Capítulo 11- O Imperador e a Imperatriz

"Vida longa a Ascendência do fogo"

Terras Do Fogo - Capital

No porto da baía da capital do Fogo, o caos reinava. Homens, mulheres e crianças de todas as raças corriam desesperados, tentando escapar da revolução brutal liderada por Ugar, que sucedeu a uma praga catastrófica. A população mais pobre da grande capital se aglomerava, na esperança de encontrar refúgio nos navios ancorados. Seu destino era a ilha da Rocha Negra, antiga capital das Terras do Fogo, antes da revolução Valcoriana de Urixis Valcor.

Talindra e seu marido Darian fugiam apressadamente em direção ao porto, correndo ao longo da muralha que cercava a capital. Ugar já havia tomado o Palácio Imperial, e todos os Valcor estavam mortos, exceto sua esposa, Ilari, que permanecia prisioneira em seu quarto, vigiada por guardas. Ugar a mantinha viva apenas para que ela gerasse uma nova geração de filhos, visando renovar a linhagem Valcor. Ele acreditava que Talindra, Darian e seus filhos estavam mortos. Mas, contra todas as expectativas, eles escapavam para honrar a sagrada linhagem dos Valcor, com a esperança de tirar Ugar do poder.

Focados e ofegantes, Talindra e Darian chegaram ao porto, onde a multidão em pânico se empurrava e lutava por um lugar nos navios. Talindra segurava seus filhos com força, os pequenos choravam assustados com o tumulto ao redor. Eles precisavam se esconder, manter suas identidades em segredo para evitar a atenção de quaisquer espiões de Ugar.

Com dificuldade, eles avançaram pela multidão, desviando de corpos caídos e evitando os soldados que tentavam manter alguma ordem. O cheiro de suor, medo e fumaça enchia o ar. Gritos de pavor e súplicas desesperadas reverberavam, criando uma cacofonia perturbadora. O porto estava repleto de navios com velas cinzas e vermelhas, prestes a partir para a ilha. Com esforço, eles conseguiram embarcar em um dos maiores navios.

A bordo, Talindra e Darian encontraram um espaço junto à borda, onde tentaram acalmar seus filhos. O balanço do navio começava a se intensificar à medida que as velas eram erguidas e as âncoras levantadas. Talindra olhou ao redor, observando os rostos de outros refugiados, todos compartilhando o mesmo terror e desespero.

Enquanto o navio começava a se afastar do porto, Talindra refletiu sobre a ordem de Mysaria. A figura enigmática havia dito para eles fugirem para a Rocha Negra, onde poderiam começar uma disputa contra Ugar. A ideia de liderar uma resistência a assustava, mas ela sabia que não tinham outra opção. Darian, ao seu lado, apertava sua mão, compartilhando do mesmo medo.

Os navios navegavam em direção à ilha, cortando as águas escuras e agitadas. O castelo da Rocha Negra se erguia imponente na distância, uma silhueta sombria contra o horizonte.

Eles navegavam durante a noite, o mar estava calmo, mas o vento frio lembrava-os da violência que haviam deixado para trás.

Finalmente, ao amanhecer, os navios chegaram à ilha. A visão do castelo da Rocha Negra, erguendo-se das rochas como uma sentinela sombria, era ao mesmo tempo intimidante e confortante. O desembarque foi rápido, e logo Talindra, Darian e seus filhos estavam caminhando em direção ao castelo. Mysaria havia prometido que ali encontrariam aliados e recursos para começar sua luta contra Ugar.

Enquanto se aproximavam das portas do castelo, Talindra sentiu uma mistura de medo e esperança. A batalha para recuperar o trono dos Valcor seria longa e árdua, mas ela estava determinada a lutar. Eles entraram no castelo, onde seriam recebidos pelos poucos leais que restavam.

Talindra olhou para Darian e seus filhos, encontrando força em seus olhos. Com Mysaria e outros aliados ao seu lado, ela acreditava que poderiam vencer. Assim, com determinação renovada, Talindra deu os primeiros passos para liderar a revolução que mudaria o destino das Terras do Fogo entrando no majestoso castelo da Rocha Negra.

Assim que entraram, foram recebidos por criados de vestes pretas, com expressões graves, mas acolhedoras. Um anão de pele branca e roupas elegantes se aproximou, transmitindo uma aura de confiança.

— A mulher de nome Mysaria nos alertou — disse ele com uma voz firme que cortou o ar. — Uma Erudita. — Ele fez uma pausa, deixando o peso da palavra pairar. — Deve ser algo muito mais importante do que todos imaginamos.

Uma babá se aproximou para pegar os bebês, mas Talindra, ainda abalada e em choque, gritou com raiva, negando a ajuda. O anão, com um olhar compreensivo, tentou acalmá-la.

— Meu nome é Tyrion Deglarian, da casa nobre Deglarian. — Ele falou com uma calma que parecia invencível. — Eu não sou um criado, sou o morador deste castelo. Após a revolução, o castelo deixou de ser a moradia dos antigos reis e rainhas e foi presenteado à minha família, que forneceu um exército significativo e suprimentos a Urixis durante a revolução. Nossa casa sempre honrou os Valcor, fornecendo bens e assistência quando necessário. Agora, é hora de ajudar novamente.

Talindra, ainda tremendo, começou a se acalmar. Seus olhos, que refletiam tanto dor quanto determinação, se fixaram nos de Tyrion. Sem dizer nada, ela entregou seus filhos à babá, que saiu do hall de entrada em seguida. Tyrion os conduziu por corredores amplos e sombrios, decorados com tapeçarias antigas e brasões da casa Deglarian, até um grande quarto com janelas ovais abertas, que ofereciam uma vista deslumbrante do oceano, agora iluminado pelo luar.

— Preparei este quarto para vocês — disse Tyrion, com sua voz carregada de gentileza. O quarto era um refúgio de elegância e conforto, com móveis de madeira escura, cortinas de veludo e uma cama grande e acolhedora. Sobre a cama havia quatro peças de roupas masculinas e quatro femininas. — Os bebês receberão vestimentas e cuidados excepcionais.

Talindra, ainda processando a hospitalidade inesperada, se virou para Tyrion.

— Por que está fazendo isso? Por que está nos ajudando? Ugar o considerará um traidor por nos acolher.

Tyrion respondeu de forma direta e firme.

— Meu Imperador não é Ugar, e nunca será. Minha Imperatriz, a quem juro servir e a quem me ajoelharei, é Talindra Valcor.

As palavras de Tyrion penetraram profundamente em Talindra. Um sorriso hesitante, o primeiro em muito tempo, se formou em seus lábios. Ela se agachou para abraçar o anão, com lágrimas de um breve alívio escorrendo por seu rosto.

— Obrigada — sussurrou ela. — Obrigada por acreditar em nós.

Ela então perguntou sobre a mulher que os alertou.

— Ela também apareceu para mim e usou magia para salvar Darian — disse Talindra, com sua voz ainda trêmula.

— Ela é, sem dúvida, uma Erudita — respondeu Tyrion. — Apareceu para mim e disse palavras simbólicas que significavam proteger você. A ilha estará muito movimentada nos próximos dias.

A Ilha da Rocha Negra, uma extensão de pedra lisa e dura, era tanto um refúgio quanto um campo de batalha potencial. De um lado, o castelo da Rocha Negra se erguia imponente sobre grandes rochas empilhadas, formando uma planície elevada. A cidade à frente do castelo se estendia até o outro lado da ilha, com suas casas de pedra, ruas sinuosas e movimentadas por mercadores, artesãos, pescadores e soldados da casa Deglarian.

Talindra agradeceu mais uma vez, e Tyrion se reverenciou antes de deixar o quarto.

Finalmente, Talindra e Darian tiveram um momento a sós. O quarto, iluminado pela luz suave do sol, oferecia um contraste tranquilo ao caos deixado para trás.

— O que Ugar fez é indescritível — disse Talindra, com sua voz falhando de emoção reprimida. — Eu vi seus pais mortos, ensanguentados no palácio. Não posso imaginar a dor que toda a família sentiu. E minha mãe... ela está com Ugar, sendo tratada como um objeto. Precisamos tirá-la de lá... precisamos Darian! Eu fui ingênua, tenho grande culpa nisso... eu sabia de tudo e tive medo de agir rapidamente, eu... eu só não conseguia acreditar que meu próprio pai foi capaz de matar sua filha e exilar seu sobrinho do Império. Eu sabia Darian... eu podia ter impedido tudo, sou uma idiota... como vou governar um lado inimigo a Ugar como a Erudita disse? Não sou capaz, não sou capaz... eu...

Darian segurou as mãos de Talindra, sentindo a dor e a angústia em cada palavra que ela proferia. Seus olhos, cheios de amor e compreensão, encontraram os dela, que estavam marejados de lágrimas. Ele respirou fundo, buscando as palavras certas para confortá-la e transmitir a força que ela tanto precisava.

— Talindra, meu amor — começou ele, com sua voz cheia de ternura. — Você não é uma idiota, e muito menos culpada pelo que aconteceu. A crueldade de Ugar é algo que nenhum de nós poderia prever completamente. Ele manipulou e traiu todos ao seu redor. O que você fez foi tentar proteger aqueles que amava da melhor maneira que podia. Não se culpe por não ter previsto a profundidade da maldade de seu pai.

Ele a puxou para mais perto, envolvendo-a em um abraço caloroso, sentindo seu corpo tremer com os soluços.

— Eu sei que é difícil acreditar agora, mas você é forte, Talindra. Mais forte do que qualquer um de nós. O fato de estarmos aqui, vivos e lutando, é graças à sua coragem e determinação. Você viu a verdade, mesmo quando era doloroso, e teve a força de agir. E agora, precisamos dessa força mais do que nunca.

Darian afagou seus cabelos.

— Vamos buscar alianças com as casas nobres das Terras do Fogo. Não podemos fazer isso sozinhos. — Sua voz era firme, mas cheia de carinho. — Juntos, podemos reunir aqueles que ainda honram o legado dos Valcor. Podemos formar uma resistência, uma força que se levantará contra a tirania de Ugar. Cada casa nobre que se unir a nós será um passo a mais para retomar o que é nosso por direito.

Ele se afastou apenas o suficiente para olhar em seus olhos, segurando seu rosto entre as mãos.

— Talindra, você não está sozinha. Eu estou aqui, ao seu lado, e sempre estarei. Nós vamos libertar sua mãe e vingar a morte de nossa família. E quanto a governar... você é capaz. Você tem o coração e a mente para liderar. Mysaria viu isso em você, e eu vejo isso todos os dias. Não deixe o medo ou a culpa obscurecerem sua visão.

Darian enxugou as lágrimas de seu rosto com delicadeza.

— Nós faremos isso juntos, um passo de cada vez. Você não precisa carregar esse peso sozinha. Cada decisão, cada batalha, estaremos lado a lado. E não importa o que aconteça, eu acredito em você. Acredito na força que você tem dentro de si, na líder que você está destinada a ser.

Ele se inclinou e beijou sua testa, em um gesto cheio de amor e promessas.

— Vamos reconstruir nosso futuro, Talindra. Precisamos ser fortes. Por nossos filhos, por nossa família e pelo nosso povo. Você é minha imperatriz, minha guerreira, e o amor da minha vida.

Darian se aproximou e deu novamente um beijo na testa de Talindra, seguido de um beijo suave em seus lábios.

Dois dias tensos se passaram desde a fuga desesperada de Talindra e sua família. O caos que dominava a capital das Terras do Fogo agora se transformava em uma nova ordem sombria sob o governo de Ugar. A cerimônia de proclamação do novo imperador estava prestes a começar, e a atmosfera era carregada de tensão e medo. Os cidadãos restantes, muitos dos quais não conseguiram escapar, foram convocados ao grande salão do palácio imperial. As saídas da cidade e o porto estavam bloqueados por soldados do Império, garantindo que ninguém pudesse fugir.

No coração da capital, o grande salão estava lotado. Soldados da Guarda Imperial e do exército principal da Ascendência do Fogo se alinhavam em fileiras rígidas, exibindo suas armaduras brilhantes e olhares resolutos. Diante da soberania de Ugar e em honra aos Valcor e à Chama Negra, eles agora serviam a ele como o novo imperador. A cerimônia era algo sem precedentes nas tradições Valcorianas, uma exibição de poder e dominação que nunca havia sido vista antes.

Um soldado, com a voz ressoante e cheia de autoridade, se adiantou e começou a anunciar:

— Recebam Ugar Valcor IV, filho de Havar Valcor III e Alara Valcor II, novo Imperador e protetor das Terras e Ascendência do Fogo! Que a Chama Negra o leve à ascensão!

Alguns dos presentes aplaudiram e gritaram em apoio, mas muitos outros mantiveram o silêncio, com seus rostos contorcidos de raiva e desgosto. A população da capital ainda acreditava que todos os Valcor estavam mortos e que o único futuro para seu povo era Ugar.

Ugar, imponente em suas vestes exuberantes, caminhou até o centro do salão e ergueu as mãos, exigindo a atenção de todos.

— A partir deste momento, todos devem se curvar perante mim em todas as terras, casas nobres, vilarejos das Terras do Fogo, cidades grandes e pequenas e todas as tropas de soldados — proclamou ele, com sua voz ecoando pelas paredes de magma enrijecido do salão. — Quem não se curvar, sucumbirá.

De repente, um grito enfurecido cortou o ar, rompendo o silêncio tenso.

— Usurpador! — bradou um homem do meio da multidão, com seu rosto contorcido de raiva. — Vida longa ao último Imperador fiel, Havar Valcor III, e morte aos Imperadores traidores Jaeris e Ugar!

O salão ficou em choque, diante a um murmúrio de pânico e surpresa se espalhando rapidamente. Os olhos de Ugar se estreitaram, com sua expressão se endurecendo. Antes que o homem pudesse continuar, um soldado da guarda imperial avançou rapidamente. Com um movimento preciso e brutal, a espada do soldado brilhou e, num instante, a cabeça do homem foi decepada, rolando pelo chão de magma.

O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor, um aviso claro a todos os presentes sobre o destino de qualquer um que ousasse desafiar a nova ordem. Ugar, com um sorriso frio, olhou para a multidão, reafirmando seu controle e autoridade absoluta sobre o Império.

Enquanto isso, na distante ilha da Rocha Negra, Talindra se preparava para sua própria consagração. Ela vestia um exuberante vestido preto que se estendia em uma cauda majestosa, contrastando com seus longos e ondulados cabelos escuros como carvão, marca dos Valcor. A expectativa pairava no ar enquanto todos os residentes da ilha aguardavam atentamente, olhando para o majestoso monte que sustentava o castelo da Rocha Negra.

O anão Tyrion Deglarian, com seu porte digno e roupas elegantes, saiu do castelo e começou a proclamar.

— Recebam Talindra Valcor V, a nova e legítima Imperatriz das Terras do Fogo, e seu marido Darian Valcor II!

Talindra e Darian, de mãos dadas, emergiram do castelo e desfilaram até a beira da rocha elevada, acenando e elevando suas mãos ao céu. A multidão abaixo observava com admiração e esperança. Talindra então começou a falar, com sua voz firme e imponente ecoando pela planície de rocha.

— Povo das Terras do Fogo! — gritou ela, com movimentos bruscos. — Eu farei de tudo para tomar todas as nossas terras e ser a única e legítima Imperatriz viva, reconstituindo a sagrada linhagem Valcor ao lado de Darian, meu amor. Eu sei que não será fácil. Ugar possui a capital, onde se encontram o maior número de soldados, tropas, cavalos e armas ofensivas. Mas não nos curvaremos!

Ela fez uma pausa, deixando suas palavras reverberarem na mente de todos. Seus olhos brilhavam com a intensidade de suas emoções enquanto continuava.

— A era da magia começou em Noakes, e é hora daqueles que sobreviveram à peste arcana despertarem suas magias! É hora do povo do Fogo utilizar sua maior força: as chamas, o fogo, a magia, o calor!

A multidão começou a murmurar, sentindo a energia que emanava de Talindra. Seus corações batiam mais rápido, a esperança começava a brotar em seus peitos.

— Não hesitarei em usar a Chama Negra! — declarou ela com fervor. — Este é o poder mais poderoso da Ascendência do Fogo. Nós somos os herdeiros das chamas, e vamos reascender a nossa glória! Vamos mostrar a Ugar e a toda Noakes que a verdadeira força das Terras do Fogo reside em nosso espírito indomável e em nossa magia ancestral! Vida longa a Ascendência do Fogo!

A multidão começou a aplaudir e gritar, repetindo a frase "Vida longa a Ascendência do fogo" . Ela levantou os braços, sentindo a energia da multidão.

— Juntos, seremos invencíveis! — gritou ela. — A partir de hoje, começa a nossa luta para libertar as Terras do Fogo e restaurar a verdadeira linhagem Valcor. Com Darian ao meu lado e o apoio de todos vocês, triunfaremos! Morte ao usurpador Ugar Valcor!

Os aplausos e gritos de apoio se intensificaram, enchendo o ar com uma nova esperança. Talindra olhou para Darian, com seu coração cheio de adrenalina.

Enquanto isso, em um canto mais isolado da multidão, Mysaria observava com um sorriso enigmático no rosto. Ela sabia que o verdadeiro teste ainda estava por vir, mas naquele momento, a semente da revolução havia sido plantada e estava começando a crescer. A verdadeira batalha pelas Terras do Fogo que ela tanto planejou estava apenas começando. 

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