Odiava aquele lugar com todas as forças.

Eu precisava deixar aquele círculo e voltar pra casa o mais rápido possível sem encostar em mais nada que me colocasse em perigo.

Pessoas. Pessoas muito perto.

Não estão perto, idiota! Estão sentadas a quase meio metro de você!

Mas isso não quer dizer absolutamente nada! O sujeito do lado direito parece que está prestes a espirrar.

Céus, milhões de bactérias no ar em menos de meio segundo! O peito dele está se contraindo e está prestes a abrir a boca, eu tenho que sair.

Finco as unhas na palma, mas por estarem sempre curtas não machucariam, como uma pessoa normal torceria para que ocorresse, em prol de evitar uma crise de ansiedade.

O por quê da minha preocupação? Oras, é tão óbvio!

Quando um vírus que infecta o sistema respiratório sai do corpo humano —  como é o caso de sujeito que está a dez segundos segurando o espirro — , ele sai de dentro de uma gotícula de saliva e muco. Há décadas os cientistas as classificam como gotículas grandes — maiores que cinco a 10 micra — ou gotículas pequenas, denominadas aerossóis.

Quanto maior a gotícula, maior a probabilidade de ela cair rapidamente no chão ou em objetos próximos após ser expelida. Se uma pessoa tocar nessas gotículas e esfregar o rosto, poderá contrair o vírus, e por isso é importante que as pessoas lavem as mãos com frequência. Gotículas menores, no entanto, são menos previsíveis. Elas podem percorrer distâncias maiores, mas em condições propícias, evaporam rapidamente.

Mas o tempo era fresco e a probabilidade de uma dessas gotículas pararem no meu rosto e de eu contrair alguma virose era excepcionalmente altas!

Você está surtando, Bambam, se controle, você não vai morrer por uma pessoa espirrar do seu lado.

Mas e se?

Após um espirro, existe uma uma cachoeira de gotículas grandes, à esquerda, e uma nuvem persistente de gotículas pequenas, à direita, que pode espalhar patógenos a uma distância ainda maior.

Onde eu estou, eu ficaria com as gotículas grandes do sujeito, ou seja, mais probabilidade deu contrair uma virose.

E dentro dessas gotículas grandes, eu poderia contrair viroses horríveis como gripe aviária, mammarenaviroses, arboviroses causadoras da febre hemorrágica, coronavírus, ebola, vírus da raiva e varíola humana.

E isso era mortal. Com certeza era mortal.

Eu definitivamente tinha que sair dali.

Fique quieto.

Mas é só uma ida ao banheiro e nunca mais voltar para essa sala.

Permaneça sentado, você tem que conseguir.

Eu não posso, é contagioso, é perigoso, é... É...

─⁠──⁠─ Bambam? — a voz do tutor finalmente ganhou sentido em minha mente, deixando de ser um eco chato que não fazia sentido.

E o cara do lado bocejou.

Não era um espirro.

Ele só bocejou. Só um bocejo. Eu podia lidar com aquilo, certo?

Mas e se...

─⁠──⁠─ Está pronto para falar agora? — fiquei feliz pelo homem interromper o pensamento intruso, mas a preocupação em sua voz me fez dar uma olhada em meu estado.

Minhas mãos tremiam e eu sentia a boca seca, com certeza eu estava pálido.

A palidez pode ser causada por diversos fatores, como anemia, problemas de circulação, deficiências nutricionais, exposição ao frio. Ela pode ser um sintoma de que você está morrendo.

Chega.

─⁠──⁠─ Estou. — a voz saiu mais trêmula do que de costume, odiava aquilo.

Mas você odeia ainda mais a ideia de ficar doente.

Levantei devagar e andei até o centro do meio círculo que tinha se formado ali. Foi ideia da minha mãe me colocar num grupo de alto ajuda.

Não ia julga-la, eu tenho piorado desde o diagnóstico,  temos ficado sem opções.

─⁠──⁠─ Meu nome é Bambam, — comecei ainda trêmulo, recebendo um coro de "oi Bambam" pelo cômodo — tenho dezessete anos e fui diagnosticado com hipocondria aos catorze. E... — eu não sabia mais o que dizer, antes de vir, assisti vários vídeos de conversas assim, mas nada parecia com aquilo. O que eu diria?

O tutor pareceu reconhecer o meu desconforto.

─⁠──⁠─ Muito bem, Bambam, seja bem vindo, tem alguma vitória que gostaria de compartilhar com o grupo?

─⁠──⁠─ Eu... — tentei me recordar, o que eu iria falar pareceria ridículo, mas foi o mais próximo que já consegui de uma melhora então... — Estou a três dias sem procurar um hospital.

Para quem não conhecia meu estilo de vida, ou todo o meu problema, aquilo seria de fato uma piada, mas não era.

Falar nisso, acho que você deveria ir ao doutor Lee quando terminasse aqui.

─⁠──⁠─ Isso e excelente! — o homem sorriu compreensivo se levantando — Vamos trabalhar isso durante as seções então, pode ser?

Acabei afirmando com a cabeça, mas sem sentir um pingo de vontade de voltar. Assim que me sentei novamente peguei o celular e digitei rápido uma mensagem para o médico da família.

Eu preciso de uma consulta.