16 - fagulha dourada
Jessica encarou Max escancarar a porta e entrar como um furacão em sua sala de estar. Gotículas de suor se acumulavam pelo seu rosto agora avermelhado, ele parecia ter corrido uma maratona até chegar ali.
- É verdade mesmo?!- o homem exclamou hesitante, como se ainda não tivesse confiança para afirmar.
- Eu sei que não era um assunto para falar em ligação, mas eu não consegui esperar.- Randy pigarreou, se pondo de pé- Se você não quiser assumir, tenho dinheiro guardado. Nós ficaremos bem sem você.
A postura defensiva que Jessica adotou fez com que Max franzisse as sobrancelhas em desentendimento e balançasse a cabeça em negação imediatamente.
- Do que você tá falando? É óbvio que eu vou querer fazer parte da vida do meu filho.
- Você foi mesmo demitido da polícia?- o semblante fechado se suavizou ao responder, Jessica falhou em esconder a culpa que manchou sua pergunta.
- Fui, mas eu já tinha planos para mudar de carreira há alguns meses. Tenho um conhecido que pode tentar me colocar numa coluna de um jornal. Hum...isso não é o importante agora, como você está?
Jessica soltou um riso fraco ao começar, rodeando o cômodo. Há quanto tempo não ouvia essa simples indagação?
- Péssima, ter filhos nunca esteve nos meus planos...os enjoos matinais são uma tortura, minha bexiga simplesmente me obriga a ir no banheiro a cada uma hora e minhas calças não entram mais! Como vou tocar a agência? O inverno acabou e não posso mais usar os casacos para esconder a gravidez, logo a notícia vai vazar na mídia. Eu tenho uma carreira e a equipe depende de mim...e o Eiji piorou de novo, mas.
Jessica se calou em surpresa ao sentir dois fortes braços envolverem sua cintura, Max agora beijava o topo de seu cabelo e ela lentamente derretia em meio ao abraço. Max Lobo não fazia ideia do quanto ela precisava daquilo. De fato, nem Jessica havia notado o quão cansada estava. A loira sempre esteve habituada a manejar tudo ao mesmo tempo que esqueceu o quão bom era ter alguém para dividir um pouco de seus fardos.
- Desculpa por ter deixado você sozinha nessa, querida. Eu prometo que vou comprar novas calças pra você.- Randy deu um soco leve em seu braço e ele sorriu ao receber o golpe- Que vou segurar seu cabelo na privada todos os dias e te ajudar com qualquer coisa que precisar, ok?
☾☼
Eiji
Max e Jess vão ter um filho e Blanca a inocentou.
Eu ainda processava a onda de boas notícias que me atingiu, estranhando a sensação de leveza que começava a tomar conta dos meus rígidos ombros. Parte minha queria que ela tivesse contado comigo e a outra entendia que eu certamente não seria de muita ajuda. Afinal, eu nem tinha autorização para sair do meu apartamento e mesmo que tivesse, corria o risco de nem a escutar direito.
Cristalizado, essa talvez fosse a descrição mais próxima para o estado em que eu me encontrava...e a um triz de me estilhaçar por inteiro. Minhas crises pioraram tanto ao descobrir que eu era o alvo que Ash fez questão de colocar seu colchão em meu quarto e dormir comigo por uma semana direto depois da notícia. Eu nem tive forças para protestar contra sua estadia. No fundo, eu sabia que ele tinha razão em estar ali.
Aqueles foram os dias em que mais cogitei repetir o episódio que fez com que Jessica me obrigasse a mudar de endereço. Quando ela me encontrou na varanda da minha cobertura...inclinado demais para que eu justificasse como algo casual. Jessica Randy sempre dava um jeito de agir nos momentos importantes, ela era a minha fagulha dourada em meio a escuridão intermitente.
Não precisar mais desconfiar dela tira um peso enorme do meu peito, tamanha desilusão teria sido meu ponto final. Caminhei devagar até a saída do meu quarto e falhei em impedir o sorriso discreto que esbocei ao ver que Ash vinha em minha direção.
- Eiji! Eu ia procurar você agora...já jantou?- Lynx colocou a mão direita no bolso de seu jeans e pela maneira que tentou transpassar serenidade, sabia que ele estava aflito.
O que dificilmente seria notado por alguém de fora, ele era ótimo em manter uma expressão neutra. No entanto, graças a convivência diária, Ash deixou de ser o único que consegue ler os sentimentos das pessoas nessa casa.
- Não, mas acho que posso fazer a comida hoje.- cocei a nuca e ele me fitou com tanta alegria naqueles olhos esmeraldas que eu me forcei a continuar baixinho- Parece que você vai ter que voltar a dieta, Ash.
Retornar ao trabalho seria um processo lento, eu me afeiçoei ao silêncio da mídia e também tinha a questão de Sing, Valerie e Leon ainda serem os suspeitos principais. Fora o medo de não conseguir acompanhar o padrão estabelecido...tudo parecia contribuir para o crescimento da minha aversão à ideia de aparecer na agência.
Todo o progresso que eu fiz foi jogado no lixo, eu voltei à estaca zero.
E o Ash pode estar preferindo trabalhar com Shorter, eles se entendem bem.
O que você faria, Cole?
Talvez até ele tivesse um impasse no meu lugar, Cole considerou a nossa equipe como família, já que não tinha a melhor das relações com a sua. A diferença entre nós dois, é que meu namorado decidiria focar no fato de Jessica estar fora da lista, ele era uma daquelas pessoas que sempre procurava o lado mais favorável dentro das situações.
É, um passo de cada vez.
Eu devo essa tentativa ao Ash, tenho que pelo menos começar a tentar recompensá-lo por tudo que tem feito por mim. Então, preparar uma boa refeição seria o meu primeiro passo...cuidar da casa sozinho no intervalo dos longos ensaios deve ter sido desgastante.
- Ainda bem, eu não aguentava mais comer comida de fora.- Lynx confessou aliviado e eu assenti em concordância- Aconteceu alguma coisa? Você...saiu do quarto.
- Muita coisa, na verdade.- ele avançou mais um passo em minha direção, como se quisesse me escutar melhor- Jessica foi liberada da investigação e o delegado disse que posso voltar a fotografar.
- Como?!- um sorriso vacilante se formou em seus lábios- Mano, você não tem noção do quanto eu senti sua falta no estúdio.
Será que ele está sendo sincero mesmo ou só ficou com pena?
- Espera, você nem ouviu a melhor parte ainda!- constrangido, tentei desviar o tópico de mim.
- Tem como melhorar?- Lynx duvidou, passando a mão para arrumar os fios loiros que invadiam seu rosto.
- Lembra do Max, o nosso segurança?- Ash murmurou um sim em confirmação- Jessica está grávida dele.
☼
Ash
Nenhuma sensação se comparava à essa, meus batimentos estavam tão inconstantes que achei que fosse ter uma parada cardíaca. Eu não sabia dizer o motivo exato, mas foi insuportável ter que manter distância quando ele sorriu para mim e tudo o que eu queria era abraçá-lo.
A camiseta azul-marinho praticamente o engolia e o tecido se recusava a se ajustar ao corpo magro, ele parecia tão frágil...porém, ao assistí-lo de frente pro fogão, tive certeza de que ele estava longe de ser definido por tal termo. Era a primeira vez em 20 dias que eu o via fora do futon e ele estava animado o suficiente para cozinhar.
O fato de Jessica ter sido a motivação para que ele tivesse uma melhora dizia muito. Eiji conseguia tirar forças da alegria de seus amigos e se empolgaria bem mais com a conquista alheia do que com as suas. Okumura e eu éramos como yin e yang nesse quesito. Para mim, depender disso era uma furada. Afinal, eu cresci entendendo que abusar da empatia teria me matado.
Dar tamanha importância a quem está ao seu redor era uma jogada perigosa, considerando que ninguém tem controle sobre o outro e seu humor poderia ser arruinado com o menor dos desentendimentos. Por outro lado, eu o admirava por não ter abandonado essa forma de ver o mundo...sentir mais do que os outros, sem dúvida, tem um custo severo.
Nós sentamos para comer e Okumura parecia aguardar pela minha aprovação, os olhos escuros curiosamente vagavam pelo trajeto em que meu garfo fazia até a minha boca. O ensopado estava tão bom que eu suspirei ao mastigar. Eu estava prestes a elogiá-lo quando meu celular vibrou com uma ligação.
- O que era?- Eiji indagou assim que eu desliguei, seu prato estava na metade.
- Eles queriam avisar que estamos na Times Square, Eiji.- sorri, incapaz de conter o meu entusiasmo.
- É mesmo! Hoje é o dia que a Armani marcou o lançamento da campanha, meu deus eu esqueci totalmente.- levou a mão a testa e abandonou a refeição- Vamos, vou só me trocar.
- Que?- soltei, realmente confuso com sua reação- Nós vamos?!
- Sim, então levanta a bunda e se arruma.- me apressou e eu dei risada, estava com saudade de escutar suas ordens- Vista algo que te esconda, não vai querer paparazzis te rondando.
- Pode deixar, eu lavo a louça e me disfarço. Obrigado pela janta, coach.- agradeci e ele revirou os olhos pelo apelido.
☾☼
- Tem certeza de que isso vai dar certo? O Blanca vai me matar, Ash.- Eiji murmurou preocupado e eu dei ombros.
Tínhamos despistado o careca que estava cochilando no corredor ao sair, o outro estava no banheiro e o terceiro distraído paquerando o porteiro.
Se a polícia chamava isso de reforçar a segurança, eu estava mais do que feliz em estragar a ilusão deles. Blanca que se vire para trazer uma equipe mais preparada a partir de agora, não é esse o trabalho dele?
O metrô estava tumultuado e era capaz da situação estar pior em nosso destino, onde chegaríamos em questão de 5 minutos.
- Eu já fui líder de gangue, Eiji.- respondi presunçoso e ele franziu os lábios, como se não tivesse como rebater- Derrubo aqueles três antes que consigam sequer olhar pra você.
- Tá bom, eu confio em você.- disse, relaxando a postura e eu corei ao desviar o olhar.
O que tá acontecendo comigo?
Deve ser a emoção de finalmente ver ele fora de casa por vontade própria.
Assim como eu calculei, estávamos na estação da Times Square cinco minutos depois e cara, os publicitários realmente acertaram em cheio ao escolher essa data para o lançamento. Diante da imensidão de painéis, as fotos tiradas por Okumura se destacavam e absolutamente todo mundo que passava, parava para checar a propaganda.
Eu sei que sou eu modelando, mas isso aqui tá absurdo...Eiji, os créditos são todos seus.
O barulho intenso do trânsito ecoava junto do amontoado de vozes, a lua nova era ofuscada pelos altos prédios da cidade e Okumura agarrou a ponta do meu moletom, reivindicando a minha atenção para ele ao encontrar a minha imagem no anúncio.
- Parabéns, Ash!- as olheiras ainda estavam presentes na clara pele que contrastavam com o preto denso de seu cabelo volumoso- Você é oficialmente uma estrela.
Como ele consegue ficar bonito nessas condições?
Fácil assim, a multidão pareceu desaparecer e a introdução de New York de Frank Sinatra invadiu os alto-falantes. Arrepios subiram pela minha espinha e seu semblante exibia uma felicidade sutil ao quebrar o contato visual antes estabelecido.
Fala algo! Agradece, pelo menos.
Minha resposta morreu em minha língua ao perceber que meu corpo se moveu sozinho e eu entrelaçava seus dedos nos meus. Era um toque tão caloroso...o refrão da música estourou e eu despertei do meu transe com Eiji me fitando de sobrancelhas erguidas, claramente desconcertado pela surpresa.
- Por medidas de segurança, tá bem cheio hoje.- expliquei tentando manter a compostura, era parcialmente verdade- Se você quiser ir embora, só soltar, tá?
- Tudo bem.- apertou fracamente o enlace formado por nossas mãos e eu sorri abobado ao ruborizar.
Deus, aquilo revirou o meu estômago por completo.
—
nota da autora:
- não esqueça de votar e comentar, isso ajuda bastante a promover a história -
- Feliz mês do orgulho LGBTQ+ amores! Quis escrever algo mais leve pra vocês hoje...tava na hora, né?
- Gostaram dessa espiada na vida da Jessica com o Max? E do Ash de mãos dadas com Eiji? No próximo capítulo vou tentar dar mais uma avançada na investigação.
Obrigada por lerem!
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