Capítulo 23- A Cidade Branca
"Um império de ferro não deve ser construído apenas com ferro"
Terras do Fogo- Deserto de Areia Cinza
As nuvens cinzentas pairavam pesadamente sobre as fronteiras do Deserto de Areia Cinza, misturando-se com a paisagem árida e desolada. À frente, estendendo-se como um mar de homens e estandartes, estavam os dois exércitos que Ugar Valcor IV havia reunido para consolidar sua autoridade sobre as Terras do Fogo. O exército da Casa Zothan, recém-alinhada a Ugar, ostentava estandartes com o símbolo de uma fênix contornando um escudo. As armaduras dos soldados Zothan refletiam o brilho dourado da fênix, e suas lanças e espadas estavam prontas para o combate, erguidas com determinação e lealdade recém-estabelecida.
Ao lado, o exército da Casa Jaldres, mais antigo e firme em seu apoio, exibia orgulhosamente estandartes com torres amarelas sobre fundo negro, símbolo de sua fortaleza e resistência. Os soldados Jaldres, com suas armaduras pesadas e mantos amarelos, eram como sombras que avançavam pelas areias cinzentas.
Ali, Ugar estavas prestes a confrontar a casa Frieren, na tentativa de os curvar perante a seu Império, a mesma estava cercada por alianças do tirano em questão de território.
À medida que ambos os exércitos terminavam de atravessar o arco de magma enrijecido que "furava" a montanha gigante de areia cinza, Ugar liderava a marcha cavalgando com olhos penetrantes, absorvendo o simbolismo daquele portal. O arco, com seus imponentes símbolos dos Valcor, era um lembrete do poder ancestral de sua linhagem.
O horizonte se abria diante do exército de Ugar, revelando uma paisagem de pura majestade e resistência. Mas, ao contrário do que o imperador imaginava, não havia a quietude da vitória que ele aguardava. As tropas Frieren já estavam posicionadas.
Atrás das fileiras da Casa Frieren erguia-se a Cidade Branca, uma joia de arquitetura que dominava as vastas planícies vermelhas. Seus muros altos, de pedra vermelha vibrante, eram interrompidos por imponentes torres brancas adornadas com detalhes delicados em dourado, que pareciam tocar o céu, torres essas que foram capazes de alertar a chegada dos exércitos de Ugar antes mesmo de atravessarem o arco.
Bandeiras brancas com o brasão da casa Frieren, uma fera cinza que cobria um escudo, tremulavam ao vento, lançando sombras ondulantes sobre as torres. Cada detalhe da cidade parecia um grito de desafio, um lembrete de que aquelas terras haviam resistido por gerações às maiores ameaças de Noakes.
À frente do exército, Alidiana Frieren montava seu cavalo negro, enfeitado com bardas vermelhas e brancas, os olhos do animal irradiavam a ferocidade do exército que ela liderava. Atrás dela, guerreiros trajavam armaduras vermelhas com detalhes brancos, seus elmos eram ornados com plumas carmesim. A luz do sol refletia nas lanças impecavelmente alinhadas e nos escudos decorados com o brasão da casa. Homens e mulheres de olhares resolutos a cercavam, entre eles seu principal comandante, Kaedin Loreth, um gigante de pele bronzeada e olhos como fogo, e Lyria Velm, uma arqueira de elite cujos disparos eram ditos serem guiados pelo próprio vento.
Quando os exércitos finalmente se alinharam, o silêncio que se seguiu era quase ensurdecedor, quebrado apenas pelo som das bandeiras tremulando e o galope de um cavalo solitário.
Ugar, envolto em uma armadura negra como a noite, deu um passo à frente após desmontar de seu próprio cavalo. A cada movimento seu, o peso de sua autoridade parecia esmagar o ar ao redor.
Dinoric Jaldres, seu fiel arauto, deu um passo à frente, proclamando com uma voz que ecoou pelas planícies:
— Vocês estão diante do Imperador Ugar Valcor IV, legítimo soberano das Terras do Fogo, herdeiro da Chama Negra e protetor do Império!
Alidiana Frieren era uma figura que evocava tanto imponência quanto beleza. Uma mulher adulta de pele negra como a noite sem estrelas, que contrastava com seus cabelos em tranças completamente tingidas de branco, uma escolha que simbolizava tanto sua casa quanto força. As longas tranças que adornavam sua cabeça eram amarradas em elaborados nós que ela mesma criava, decoradas com detalhes vermelhos vibrantes, feitos de fios de seda e contas de rubi. Cada laço em seu cabelo contava uma história de vitória e resiliência. Seus olhos negros eram intensos, profundos como um abismo, mas com um brilho de determinação feroz que intimidava até os mais destemidos.
Alidiana não se moveu de imediato. Sua postura esguia e firme era uma visão de pura determinação, como uma estátua esculpida em obsidiana viva. Vestia uma armadura leve, com placas finamente trabalhadas que refletiam o design arquitetônico da Cidade Branca, uma fusão de beleza e funcionalidade. O metal escuro contrastava com os detalhes em vermelho vivo, gravados com símbolos da casa Frieren, evocando tanto o calor da vida quanto o sangue derramado por seu povo. Após alguns segundos de silêncio intencional, ela cavalgou alguns passos à frente, desmontando com elegância. Sua voz soou como aço sendo afiado:
— Vocês estão diante da Condessa Alidiana Frieren, guardiã das Planícies Vermelhas, última líder e representante suprema da Casa Frieren, comandante das tropas costeiras do norte e protetora soberana dos Mares do Leste! Minhas terras, minha gente, e meu legado jamais serão palco de tirania! ― bradou, com sua voz cortando o ar, carregada de autoridade e desafio.
Ugar estreitou os olhos, caminhando mais próximo até que apenas alguns passos os separassem. Sua voz era um trovão contido, cada palavra pesando como um martelo.
— Condessa Alidiana, poupe-me das suas bravatas! Você sabe que seu exército não pode resistir ao meu. Sua cidade está cercada, sua força é menor, e seus recursos são escassos. Eu lhe ofereço uma chance de redenção. Ajoelhe-se diante de mim e declare sua lealdade. Assim, sua gente será poupada e sua casa continuará existindo.
Alidiana inclinou levemente a cabeça, com os olhos analisando Ugar como um predador observa sua presa. Sua resposta veio como um chicote.
— Que tipo de imperador abandona os filhos do norte enquanto se refestela em luxos no sul? Minha cidade passa fome. Meus campos não têm grãos porque você ignora o sofrimento dos seus próprios súditos. Agora você vem até mim com promessas vazias e arrogância, achando que eu trairia minha honra por uma migalha de clemência?
Os olhos de Ugar brilharam com uma chama perigosa. Ele deu um passo à frente, erguendo a voz com uma fúria controlada.
— Estamos em guerra, condessa! Sacrifícios precisam ser feitos para garantir a vitória de todos. O norte é forte, resiliente, e você deveria agradecer por ser parte de um império tão grandioso quanto o que eu comando. Sua fome é temporária. Mas sua teimosia pode custar sua cabeça.
Alidiana deu uma risada seca, que ecoou pelo campo como uma lâmina quebrando o silêncio.
— Temporária? Diga isso aos meus campos estéreis, às crianças desnutridas que enterramos semana após semana! Você fala de grandiosidade, mas é um tirano, nada mais. Eu preferiria morrer aqui, nas planícies que meus antepassados protegeram, do que viver sob o jugo de um homem que queimou sua própria linhagem para usurpar o trono!
As palavras atingiram Ugar como dardos, mas ele manteve sua postura.
— Você está brincando com fogo, condessa. E eu sou aquele que o controla. Suas terras queimarão, e você será lembrada apenas como mais uma tola que ousou desafiar o verdadeiro imperador.
Alidiana estreitou os olhos se aproximando com fúria, e então, num gesto de puro desprezo, cuspiu ao lado do pé de Ugar.
— Eu prefiro ter minha vida roubada do que me curvar a um homem tirano e usurpador. A Casa Frieren jamais se curvará a um filho da puta maldito como você, Ugar Valcor!
A tensão no ar era palpável. Cada soldado, de ambos os lados, segurava suas armas com mais força, aguardando o sinal para o inevitável confronto.
Ugar, incapaz de conter sua ira, ergueu a mão e gritou com toda a força de sua autoridade:
— ATAQUEM!
Do outro lado, Alidiana apenas ergueu a mão com elegância, acenando para seus soldados avançarem. Com um rugido uníssono, o exército da Casa Frieren marchou, com suas lanças e espadas reluzindo sob o sol.
O choque entre os exércitos foi um espetáculo de caos e coragem. Espadas cortaram o ar, escudos ressoaram como trovões, e o som dos gritos de guerra encheu o campo de batalha. No coração do confronto, Alidiana, empunhando uma espada vermelha com a lâmina flamejante, avançava com uma ferocidade que parecia inspirar seus homens, enquanto Ugar, de sua posição, assistia com um olhar que mesclava raiva e prazer cruel.
No centro daquela carnificina, Ugar avançou diretamente contra Alidiana. Seus olhos eram como duas brasas, queimando com a necessidade de destruir sua adversária. Alidiana, no entanto, não recuou. Com um grito de batalha, ela levantou as mãos, e uma espada feita de fogo puro materializou-se em suas mãos. O calor emanava da lâmina incandescente, mas Ugar não hesitou. Ele investiu contra ela com uma precisão letal, e a batalha entre os dois foi intensa, com o som da espada de fogo de Alidiana cortando o ar enquanto Ugar desviava e atacava com sua própria lâmina.
A batalha durou apenas segundos, mas cada movimento foi uma dança mortal. Finalmente, Ugar encontrou uma abertura e, com um golpe rápido e preciso, cravou sua espada na barriga de Alidiana. A lâmina penetrou fundo, e o brilho nos olhos de Alidiana começou a apagar-se. Ela caiu de joelhos, olhando para Ugar com um misto de dor e desprezo.
— Que Talindra Valcor te faça sangrar... — sussurrou Alidiana, suas últimas palavras cheias de ódio, antes de sucumbir aos ferimentos.
Com a morte de sua líder, as tropas Frieren vacilaram, e a maré da batalha virou definitivamente a favor de Ugar. O campo de batalha tornou-se uma cena de pura devastação enquanto os exércitos de Ugar esmagavam os Frieren, destruindo tudo em seu caminho. Ugar, com um olhar frio, limpou sua espada e deu as costas ao caos, acompanhado por Dinoric Jaldres e sua guarda pessoal. Ele não precisava ver o final; sabia que suas ordens seriam cumpridas sem falhas.
A Cidade Branca de Alidiana era um marco de beleza e arquitetura sem igual, com suas torres de mármore branco elevando-se aos céus como símbolos de glória e resistência. As ruas eram amplas, repletas de fontes cintilantes e praças decoradas com esculturas detalhadas, mas, naquele dia, a grandiosidade se transformava em ruínas. O ataque liderado por Ugar havia reduzido Alidiana a um inferno de fogo e destruição.
As catapultas do exército de Ugar, postadas nos campos ao redor, disparavam bolas de fogo gigantescas contra as muralhas e torres. Cada impacto reverberava pela cidade como o rugido de uma fera colossal, derrubando pedaços inteiros de edifícios. O céu, que antes era azul claro, estava coberto por uma nuvem de fumaça espessa que escondia o sol. O mármore branco, símbolo do orgulho de Alidiana, rachava e desmoronava, tingido de cinza e vermelho pelo fogo e sangue.
― Mãe, estou com medo! ― chorava uma garotinha, agarrada às saias da mulher que a puxava desesperadamente pelas ruas.
― Quietinha, minha flor, vai ficar tudo bem! ― respondeu a mãe, embora sua voz tremesse de desespero. Ela sabia que não havia escapatória.
Do alto de uma das colinas destruídas, o comandante de Ugar observava a cidade ser consumida.
― Ataquem as torres centrais! Quero tudo no chão antes do cair da noite! ― ordenou ele com um sorriso frio.
Os soldados concordaram, lançando outra sequência de bolas de fogo que cruzavam o céu como meteoros ardentes. Quando uma atingiu a maior das torres brancas, uma explosão poderosa sacudiu a cidade. O impacto lançou pedras e escombros por todos os lados, esmagando pessoas e casas.
― Corram! ― gritou um homem idoso, puxando seu neto por uma viela estreita. ― Temos que encontrar um abrigo!
― Não há mais abrigo, avô! Eles estão por toda parte! ― respondeu o garoto, com os olhos arregalados de terror.
Enquanto isso, na praça principal, o mercado estava em chamas. Comerciantes gritavam ao tentar salvar suas mercadorias, mas eram abatidos sem piedade pelos soldados. Um vendedor de frutas ergueu as mãos, tentando negociar com os invasores.
― Por favor, levem tudo! Só deixem minha família ir embora! ― implorou ele, apontando para sua esposa e filhos que se encolhiam atrás de uma carroça.
O soldado à sua frente riu, um som áspero e cruel, antes de perfurá-lo com a lança.
― Quem desobedece ao Imperador, morre. ― disse ele, empurrando o corpo para o lado como se fosse lixo.
Na escadaria do grande templo de Frieren, que adorava a entidade da Fênix Negra, uma multidão de civis tentava se proteger, eles rezavam desesperados em uníssono clamando por alguma ajuda divina, mas uma das catapultas disparou uma bola de fogo diretamente contra o edifício. O teto dourado desabou em uma cacofonia ensurdecedora, e os mosaicos que contavam histórias de antigas vitórias viraram pó colorido. Os gritos dos presos no interior ecoaram pelo que restava da cidade.
― A Fênix nos abandonou! ― gritou um sacerdote, caindo de joelhos na rua. Sua voz se perdeu em meio ao caos.
O confronto foi brutal. As tropas invasoras começaram a pilhar e destruir tudo o que restava. Casas eram incendiadas, pessoas arrastadas para as ruas e executadas sumariamente. Famílias inteiras eram separadas, e os gritos de desespero ecoavam em cada esquina.
― Mamãe, onde está o papai? ― perguntou um menino pequeno, agarrando a mão da mãe enquanto olhava para a rua em chamas.
― Ele... ele está nos esperando do outro lado, querido. Agora corra, por favor! ― respondeu a mulher, enquanto lágrimas escorriam pelo rosto.
O garoto olhou para trás uma última vez antes de serem encontrados por um grupo de soldados. A mãe tentou cobrir o filho com o próprio corpo, mas não havia clemência nos olhos de seus algozes.
Enquanto a destruição continuava, Ugar Valcor já estava a caminho de sua capital. Ao seu lado, seu conselheiro Dinoric Jaldres hesitava em falar, mas finalmente reuniu coragem.
― Meu senhor, talvez fosse sábio poupar os sobreviventes. Eles poderiam ser úteis para o Império, como trabalhadores ou soldados...
Ugar lançou um olhar gélido para ele, interrompendo-o.
― Não preciso de servos que desafiaram minha autoridade. O único destino digno para traidores é o fogo. ― disse ele, sem emoção.
Quando o exército deixou a Cidade Branca, não restava mais nada além de ruínas fumegantes. O mármore branco havia sido transformado em cinzas e destroços. Os campos ao redor estavam negros, queimados até as raízes. Os poucos sobreviventes que se arrastaram para fora dos escombros olharam em volta, desesperados, e só encontraram desolação.
Os corvos começaram a sobrevoar a cidade, atraídos pelo cheiro da morte. O nome de Ugar Valcor IV passou a ser sussurrado com ódio e temor. Ele não era apenas um imperador. Era uma força destrutiva, um aviso cruel do que aguardava qualquer um que ousasse desafiá-lo.
Após dias, o sol já estava se pondo quando Ugar retornou à capital, com a silhueta das torres do Palácio Imperial projetando longas sombras sobre os pátios internos. O ambiente do conselho era sombrio, com luzes bruxuleantes que mal iluminavam as expressões preocupadas dos conselheiros. Ugar, de olhos duros acompanhados da cicatriz deixada por Darian, entrou na sala de reuniões do palácio com passos firmes. Ele estava visivelmente exausto, mas a fúria que emanava de seu corpo vigoroso o mantinha ereto.
Leon Agosto, comandante da guarda imperial, estava postado próximo à grande mesa de pedra que dominava o centro da sala. Um homem adulto, de porte robusto e feições austeras, Leon tinha cabelos curtos e grisalhos que contrastavam com sua pele morena. Era um homem cuja linhagem sempre estivera ao serviço da proteção imperial, e sua postura ereta e o manto vermelho escuro que usava sobre a armadura denotavam o peso de sua responsabilidade.
Assim que Ugar se aproximou da mesa, Leon inclinou a cabeça em uma leve reverência antes de se pronunciar.
— Majestade, temo que as notícias que trago não são boas. — A voz de Leon era grave. — Os navios e centenas de soldados que partiram para o ataque à Ilha da Rocha Negra não retornaram. Nem uma alma, meu senhor... Todos foram detidos.
O rosto de Ugar se contorceu em uma expressão de pura fúria. Ele bateu com o punho fechado sobre a mesa, fazendo os mapas e pergaminhos tremerem.
— Como isso aconteceu, Leon? — rugiu ele, com os olhos faiscando de ódio.
— Pelos rumores que chegaram dos forasteiros nas costas, Talindra utilizou uma tropa de magos. Eles conseguiram imobilizar nossos navios, senhor. Não há sobreviventes do nosso lado.
Ugar passou a mão pelo rosto, tentando conter a raiva que fervia dentro dele, sentindo a cicatriz deixada por Darian, enquanto imaginava dezenas de formas de acabar com a vida do rapaz. Respirou fundo antes de perguntar, com a voz mais baixa, porém carregada de ameaça.
— Onde ela está agora?
— Não temos certeza, senhor, mas há informações de que ela foi vista em viagem, vagando pelo oeste, acompanhada por muitas pessoas e soldados — disse Leon, ajustando a postura após a pausa. — Soube disso por camponeses pescadores que retornavam do ponto de maior abundância da costa. Provavelmente está fugindo da Ilha após o ataque!
Dinoric Jaldres, a mão direita de Ugar, era uma presença imponente. Alto e magro, com uma estatura que fazia sua silhueta se destacar, ele possuía uma pele negra como a noite, que contrastava com o luxo de seus adornos. Sua cabeça careca reluzia à luz do ambiente, imersa em um silêncio calculado que tornava sua presença ainda mais ameaçadora. Ele usava um manto amarelo fosco, que fluía pesadamente até o chão. Em seu pescoço, brilhavam joias e colares pesados, com pedras preciosas que capturavam a luz de maneira hipnótica, como se refletissem a própria ambição que pulsava em seu peito. Sua barba, longa e negra como a escuridão, pendia ao longo de seu queixo de maneira impecável, com fios perfeitamente alinhados, como se estivesse em constante cuidado.
Com uma expressão pensativa, ele abriu um grande pergaminho de mapa das Terras do Fogo sobre a mesa central, alisando-o com cuidado. Seu dedo esguio traçou um caminho no mapa enquanto ele falava.
— Se fugiram para o oeste, as casas mais próximas são Nizay, na Floresta Serpente, e Tridat, nas Praias Rochosas. — Dinoric apontou para os locais no mapa, sua voz era fria e calculista. — Se estão buscando refúgio, essas são as opções mais prováveis.
Leon, que até então permanecia de pé ao lado da mesa, deu um passo à frente.
— Enquanto esteve fora recebi uma mensagem direta dos Tridat, Majestade. Eles demonstraram apoio absoluto a vossa autoridade! Acredito que não estão mentindo... o que nos leva a crer que Talindra e seus seguidores se refugiaram na Floresta Serpente, sob a proteção dos Nizay.
Ugar se moveu em torno da grande mesa de conselho, com suas botas ecoando de maneira ameaçadora no ambiente silencioso. O mapa estendido à sua frente parecia ser o centro de seus pensamentos. Ele não olhava para as linhas e territórios, mas para os próprios fantasmas da guerra que ele imaginava ali. Seus olhos estreitaram e, de repente, uma tensão palpável preencheu a sala.
— Se é assim, temos uma aliança muito próxima a eles em questão de território. Ordeno que um mensageiro seja enviado pelos mares, para chegar mais rápido. Devemos planejar uma invasão à Floresta Serpente o quanto antes, enquanto Talindra ainda está tentando consolidar alianças. Detê-la agora será crucial, e acabar com os Nizay antes que se fortaleçam acabará com essa rebelião antes que ela tenha chance de se expandir! Já tivemos bons resultados eliminando os Frieren! — Sua voz soou grave, fria, mas uma fúria ardente, como uma brasa, estava oculta em cada palavra.
Dinoric Jaldres, observando seu líder, inclinou-se para frente com a postura imaculada de quem sempre tinha uma resposta na ponta da língua. Seus olhos escuros, calculistas, fixaram-se no mapa, acompanhando os movimentos de Ugar.
— Certamente, senhor — respondeu ele com sua voz suave, mas imponente, sempre medindo as palavras com precisão. — A Floresta Serpente não será um obstáculo se abordarmos a questão com a mesma estratégia que usamos contra os Frieren. Mas, é fundamental que a invasão seja planejada meticulosamente. A floresta tem defesas naturais, além de ser um terreno difícil, ideal para emboscadas. Talindra e seus aliados Nizay sabem disso e farão de tudo para esconder suas forças até o último momento. Se não pudermos neutralizar suas forças antes de alcançá-la, a resistência será feroz. Um assalto frontal poderá resultar em uma derrota. Precisamos de algo mais... persuasivo.
Ugar parou, encarando Dinoric com uma expressão que misturava raiva e respeito.
— E o que você sugere, então? — Ugar perguntou com uma calma tensa, sua paciência visivelmente testada.
Dinoric não se apressou em responder. Ele deu um passo atrás e apontou para o mapa, destacando um ponto no território vizinho à Floresta Serpente.
— Uma divisão de forças, Majestade! Enviar uma parte do exército ao longo do litoral, para atacar pelas costas, enquanto a outra se dirige ao norte, pela floresta, por meio dos rios. Podemos fazer uma infiltração silenciosa, sem que eles percebam até ser tarde demais. E, claro, reforçar a frota no mar. Além da ajuda considerativa dos Tridat, cujas terras são as mais próximas da floresta. Se Talindra não tiver uma boa defesa naval, ela será pega em duas frentes, e a resistência será anulada.
— Nada escapa de minhas mãos, nem mesmo essa maldita rebelde. Preparem o exército! Querem ser heróis como os Frieren? Que assim seja! Que se provem, ou serão varridos da face de Noakes como poeira no vento.
O tom de Ugar estava carregado de desprezo, e seus olhos fuzilavam os conselheiros ao redor da mesa. Ele dava ordens como se as vidas alheias não passassem de peças num jogo de xadrez, movendo-se, e descartando-os conforme a necessidade.
Leon, que estava quieto até aquele momento, levantou-se de sua posição. Ele falava com um tom de voz mais moderado, tentando trazer uma dose de racionalidade à tensão crescente.
— Senhor, com todo o respeito — começou Leon, seu olhar firme voltado para Ugar —, precisamos também considerar as consequências a longo prazo. A capital ainda precisa de um reforço estrutural. As notícias que chegaram sobre a situação na cidade são perturbadoras. A população está agitada, a escassez de alimentos está se tornando crítica, e alguns dos senhores mais leais já começaram a questionar a liderança, não por fraqueza, mas pela exaustão. O custo dessa guerra pode ser maior do que imaginamos. Precisamos garantir que nossos próprios aliados não se voltem contra nós!
Ugar o olhou, com um desprezo latente, mas sem interrompê-lo. Leon continuou, mantendo seu tom calmo, mas assertivo.
— Além disso, a resistência de Talindra não será apenas militar. Ela é mais do que um comando estratégico. Seus seguidores acreditam nela como um símbolo, como uma nova chance. Derrubá-la não será como uma simples batalha, será um golpe direto no que ela representa. E isso não acontecerá sem custos. A essa altura, a morte dela não significa vitória. Eu sugiro que consideremos uma abordagem mais sutil, senhor. Use a influência para dividir seus aliados antes de atacar. A ameaça deve ser feita por meio do medo psicológico tanto quanto da força bruta. Isso evitaria uma guerra prolongada, em que não restaria mais nada após a vitória.
Ugar olhou para Leon por um instante, e seus olhos brilhavam com uma mistura de fúria e admiração pela audácia do homem.
— Eu sou o Imperador! Eles devem se ajoelhar diante de mim ou morrer. Eu não tenho tempo para jogar com palavras. Meu império está em ruínas e o único remédio para isso é a força! A fraqueza da sua proposta está em sua falta de ação! Todos que desafiam a minha autoridade devem pagar o preço, Leon.
Leon, percebendo a crescente tensão, tentou se recolher, mas antes que pudesse dar um passo para trás, Dinoric interveio, com uma calma que cortava como lâmina.
— Senhor, acredito que ambas as abordagens podem ser combinadas. A força deve ser aplicada, mas, como o senhor bem sabe, um império de ferro não deve ser construído apenas com ferro. Podemos atacar as lideranças, mas também enfraquecer seus aliados, antes de eles se tornarem um verdadeiro obstáculo. Isso garantirá que, ao chegarmos na floresta, a resistência já tenha sido significativamente reduzida, e a moral dos Nizay já estará quebrada. Podemos, então, tomar a floresta sem sofrer grandes perdas.
A sala ficou em silêncio. Ugar se moveu novamente, com sua frustração visível, mas seu olhar agora fixado nas sugestões de Dinoric. O homem sabia quando era hora de atacar diretamente, mas também sabia quando era mais vantajoso manipular as forças ao seu redor. Ugar, finalmente, deu um suspiro profundo.
— Certo — declarou Ugar, com um tom firme e gélido que silenciou o ambiente. — Enviem mensageiros imediatamente. Precisamos saber quais casas, além de Nizay e Deglarian, apoiam Talindra, e quais estão dispostas a ouvir suas alegações de rebelião e usurpação. Enquanto isso, preparem nossa força. A frota deve zarpar o quanto antes. Um ataque direto à Floresta Serpente é inevitável... Talindra e seus aliados pagarão caro por sua afronta!
Os conselheiros, obedientes, começaram a se dispersar, cada um ocupando-se com a execução dos planos. A sala, antes carregada de tensão, agora estava cheia do som das ordens sendo dadas. A Ruptura Valcoriana agora marchava, implacável, rumo a um horizonte envolto em trevas e desespero.
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