abraço apertado- Agora vocês estão me sufocando!



nota da autora:

- não esqueça de votar e comentar, isso ajuda bastante a promover a história -

- Ash finalmente percebeu que está apaixonado! Gostaram da perspectiva dele?

- Esse cap tá repleto de depressão, mas aliviei no final...dessa vez, terminei sem matar vocês de curiosidade. Eiji merece um pouco de paz no aniversário.

- No próximo vou avançar na investigação e me esforçar para deixar vocês suspeitando de todo mundo novamente. Preparem os corações.


Obrigada por lerem! amo vocês <3

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