XXI. A besta, a busca, o ômega.
Oi,oi ❤️
V
otem e comentem, por favor!
O frio cortante da montanha se infiltrava em sua pele, mas Jungkook já não sentia mais. Seu corpo estava dormente, suas mãos tremiam, mas ele se recusava a ceder. As gotas geladas dos baldes de água fria escorriam por sua pele nua, castigando-o como um lembrete brutal de sua falta de controle.
— Aguente, Jungkook! Não vai querer ser fraco! — A voz do treinador ressoou, firme e impiedosa.
Ele não podia ser fraco.
Não quando sua própria existência sempre foi uma luta.
Desde pequeno, Jungkook nunca teve o luxo do aprendizado gradual que a maioria dos lobos tinha. Ele não cresceu ouvindo histórias sobre sua natureza, não teve um guia para ensiná-lo a conter a fera dentro de si. Tudo o que sabia era que a besta rugia em sua cabeça, uma voz incontrolável que o obrigava a agir, que o deixava à beira da insanidade.
Muitas crianças lobos cresciam sob a proteção de suas matilhas, recebendo orientação, aprendendo a equilibrar a dualidade de sua natureza. Mas ele? Ele só viu destruição.
Seus pais foram mortos quando ele ainda era um bebê. Um casal de lobos o encontrou e o criou como um dos seus, mas o destino não lhe concedia trégua – eles também foram assassinados por caçadores.
Ele cresceu sozinho. Ele se tornou uma arma.
— Descanso! — O treinador anunciou, e os guerreiros ao redor relaxaram.
Jungkook caiu de joelhos, o peito subindo e descendo de forma irregular. Seu corpo estava exausto, mas sua mente nunca desacelerava. Ele afundou na neve, o vapor quente de sua respiração se dissipando no ar congelado.
Os outros lobos o olhavam de longe, cochichando entre si. Ele sabia que o chamavam de estranho. Que achavam suas reações anormais. Mas Jungkook nunca se importou. Ele não pertencia a eles, e eles nunca entenderiam o que era ser ele.
Ele fechou os olhos, tentando encontrar algum alívio, mas não podia se permitir relaxar. Um calor súbito se aproximou, e seus instintos entraram em alerta.
Num movimento rápido, Jungkook se lançou para frente, derrubando Namjoon no chão. Seu peito subia e descia rapidamente, as presas expostas e as garras se alongando, prontas para rasgar.
— Ok… eu só trouxe uma coberta. — Namjoon disse, mantendo as mãos erguidas em rendição.
Jungkook seguiu seu olhar para o chão, onde um tecido espesso repousava sobre a neve. O silêncio ao redor pesava, os outros lobos observavam atentos, temendo o que ele poderia fazer.
Jimin se adiantou, seu olhar tenso e preocupado.
— Ka nisance ni. (Fique longe de mim.) — Jungkook rosnou, os músculos rígidos.
— Ba zan iya ba, na yi alkawari zan kula da ku. Ka tuna? Daga lokacin da kake kawai goma sha biyar? (Não posso, prometi cuidar de você. Você se lembra? Desde quando você tinha apenas quinze anos?)
Jungkook travou a mandíbula. Ele se lembrava.
Jimin rosnou, seus olhos brilhando em um tom âmbar sob a luz pálida da lua. Ele nunca gostou da ideia de Jungkook se juntar ao grupo. Não porque duvidasse de sua força, mas porque sabia que o alfa era instável. Jungkook era uma fera à beira do colapso, um predador de lobos. Se não fosse controlado, mataria qualquer um à sua volta.
Namjoon se afastou lentamente, seus músculos ainda tensos, mas sem demonstrar medo. Ele sabia que Jungkook não queria machucá-lo – não de propósito.
Jungkook estava no auge de seus 20 anos, e o peso de sua própria existência pesava sobre seus ombros como uma maldição. Seu corpo estremecia, não apenas pelo frio, mas pelo esforço de conter o impulso de atacar. Suas garras ainda estavam expostas, as presas latejando dentro da boca.
— Jungkook, chega. — Namjoon disse, sua voz mais baixa, mas ainda firme.
Jungkook piscou, como se estivesse voltando à realidade. Seu olhar encontrou o de Jimin por um breve segundo, e então, ele rosnou, mas então lentamente foi se afastando.
Ele virou-se abruptamente, pegando a coberta caída na neve e a jogando sobre os ombros. O tecido era quente, mas o frio dentro dele não se dissipava.
Namjoon apertou os punhos, sentindo o frio da neve queimando sua pele. Seus olhos seguiram o rastro que Jungkook deixara na floresta, um caminho de pegadas fundas e irregulares, marcadas pela tensão que o alfa carregava no corpo.
— Ele ainda vai nos matar um dia desses…. Como pode pegá-lo como se fosse seu filhote?! — Jimin falou irritado.
Seu alfa cuidava do mais novo como seu filhote, algo que Jimin não gostava.
— Você queria que eu simplesmente o ignorasse? — Namjoon repetiu, sua voz carregada de algo que Jimin não conseguiu decifrar.
— Talvez. O Jungkook já nos causou muitos problemas! — Jimin retrucou, cruzando os braços. Seu tom era firme, mas havia algo relutante em suas palavras. — Ele é instável, imprevisível. Você sabe disso melhor do que ninguém.
Namjoon soltou um suspiro pesado, esfregando a nuca.
— Eu sei. Mas ele também é um de nós.
Jimin apertou os lábios, seu olhar oscilando entre a escuridão da floresta e o amigo à sua frente.
— Você acha que ele enxerga assim? Como se fizesse parte de algo? Ele é claramente um lobo solitário! Se ele quiser ir, o deixe ir! Não precisamos dele.
Namjoon não respondeu de imediato. Ele olhou para as pegadas de Jungkook, para os galhos quebrados onde o alfa havia passado, para a forma como ele sempre desaparecia quando a luta dentro de si ficava grande demais.
— Eu acho que ele quer. Mas não sabe como.
O silêncio pairou entre eles, pesado como a neve que caía lenta ao redor.
Jimin bufou, virando-se.
— Você tem paciência demais para ele.
— E você, de menos.
Jimin não discutiu mais, apenas caminhou de volta para o centro da aldeia mas não sem antes lançar um último olhar na direção onde Jungkook havia sumido.
Ele tinha um mau pressentimento sobre aquilo.
E não gostava nem um pouco disso.
☯
A floresta se tornava mais densa conforme Jin e sua equipe avançavam, a neve se acumulando sob seus pés, tornando a caminhada cada vez mais difícil. O ar rarefeito do Monte Elbrus dificultava a respiração, e o frio cortante fazia com que até mesmo o menor movimento fosse um desafio. Mas o que mais incomodava Jin não era a temperatura ou a altitude.
O cheiro estava ali. Fraco, mas inconfundível.
Ele ergueu a mão, sinalizando para que o grupo parasse. Os guias locais, dois homens experientes que conheciam a montanha como a palma da mão, trocaram olhares preocupados. Eles também sentiram.
— Algo errado, senhor Kim? — Um deles, Nikolai, quebrou o silêncio. Seu sotaque carregado fazia as palavras soarem ainda mais graves.
— O cheiro de decomposição. Está fraco, mas com esse frio... — Jin estreitou os olhos para a trilha à frente. — Não devíamos estar sentindo nada.
O segundo guia, Mikhail, coçou a barba espessa e olhou ao redor, desconfiado.
— Isso não é bom sinal. O gelo preserva os corpos, mas não por tanto tempo. Se há cheiro, significa que algo os expôs.
Jin não gostou dessa resposta.
Eles avançaram com cautela, e então os encontraram.
Os corpos estavam lá havia pelo menos dois meses. O gelo os havia preservado, impedindo a decomposição completa, mas o tempo os havia castigado de outra forma. Feições congeladas em expressões de puro terror, olhos abertos, encarando o nada.
— Que diabos... — um dos investigadores murmurou, cobrindo a boca com a mão enluvada.
Jin se ajoelhou ao lado de um dos corpos, virando-o com cuidado. As roupas estavam rasgadas, mas o que mais chamou sua atenção foram os ferimentos. Cortes profundos e irregulares atravessavam torsos e membros, como se algo os tivesse rasgado de dentro para fora.
— Isso não foi um animal normal.— Nikolai resmungou, olhando para Mikhail.
— Nenhum animal da montanha faz isso. — Mikhail completou, os olhos duros como gelo.
Jin inspirou fundo e se levantou, lançando um olhar ao redor. Não havia pegadas, nem sinais de luta. Era como se algo tivesse surgido no meio deles. O vento assobiou entre as árvores, carregando um uivo baixo, quase humano.
Os rádios começaram a chiar de repente.
— Equipe Bravo, respondam. — A voz do operador da base soou distorcida, seguida por um ruído estático.
Jin tentou responder, mas o rádio apenas devolveu um som estridente.
Ele apertou os lábios. O Monte Elbrus sempre teve suas lendas. Desaparecimentos inexplicáveis, relatos de sombras se movendo entre as árvores, alpinistas que voltavam perturbados, incapazes de explicar o que haviam visto.
Ele nunca acreditou nessas histórias.
Para ele, era apenas lendas, assim como qualquer outra.
Mas agora, diante dos corpos mutilados, da ausência de pegadas, do silêncio sobrenatural que envolvia a floresta, ele não podia ignorar a sensação de que estavam sendo observados.
— Senhor Kim… — Nikolai chamou, a voz carregada de hesitação.
Jin se virou imediatamente. O guia estava ajoelhado ao lado de um dos corpos, segurando algo entre os dedos enluvados.
— O que foi? — Jin perguntou, aproximando-se.
Nikolai ergueu um pequeno pedaço de plástico meio soterrado pelo gelo. A neve grudada na superfície dificultava a leitura, mas bastou um movimento rápido para limpá-lo que Jin sentiu o estômago revirar.
Kim Taehyung.
O nome destacado no crachá reluziu sob a luz pálida do amanhecer. Jin apertou os lábios, fechando os dedos ao redor do objeto como se ele pudesse lhe oferecer respostas.
— Isso complica tudo. — Sua voz saiu baixa, quase para si mesmo.
Mikhail, que observava em silêncio até então, inclinou-se para ver melhor.
— Tem certeza de que ele está por aqui?
Jin escaneou os corpos dispostos de maneira caótica na neve. O cheiro de decomposição ainda persistia, misturado ao frio cortante da montanha. Cada feição congelada contava uma história de terror, mas nenhuma delas era a de Taehyung.
— Se ele estivesse aqui, seu corpo deveria estar com os outros. — Jin disse, a tensão em sua voz crescendo.
Nikolai trocou um olhar sombrio com Mikhail antes de se levantar e encarar a floresta adiante.
— Então onde ele está…?
☯
A noite fria envolvia a pequena cabana, o silêncio apenas interrompido pelo som abafado da respiração ofegante de Taehyung.
A mão grande de Jungkook cobria a boca do ômega, impedindo que seus gemidos escapassem para além das paredes de pano O alfa sabia o quão escandaloso Taehyung podia ser, e não queria correr riscos. Seu corpo se movia com firmeza, arrancando do mais novo reações que alimentavam ainda mais sua fome primitiva.
Os olhos de Taehyung reviraram sua expressão em uma mistura de prazer e entrega absoluta. Para Jungkook, era a melhor visão que já havia presenciado. A forma como o corpo do ômega se curvava debaixo do seu, como sua pele corava e tremia a cada nova investida — tudo isso o fazia perder qualquer resquício de controle.
O aroma denso de ambos preenchia a cabana, dominado pelo cheiro inebriante de Jungkook. O lobo dentro dele rugia de satisfação. Taehyung estava ali, entregue, moldado por suas mãos.
Jungkook se inclinou, pressionando os lábios contra a pele quente do pescoço do ômega, sentindo a pulsação acelerada sob a língua. Taehyung arfou contra sua palma, os olhos semicerrados em puro desejo.
— Você é meu. — Jungkook rosnou, sua voz rouca e carregada de posse.
Taehyung se apertou mais contra ele em resposta, as unhas cravando-se nas costas largas do alfa. Ele não precisava dizer nada. Seu corpo já implorava por mais.
E Jungkook estava mais do que disposto a dar.
O ritmo de Jungkook se intensificou, seu corpo guiado pelo instinto primitivo de reivindicar o ômega debaixo dele. A cabana parecia pequena demais para conter a energia bruta que emanava dos dois, o calor dos corpos suplantando o frio da noite.
A mão antes firme sobre a boca de Taehyung deslizou para seu rosto, segurando-o com firmeza. Ele queria ver cada detalhe — os olhos enevoados pelo prazer, os lábios entreabertos, o brilho da submissão voluntária.
— Olhe para mim. — ordenou, a voz baixa e carregada.
Taehyung obedeceu, as pupilas dilatadas, o corpo trêmulo embaixo do alfa. Seus dedos agarraram os lençóis, a respiração entrecortada.
Jungkook rosnou satisfeito, pressionando o peso do próprio corpo sobre o menor, tornando a conexão entre eles ainda mais profunda. Ele sentia tudo — cada tremor, cada contração, o calor pulsante que o chamava mais para dentro.
— Está sentindo isso, pequeno? — ele sussurrou contra o ouvido de Taehyung, mordiscando o lóbulo sensível.
O ômega gemeu, arqueando as costas, os dedos deslizando pela pele quente e suada do alfa.
— J-Jungkook… — sua voz saiu fraca, carregada de necessidade.
Jungkook sorriu satisfeito.
— Diga meu nome.
O cheiro de desejo pairava no ar, mesclando-se ao aroma natural de ambos, tornando o ambiente denso e intoxicante. Jungkook sentia seu lobo rugir dentro de si, pedindo para marcá-lo, para fazê-lo seu em definitivo.
Ele roçou o nariz contra a curva do pescoço de Taehyung, sentindo a pulsação acelerada sob sua pele.
— Ju-Jungkook… está atando..
Jungkook sentiu Taichi rugir em êxtase com as palavras de Taehyung. Atar. O simples pensamento fez seu corpo vibrar em uma onda de puro instinto, dominado pelo desejo insaciável de reivindicar o ômega de uma vez por todas.
Seu aperto ao redor da cintura de Taehyung se intensificou, mantendo-o firme enquanto seus movimentos se tornavam mais lentos e profundos, como se seu corpo instintivamente estivesse prolongando aquele momento.
Taehyung arqueou as costas, os gemidos abafados escapando entre os dedos que cobriam sua boca. Seus olhos estavam brilhando, o rosto corado e a expressão completamente entregue. Ele sentia, e queria mais.
Jungkook rosnou contra a pele suada do mais novo, distribuindo beijos molhados ao longo do pescoço delicado, enquanto seus quadris mantinham um ritmo intenso, cada movimento ecoando pelo quarto em sons abafados.
— Você aguenta, não aguenta, pequeno? — ele sussurrou contra a orelha de Taehyung, mordiscando-a de leve.
O ômega gemeu, concordando freneticamente com a cabeça.
— S-Sim… amor… por favor…
O alfa sentiu sua pele formigar ao ouvir aquele pedido rouco e carregado de necessidade. Seu lobo rugiu de satisfação, sentindo o ápice se aproximar. Ele segurou o rosto de Taehyung, fazendo-o encará-lo.
Os olhos enevoados de Taehyung se fixaram nos dele, as pupilas dilatadas, o corpo trêmulo.
E então, aconteceu.
Jungkook estremeceu contra ele, um rosnado profundo ecoando em seu peito enquanto a onda de prazer o dominava por completo. Taehyung se arqueou uma última vez, agarrando-se a ele, as pernas apertando ao redor da cintura do alfa enquanto seu próprio clímax o atingia.
O corpo de Jungkook se tensionou ao máximo antes de finalmente se entregar, enterrando-se fundo dentro de Taehyung enquanto um rosnado profundo ecoava de sua garganta. O prazer o consumiu de dentro para fora, uma onda quente e esmagadora que o fez apertar o ômega contra si com força.
Taehyung gemeu alto, a voz falhando entre ofegos quando sentiu o alfa pulsar dentro dele, preenchendo-o completamente. O calor intenso se espalhou por seu ventre, e foi o suficiente para que ele próprio atingisse o ápice. Seu corpo se arqueou, tremendo sob o alfa enquanto o prazer explodia em sua pele, fazendo sua mente se apagar por breves segundos.
O vínculo entre eles pareceu brilhar naquele momento, a conexão se intensificando ao máximo, como se seus corpos reconhecessem que já pertenciam um ao outro. Taehyung soluçou contra o peito de Jungkook, sua respiração entrecortada, enquanto o alfa mantinha-se sobre ele, ainda imerso no êxtase.
O silêncio da cabana foi preenchido apenas pelo som de suas respirações ofegantes. O cheiro de ambos pairava no ar, denso, intoxicante, um lembrete do que haviam acabado de compartilhar. Jungkook deslizou os lábios pelo ombro de Taehyung, depositando beijos lentos e possessivos ali antes de murmurar contra sua pele quente:
— Eu amo você.
Taehyung sorriu fraco, os olhos pesados de satisfação e cansaço, enquanto enlaçava os braços ao redor do pescoço do alfa.
Seu coração batia acelerado, e sua mente, antes dominada pelo instinto, vacilou por um segundo. Taehyung, ofegante, percebeu a pausa e apertou os dedos contra a nuca do alfa, trazendo seu rosto ainda mais para perto.
Jungkook respirou fundo, sentindo o cheiro de Taehyung se misturar ainda mais ao seu. O lobo dentro dele rugia, exigindo que ele o marcasse de novo, que reafirmasse sua posse.
A lembrança do momento em que fizeram isso percorreu sua mente-o sangue quente escorrendo entre seus dedos, a dor aguda do corte em suas palmas antes de pressioná-las juntas, unindo-se de maneira primitiva e irrefutável. O vínculo estava ali, gravado na pele de ambos.
Os olhos de Jungkook desceram para a mão de Taehyung, os dedos delicados tremendo levemente contra os lençois amassados. A marca, ainda visível, estava ali — uma linha fina e cicatrizada, lembrança de que ele já era seu.
Sem tirar os olhos do ômega, Jungkook segurou sua mão e a trouxe para perto dos lábios. Taehyung observou, os lábios entreabertos, a respiração ainda pesada. Então, sentiu.
A língua quente e áspera do alfa deslizou lentamente sobre sua palma marcada, pressionando-a com suavidade, como se estivesse reafirmando o que já sabiam que já eram. Taehyung estremeceu, um arrepio correndo por sua espinha, os olhos se fechando por um instante.
Jungkook rosnou baixo, satisfeito com a reação.
— Você sempre foi meu. — murmurou contra a pele úmida, depositando um beijo ali logo em seguida.
Taehyung abriu os olhos, o rosto corado, mas o olhar cheio de ternura e submissão. Ele apertou os dedos ao redor da mão de Jungkook, entrelaçando-os, e sorriu levemente.
— Sempre serei.
☯
A manhã chegou fria e silenciosa. O cheiro da floresta misturava-se ao aroma amadeirado da fogueira recém-apagada, mas nem mesmo o ar gelado foi capaz de acalmar os ânimos.
— Isso não pode passar impune, Namjoon! — Jimin exclamou, cruzando os braços.
Seus olhos ardiam em indignação, a postura rígida denunciando sua irritação. Namjoon suspirou, passando a mão pelos cabelos enquanto mantinha a voz firme, mas contida.
— Você está exagerando. Não passou de uma conversa.
Jimin riu, mas sem humor.
— Uma conversa? Ela estava se oferecendo para você na frente de todos! — Ele estreitou os olhos, sentindo seu sangue ferver. — Você pode fingir que isso não significa nada, mas no meio de uma alcateia, isso é uma afronta. Ela desrespeitou minha posição!
Namjoon apertou a mandíbula. Ele sabia que Jimin não estava errado. Uma ômega insinuar para um alfa comprometido era visto como um insulto direto ao parceiro legítimo. Mas, para ele, aquilo parecia exagerado demais.
— Olha, eu não incentivei nada. Eu a rejeitei no mesmo instante. Isso já não é suficiente?
Jimin cerrou os punhos.
— Não, não é. — Sua voz estava mais baixa agora, mas carregada de firmeza. — Se deixarmos isso passar, amanhã ela fará de novo. E depois outra vai tentar. E quando percebermos, não haverá mais respeito!
Namjoon sabia que Jimin estava falando sério. Para o ômega, aquilo não era apenas ciúme. Era uma questão de hierarquia, de respeito, de mostrar que sua posição ao lado de Namjoon não era algo que qualquer um pudesse questionar.
— O que você quer que eu faça, então? — Ele perguntou, sua voz mais cansada do que irritada.
Jimin respirou fundo antes de responder, seus olhos queimando de determinação.
— Ela precisa ser punida.
Namjoon sustentou o olhar do menor por alguns segundos, tentando encontrar uma brecha, uma forma de contornar a situação. Mas Jimin não piscou, não recuou.
O silêncio entre os dois era pesado, apenas o farfalhar do vento frio da manhã preenchia o espaço entre eles. Namjoon não desviou o olhar de Jimin, tentando encontrar qualquer hesitação na expressão do ômega — mas não havia nenhuma.
Jimin estava decidido.
— Você quer… como? — Namjoon perguntou, cruzando os braços.
Jimin deu um passo à frente, os olhos brilhando em um misto de fúria e algo mais profundo, mais sombrio.
— Ela deve saber que não pode tocar no que é meu. — Sua voz saiu baixa, porém cortante. — Você precisa deixar isso claro, Namjoon.
A forma possessiva como Jimin falou fez um arrepio subir pela espinha do alfa. Não era apenas orgulho ferido — era um aviso. O ômega queria sangue.
O ambiente estava carregado. O ar frio da manhã parecia ainda mais cortante diante da tensão que pairava entre os dois. Namjoon podia sentir o olhar penetrante de Jimin cravado nele, como se estivesse desafiando sua hesitação.
O ômega não piscava, a postura firme, os braços cruzados, a mandíbula travada. Ele estava impaciente.
— Jimin… — Namjoon suspirou, passando a língua pelos lábios, buscando palavras que não existiam.
Mas Jimin não queria justificativas, não queria desculpas.
— Se você não fizer nada, eu farei. — A voz dele veio afiada como uma lâmina, carregada de uma ameaça velada. — E garanto que não vai gostar do que vai acontecer.
Namjoon estreitou os olhos, a tensão em seus ombros tornou-se evidente. Ele conhecia Jimin melhor do que ninguém. Sabia que quando ele dizia algo, não era apenas uma provocação. Era um aviso.
— Você sabe o que uma punição pode significar para ela. — Namjoon murmurou, como uma última tentativa de fazê-lo recuar.
Jimin sorriu. Um sorriso frio, cruel.
— Sei.
E era isso que tornava tudo pior. Ele sabia exatamente o peso de suas palavras, sabia exatamente o que queria.
Namjoon respirou fundo. Ele estudou o ômega por um instante, notando o brilho perigoso em seus olhos, a forma como seus lábios estavam ligeiramente curvados em uma expressão de desafio.
Havia algo diferente nele naquele momento. Algo mais sombrio, mais implacável.
Talvez isso o excitasse um pouco.
E Jimin sabia disso.
— Tudo bem. — Namjoon cedeu, sua voz saiu baixa, quase um rosnado. — Mas eu decido como isso será feito.
Jimin ergueu o queixo, aceitando o acordo.
— Ótimo. Certifique-se de que ela aprenda a lição.
Namjoon não respondeu. Apenas virou-se para sair, sentindo o olhar intenso do ômega queimando em suas costas.
Cada passo que dava parecia mais pesado. Ele não gostava disso. Não gostava de ser manipulado, não gostava da maneira como Jimin conseguia dobrá-lo com tão poucas palavras.
Mas não tinha escolha.
Porque se ele não fizesse, Jimin faria.
E ele sabia que o ômega não teria piedade.
☯
A luz do dia passava pela cabana, aquecendo o ambiente com seu brilho dourado. O ar estava calmo, preenchido apenas pelo som leve da respiração de ambos.
Taehyung estava sentado na cama, os pés descalços roçando levemente contra as costas largas de Jungkook, que se acomodava entre suas pernas, sentado no chão. Havia se tornado um ritual matinal – Taehyung trançando o cabelo longo do alfa, testando diferentes padrões, sentindo a textura dos fios grossos entre os dedos ágeis.
Jungkook não reclamava. Pelo contrário, entregava-se ao toque cuidadoso, deixando que Taehyung guiasse cada movimento. Seu olhar âmbar, antes sempre vigilante, estava suavizado pelo conforto do momento, a respiração lenta, os ombros relaxados.
— E agora? — Jungkook perguntou, a voz rouca quebrando o silêncio.
Taehyung sorriu, puxando uma mecha solta para entrelaçar junto às outras.
— Algo novo. Quero ver como você fica com uma trança mais elaborada.
Jungkook soltou um som baixo, quase uma risada.
— Como aprendeu?
Taehyung hesitou por um instante, os dedos ainda se movendo pelos fios sedosos do alfa.
— Uh... eu gostava de brincar com bonecas. Gostava de fazer penteados na minha mãe.
Jungkook inclinou levemente a cabeça para o lado, intrigado.
— Mãe?
— Sim. — Taehyung respirou fundo, terminando de prender a trança. — Meus pais morreram quando completei vinte e um anos. Foi um acidente de carro.
Jungkook sentiu a mudança na voz do ômega — uma melancolia silenciosa, escondida sob a tranquilidade de suas palavras. Ele não perguntou detalhes, mas algo dentro dele se remexeu ao ouvir aquilo.
— Sinto muito.
Taehyung deu um pequeno sorriso, embora Jungkook não pudesse vê-lo de frente.
— Não precisa. Já faz tempo. Mas... às vezes, ainda sinto falta deles.
Jungkook inclinou a cabeça para trás, apoiando-a levemente contra a perna de Taehyung. Seu olhar âmbar encontrou o do ômega, que o observava com uma expressão suave.
— E você? — Taehyung perguntou, a voz quase um sussurro. — Seus pais...
Jungkook desviou o olhar, fixando-se na lareira.
— Não falo sobre eles.
Taehyung notou a rigidez repentina no corpo do alfa, a forma como sua mandíbula travou levemente. Ele não insistiu. Em vez disso, deslizou os dedos suavemente pelo couro cabeludo de Jungkook, desfazendo a trança com paciência, refazendo-a em outro estilo, permitindo que o silêncio confortável falasse por eles.
Jungkook fechou os olhos por um instante, entregando-se à sensação do toque gentil.
— Jungkook… eu sei que deve ser difícil, mas… somos um casal, não somos? — Taehyung murmurou, os dedos ainda trançando o cabelo do alfa com cuidado. — Você não conta nada sobre você, sua vida, seu passado… e eu já te contei praticamente tudo sobre mim…
Jungkook permaneceu em silêncio. Ele não se moveu, não reagiu. Apenas respirou fundo, os ombros mantendo a mesma tensão de antes. Taehyung esperou por uma resposta. Alguns segundos se passaram, e nada veio.
Ele suspirou baixinho, os dedos desacelerando no cabelo de Jungkook antes de finalmente soltarem os fios.
— Tudo bem… — sua voz saiu num sussurro compreensivo. — Não precisa falar agora. Eu não quero te forçar.
Ele abaixou o olhar para o alfa, vendo apenas sua silhueta forte, a linha dura de sua mandíbula, os olhos que pareciam sempre carregar algo que ele nunca compartilhava.
Taehyung se inclinou um pouco para frente, os braços rodeando os ombros largos de Jungkook, seu peito se encostando suavemente às costas do alfa.
— Mas não guarde essa dor só para você. — ele murmurou contra a pele quente do outro. — Eu te amo.
Jungkook fechou os olhos por um instante, sentindo o calor do toque, o peso das palavras e a sinceridade na voz de Taehyung.
— Meus pais morreram quando eu tinha três anos. Fui criado por um casal de lobos, mas eles também foram mortos quando eu tinha quinze.
Taehyung sentiu o estômago revirar. Ele não esperava que Jungkook realmente falasse.
— Jungkook, eu…
— Tudo por causa dos malditos humanos. — O alfa interrompeu, a mandíbula travando. Sua voz carregava um ódio antigo, profundo. — É por isso que todos os que ousarem invadir o território devem morrer.
Taehyung congelou, lembrando-se dos corpos de sua equipe, agora soterrados na neve.
— E se forem inocentes? — sua voz saiu hesitante. — E se estiverem aqui apenas para explorar, estudar a região, sem a intenção de ferir ninguém?
Jungkook bufou, levantando-se antes mesmo de Taehyung terminar. Ele pegou seu colete de pele e o vestiu, cobrindo o peito nu.
— Inocentes? — zombou, os olhos faiscando em fúria. — Não existem humanos inocentes.
Taehyung sentiu um nó na garganta, mas foi obrigado a continuar.
— Mas e eu?
Jungkook virou-se para encará-lo, o olhar duro.
— Você não é humano.
— Ainda assim, Jungkook. — Taehyung se levantou também, encarando-o de frente. — Minha equipe e eu… nós não viemos para caçar vocês, não queríamos machucar ninguém. Só estávamos analisando a área para entender se tudo isso era real.
Jungkook riu, mas não havia humor no som.
— E quando descobrissem? — Ele inclinou a cabeça levemente, os olhos estreitando. — O que vocês fariam?
Taehyung abriu a boca, mas não encontrou resposta.
Seu silêncio foi tudo o que Jungkook precisava para confirmar o que já acreditava. Jungkook estreitou os olhos, esperando pela resposta que nunca veio. O silêncio de Taehyung dizia mais do que qualquer palavra.
— Exato. — O alfa resmungou, os olhos âmbar brilhando à luz da lareira. — Vocês nos caçariam. Nos estudariam como se fôssemos meros animais sem sentimentos.
Taehyung abriu a boca para protestar, mas hesitou. Ele conhecia a história. Sabia do que os humanos eram capazes para ter seus nomes estampados nas redes sociais como um ato histórico.
— Eu não faria isso. — murmurou.
Jungkook riu, mas não havia humor no som.
— Você pode até acreditar nisso, Taehyung. Mas e quanto aos outros? Você acha que seu povo hesitaria em nos destruir se soubessem o que realmente somos?
Taehyung apertou os punhos, a frustração crescendo em seu peito. Ele queria negar, queria dizer que as coisas não eram tão simples assim, mas a verdade era cruel: ele não podia ter certeza.
— A gente vai ficar aqui discutindo sobre isso? — sua voz soou cansada, o olhar desviado para o chão.
Jungkook suspirou, passando a mão pelas tranças antes de se aproximar. Mesmo sendo apenas três centímetros mais alto, sua presença parecia imponente.
— Desculpa, meu amor. — Sua voz agora era mais baixa, mais suave.
Ele ergueu as mãos e segurou o rosto de Taehyung com delicadeza, os polegares acariciando sua pele fria.
O ômega piscou lentamente, permitindo-se fechar os olhos por um instante diante do toque quente do alfa.
— Você não tem culpa, Jungkook. — murmurou, inclinando-se sutilmente contra suas mãos. — Não precisa se desculpar, compreendendo sua forma de pensar.
Jungkook o observou por um momento, seus olhos âmbar brilhando.
— Preciso…às vezes me pego esperando que você vá embora.
Taehyung abriu os olhos, sentindo seu coração apertar.
— Eu não vou. Nunca.
Jungkook não respondeu de imediato. Apenas puxou Taehyung para perto, seus braços fortes envolvendo a cintura do ômega. A diferença mínima de altura se tornava insignificante quando seus corpos se encaixavam perfeitamente, a testa do alfa descansando contra a de Taehyung.
O cheiro frio da neve misturava-se ao perfume suave do ômega, criando um casulo de conforto no ambiente aquecido pela lareira.
O silêncio entre eles não era mais pesado. Era um entendimento silencioso, um acordo tácito de que, por enquanto, estar ali juntos era o suficiente.
Espero que tenham gostado ❤️
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