20 - em outro amor
Eiji
- Eu gostaria de qualquer uma de suas versões, Eiji Okumura.
Algo como alívio preencheu meu interior com a honestidade em sua afirmação e um sorriso desajeitado me escapou conforme eu formulava uma resposta decente.
- Sua paciência é mesmo impressionante.
- Engraçado você dizer isso, sempre fui conhecido pelo contrário.- Ash passou a mão pelo cabelo dourado, nostálgico ao fitar a janela.
- Acho que posso me considerar sortudo então...sem você, a minha câmera continuaria sendo um peso morto em meus ombros.
- Eu praticamente não te dei opção além de voltar- lembrou, balançando a cabeça em negação- Inclusive, desculpa se forcei a barra, eu tava mesmo precisando de um emprego.
- Não precisa se desculpar, eu precisava daquele empurrão. Depois que aprendi a lidar com a culpa, fotografar você me ajudou a recuperar um pouco de quem eu era.
- Você se sentia culpado mesmo antes de descobrir que era o verdadeiro alvo?- tristeza brilhava nos olhos esmeraldas ao indagar.
- Todo santo dia, eu me odiava por ter tido uma chance de retomar minha vida enquanto a dele foi interrompida sem motivo algum. Cole era...minha prioridade desde que cheguei em Nova York. Quando ele se foi, eu perdi bem mais do que um namorado.
Cole enterrou consigo qualquer sonho meu.
Tirou a graça das cores...até você aparecer naquele terraço.
Acrescentar que às vezes eu desejava ter ido no lugar dele foi desnecessário, Ash certamente tinha mais noção disso a cada crise de ansiedade que ele acompanhava. Meu estômago roncou antes que ele pudesse ter uma chance de oferecer qualquer forma de consolo, Lynx levantou para buscar a bandeja que trouxe consigo.
- Vai acabar pegando uma gastrite desse jeito.- entregou-me e sentou no mesmo lugar.
- Obrigado. Se quiser ir, eu já to melhor. - agradeci, não querendo incomodar mais.
Dei algumas mordidas e esperei que a comida se assentasse para prosseguir. Lynx apenas ficou, decidindo me fazer companhia mesmo que eu o tivesse dispensado. Ele exibia um sorriso discreto vez ou outra quando eu largava o garfo...como se me encorajasse a terminar a refeição, mas sinalizasse que entenderia se eu deixasse o prato pela metade.
Ash, realmente não mereço você.
Então, pela sensação de conforto que ele sempre era capaz de me passar, eu quis ser acolhido.
- Se importa de me emprestar seus ouvidos por mais um tempinho?
- São todos seus.- Lynx disse sereno e eu sorri genuíno.
Assim, pela primeira vez desde que meu mundo foi virado do avesso, eu contei a história completa para alguém. Como Cole Hannes me mostrou toda a cidade há cinco anos atrás e simplesmente viramos melhores amigos.
Como Hannes amava modelar e fez dos estúdios, um lar. Omiti boa parte dos seus problemas familiares em respeito à promessa que tive que fazer no dia em que os escutei e tentei não me demorar nos milhares motivos que me fizeram amá-lo.
Eu escolhi resumir essa lista em: quem ele era nos bastidores.
Meu coração era dele desde o momento que Cole permitiu que eu enxergasse além da lente da câmera e pude presenciar não somente o sorriso que esbanjava vitórias, mas as lágrimas que derramava em suas derrotas também. Era uma pena que a maioria o eternizará apenas como um rostinho bonito da indústria.
Contei como Cole me chamou para sair no final de um expediente qualquer, desconcertado como jamais o vi, no elevador da agência. Como namoramos por um ano e três meses, e passamos os 6 últimos morando juntos.
Eu tive os melhores dias da minha existência ao lado dele.
Terminando ao confessar meu arrependimento por não os ter aproveitado mais. Desabafar tirou um peso das minhas costas, porém, não diminuía a saudade. Prendi o choro na garganta e desviei o olhar para a parede.
- Nossa, falei demais. - suspirei, subitamente cansado.
- Não, Eiji- ele limpou a lágrima que escorria pela minha bochecha antes que eu sequer a sentisse- Eu tenho certeza de que...se ele era tão incrível quanto você descreveu, Cole não te desejaria nada menos do que felicidade.
☼
Ash
Era cedo quando deixamos o apartamento acompanhados pelos seguranças de sempre e entramos no carro escuro. Fomos cumprimentados por uma tonelada de paparazzis ao parar na rua em que faríamos o ensaio.
Porra, eles nos seguiram ou alguém vazou a informação?
Para a minha surpresa, Eiji limitou-se a colocar os óculos de sol e abrir a porta. Ajustei o boné e me apressei a alcançá-lo. Passei meu braço esquerdo por trás do seu pescoço e o puxei para perto numa tentativa de protegê-lo.
Não dá pra garantir que todos são inofensivos, não com a investigação ainda em andamento.
- O que foi isso?- Okumura questionou assim que pisamos dentro do estúdio e escapamos dos flashes.
- Não temos que sustentar a mentira pra imprensa?- a frase saiu mais seca do que eu pretendia, então pigarrei e reformulei a pergunta- Te incomodou?
- Só não estava esperando...na próxima, me avisa por favor.- Eiji pediu baixinho, alisando a alça da câmera fotográfica.
- Beleza.- concordei, sorrindo de boca fechada.
☾☼
- Chegou uma encomenda pra você.- o porteiro nos interrompeu e eu estranhei, não me lembrava de ver Eiji comprando online.
- De quem?- Okumura indagou confuso.
- Griffin Callenreese.- o velho leu o código postal e complementou- Veio do Japão.
Esse Griffin...como ele descobriu meu novo endereço?
- É meu.- anunciei, relaxando a postura e Arthur me passou a caixa relutante.
Tentando descobrir o que tinha dentro, analisei o peso de maneira discreta. É bem leve...e pelo formato. Espera aí, hoje é 17 de abril? Não acredito, Griffin. Deixamos os sapatos para fora do apartamento e eu fui em direção ao meu quarto.
- É do seu irmão, né?- Eiji apareceu ao meu lado, casualmente se aproximando e eu confirmei- Achei que ele fosse Lynx também.
- Nascemos de mães diferentes e eu não gostava muito do meu pai.- expliquei descontraído, tentando encerrar o tópico.
- Posso ver o que ele te mandou?- empolgação e curiosidade contagiavam sua entonação- Fiquei com saudade da minha família agora.
Vou parecer babaca se negar um pedido desses.
- Pode.- cedi, apesar da vergonha que esquentava minhas bochechas.
A embalagem revelou exatamente o que eu suspeitava ter recebido, arrancando uma gargalhada alta de Eiji e provocando um sorriso quase imediato em meu rosto.
Se virar piada for o custo pra ouvir sua risada mais vezes, eu definitivamente não me importo de pagar o preço.
- Um coelhinho de pelúcia? Adorável, Ash.- eu revirei os olhos, empurrando seu ombro de leve.
-Meu irmão sempre foi meio sentimental com feriados. Quando eu tinha 6 anos, ele até tentou preparar uma caça aos ovos para mim.- devolvi o coelho para a caixa e fiz uma nota mental para agradecer Griffin mais tarde.
- Como isso funciona?- Eiji pendeu a cabeça levemente para a direita.
- Vocês não têm páscoa no Japão?- ele negou e eu sorri ao reviver a memória- Basicamente, pintam ovos de galinha e os escondem pela casa, deixando pistas para as crianças acreditarem que o próprio coelho da páscoa passou por lá. Griffin desistiu depois da quarta caça, ele disse que eu encontrava os esconderijos rápido demais.
- Então você sempre foi muito inteligente- Okumura elogiou, eu apenas o fitei com carinho- Na minha cultura, o Ano Novo é a data mais importante por representar a chegada de um novo ciclo, tem fogos de artifício e as badaladas do sino...que prometem limpar todas as impurezas mundanas.
- Sério? Deve ser uma experiência única.- fui sincero, era bom ouvi-lo falar de casa.
- É bem bonito.- garantiu, desviando o olhar para a janela da sala momentaneamente- Você tem que conhecer um dia, Ash.
- Tenho certeza que vou gostar.
"Espero que com você", era o que eu queria realmente dizer.
☾
Eiji
Se continuar produzindo e interpretar o papel com Ash em público era o necessário para não decepcionar mais ninguém, eu o faria. Tirar outra licença por conta do meu luto estava fora de cogitação...a agência depende inteiramente da eficácia desse plano.
Respirei fundo e abri o primeiro link que Valerie mandou no grupo. Convicto de que não teria como me abalar com algo que fui avisado, esperei que a página carregasse e engoli em seco. É, eu errei feio.
Agradeci por ter permanecido sentado e reli o título umas três vezes até finalmente chamar Lynx, entregando o meu celular em completo silêncio.
Meu envolvimento com o Ash não passa de uma farsa.
Eles escrevem de tudo para atrair a atenção do público, precisam do engajamento...Cole entenderia.
- Que porra é essa?- seu rosto assumiu uma expressão severa- "Fotógrafo japonês mal espera o corpo do namorado esfriar para colocar outro em seu lugar."
Foquei em retribuir um pouco do apoio que ele me dá e me obriguei a agir despreocupadamente diante da sua reação.
- Nem precisa continuar lendo, o resto é basicamente uma lista de justificativas defendendo a minha escolha.- brinquei, tentando amenizar a situação.
- Foram longe demais .- indignou-se, rodando a sala em passos firmes.
Meu celular vibrou com mais uma notificação e eu pedi que ele me devolvesse. Deixar que ele verificasse não era uma ideia inteligente, se fosse outra matéria nesse estilo...Valerie certamente estaria correndo risco de vida por ter enviado mais uma dessas fofocas.
- O que ela mandou dessa vez?- sua raiva foi substituída por frieza e eu observei a brusca mudança de sobrancelhas franzidas.
Não somente pelo controle que ele tinha sobre suas emoções, mas principalmente pela informação que brilhava na tela em minhas trêmulas mãos.
- Ash, não estão falando sobre nós...eles prenderam Yut Lung como suspeito principal do caso.
Por que o Blanca não me avisou nada?
☾☼
Yut Lung folheava "A Arte da Guerra" de Sun Tzu pela terceira vez, mesmo já sendo capaz de recitar cada uma das frases. Estava entediado...a essa altura, deveria estar fora daquela cela pútrida. O atraso de sua soltura significava que o primeiro plano falhara. A ideia de não ter que dividi-la com outros detentos, entretanto, consolava o fotógrafo minimamente.
O ruído de passos cumprimentou seus ouvidos e ele escondeu o livro debaixo do travesseiro. Lung fingiu estar dormindo para evitar que o incomodassem durante uma das rondas.
- Você tem visita, japonesa.- o guarda carrancudo bateu na grade e ele se pôs de pé, ignorando o instinto de corrigi-lo.
Acostumara-se com a confusão que o longo cabelo escuro e os traços afeminados causavam. Em breve, seu segundo plano estaria em ação e nunca mais olharia para a cara do imprestável.
- Quem veio?- Yut perguntou em tom inocente, recebendo o clique das algemas como resposta.
Para o seu crédito, o chinês manteve uma expressão neutra enquanto passava pelo corredor da prisão. Aturando os comentários degradantes, que certamente justificavam o motivo dele não ter nenhum companheiro de cela, de queixo erguido.
No entanto, após finalmente completar a caminhada infernal, Yut Lung não conseguiu mascarar a surpresa ao ver quem o esperava naquela sala.
- Eiji?
—
nota da autora:
- não esqueça de votar e comentar, isso ajuda bastante a promover a história -
- O que será que o Eiji foi falar com o Yut Lung?!
- Ash finalmente descobriu mais sobre o Cole e Eiji conheceu mais sobre o Griffin, gostaram dos mini flashbacks?
Obrigada por lerem! amo vocês <3
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