Capítulo 14- As Terras do Sangue

"Vocês farão isso... ou o deserto ditará vossos destinos"

Fronteiras- Floresta de Valak

O grupo havia caminhado por dias pelas vastas terras devastadas da Floresta de Valak. Jaeris, ainda prisioneiro, era arrastado por Daelius, que mantinha a corrente apertada ao redor dos pulsos do homem. O vento árido balançava levemente as folhas secas das árvores mortas, enquanto a tensão entre os quatro crescia a cada passo.

— Quando chegarmos às Terras da Gravidade, eu terei que me revelar. — Elara fitava o horizonte, com a voz carregada de seriedade. — Mas as primeiras cidades... eles não me reconhecerão.

Ela suspirou, olhando para o chão com uma leve preocupação. Era claro que a responsabilidade a pesava.

— Então o que faremos? Se ninguém reconhecer sua autoridade, será um problema. — Daelius olhou para ela, franzindo a testa avermelhada.

Elara continuou, agora com o olhar perdido nas sombras das montanhas à distância.

— Não nas fronteiras. Estamos perto dos montes onde passei a vida treinando para o combate. Lá, meus treinadores e companheiros, além da população, saberão quem eu sou. Precisamos cruzar a fronteira e seguir para o leste. Mais uma semana de caminhada.

Kalista, cansada e com os olhos pesados, interrompeu.

— E vamos continuar sem comida e água por todo esse tempo? Já estamos acabando o que temos...

— Não se preocupe. Passaremos por florestas não vigiadas por soldados. Lá, poderemos encontrar frutas e, além disso, há riachos para água. — Elara respondeu com firmeza, tentando tranquilizá-los.

O grupo continuou andando, quando de repente, uma melodia suave e misteriosa começou a ecoar ao longe. Um cântico feito por vozes estranhas reverberava pela paisagem desolada. Era uma língua desconhecida, mas envolvente, como se puxasse suas mentes para algum lugar além da razão.

"Vesahl nurem, qal'ashra venira, sahlmor ethrenaa." 

(Venham ao chamado, almas perdidas, rendam-se ao eco eterno)

Elara parou de falar, estreitando os olhos em alerta.

As vozes continuavam, multiplicando-se e intensificando-se, enchendo o ar com uma harmonia etérea e perturbadora.

"Vethin sahlar, umreshna kova'ir, elsa merathen."

(Ouçam as notas, o vazio chama, cedam à melodia sem fim)

— O que é isso? — Daelius segurou a espada com força, aumentando seus sentidos em alerta máximo.

A melodia ficou mais alta, mais penetrante, até que de repente, Kalista começou a caminhar. Seus passos eram lentos, mas decididos, como se uma força invisível a empurrasse. Ela seguia em uma linha reta, sem hesitação.

"Kal'sheth noru, velorin isha, somren kelorith."

(O som penetra, o espírito se dissolve, e o esquecimento te acolhe)

— KALISTA! — Daelius gritou, tentando alcançá-la, mas ela não respondeu.

O grupo a observava com horror, diante a seus movimentos robóticos e sem emoção.

— O que está acontecendo? — Elara perguntou, sua voz começou a trair o medo que sentia.

"Soliveth narin, vestahra qarin, eshara velkrah."

(Despertem ao eco, o silêncio os aguarda, no abraço do nada)

No momento seguinte, Jaeris começou a se mover da mesma maneira. Daelius tentou puxar a corrente com força, tentando segurá-lo, mas foi inútil. Com um puxão violento, Jaeris arrastou a corrente junto com Daelius, que perdeu o equilíbrio.

— PARE! — Daelius gritou, tentando desesperadamente impedir que ele continuasse.

A melodia, agora quase ensurdecedora, se intensificava na cabeça de Daelius e Elara, provocando uma sensação de angústia. Elara tentou manter o foco, mas sentiu o mesmo peso invadindo sua mente.

Os olhos de Daelius começaram a brilhar em um tom roxo estranho, como se ele estivesse sob o efeito de um feitiço. Elara, vendo isso, percebeu que estavam diante de uma magia poderosa.

— Não... — Elara sussurrou, mas antes que pudesse reagir, as vozes cantarolando se tornaram ensurdecedoras, e seu corpo também começou a ceder.

Sem controle, ela começou a caminhar na mesma direção, seguindo o resto do grupo. Todos se moviam em sincronia, hipnotizados por uma força invisível, seus destinos agora nas mãos de uma entidade desconhecida.

Elara acordou em completo silêncio, sentindo o peso esmagador do desconhecido. Sua visão estava bloqueada por uma faixa apertada nos olhos, e ao tentar mover seus braços ou pernas, percebeu que estava amarrada, totalmente incapacitada de se mexer. A textura das cordas era áspera contra sua pele, e ela conseguia sentir o balanço suave sob si. Eles estavam em movimento, talvez em uma carroça, ou algo similar.

Ela tentou se concentrar, buscando algum sentido em seu redor. Sabia que seus companheiros também estavam ali, mas seus sentidos estavam confusos. Sua mente ainda estava embotada pelos efeitos da hipnose, e invocar a magia da gravidade parecia impossível. As amarras ao redor de seus pulsos e tornozelos bloqueavam qualquer esforço de controle. Ela estava presa, impotente, e o pânico começava a tomar forma.

Após o que pareceram horas de luta interna, a movimentação cessou, e Elara ouviu o som de passos firmes. Alguém se aproximava. As cordas ao redor de seus pulsos e pernas foram afrouxadas, mas ainda não lhe davam total liberdade. Em seguida, a faixa foi removida bruscamente de seus olhos.

Elara piscou repetidamente enquanto sua visão se ajustava à luz. Quando finalmente focou, o que viu a deixou arrepiada. Eles estavam em um vasto salão, assustadoramente amplo, com tetos tão altos que se perdiam na penumbra. As paredes eram feitas de pedras maciças, escuras, com colunas robustas e angulares que pareciam segurar o peso do mundo sobre elas. O ambiente inteiro era opressor, sem ornamentos ou delicadezas, com linhas rígidas que criavam uma atmosfera de dominação. O chão de pedras irregulares refletia uma frieza que correspondia ao local, enquanto o ar tinha um cheiro pesado e metálico.

No centro do salão, uma parte mais elevada se erguia como um altar, sustentando um trono esculpido em pedra negra, angular e imponente. De lá, descia uma figura feminina. Era uma jovem mulher, aparentando ter cerca de 25 anos, com pele clara, vestida de branco. Seus longos cabelos ruivos contrastavam com o véu que descia até os ombros, conferindo-lhe uma presença quase etérea.

Elara observou enquanto a mulher descia graciosamente os degraus em direção ao grupo. Atrás dela, uma dúzia de figuras se destacava. Eles usavam roupas roxas rasgadas, com seus corpos cobertos por símbolos pintados na pele, como runas antigas. Cada um segurava um bastão, com uma esfera de cristal roxa na ponta. A mulher se virou para uma dessas figuras, que havia retirado a faixa dos olhos de Elara, e agradeceu com uma voz suave, mas poderosa.

— Amplitudes — disse ela, com um tom de reverência e autoridade.

Os corações de Elara e seus companheiros afundaram. Os "Amplitudes" eram conhecidos em toda Noakes. Um grupo nômade misterioso, sem terras próprias, pertencente à ascendência do som. Eles eram assassinos, caçadores, e sua especialidade era a captura de alvos para quem pagasse o preço certo. Seu poder de hipnotização através da magia sonora era temido, e agora Elara entendia o que havia acontecido. Eles tinham sido capturados pela melodia que enfeitiçara suas mentes.

— Vocês trabalharam bem — disse a mulher, virando-se para os Amplitudes. — O preço será justo, dois grupos de cinco escravos, caixas de frutas secas, e o casamento de um de vocês com um membro da alta classe das Terras do Sangue.

Ao ouvir isso, Elara sentiu uma onda de choque percorrer o grupo. Eles estavam nas Terras do Sangue, um lugar conhecido por sua brutalidade e pela sede de poder de suas elites. A viagem fora longa, muito além do que eles poderiam ter imaginado.

Daelius, incapaz de conter sua raiva, gritou, com sua voz reverberando pelo salão.

— Filhos da puta! O que vocês querem com a gente?

Um dos Amplitudes, sem esboçar qualquer emoção, virou-se calmamente, agachando-se diante de Daelius. Seu olhar era frio e cruel.

— Sabe quantas pessoas nos ofereceram para capturar vocês, maraak? — disse o homem, em um tom baixo, mas carregado de desprezo.

Os Amplitude usam o termo "Maraak" para zombar das pessoas. É uma gíria curta, que significa algo como "vazio" ou "tolo", carrega uma conotação de desprezo, algo como "mente fraca" ou "alvo fácil".

Kalista, aflita e com o coração acelerado, deu um empurrão à frente, tentando quebrar a tensão crescente. Sua voz suave, quase infantil, carregava um misto de desespero e esperança enquanto ela erguia as mãos presas de forma pacífica.

— Por favor... — sussurrou, com um tremor perceptível em sua voz. — Podemos conversar... não precisamos recorrer à violência. Não queremos que ninguém se machuque.

Seus olhos grandes e reluzentes imploravam por alguma compreensão, um mínimo de empatia, mas a multidão ao redor dela mal se moveu. Não houve sequer um lampejo de reação em seus rostos. Os homens e mulheres que os cercavam estavam mais interessados no poder do que em palavras de apaziguamento. Um silêncio gelado seguiu suas palavras, como se suas súplicas tivessem sido engolidas pela vastidão de uma noite sem lua.

O Amplitude, o homem massivo que parecia liderar aquele grupo, virou-se com lentidão, com os olhos duros como granito fixos na mulher de branco. Um sorriso sombrio se formou em seus lábios enquanto ele cruzava os braços e falava, com sua voz grave e fria.

— O preço aumentou. E muito.

A mulher de branco, que até então mantinha uma postura imponente e distante, franziu a testa, suas sobrancelhas ruivas arquearam com confusão. Ela virou lentamente a cabeça em direção ao Amplitude, diante a seus olhos estreitados em suspeita.

— Aumentou? — Ela inclinou o rosto para o lado, com a dúvida transparecendo em cada traço de sua expressão. — Por quê?

O Amplitude não respondeu imediatamente. Ele deu passos lentos e silenciosos. Cada passo parecia uma sentença de morte à medida que se aproximava de Jaeris. Sem aviso, ele agarrou Jaeris pelos cabelos, puxando com brutalidade, e o expôs como um troféu. O grito abafado de dor de Jaeris se misturou com o estalo seco do couro de suas botas raspando contra o chão, com seus dentes cerrados pela dor e os músculos do pescoço tensos sob o aperto violento.

— Esse aqui — disse o Amplitude, com um sorriso maligno esticando seus lábios — é um maldito Valcor. Olhe os cabelos deste maraak!

Ele ergueu o punho cheio de cabelos negros de Jaeris, revelando a tonalidade peculiar, característica da nobreza Valcor. A mulher de branco, que até então mantinha uma postura calculada e fria, abriu os olhos, claramente intrigada. Ela deu alguns passos hesitantes em direção a Jaeris, examinando-o de perto, como se estivesse tentando encaixar peças de um quebra-cabeça.

— Valcor? — murmurou ela, inclinando a cabeça e franzindo o cenho. — Do Império Valcor? — Ela deu uma risada breve, desacreditada, enquanto seus olhos brilhavam de curiosidade. — Mas o que ele faria com criminosos procurados por toda Noakes?

Jaeris, ainda sentindo a dor latejante da brutalidade com que seus cabelos haviam sido puxados, sorriu com um tom sarcástico, surgindo um brilho desafiador em seus olhos enquanto falava entre dentes.

— O mesmo que você... tentando matá-los!

O silêncio que se seguiu parecia denso, carregado de tensão. A mulher o encarou por alguns instantes, com seus olhos verdes fixos nos de Jaeris, analisando cada traço de sua expressão. Por um momento, o ambiente pareceu congelar, até que o Amplitude finalmente soltou Jaeris, que cambaleou para frente, massageando a parte dolorida da cabeça.

— O preço aumentou — repetiu o Amplitude, com sua voz agora mais severa, quase como um aviso. — Não estamos falando mais só de fugitivos, estamos falando de um membro de uma das famílias mais importantes de Noakes!

A mulher hesitou por um momento, com suas mãos longas e pálidas envolvendo o próprio queixo enquanto ponderava. A expressão de choque ainda não havia sumido de seu rosto, mas ela, por fim, assentiu com um pequeno movimento de cabeça.

— Fiquem na cidade por uns dias. — Sua voz era cautelosa agora, como se estivesse medindo suas palavras. — Eu... verei o que posso fazer para compensar o esforço de vocês!

O Amplitude cruzou os braços, como se tivesse ganhado a negociação, e fez um sinal para seu grupo. Um a um, os Amplitudes começaram a se mover. O mais estranho e inquietante de tudo era o silêncio absoluto. Nenhum som acompanhava seus passos, como se fossem espectros atravessando a sala, sombras vivas que não deixavam rastros.

Quando finalmente saíram, a mulher de branco suspirou, como se uma carga invisível tivesse sido removida de seus ombros. Ela deu alguns passos para longe do grupo antes de se virar, seus olhos brilhavam sob a luz suave que entrava pelas janelas da fortaleza.

— Meu nome é Coral Vakrana — disse ela. — A única sobrevivente da Revolução Vermelha... até agora.

Os olhos de Elara se estreitaram, com uma leve desconfiança surgindo em sua expressão. A menção da Revolução Vermelha ecoava como um fantasma nos contos de Noakes, mas agora parecia mais real e próxima.

— Revolução Vermelha? — Elara questionou, ainda cautelosa.

— Sim. — Coral cruzou os braços, com o semblante duro. — Os Vakrana governam as Terras do Sangue há séculos. Mas, como em todo império, sempre houve aqueles que discordaram... os rebeldes, os bárbaros, como os chamamos, se autointitularam a Revolução Vermelha. E eles crescem a cada dia, como uma praga de ratos. — Sua voz carregava desprezo.

Ela fez uma pausa, e seus olhos se escureceram enquanto se lembrava do passado.

— Minha família... toda ela, assassinada. Eles foram mortos em uma cerimônia de casamento. Meu pai, o último Phaedra, título dos líderes de nossas terras, foi brutalmente assassinado diante dos meus olhos. Eu tinha apenas treze anos.

O tom dela era calmo, mas havia uma dor contida, algo que havia endurecido com o tempo.

— Desde então, eu comandei as Terras do Sangue. Mas os bárbaros crescem, eles se fortalecem. — Coral suspirou pesadamente, como se carregasse o peso de mil batalhas nas costas. — E eu vi em vocês uma oportunidade. A magia que despertaram... o poder que possuem... — Ela se aproximou mais do grupo, com os olhos brilhando com intensidade. — Eu quero que lutem por mim.

Elara cruzou os braços, seu olhar agora era de desconfiança aberta.

— Então você quer que sejamos suas armas?

Coral deu um sorriso breve, quase satisfeito com a franqueza de Elara.

— Sim, exatamente. Contratar os Amplitudes para capturá-los foi a única solução rápida que encontrei. Os bárbaros já ocuparam grande parte do meu território, e a guerra parece interminável.

— E se fizermos isso... o que ganhamos em troca?

Coral inclinou a cabeça e sorriu, como se estivesse ouvindo exatamente o que esperava.

— O que estiver ao meu alcance. — Ela deu de ombros. — Tropas, armas, navios... O que precisarem. Vejo vocês como possíveis aliados. Vocês não são meus inimigos. — Ela parou por um segundo, com um olhar afiado. — Preciso de vocês... e talvez vocês precisem de mim.

Elara respirou fundo, ponderando as palavras de Coral. Ela sabia que estavam em uma posição delicada, mas não poderia simplesmente se submeter.

— Precisaremos de um exército — disse Elara, com sua voz firme. — De suprimentos. E de navios para atravessar o Mar Estreito até as Terras do Fogo. Queremos restaurar a paz em Noakes.

Coral soltou uma gargalhada amarga, uma risada alta e cortante.

— Paz em Noakes? — Ela se inclinou, com os olhos faiscando com cinismo. — É mais fácil um escravo se tornar rei do que Noakes conhecer paz!

Elara manteve-se firme, seu olhar não vacilou. Ela respondeu com frieza:

— Você quer nossa ajuda ou não?

Coral arqueou uma sobrancelha, admirando por um momento a audácia da jovem. Ela se abaixou, ficando de frente com Elara, seus olhos quase se tocavam, e sussurrou:

— Acho que você ainda não entendeu sua posição aqui. Quem está acorrentado dos pés à cabeça, com a vida nas mãos de alguém?

Ela se levantou abruptamente, e com um gesto rápido, ordenou:

— Guardas, levem-nos!

Sem resistência, o grupo foi conduzido pelos corredores sinuosos da fortaleza. O chão de pedra fria ecoava com os passos dos guardas, e conforme caminhavam, o cenário revelava um deserto árido e infinito. Grandes aberturas nas paredes permitiam que a luz quente do sol banhasse o interior, mostrando o deserto escaldante do lado de fora, a terra seca e rachada, onde o vento levantava nuvens de poeira dourada. Era como se estivessem caminhando para o coração de um inferno ardente.

Kalista, observando tudo com uma expressão desconcertada, virou-se para Elara, tentando, em um último ato de otimismo, sorrir.

— Sabe... talvez ela realmente precise de nós.

Elara lançou um olhar rápido e sem humor, respondendo em tom baixo.

— Ela só nos manterá vivos enquanto precisar!

O calor sufocante do deserto ao redor parecia refletir a tensão no grupo, enquanto eles caminhavam em direção ao desconhecido.

Os corredores eram imensos e opressores, construídos de pedras negras, lisas e frias, se erguendo em uma arquitetura brutalista que parecia querer esmagar quem passava por ali. Elara, Daelius e Kalista foram levados por esse labirinto sombrio, com seus olhos sendo constantemente atraídos para as figuras grotescas esculpidas nas paredes, imagens de guerras, mortes e sofrimentos gravados no próprio sangue. O silêncio dos guardas, somado ao peso da pedra ao redor, transformava a atmosfera em algo sufocante.

Ao final do corredor, uma porta maciça de pedra apareceu. Escondida na escuridão, parecia o portão para algo muito pior. Enormes relevos de guerreiros antigos cobriam a superfície da porta, com seus rostos contorcidos, como se a pedra estivesse viva e presa em uma agonia eterna. Quando os guardas abriram a porta com um rangido seco, o som foi de partir os ouvidos.

Elara olhou rapidamente para o jardim que se revelava, muito diferente da paisagem brutal que haviam atravessado até ali. Um quadrado de vida cercado pelas mesmas paredes que se estendiam até o céu, exceto pela abertura no topo, que deixava o sol banhar a vegetação. Flores coloridas e plantas exuberantes preenchiam o espaço, criando um contraste forte com a brutalidade de todo o resto.

Os guardas os empurraram para dentro e fecharam a porta atrás deles com um baque surdo que fez Kalista estremecer. Eles estavam presos.

Daelius chutou uma pedra para longe e bufou.

— Que diabos foi isso? — Ele estalou os dedos. — Raptados por esses malditos? Eu sabia que não ia dar boa coisa se cruzássemos com aqueles desgraçados.

Kalista apertou as mãos contra o peito.

— Eu... eu acho que ela falou algo sobre a Revolução Vermelha.

Elara olhava as paredes ao redor, com seus olhos atentos, analisando cada detalhe, em busca de uma saída ou uma vantagem.

— As Terras do Sangue não são como nada que já vimos. Durante os meus anos de treinamento, ouvi muitos relatos. Brutalidade sem fim. Guerra. Eles têm uma cultura de força e morte. Se ficarmos aqui por muito tempo, já sabemos o que acontece!

Jaeris, encostado em uma das árvores retorcidas, sorria com um toque de sarcasmo.

— Os Vakrana fazem o que for preciso por poder, riqueza, e sequestro é só mais um 'negócio'. Pra eles, a gente é só mercadoria. Recursos descartáveis.

— Isso não é novidade. — Elara cruzou os braços, ainda pensando em como sair daquela situação. — O que mais você sabe sobre as leis daqui, Jaeris?

Jaeris abriu a boca para responder, mas foi interrompido pelo som da porta se abrindo novamente. Coral Vakrana entrou, acompanhada por dois guardas. Seus olhos analisaram o grupo por um momento, com um sorriso de canto de boca. Vestida em trajes claros que se misturavam às sombras ao redor.

— Aproveitem esse momento — disse Coral, caminhando em direção ao centro do jardim. — Este é um dos poucos lugares nas Terras do Sangue onde a vida ainda é verde! Mas lá fora... — Ela fez um gesto vago com a mão. — Lá fora, a realidade é bem diferente.

— Como assim? — Daelius rosnou. — Acha que pode nos jogar nessa porcaria de lugar e... — Ele deu um passo à frente, mas foi imediatamente barrado por um dos guardas, que ergueu a arma ameaçadoramente.

— Não. — Coral levantou a mão, acenando para que o guarda recuasse. — Deixe-o falar. Admiro um espírito combativo. Vocês estão em terras que não seguem as regras do seu mundo. Aqui, a vida vale menos do que o deserto em que pisam. Este é o Amanhecer de Vakrana, uma cidade que já foi o coração das Terras do Sangue, até que a Revolução Vermelha rasgou essas terras ao meio. Agora, não há mais capital. Apenas sobrevivência!

Kalista olhou ao redor, abraçando os próprios braços, como se o jardim fosse sua única proteção contra o que Coral descrevia.

Coral caminhou em torno deles, com seus olhos brilhando enquanto ela falava.

— A Cicatriz é o que separa este lugar dos condenados. Um deserto cruel, onde nem mesmo a esperança sobrevive. Não há água, não há refúgio, apenas morte. É o campo de batalha, onde facções lutam até que todos estejam mortos. O sol suga suas vidas, e a areia engole seus corpos. — Coral sorriu suavemente. — E o Manto Vermelho... ah, essa parte é mais interessante. Uma deserto de areia avermelhada, onde magos ancestrais da Ascendência do Sangue dominaram as terras com suas crenças arcaicas. Para eles, o deserto é um deus vivo. Uma entidade que dá e tira, que consome aqueles que não são dignos. Vocês vão entender isso muito em breve!

Elara apertou os punhos, com o olhar duro.

— Então querem que nos envolvamos na Revolução Vermelha?

Coral parou em frente a Elara, sorrindo com um misto de crueldade e satisfação.

— Exatamente. Vocês vão se infiltrar na revolução. Vão descobrir o que precisam saber. Vão matar quem precisa morrer. E depois, trarão minha paz de volta.

Jaeris se endireitou, com uma sobrancelha erguida.

— E se recusarmos?

— Vocês farão isso... ou o deserto ditará vossos destinos!

O silêncio que caiu sobre o jardim parecia mais pesado do que antes, o calor sufocante das Terras do Sangue agora era uma presença tangível, esperando para consumir qualquer um que ousasse desafiar suas leis cruéis. 

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