Capítulo 15- Alianças Forjadas nas Sombras

"Mesmo que o derrotemos, será que algum dia as coisas voltarão a ser como eram?"

Terras do Fogo- Ilha da Rocha Negra

A Ilha da Rocha Negra, agora um cemitério de destruição envolto em névoa, estava mergulhada em um silêncio fúnebre, quebrado apenas pelos lamentos dos feridos e os murmúrios dos poucos sobreviventes. As antigas torres do castelo, antes um farol de imponência, estavam reduzidas a meras sombras do que foram, escombros de pedra negra manchados de fuligem. As muralhas que uma vez defenderam a cidade, agora não eram mais que ruínas, enquanto a vida que outrora preenchia as ruas havia sido substituída por um mar de cinzas e destroços. A devastação, deixada pelo ataque implacável de Ugar, era uma cicatriz que atravessava a terra.

No interior de uma taverna, que havia sido transformada em um refúgio improvisado para os feridos, o ambiente era opressor. A madeira escura das paredes parecia absorver a dor e o sofrimento que agora permeavam o ar. O cheiro metálico de sangue misturava-se ao de suor e cinzas, criando uma atmosfera sufocante. Camas improvisadas preenchiam o chão de pedra irregular, e os gemidos de dor ecoavam pelo salão, como uma sinfonia de miséria.

Talindra Valcor, vestida em um pesado vestido de veludo vinho, de longas mangas adornadas com bordados de prata, caminhava lentamente pelo salão, com sua guarda pessoal a acompanhando de perto. A lã que revestia seu traje não conseguia proteger seu corpo da gélida sensação que vinha de dentro, fruto da culpa e responsabilidade que pesavam sobre seus ombros. A cada olhar para um rosto ferido, uma alma arruinada pela batalha, a dor em seu peito aumentava. Esses eram os sacrifícios feitos em seu nome, por sua causa.

O vento frio da noite atravessava as janelas quebradas, agitando seus longos cabelos negros. Por um breve momento, Talindra fechou os olhos, como se tentasse afastar a realidade cruel que a cercava. 

— Majestade... — um dos guardas aproximou-se, com a voz hesitante, mas Talindra ergueu a mão com firmeza, pedindo silêncio. Ela sabia o que precisava ser feito.

Com determinação renovada, subiu em uma mesa de madeira no centro da taverna, atraindo os olhares de todos os presentes. O burburinho que antes dominava o ambiente cessou instantaneamente. As pessoas, exaustas e cobertas de fuligem, olhavam para ela com uma mistura de esperança e desespero.

Talindra respirou fundo, sentindo o peso de cada palavra antes de proferi-la. Quando sua voz finalmente ecoou pelo salão, estava firme e clara, mas carregada de dor.

— Vida longa à Imperatriz Talindra Valcor! — gritaram alguns soldados, reconhecendo sua presença e levantando suas espadas enfraquecidas. Os gritos reverberaram pelas paredes escuras, preenchendo o salão com uma energia intensa.

Talindra ergueu a mão novamente, pedindo silêncio. O salão se acalmou.

— Hoje, estamos aqui, como sobreviventes de uma batalha amarga, mas não derrotados! — começou ela, com seus olhos faiscando de uma raiva contida. — Esta ilha, que nos acolheu, pagou um preço terrível por abrigar nossa causa. Olhem ao redor! — Talindra apontou para as janelas quebradas, que ofereciam uma visão parcial das ruínas ao redor. — Vejam o que Ugar Valcor nos trouxe, destruição, dor, sofrimento. Ele atacou nossos lares, nossas famílias, nossas vidas! Mas ele não conseguiu destruir o que mais importa... nosso espírito, nossa determinação!

Cada palavra que Talindra proferia era uma faísca que acendia o ânimo dos presentes. O silêncio tenso do salão transformou-se em uma atmosfera carregada de fervor.

— A vitória que conquistamos hoje é amarga, sim — continuou ela, com a voz falhando por um instante, mas logo recuperando sua força. — Custou-nos muitas vidas e lágrimas. Mas é uma vitória, pois resistimos ao ataque de um tirano! E mais do que isso, mostramos a Ugar que não nos curvaremos à sua tirania! Ele tentou esmagar-nos, e aqui estamos, de pé! Mais fortes do que nunca!

O salão explodiu em murmúrios de apoio, mas Talindra silenciou a multidão com um olhar afiado.

— Ugar Valcor, o homem que deveria ser meu pai, virou suas armas contra nós. Ele pagará por isso. — Seus olhos, antes cheios de dor, agora estavam escuros e determinados. — Pelo sangue dos Valcor, ele conhecerá o verdadeiro significado da palavra vingança!

O silêncio que seguiu suas palavras era carregado, quase palpável. Todos sabiam que aquela não era uma simples promessa; era uma jura que ecoaria nas paredes do império.

De repente, um soldado no fundo do salão se ergueu, sua espada levantada ao ar, e bradou com toda a força de seus pulmões:

— Vida longa à verdadeira Imperatriz Talindra Valcor!

Os gritos que se seguiram eram ensurdecedores, uma onda de lealdade que se espalhou por todos os presentes. O salão inteiro estava tomado pelo clamor da fúria e da promessa de vingança.

Do lado de fora, a noite era fria e silenciosa, exceto pelo som distante das ondas quebrando nas rochas que cercavam a ilha. Talindra, Darian, Tyrion Deglarian e o comandante da guarda se reuniram em um dos pontos mais afastados da ilha, suas expressões estavam endurecidas pela preocupação. A lua pálida lançava uma luz fraca sobre o grupo, e as árvores retorcidas e pedras irregulares ao redor formavam um cenário sombrio.

Tyrion, um anão de estatura baixa, mas com um coração maior que muitos, estava visivelmente abalado. Seus olhos, normalmente cheios de bravura, agora refletiam uma preocupação profunda.

— Majestade... — ele começou, com sua voz carregada de gravidade. — Não é seguro para a família imperial permanecer na Ilha da Rocha Negra. O ataque de Ugar mostrou nossa vulnerabilidade. Ele não vai descansar até nos destruir por completo.

Darian, o marido de Talindra, inclinou-se para frente, assentindo lentamente. Ele entendia o medo de Tyrion, mas sua mente estava focada em encontrar a solução.

— Concordo, Tyrion — disse Darian, com sua voz baixa, mas firme. — Precisamos sair daqui. Sugerimos viajar para a Floresta Serpente, nas terras da Casa Nizay. Eles têm suprimentos que necessitamos. Uma aliança com a Casa Nizay pode ser a chave para resistirmos ao avanço de Ugar. É a única extensão verde que resta em nosso império.

Talindra franziu a testa, sentindo o peso da responsabilidade. 

— Enviamos mensageiros... mas não ouvimos nada — murmurou, com sua preocupação evidente.

Darian, com seu olhar frio, balançou a cabeça negativamente, como se afastasse qualquer hesitação.

— Não temos tempo para esperar uma resposta, meu amor. Precisamos agir agora, antes que Ugar avance ainda mais. Devemos ir até eles com um ultimato, ou se juntem a nós, ou perecerão na guerra que está por vir. — a urgência em sua voz era palpável, e Talindra sentiu o peso das palavras de seu esposo.

Tyrion Deglarian, se apressou a tranquilizá-los.

— Eu conheço os representantes da Casa Nizay, e posso garantir que eles têm fidelidade aos Valcor. Eles reconhecem a usurpação de Ugar e, se houver um grão de justiça em seus corações, não negarão nossa aliança..

Talindra respirou fundo, tomando uma decisão final. Ela sabia que não podiam se dar ao luxo de hesitar.

— Faremos isso. Amanhã, partiremos com todos os que sobreviveram ao ataque, soldados, nobres, cidadãos, todos da Ilha da Rocha Negra buscarão refúgio em Nizay. Faça com que todos estejam cientes disso, Tyrion! — seus olhos faiscavam. 

No dia seguinte, a brisa suave da tarde não trazia a leveza que costumava caracterizar a Ilha da Rocha Negra. Ao invés disso, o ambiente estava impregnado de um silêncio pesado, um luto profundo que pairava sobre as ruínas da ilha. O ataque massivo de Ugar deixara marcas indeléveis; os vestígios da destruição eram visíveis em cada canto. As construções antes majestosas estavam agora em ruínas, e os corpos de centenas de seus habitantes repousavam sob os escombros, deixando um vazio doloroso no coração de Talindra.

O céu, tingido de cinza, refletia a desolação da ilha, e o cheiro de fumaça e morte ainda pairava no ar, como um lembrete constante do massacre.

Talindra sentiu o coração apertar ao acordar e se dirigir à movimentação da população. Os dois filhos gêmeos de Talindra e Darian, Zalara Valcor II e Havar Valcor IV, estavam seguros, mas a responsabilidade de restaurar a glória dos Valcor pesava como uma rocha em seu peito.

Enquanto o grupo se preparava para partir, o luto ainda permeava a ilha. Cada soldado da casa Deglarian, que havia chegado para oferecer apoio, se mobilizava entre os destroços, ajudando os sobreviventes a recuperar o que restava. As cores Deglarian — prata, dourado e vermelho — eram um contraste gritante com a desolação ao redor. A fênix dourada, símbolo de resiliência e renascimento, estava presente em seus estandartes, lembrando a todos que mesmo na tragédia, havia espaço para renascer.

— Está tudo bem? — perguntou Darian, com a voz baixa e envolta em preocupação, enquanto se aproximava de Talindra novamente. — Você parece... distante.

Talindra desviou o olhar para o horizonte, onde as ondas se quebravam nas rochas, mas a beleza do mar não conseguia aliviar a carga que carregava. O sol estava radiante, lançando um brilho dourado, mas mesmo essa luz parecia triste, como se lamentasse pelas almas perdidas.

— Estou pensando no que está por vir — disse ela, com um tremor na voz. — A aliança com a casa Nizay é nossa última chance. Se falharmos...

Ela não completou a frase, mas Darian compreendeu. O peso do império e das vidas perdidas estava sobre seus ombros.

— Não falharemos — disse Darian com firmeza, segurando sua mão. — Você é mais forte do que pensa, Talindra. Juntos, podemos derrubar Ugar e recuperar o que é nosso por direito.

— Não é apenas sobre Ugar — murmurou Talindra. — É sobre tudo o que ele destruiu. A confiança, a lealdade... ele envenenou nossas terras, dividiu nosso povo. Mesmo que o derrotemos, será que algum dia as coisas voltarão a ser como eram?

Darian respirou fundo, com o semblante severo.

— As coisas nunca voltam a ser como eram. Mas podemos construir algo novo. Algo melhor. — Sua determinação era contagiante, e uma pequena chama de esperança começou a brilhar dentro dela.

Após um momento, Talindra tomou uma decisão. 

— Precisamos nos preparar. Vamos reunir os homens e partir para a Floresta Serpente. Precisamos buscar apoio e formar uma aliança. É hora de restaurar o que nos foi tirado.

O semblante de Darian iluminou-se, e a chama da determinação reacendeu-se em seus olhos. 

O dia foi se passando e a Ilha da Rocha Negra que outrora ressoava com risadas e celebrações, agora era silenciada pelo luto. O céu, carregado de nuvens cinzentas, parecia refletir a tristeza que permeava cada esquina da ilha. As ruínas das casas, com suas paredes desmoronadas e telhados desfeitos, contavam histórias de vidas interrompidas. 

Na praça central, um memorial improvisado foi erguido. Sobre uma pilha de pedras, velas acesas tremulavam contra o vento, diante a suas chamas dançantes parecendo chorar em homenagem aos mortos. Talindra, em um ato de respeito, ajoelhou-se diante do memorial, com seu vestido dourado refletindo a luz trêmula das velas. O aroma de cera derretida e incenso preenchia o ar, enquanto ela murmurava uma oração silenciosa por aqueles que partiram.

Darian se aproximou, colocando uma mão solidária em seu ombro. 

— Eles não serão esquecidos — disse ele, com sua voz baixa e cheia de gravidade. — A luta por eles não será em vão.

Talindra assentiu, os olhos marejados. 

— A responsabilidade por seus sonhos e esperanças agora recai sobre nós. — respondeu ela, sua voz quase um sussurro. 

Enquanto as primeiras estrelas começavam a brilhar no céu noturno, o som do mar batendo contra as rochas parecia um lamento coletivo. O vento leve trazia consigo sussurros de histórias passadas, e a noite se tornava um espaço sagrado de lembrança e reverência. As pessoas da ilha se reuniam, formando um círculo ao redor do memorial, unindo-se em um canto de lamento e solidariedade. Cada um deles, ainda vestido com trajes simples manchados de cinzas, compartilhava suas memórias, recordando dos que haviam perdido.

Após o momento de luto, a necessidade de ação se tornou urgente. O som de passos apressados ecoava pela ilha enquanto os membros da Casa Deglarian, começavam a se mobilizar para a partida. Darian se virou para o grupo, com a emergência estampada em seu rosto.

— Temos que nos preparar! — declarou ele, chamando todos ao seu redor. — Precisamos distribuir os sobreviventes entre os navios e garantir que todos tenham o que precisam para a jornada.

Os marinheiros da Casa Deglarian, com suas armaduras prateadas e bandeiras douradas tremulando ao vento, começaram a organizar os navios ancorados na costa. O aroma do mar misturava-se ao do medo e da esperança, enquanto as embarcações eram preparadas para a travessia.

Darian supervisionou a distribuição dos suprimentos, assegurando que as crianças, os idosos e os feridos fossem os primeiros a embarcar. Talindra, por sua vez, ajudava a confortar os habitantes da ilha, assegurando que todos tivessem um lugar seguro a bordo. Ela podia ouvir o choro suave de Zalara e Havar, seus gêmeos, que estavam em um pequeno cesto ao seu lado, enquanto seus rostos inocentes refletiam a luz das estrelas.

— Vamos, queridos, precisamos ser fortes — disse ela, acariciando os rostos de seus filhos. 

As pessoas, unidas pela dor e pela determinação, trabalhavam lado a lado para coletar o que restava de suas posses. Alguns seguravam cobertores e sacos com alimentos, enquanto outros transportavam o que sobrou de suas pertenças em cestos e mochilas improvisadas. A cada passo, Talindra e Darian reforçavam o senso de comunidade entre os sobreviventes, incentivando-os a apoiar uns aos outros.

Os barcos, com seus cascos escuros e velas brancas, estavam prontos para levar os habitantes da Ilha da Rocha Negra para um novo destino. Os marinheiros, com seus músculos trabalhados e expressões sérias, ajudavam a embarcar os passageiros com cuidado, garantindo que ninguém ficasse para trás.

Quando finalmente chegou a hora de partir, Talindra fez uma última parada no memorial. Com lágrimas nos olhos, ela acendeu uma vela em homenagem a cada um dos mortos, permitindo que suas esperanças e sonhos partissem com a luz. O vento soprou suavemente, como se as almas dos que haviam partido estivessem se despedindo e, ao mesmo tempo, encorajando aqueles que ficavam.

— Este não é o fim — prometeu Talindra em voz alta, como se estivesse falando para os mortos. — É apenas o começo. Lutaremos por vocês, e não deixaremos que seus sacrifícios sejam em vão.

Darian ficou ao seu lado, segurando a mão dela, com seus olhos firmes.

Com isso, eles se voltaram e, de mãos dadas, caminharam em direção ao navio. Os sobreviventes se aglomeravam em grupos, trocando olhares de solidariedade e determinação, prontos para enfrentar o que o futuro lhes reservava.

Os marinheiros ergueram as âncoras e ajustaram as velas, e enquanto o navio começava a se afastar da costa, o som da água batendo contra o casco misturava-se aos gritos de esperança que ecoavam da ilha. Talindra olhou para trás uma última vez, vendo a Ilha da Rocha Negra se distanciar lentamente, uma lembrança de dor e perda, mas também de força e resiliência.

A brisa do mar trouxe um novo aroma, um cheiro de terra e esperança se espalhou, junto ao navio que navegava rumo a Floresta Serpente.

Terras do Fogo- Deserto de Areias Cinzas

Enquanto isso, a notícia da guerra se espalhava como um incêndio voraz pelas Terras do Fogo. Fofocas sobre a chamada "Ruptura Valcoriana" dançavam nos lábios de todos, e o temor pelo que o futuro poderia reservar pairava no ar, como uma nuvem de tempestade prestes a estourar. As tavernas e mercados fervilhavam de murmúrios, com pessoas discutindo em voz baixa e olhares preocupados, criando um clima tenso nas comunidades. A imagem de Ugar, o tirano, avançando em busca de poder, era o pesadelo que ninguém conseguia ignorar.

Lá longe, o deserto de cinzas se estendia até onde a vista alcançava, um mar de dunas escuras que se contorcia sob o calor do sol. O céu era um vasto manto azul, limpo e sem nuvens, mas a beleza do cenário apenas ressaltava a desolação que reinava abaixo. A comitiva de Ugar, como um bando de corvos famintos, avançava pelas fronteiras das terras Jaldres, com o vento quente levantando redemoinhos de areia que dançavam ao redor dos cavalos robustos e das carruagens ornamentadas. As bandeiras de Ugar, negras como a noite, tremulavam com um orgulho sombrio, ostentando a fênix negra em um escudo que simbolizava seu domínio tirânico.

A medida que se aproximavam, o imponente Castelo Branco da Casa Zothan começava a se erguer no horizonte, suas torres de pedras alvas brilhavam sob o sol abrasador como faróis de esperança em um mar de cinzas. Os telhados de magma solidificado formavam um contraste surpreendente com a suavidade das paredes, criando uma imagem poderosa e intimidante. Ao redor do castelo, a cidade do deserto se aninhava como uma oásis de atividade frenética, suas casas de pedra eram desgastadas e suas ruas sinuosas eram protegidas por muralhas robustas.

Soldados da Casa Zothan, armados com espadas e escudos, patrulhavam os limites da cidade. A atmosfera era carregada de tensão, uma mistura de lealdade e receio. Quando Ugar e seus homens finalmente cruzaram os portões da cidade, a recepção formal que os aguardava era imponente. A Casa Zothan, liderada pela nobre Zianatis Zothan, estava posicionada ao redor do castelo, cercada por seus soldados em armaduras negras com bordas prateadas.

Os estandartes Zothan, com seus escudos negros adornados por chamas centrais e criaturas flamejantes serpenteando em volta, balançavam suavemente ao vento, como se proclamassem a determinação da casa em enfrentar qualquer adversidade. O ar estava impregnado de especiarias exóticas e o som de vozes sussurrantes, criando um cenário de expectativa.

Ugar foi conduzido até a biblioteca do castelo, onde as paredes eram revestidas por estantes imensas, abarrotadas de tomos antigos. Tapeçarias luxuosas, bordadas com os símbolos da Casa Zothan, pendiam do teto, seus padrões eram intrincados contando histórias de conquistas e glórias. A sala era iluminada por candelabros dourados, cujas velas emitiam uma luz suave e quente, criando um contraste acolhedor com a dureza do deserto ao redor.

O olhar altivo de Ugar percorreu o ambiente com desdém antes de se fixar em Zianatis Zothan, que se destacava no centro da sala, rodeada por seus criados e conselheiros. A nobre era uma mulher de idade avançada, mas ainda esbelta e imponente, pele clara e olhos verdes profundos, com longos cabelos loiros presos em um coque impecável, sua presença emanava autoridade.

— Maldição, minha própria filha, Talindra, ousou desafiar minha autoridade e causar essa maldita divisão no Império! — Ugar exclamou, com sua voz carregada de uma mistura de raiva e desprezo. Cada palavra que ele proferia parecia reverberar, fazendo com que os conselheiros e criados trocassem olhares nervosos. — Essa revolta é uma afronta à ordem natural das coisas.

Zianatis, com sua postura ereta e olhar penetrante, respondeu com uma voz elegante e fria que ressoava na sala como um eco distante. 

— É uma honra para a Casa Zothan receber o Imperador em nossas terras, Vossa Majestade. Estamos cientes da revolta de Talindra Valcor e da divisão que tem assolado o Império. Deixe-me assegurar-lhe que a Casa Zothan permanece firme em seu apoio ao verdadeiro governante das Terras do Fogo. Continuaremos a fornecer nossas especiarias e recursos à capital e a todas as terras que se alinharem com sua causa. Além disso, nossas forças de espadas e arqueiros estão à disposição de Vossa Majestade. Somos mestres na arte do combate à distância e garantimos que nossos arqueiros servirão bem à causa imperial.

— Assim deve ser, Zianatis — Ugar respondeu, com seu tom exigente, enquanto acenava para um de seus servos que se aproximou. — Providencie a proteção da Casa Zothan nesta guerra contra minha imbecil filha rebelde. Não podemos deixar que essa abominação se espalhe!

Os olhos de Zianatis brilharam com um misto de respeito e cautela. 

Ugar recuou um passo, com seus olhos penetrantes ainda fixos em Zianatis, enquanto ela elaborava suas ideias. 

— Precisamos agir rapidamente, Zianatis. O tempo é nosso inimigo. A Casa Frieren, ao leste, está encurralada. A única saída que lhes resta é se render ao novo Império. Não podemos permitir que hesitem; precisamos mostrar a eles o que acontece com aqueles que desafiam nossa autoridade.

Zianatis assentiu lentamente, uma expressão de consideração cruzando seu rosto. 

— Concordo, Vossa Majestade. Mas devemos ser cautelosos. A Casa Frieren pode não se render facilmente, mesmo diante de nossa força. Eles têm orgulho e podem resistir, especialmente se acreditarem que têm aliados nas sombras.

Ugar sorriu, um sorriso que não refletia calor, mas sim uma frieza calculada. 

— Então faremos com que não tenham escolha. Precisamos usar o território da Casa Frieren em nosso favor. Podemos pressioná-los com nossos exércitos, fazendo com que percebam que a rendição é a única opção viável. Ameaçá-los com a destruição de suas terras pode ser o impulso que precisam. 

— Se enviarmos tropas para cercar a Casa Frieren, podemos cortar suas linhas de suprimento e desestabilizá-los. Isso forçará uma decisão rápida de sua parte. 

— Exatamente! — Ugar exclamou. 

— Proponha um acordo formal e prometido. Ofereceremos proteção e apoio. — Zianatis cruzou os braços, um gesto que transparecia tanto força quanto astúcia.

 — Deixe-me deixar claro, não podemos permitir que a Casa Frieren se recuse a se alinhar conosco. Se eles escolherem perecer ao invés de se submeter, faremos questão de tornar isso uma lição para todos. — Ele virou-se para Zianatis, com sua expressão grave. — Eu não hesitarei em usar força letal se isso for necessário.

Zianatis não se afastou. Em vez disso, sua voz ficou mais firme. 

— Compreendo, mas devemos também considerar as repercussões de tal ato. Precisamos que os outros vejam que somos justos e que a rendição é um caminho seguro, não um caminho para a destruição. Se transformarmos a Casa Frieren em cinzas, estaremos criando mais inimigos do que aliados!

Ugar refletiu por um momento, sentindo os músculos da mandíbula se contraírem. 

— Concordo que devemos ter um equilíbrio, mas o medo é um poderoso motivador. Se eles virem que a Casa Frieren é destruída e que aqueles que se opõem a nós não têm esperança, os outros se submeterão rapidamente.

Zianatis arqueou uma sobrancelha, analisando a determinação em seu olhar. 

— Então, decidamos, cercaremos Frieren, daremos a eles uma escolha!

— Isso! — Ugar exclamou. — A partir de hoje, não permitiremos que a desordem e a traição prosperem sob nossa vigília!

Os dois se entreolharam, um entendimento profundo passando entre eles, a aliança forjada não apenas por laços de sangue, mas também pela sede de moldar o futuro do Império. 

E assim, em meio a alianças forjadas nas sombras, o destino das Terras do Fogo começava a ser escrito.


Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top