Capítulo 13- A Ruptura Valcoriana
"Nosso legado está neles"
Nas terras incandescentes do Fogo, o povo vivia sob a sombra de antigas profecias, enraizadas em suas crenças e tradições. Entre todas, uma dominava o imaginário coletivo: a Ruptura Valcoriana. Desde a fundação do Império pelo lendário Urixis Valcor, o povo das chamas sempre soube que seu destino estava entrelaçado com o dos Valcor, a poderosa família que governava as terras ardentes há milênios. No entanto, desde os primórdios do Império, uma profecia havia sido sussurrada, passada de geração em geração, como uma maldição inevitável.
A profecia anunciava que os Valcor, apesar de sua força e grandeza, um dia iriam ruir pelas próprias mãos. "Governarão por muitos anos," dizia o antigo oráculo, "e com sua chama iluminarão as eras futuras. Mas no auge de sua glória, quando o poder parecer imbatível, a Ruptura ocorrerá. E os Valcor, consumidos por sua própria ambição, verão seu império se despedaçar. Será a Chama Negra que os uniu, que também os destruirá."
Por séculos, essas palavras foram apenas um eco distante, um aviso que poucos levavam a sério, ofuscados pela expansão do império e pela supremacia dos Valcor.
A tensão nas Terras do Fogo era palpável, como o ar seco que precede uma tempestade de chamas. As pessoas sussurravam nas esquinas, olhavam para o céu escarlate, procurando respostas nas estrelas. As famílias Valcorianas, agora rachadas, preparavam-se para um confronto final que decidiria não apenas o destino do império, mas o futuro das terras flamejantes.
No Palácio Imperial, nas profundezas flamejantes das Terras do Fogo, Ugar Valcor celebrava o marco de duas semanas desde sua auto-proclamação como o novo Imperador. Seu domínio se estendia sobre a capital, mas as sombras de sua ascensão pairavam sobre seu trono. Ao seu lado, em uma cama forjada de ouro e brasas, repousava sua esposa, Ilari Valcor, cuja presença ele mantinha sob cativeiro, não como consorte, mas como um meio de assegurar a continuidade de sua linhagem.
A manhã se estendia com a luz escarlate filtrando pelas janelas de magma enrijecido, quando Ugar se preparava para mais uma reunião no Salão de Conselho. Diferente de qualquer outro Conselho Valcoriano, onde os assentos eram reservados exclusivamente para membros da família, agora, apenas Ugar carregava o sangue Valcor. Os demais eram escolhidos a dedo, homens e mulheres cuja lealdade era tão firme quanto o aço, sem o sangue Valcor, mas cujas ambições e favores os tornavam essenciais para o regime de Ugar.
Entre esses conselheiros, destacava-se Dinoric Jaldres, um nome que causava tanto respeito quanto temor. A Casa Jaldres, conhecida como os Vigilantes das Torres Altas, administrava as terras mais próximas da capital, emolduradas por montanhas monumentais e cobertas por torres que pareciam tocar os céus. Essas torres, erguidas em épocas remotas, eram a principal linha de defesa da capital, monitorando o horizonte em busca de ameaças e garantindo a vigilância territorial. A Casa Jaldres, desde os tempos imemoriais, havia desempenhado o papel de sentinela do império, seus membros eram treinados não apenas na guerra, mas na arte de antecipar o perigo.
Dinoric, com sua imponente presença, era a personificação da força e da estratégia de sua casa. Um homem de pele negra e estatura alta, com uma barba longa e espessa como a noite, destacava-se ainda mais por sua cabeça completamente raspada. Vestia um manto amarelo, com o brasão de sua casa orgulhosamente exibido sobre o peito, um escudo prateado adornado por detalhes dourados e encimado por três torres. Ao seu lado, três criados, leais e silenciosos, o seguiam como sombras.
Quando todos estavam reunidos no salão, Ugar fez questão de dar início à reunião com uma reverência a Dinoric, convidando os presentes a fazer o mesmo.
— Reverenciem Dinoric Jaldres, o vigilante das Torres Altas, que acaba de chegar de sua árdua jornada à capital, — proclamou Ugar com uma voz que reverberava pelas paredes. — É com grande honra que o proclamo como meu novo senhor conselheiro e minha mão direita. Uma aliança formidável e necessária nestes tempos turbulentos.
Dinoric agradeceu com um aceno de cabeça, em seguida todos se assentaram.
O comandante da guarda real, um homem de rosto severo e marcado pelas batalhas, tomou a palavra em seguida.
— Majestade, — começou ele, com uma postura rígida. — Há um assunto de suma importância a ser debatido. Recebemos informações confiáveis do porto de que Talindra Valcor e Darian Valcor, juntamente com seus filhos gêmeos, estão vivos. Eles se abrigam na Ilha da Rocha Negra, sob a proteção da Casa Deglarian.
As palavras caíram como um raio. Ugar, que até então mantinha um semblante firme, não conseguiu esconder o choque. Seus olhos se estreitaram, e a fúria fervilhou em seu interior.
— Quais são as intenções dela? — Ugar perguntou, com a voz impregnada de veneno.
— Certamente, ela busca uma aliança contra o seu império, Majestade. — Dinoric interviu com um tom ponderado. — Uma conspiração que, se não for contida, poderá crescer e ameaçar seu trono.
Ugar riu, um som amargo que ecoou pelo salão.
— Impossível, — ele disse, com desdém. — Ela está sozinha, sem um exército para sustentá-la. Eu tenho a capital e o controle. Como aquela idiota pensa em tomar o império de mim?
Dinoric inclinou-se para frente, com seus olhos sombrios fixos nos de Ugar.
— Majestade, ela é uma Valcor, assim como o senhor. — As palavras saíram com uma convicção pesada. — E nas Terras do Fogo, todos honram o sangue Valcor. Agora existem dois lados, e aqueles que acreditarem mais nela se ajoelharão diante dela, não do senhor. E lembre-se, Majestade, que Urixis Valcor iniciou a Revolução Valcoriana da mesma forma, com alianças sutis e estratégias afiadas, ele desmantelou o poder do regente líder. Além disso, Talindra e Darian possuem o sangue da Chama Negra, o poder mágico mais forte destas terras, exclusivo dos Valcor, e agora, a magia voltou.
Ugar retrucou, com os olhos queimando de orgulho ferido.
— Eu também possuo a Chama Negra! — disse ele, num tom de desafio.
— Sim, Majestade, — respondeu Dinoric calmamente. — Mas apenas o senhor. Sua esposa, Ilari, jamais lutará por sua causa. Do outro lado, Talindra e Darian, unidos, podem vir a possuir não apenas a magia, mas o coração do povo.
O ambiente no Salão de Conselho ficou ainda mais pesado com as palavras de Dinoric, como se o ar estivesse impregnado de tensão. Ugar, tomado pela raiva, levantou-se abruptamente, com os punhos cerrados e os olhos flamejantes, como brasas prestes a explodir.
— E quem garante que Talindra e Darian possuem o povo do lado deles? — rugiu Ugar. — Eu sou o Imperador! O povo é meu! Então, o povo irá me obedecer, e aqueles que não obedecerem serão sucumbidos!
A fúria vibrava em cada palavra, o desejo de esmagar qualquer resistência era evidente em seus gestos. Ele parecia uma força incontrolável, uma tempestade prestes a devastar tudo em seu caminho.
Dinoric, no entanto, permaneceu impassível. Com seus olhos fixos em Ugar, ele respondeu com uma frieza cortante.
— Aja como um imperador sábio, Ugar, não como um imperador prepotente, — disse Dinoric.
Ugar ficou em silêncio por um momento, e finalmente se controlou, voltando a se sentar, embora a raiva ainda borbulhasse dentro dele. Com um movimento brusco, ele apontou para o comandante da guarda.
— Organize um ataque à Ilha da Rocha Negra pelos mares. Quero navios equipados com canhões e que todos saibam que aqueles que se alinharem à traidora usurpadora, Talindra Valcor, serão considerados traidores e condenados à morte e ao sofrimento eterno! — Ugar ordenou, com a voz carregada de desprezo.
O comandante da guarda, visivelmente tenso, questionou as ordens.
— Majestade, como faremos isso? Todo o império ainda está enfraquecido após a peste arcana. Nossas forças estão limitadas!
— A magia será usada no tempo certo, quando nossos objetivos forem para as fronteiras, para as Ascendências inimigas, — respondeu Ugar. — Mas agora, o perigo que é Talindra precisa ser detido primeiro, e será detido rapidamente. Organize toda a guarda imperial e as tropas das redondezas para o ataque aos navios, não importa as circunstâncias, não importa as limitações! A Casa Deglarian será condenada por sua traição! Certifique-se de preferenciar o uso de canhões flamejantes em navios, a Ilha da Rocha Negra é uma extensão que ficou presa ao passado, suas construções são frágeis, pedra e madeira, serão facilmente destruídas com canhões de fogo !
Ele então virou-se para Dinoric.
— Dinoric Jaldres, convoque seu exército, e traga sua força armamentista. Quero um ataque agressivo, uma verdadeira chacina aos traidores!
Dinoric assentiu, com seu olhar impenetrável, sem revelar se aprovava ou desaprovava a fúria de Ugar.
Por fim, Ugar, ainda fervendo de raiva, concluiu.
— Enquanto isso, eu viajarei para a casa nobre mais próxima, os Zothan, em busca de alianças. Se a causa de Talindra continuar após a morte dela, preciso garantir resistência a uma possível revolução e golpe ao meu Império.
Todos no salão concordaram em silêncio, sabendo que qualquer palavra mal colocada poderia ser fatal. Antes de sair, Ugar se virou uma última vez.
— Tragam a imbecil da minha filha viva, — disse ele, com um tom ameaçador. — Eu mesmo a enforcarei em público, para que todos temam o Império de Ugar Valcor.
O clima no salão estava carregado de tensão após as ordens de Ugar, e o medo silencioso nos olhos de seus conselheiros refletia o peso das decisões que haviam sido tomadas. A guerra estava prestes a começar, e o destino das Terras do Fogo estava nas mãos de um homem movido pela raiva e pela ambição.
No jardim central do Castelo da Rocha Negra, Talindra Valcor observava seus filhos gêmeos, Havar Valcor IV e Zalara Valcor II, enquanto brincavam no chão de pedra com suas cuidadoras. Os bebês, com cabelos pretos como a noite e olhos azuis como o céu, eram a imagem da pureza e da continuidade da linhagem Valcor. Talindra, perdida em pensamentos sobre o futuro de seus filhos, foi surpreendida por um par de mãos que cobriu sua visão. Antes que pudesse reagir, uma voz suave sussurrou em seu ouvido.
— Quem é a pessoa que você mais ama no mundo?
Talindra abriu um sorriso reconhecendo a voz e, ainda sorrindo, respondeu.
— Um tal de Darian Valcor, um esquisito que se acha o tal!
De trás dela, Darian Valcor se revelou, com um sorriso malicioso no rosto, e a beijou de forma carinhosa. Talindra se derreteu em seus braços, encontrando conforto e força naquele breve momento de intimidade. Eles se afastaram suavemente e começaram a conversar, com seus olhos voltando-se para os filhos.
— Eles honrarão os Valcor, — disse Talindra com um brilho de esperança nos olhos. — Serão grandes líderes, Darian, e o nome de Arya, Jaeris e todos aqueles que tiveram suas vidas tiradas por aquele monstro do meu pai, serão lembrados!
— Nosso legado está neles, — Darian respondeu, com seu tom agora mais sério. — Mas para garantir esse futuro, meu amor, precisamos nos preparar. Há decisões importantes a serem tomadas.
Relutantemente, Talindra assentiu e, juntos, o casal subiu as extensas escadas do castelo da Casa Deglarian. Cada passo ecoava pelos corredores de pedra, como se o próprio castelo estivesse ciente da gravidade do momento. Eles caminharam até um salão onde a causa de Talindra se reunia para discutir seus planos. Ao entrarem, foram recebidos por figuras chave da resistência: Tyrion Deglarian, o anão que a acolheu; o curandeiro mestre da ilha; e o comandante da guarda da Casa Deglarian.
Todos se assentaram, prontos para o conselho. Nos últimos dias, Talindra havia iniciado um treinamento improvisado na ilha, reunindo aqueles que não haviam sucumbido à peste arcana e que se voluntariaram para servir sob seu comando, aprendendo a usar a magia das chamas. Perto do grande empilhamento de rochas que cercava o castelo, um campo improvisado abrigava os voluntários. Eles eram treinados por respeitados e sábios alquimistas, conhecedores das antigas escritas da ilha.
Apesar das dificuldades, muitos que se voluntariaram sentiram o potencial que a magia podia oferecer. No entanto, alguns ainda consideravam a magia abominável e abandonaram a causa, rotulando Talindra como uma lunática. Mas os que permaneceram estavam determinados.
Talindra começou o conselho com uma pergunta direta.
— Como estão os treinamentos?
O comandante da guarda, que acompanhava de perto o progresso diariamente, tomou a palavra.
— Estão indo bem, Majestade, — disse ele com confiança. — Muitos obtiveram êxito no despertar da magia e já estão manipulando a chama com habilidade.
Um sorriso de excitação se espalhou pelo rosto de Talindra.
— Quantos voluntários temos até agora?
— Cerca de 200, — respondeu o comandante. — 120 humanos e 80 criaturas mágicas.
Talindra, ainda animada, assentiu, mas sua expressão se tornou mais séria.
— Precisamos de mais. — afirmou, com sua voz firme.
Darian, que até então observava em silêncio, interveio.
— É hora de buscarmos alianças em outras casas nobres. Apenas a Casa Deglarian não será o bastante para deter Ugar.
Talindra concordou e voltou-se para Tyrion.
— Qual é a casa mais próxima e mais provável de se alinhar à nossa causa?
Tyrion, ponderando a questão, respondeu.
— De um lado da costa da ilha está a capital. Do outro, há duas casas próximas, a Casa Nizay, conhecida por seus vastos campos verdes e florestas amplas, e a Casa Tridat, que governa as terras rochosas e secas, famosa por sua bravura e forte armamento.
Talindra refletiu por um momento antes de responder.
— Não precisamos de espadas, precisamos de magos, de magia. Mas tentaremos alianças com ambas as casas. Precisamos de segurança nos arredores da ilha. — Ela olhou para seus conselheiros. — Enviem mensageiros às duas casas, para que representantes de ambas viagem até a ilha para uma reunião comigo, Talindra Valcor, a verdadeira Imperatriz.
A autoridade em sua voz era inegável. Em seguida, Talindra voltou-se novamente para Tyrion.
— Garanta que o litoral da ilha esteja sob proteção adequada. Ugar já deve ter recebido notícias sobre nossos movimentos, e não podemos nos dar ao luxo de sermos pegos desprevenidos pelo desgraçado!
Tyrion assentiu, já planejando as defesas.
— Farei o necessário, Majestade.
Com isso, o conselho terminou. Todos se dispersaram, cientes de suas responsabilidades. Talindra, porém, permaneceu por um momento, olhando para a mesa do conselho, pensando em tudo o que estava em jogo.
Dias se passaram e enquanto a capital se preparava para o iminente ataque, os navios de Ugar já rasgavam as águas a caminho, suas velas balançando sob o vento com os novos estandartes, ostentando o brasão da fênix negra envolta por um escudo, símbolo da força e do domínio implacável do novo imperador. O medo pairava no ar, mas Ugar, em sua busca implacável por poder, não estava presente para presenciar o pânico que causava. Ele viajava acompanhado de uma legião de servos e soldados até o deserto de areia cinzas, território sombrio e inóspito, localizado além das terras da Casa Jaldres. Esse deserto, é governado pela Casa Zothan, os mestres das areias cinzas. Os Zothan, alertados da visita imperial, aguardavam com ansiedade e temor, conscientes da gravidade dessa inesperada audiência.
Ao mesmo tempo, na distante Ilha da Rocha Negra, Talindra Valcor aguardava com impaciência a resposta das Casas Nizay e Tridat. A essa altura, todas as Terras do Fogo já conheciam a divisão do Império, e rumores ecoavam entre os povos. Alguns falavam da profecia da Ruptura Valcoriana, outros já chamavam o conflito de "O Império de Pai e Filha". As tensões aumentavam, e a incerteza reinava.
Numa noite profunda e sem lua, algo surpreendente ocorreu. Berrantes começaram a tocar furiosamente pela ilha, rompendo o silêncio e despertando todos de seu sono inquieto. Soldados correram em pânico pelas ruas da cidade, dirigindo-se ao litoral, onde a grande Rocha Negra se erguia majestosa. Talindra e Darian, percebendo a inquietação ao redor, acordaram de sobressalto. Rapidamente se vestiram e correram em busca de respostas.
De uma abertura oval nos muros do castelo, os dois observavam a cena aterrorizante que se desenrolava à distância. No horizonte escuro, navios se aproximavam, muitos navios pretos, cujas velas tremulavam os estandartes de Ugar. O momento que eles tanto temiam havia chegado.
A noite, outrora calma e silenciosa, foi subitamente transformada em um campo de guerra infernal. Os navios negros de Ugar se aproximavam rapidamente do litoral da Ilha da Rocha Negra. As águas agitadas do mar refletiam as chamas que já começavam a iluminar o horizonte, à medida que as bolas flamejantes dos canhões inimigos eram disparadas com precisão devastadora.
O primeiro impacto sacudiu o castelo e a cidade, quebrando a tranquilidade com uma explosão de caos e terror. As grandes bolas de fogo atravessavam o ar noturno, atingindo as estruturas de pedra e madeira, que se estilhaçavam em uma tempestade de destroços. O pânico se espalhou pelas ruas. Mulheres corriam em desespero, agarrando seus filhos enquanto procuravam refúgio. Os gritos de medo e dor ecoavam por todos os cantos, misturando-se com o som dos canhões e do crepitar das chamas que consumiam tudo em seu caminho.
No coração do tumulto, os soldados da Casa Deglarian preparavam-se para a inevitável batalha corpo a corpo. Vestidos com suas armaduras pesadas, empunhavam espadas e escudos, determinados a defender a ilha e sua imperatriz até o último suspiro. O comandante da guarda, com o rosto endurecido pela responsabilidade, organizava as fileiras, gritando ordens com autoridade.
— Vida longa à Imperatriz Talindra Valcor! — bradavam os soldados.
Do alto das muralhas, Talindra observava a devastação que se desenrolava diante de seus olhos, com seu coração acelerado. Com sua família ao seu lado, protegida por guardas pessoais, ela sentia a urgência da situação. O inimigo estava prestes a desembarcar, e a única esperança de sobrevivência estava na magia que ela tanto acreditava.
— Convoquem a magia! — ordenou Talindra, com sua voz carregada de autoridade e desespero.
Os 200 voluntários treinados, homens e mulheres, humanos e seres mágicos, surgiram das sombras. Eles se posicionaram atrás das tropas da Casa Deglarian. Com movimentos precisos e sincronizados, eles começaram a conjurar sua magia ancestral, a magia do fogo, tão temida e reverenciada em Noakes.
Chamas intensas surgiram de suas mãos, formando jatos de fogo que eram lançados contra os navios inimigos. As labaredas cortavam o ar como serpentes flamejantes, atingindo as embarcações de madeira com um impacto avassalador. Os navios balançavam e crepitavam, suas velas se transformavam em lençóis de fogo enquanto os soldados de Ugar gritavam em pânico, alguns saltando ao mar na tentativa desesperada de escapar.
Outros magos conjuravam arcos de chamas, que se solidificavam em flechas incandescentes. Essas flechas, tão grandes quanto lanças, eram lançadas com uma precisão letal, perfurando a estrutura dos navios e atravessando os corpos dos soldados inimigos. A escuridão da noite foi substituída pelo brilho feroz das chamas.
— Pelo Imperador Ugar Valcor! — gritavam os soldados inimigos, mesmo enquanto seus companheiros caíam ao seu lado, consumidos pelas chamas.
Mas o fogo da Ascendência era implacável. A magia devastadora dos voluntários de Talindra continuava a causar estragos nos navios de Ugar. Muitos soldados foram lançados ao mar, enquanto os navios afundavam em meio às chamas. A batalha era brutal, sangrenta, e parecia não ter fim. A cada instante, novos corpos se juntavam aos caídos, enquanto os sobreviventes continuavam a lutar com uma ferocidade desesperada.
Finalmente, alguns dos navios de Ugar conseguiram chegar ao litoral, suas tripulações desembarcaram com espadas em punho. Os soldados de Ugar correram para o combate, encontrando as forças de Talindra na linha de frente. A batalha agora se tornava corpo a corpo, espada contra espada, magia contra magia. Os gritos de guerra se intensificaram.
— AVANTE! — gritou o comandante da guarda Deglarian, liderando seus homens em um ataque feroz.
Os voluntários mágicos, embora poderosos, começaram a sentir o peso da batalha. Mesmo com seu treinamento, muitos caíram sob as lâminas inimigas. Mas não recuaram. Com chamas e fúria, continuaram a lançar suas magias, determinados a proteger sua terra e sua imperatriz.
A noite, antes envolta em escuridão, agora estava completamente iluminada pelas chamas da guerra. O horizonte ardia, e o cheiro de madeira queimada e carne carbonizada impregnava o ar. Talindra, observando o horror ao seu redor, sabia que estava diante de um sacrifício imenso. Mas não podia ceder, não enquanto Ugar ameaçava tudo o que ela amava.
Com o tempo, os números começaram a se voltar contra as tropas de Ugar. Um a um, seus navios foram abatidos, suas tripulações foram dizimadas pelas chamas incontroláveis. Os soldados restantes, agora sem esperança de vitória, lutaram até o último homem, mas foram subjugados pelas forças da Rocha Negra.
Finalmente, o último dos navios inimigos afundou, engolido pelo mar em chamas. O campo de batalha, outrora um lugar de paz, agora era um cemitério de corpos, destroços e fogo.
Talindra havia vencido, mas a um custo terrível. O castelo estava em ruínas, grande parte da ilha destruída, e as perdas em vidas eram incalculáveis. A Ruptura Valcoriana estava apenas começando.
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