XVII. Um alfa de verdade.
Jungkook continuava com os olhos fixos na chaleira enquanto o som do vento lá fora preenchia o silêncio entre eles. O chá estava quase pronto, mas sua mente permanecia distante. A preocupação com Taehyung não o deixava respirar em paz. Ele sabia que o jovem era frágil, mais vulnerável do que a maioria, e isso fazia o instinto protetor de Jungkook rugir alto dentro dele.
Taehyung, por outro lado, tentava manter os olhos abertos, mas a dor e o cansaço o consumiam. Apesar do desconforto, ele precisava quebrar o silêncio que parecia aumentar a tensão.
— Kaori… ela disse que viria… — murmurou, sua voz fraca, mas o suficiente para trazer Jungkook de volta à realidade.
Jungkook se virou imediatamente, os olhos âmbar encontrando o rosto - antes bronzeado, agora pálido - do mais novo. Ele caminhou até Taehyung com passos firmes, a preocupação evidente em sua expressão. Sentando ao lado do jovem, suas mãos grandes e firmes tocaram o rosto delicado do Kim com uma gentileza surpreendente.
— Não fale muito, Tae.
— Só estou curioso… — Taehyung sussurrou com dificuldade. Seus olhos se abriram devagar, encontrando o olhar intenso de Jungkook. — Está com raiva?
Jungkook negou com um leve balançar de cabeça.
— Como… como acordou? Você estava sedado.
— Você me chamou. — A resposta saiu simples, mas carregada de significado.
HORAS ANTES.
O corpo de Jungkook reagia como se uma ameaça iminente estivesse à espreita. Ele sentia os músculos tensionados, o suor escorrendo e as mãos formigando. O sedativo ainda fazia efeito, mas algo mais forte estava o chamando. Era o lobo dentro dele, acelerando o processo de expulsar a substância, lutando contra a letargia para atender um chamado silencioso.
E então veio. Uma sensação tão forte que o fez arfar. Medo. Não era seu, mas parecia ser. Era de Taehyung. Ele podia sentir como uma corrente elétrica, atravessando-o de forma violenta.
“Jungkook… por favor, perdoe-me… eu estou com medo, me ajuda… eu quero estar em seus braços. Por favor…”
A voz de Taehyung ecoava em sua mente como um grito desesperado, e Jungkook não podia ignorar. Seu lobo rugiu, arrancando-o de qualquer vestígio de sedação. Taehyung precisava dele. E ele iria até o fim do mundo para salvá-lo.
AGORA.
Jungkook suspirou ao se lembrar do que o tirou da letargia mais cedo. Agora, sentado ao lado de Taehyung, ele observava o rosto sereno, mas cansado, do mais jovem. A mão grande e áspera do alfa pousou no rosto de Taehyung com cuidado, os dedos traçando linhas invisíveis sobre sua pele.
— Você me chamou… e eu vim — murmurou, quase como se falasse para si mesmo.
Taehyung abriu os olhos lentamente, encontrando o olhar preocupado de Jungkook. Ele parecia distante, mas presente ao mesmo tempo, perdido em seus próprios pensamentos enquanto a mão permanecia em seu rosto.
— Eu… realmente chamei você? — perguntou, sua voz suave, como se temesse quebrar a tranquilidade entre eles.
— Não só chamou… você me sentiu — respondeu Jungkook, de tom firme, mas carregado de ternura. — Sua voz, seu medo, tudo chegou a mim.
Taehyung sentiu o coração acelerar levemente, uma sensação de conforto misturada com algo que ele não conseguia descrever.
— Sinto muito por isso… — disse, sua voz carregada de culpa.
Jungkook balançou a cabeça, um pequeno sorriso surgindo nos lábios.
— O meu verdadeiro dever é proteger você.
O silêncio voltou a preencher o ambiente por alguns instantes, quebrado apenas pelo som do vento lá fora. Taehyung respirou fundo, sentindo a mão de Jungkook agora deslizar até seu cabelo, os dedos passando com cuidado entre os fios bagunçados.
— Estou aqui, Tae — Jungkook murmurou, inclinando-se ligeiramente. — Sempre.
Taehyung fechou os olhos novamente, deixando-se relaxar sob o toque gentil de Jungkook. Ele não precisava dizer mais nada; naquele momento, as ações do alfa falavam por si mesmas.
Jungkook observou o rosto delicado do mais novo por mais alguns minutos, antes de ajustar os cobertores ao redor dele. Por mais que seu lobo quisesse vigiar Taehyung durante toda a noite, ele sabia que o jovem precisava descansar — e ele garantiria que nada o perturbasse enquanto isso acontecesse.
☯
Na sala de reuniões, um silêncio pesado pairava enquanto os líderes se reuniam ao redor da longa mesa de madeira. Jungkook estava sentado na ponta, os braços cruzados, a expressão séria e vigilante. Namjoon estava de pé, liderando a discussão, enquanto outros líderes lobos, incluindo Jimin, observavam atentamente.
— Precisamos falar sobre o que aconteceu na iniciação de ontem. — começou Namjoon, olhando diretamente para Jungkook. — Sua interferência quebrou uma regra essencial.
Jungkook manteve o olhar fixo em Namjoon, sem se abalar.
— Minha prioridade é proteger meu ômega. Taehyung estava em perigo real. Você esperava que eu simplesmente assistisse?
— Essa é exatamente a questão, Jungkook. — Namjoon rebateu, a voz firme. — Como sub-líder, você tem responsabilidades maiores que suas emoções. Sua ação não apenas violou as regras, mas também colocou a autoridade da alcateia em dúvida.
Jimin, que estava ao lado de Namjoon, interveio:
— Namjoon está certo, Jungkook. Mas, ao mesmo tempo, a luta não foi conduzida de maneira justa. Nara ultrapassou limites ao cravar as unhas no pescoço de Taehyung. Ela sabia que ele ainda estava em adaptação à sua nova forma.
— Então, admitem que Taehyung foi alvo de uma estratégia desleal? — Jungkook perguntou, sua voz carregada de ironia.
— Admitimos que foi uma falha de supervisão. — Namjoon respondeu, a expressão endurecida. — Mas isso não justifica sua interferência.
Um lobo de aparência mais velha chamado Donghyun, pigarrou, chamando a atenção.
— Precisamos encontrar um equilíbrio aqui. O que aconteceu foi excepcional, mas não podemos permitir que isso se repita. Proponho reforçar o treinamento de Taehyung e garantir que as futuras iniciações sejam mais rigorosamente monitoradas.
— E quanto à Nara? — perguntou Jungkook, o tom mais frio agora. — Ela violou o código ao atacar com a intenção de matar.
Namjoon hesitou, mas respondeu:
— Nara será advertida e retirada das próximas lutas até que seja avaliada novamente.
Jungkook não parecia satisfeito, mas assentiu lentamente, sabendo que pressionar mais poderia causar ainda mais atritos.
— E quanto a mim? — ele perguntou, desafiando Namjoon com o olhar.
— Considerando as circunstâncias, não haverá punição. Mas você precisa entender, Jungkook, que sua posição exige equilíbrio entre proteger e liderar. Não podemos permitir que emoções comprometam nossas regras.
Jungkook levantou-se, a cadeira rangendo no processo.
— Minhas emoções não comprometem nada. Elas me guiam. — Ele olhou diretamente para Namjoon. — E se proteger o Taehyung me faz parecer um líder fraco para você, então talvez você precise rever o que significa ser um alfa de verdade.
A tensão na sala era palpável enquanto Jungkook deixava a reunião, suas palavras ecoando na mente de todos os presentes.
Jungkook saiu da sala com passos firmes, mas assim que foi em direção a sua cabana e a de Taehyung, sua postura endurecida começou a relaxar. Ele respirou fundo antes de entrar suavemente, encontrando Taehyung ainda deitado na cama. O ômega estava acordado, os olhos fixos no teto, perdidos em pensamentos.
— Jungkook? — Taehyung murmurou, virando a cabeça para encarar o alfa.
— Sou eu. — Jungkook sorriu e caminhou até a cama. Sentou-se na beira, observando o rosto pálido e cansado de Taehyung.
— Como foi a reunião? — Taehyung perguntou, a voz baixa.
— Tensa, mas resolvida. — Jungkook respondeu com um meio sorriso. Ele estendeu a mão, afastando uma mecha de cabelo da testa de Taehyung. — Agora não quero falar sobre a reunião. Quero saber de você.
Taehyung piscou, confuso.
— De mim?
Jungkook assentiu, inclinando-se levemente.
— Como foi a sensação, Tae? Se transformar pela primeira vez? O que você sentiu?
Taehyung desviou o olhar por um momento, como se buscasse as palavras certas.
— Foi... assustador, no início. — Ele começou, os dedos inquietos mexendo no cobertor. — Senti como se meu corpo estivesse se quebrando, como se eu fosse explodir de dentro para fora. A dor... foi intensa.
Jungkook franziu o cenho, o maxilar travando ao ouvir a descrição de Taehyung.
— Mas... — Taehyung continuou, voltando a olhar para Jungkook. — Depois da dor, foi como se algo despertasse em mim. Algo... antigo, poderoso. Me senti diferente, mas de um jeito bom.
Ele deu um pequeno sorriso, tímido, desviando o olhar por um momento.
— Está sentindo dor? — Jungkook perguntou, a voz baixa, mas carregada de preocupação.
— Um pouco… — Taehyung resmungou, os dedos apertando levemente o cobertor sobre ele.
Jungkook assentiu, sua expressão suavizando enquanto ele se inclinava para mais perto.
— É normal. — Ele falou, sua voz ficando mais gentil. — Seu corpo não está acostumado com isso. Mas vai se adaptar, prometo.
Antes que Taehyung pudesse responder, Jungkook aproximou-se mais e, em um gesto inesperado, inclinou-se e depositou um beijo suave sobre o curativo no pescoço do ômega.
Taehyung prendeu a respiração, os olhos arregalados enquanto o calor subia por seu rosto.
— Jungkook… — Ele murmurou, a voz quase um sussurro, desviando o olhar com as bochechas completamente coradas.
Jungkook recuou levemente, um pequeno sorriso brincando em seus lábios ao notar a timidez de Taehyung.
— Não precisa ficar envergonhado. Afinal, você e eu já acasalamos, então isso não deveria ser grande coisa.
Taehyung sentiu o rosto queimar, a declaração de Jungkook o deixando sem palavras. A única reação que conseguiu foi erguer a mão e bater no peito do alfa. Jungkook fingiu surpresa por um instante, mas logo caiu na risada, claramente se divertindo com a situação.
— Uh… isso me lembra… — Jungkook começou, agora com um olhar travesso. — Você tomou algo para evitar uma possível gravidez?
Taehyung arregalou os olhos, sentindo o chão sumir sob seus pés. Ele encarou Jungkook como se o alfa tivesse acabado de sugerir algo impensável. Ele se levantou, sentando-se na cama.
— Gra-grávido?! — Taehyung gaguejou, a voz mais alta do que pretendia. No entanto, o movimento repentino fez um gemido de dor escapar de seus lábios.
— Shhh… — Jungkook pediu, seu tom suave enquanto colocava a mão sobre o ombro de Taehyung para acalmá-lo. — Não é algo ruim. Será que...— Ele deixou a frase no ar, estendendo a mão em direção à barriga de Taehyung com um sorriso malicioso.
Antes que ele pudesse tocar, Taehyung reagiu rapidamente, batendo na mão de Jungkook.
— Eu. Não. Estou. Grávido!
Cada palavra foi dita com clareza e firmeza, o rosto de Taehyung ainda mais vermelho.
— Tudo bem… — Jungkook ergueu as mãos em rendição, o sorriso divertido ainda presente. — Mas, eu saberia...
Taehyung suspirou profundamente, tentando ignorar a provocação do alfa. Quando Jungkook estava prestes a falar mais alguma coisa, o som de palmas ecoou pelo ambiente, chamando a atenção de ambos para a entrada. Yoongi apareceu, com um sorriso despreocupado nos lábios, caminhando em direção à cama onde Taehyung descansava.
Ao ver Yoongi, Taehyung abriu um sorriso caloroso, mas Jungkook apenas estreitou os olhos, visivelmente incomodado.
— Como você está se sentindo, Tae? — Yoongi perguntou, sentando-se ao lado dele, o tom genuinamente preocupado.
— Estou bem, Yooni. — Taehyung respondeu, com um leve sorriso.
Jungkook sentiu o peito apertar quando ouviu Taehyung chamar Yoongi pelo apelido de forma tão natural. Ele tentou disfarçar, mas a tensão em seu maxilar e o brilho sutil em seus olhos âmbar não passaram despercebidos. Ele se levantou de forma abrupta, passando a mão pelos cabelos e soltando um suspiro carregado.
— "Yooni"? — ele repetiu, o tom mais baixo, mas ainda perceptivelmente irritado. — Isso soa íntimo demais.
Taehyung piscou, confuso com a mudança repentina de humor do alfa.
— É só um apelido, Jungkook. — Ele tentou minimizar, olhando para Yoongi, que parecia se divertir com a situação.
— Apelidos íntimos são para companheiros, não para amigos. — Jungkook falou, sua voz grave, o lobo dentro dele começando a rugir silenciosamente.
Yoongi ergueu as mãos em um gesto defensivo, o sorriso brincalhão ainda em seus lábios.
— Calma, Jungkook. Eu e Taehyung somos apenas amigos. Não precisa agir como se eu fosse roubá-lo de você.
— Não estou agindo assim. — Jungkook rebateu, mas a expressão em seu rosto dizia o contrário. Ele se inclinou levemente para Taehyung, seu olhar âmbar fixo nos olhos surpresos do ômega. — Você é meu. — Ele declarou, com um tom possessivo que fez o coração de Taehyung acelerar.
Taehyung sentiu o rosto corar novamente, desviando o olhar para o cobertor.
— Jungkook... você não precisa ser tão…
Yoongi riu baixinho.
— Parece que o alfa aqui tem dificuldade em compartilhar, não é?
Jungkook não respondeu; ao invés disso, ele se aproximou de Taehyung novamente, abaixando-se até que seu rosto estivesse próximo ao do ômega. Ele inclinou a cabeça levemente, o nariz quase tocando a pele delicada do pescoço de Taehyung.
O ômega prendeu a respiração, sentindo a forma como Jungkook o cheirava. Era um comportamento animalesco, um instinto puro do alfa para reafirmar sua marca e sua presença.
— Você carrega meu cheiro. — Jungkook murmurou, sua voz mais rouca enquanto inalava profundamente. — E ele precisa ser ainda mais forte.
— Jungkook! — Taehyung protestou, empurrando levemente o peito largo do alfa. — Não faça isso na frente do Yoongi!
— Por que não? — Jungkook perguntou, erguendo o rosto e encarando Taehyung com intensidade. — Ele precisa saber que você é meu.
— Eu já sei disso. — Yoongi respondeu casualmente, cruzando os braços. — Mas acho que você está exagerando.
Jungkook ignorou o comentário, seus olhos âmbar brilhando ainda mais. Ele sabia que Yoongi não representava uma ameaça real, mas o lobo dentro dele exigia reafirmar seu território.
Ele se levantou, endireitando-se, mas ainda com os olhos fixos em Taehyung.
— Não gosto de dividir, Taehyung. Nunca gostei.
Taehyung suspirou, sentindo a intensidade da declaração de Jungkook. Apesar da situação desconfortável, havia algo tranquilizador na proteção feroz do alfa, como se nada pudesse atingi-lo enquanto estivesse ao lado dele.
— Eu sei. — Ele respondeu suavemente, seus olhos finalmente encontrando os de Jungkook.
Yoongi suspirou dramaticamente.
— Bem, parece que estou atrapalhando. Vou deixá-los sozinhos. — Ele piscou para Taehyung. — Mas me chame se precisar de algo, "Tae".
Jungkook rosnou baixo, um som primal que ecoou pela cabana, mas Yoongi apenas riu, desafiador e divertido, antes de sair e fechar a porta atrás de si. A tensão no ambiente desapareceu assim que ele saiu e, quando Jungkook se viu novamente sozinho com Taehyung, um suspiro pesado escapou de seus pulmões.
Ele relaxou visivelmente, como se o peso de um fardo tivesse sido aliviado, e, a proximidade entre eles, por mais simples que fosse, parecia reconfortante para ambos.
Taehyung, com um sorriso leve, quebrou o silêncio.
— Eu-eu gosto quando você é ciumento comigo, Alfa. — Ele falou de forma quase tímida, seus olhos brilhando com uma faísca de diversão. — Mas o Yoongi... ele é meu amigo.
Jungkook o olhou, uma mistura de confusão e ciúmes ainda visível em seus olhos, mas também um pouco de compreensão começando a surgir. Seu tom de voz se suavizou, e ele olhou para Taehyung de maneira mais atenta.
— Eu sei, Taehyung. Não é sobre ele ser amigo... é sobre... — Jungkook pausou, tentando encontrar as palavras certas. — É sobre o quanto ele se aproxima de você.
Taehyung sentiu o peso das palavras de Jungkook e, de certa forma, isso fez seu peito apertar. Ele sabia que o alfa estava lidando com sentimentos complicados, mas também sentia que estava sendo alvo de uma possessividade que, por um lado, era reconfortante, mas, por outro, o deixava um pouco desconfortável.
— Ele é só meu amigo, Jungkook. — Taehyung falou suavemente, tocando levemente o braço de Jungkook.
Jungkook olhou para o toque de Taehyung em seu braço, e um pequeno suspiro escapou de seus lábios. Ele fechou os olhos por um momento, como se tentasse domar a tempestade de emoções que fervilhava dentro dele. Quando finalmente os abriu, seu olhar âmbar encontrou o de Taehyung, agora mais suave e cheio de um calor que parecia capaz de derreter qualquer barreira.
— Eu amo você. — Ele disse, em um tom rouco que fez o coração de Taehyung disparar.
Taehyung sentiu o ar fugir de seus pulmões por um instante. Seu peito se encheu de uma mistura de surpresa e felicidade, e ele não conseguiu conter o sorriso que iluminou seu rosto. Seus olhos brilharam com emoção, e ele suspirou profundamente, deixando a felicidade fluir por todo o seu corpo.
— Eu... também amo você, Jungkook. — Ele murmurou, sua voz suave, mas firme. — Mesmo quando você age como um alfa ciumento e possessivo, eu não consigo evitar. Você me faz sentir seguro... e amado.
Jungkook sentiu algo se acender dentro dele ao ouvir as palavras de Taehyung. Ele se inclinou levemente, aproximando-se do ômega. Com um gesto cuidadoso, segurou o rosto de Taehyung entre suas mãos, os polegares acariciando suavemente suas bochechas.
— Eu só quero te proteger, Tae. — Ele disse baixinho, sua testa tocando a do ômega. — Não quero que nada ou ninguém te machuque... nunca.
Taehyung fechou os olhos por um momento, sentindo a proximidade, o calor do alfa e a intensidade daquele momento. Seu coração parecia bater em um ritmo descompassado, mas ele não queria estar em outro lugar.
— Eu confio em você. — Ele sussurrou, abrindo os olhos para encontrar os de Jungkook. — E sei que você nunca me machucaria.
Jungkook soltou um suspiro aliviado e, com um sorriso quase imperceptível, encostou os lábios na testa de Taehyung, deixando um beijo demorado ali. Era um gesto simples, mas carregado de emoção, como se quisesse transmitir todo o amor e a proteção que sentia.
O momento foi interrompido pelo cheiro forte de um alfa, Jungkook rapidamente ergueu a cabeça, o instinto de alfa entrando em alerta, mas relaxou, Taehyung riu baixinho, tocando a mão de Jungkook para chamar sua atenção.
— Sempre em alerta, não é? — Ele brincou, o tom leve e divertido.
— Não posso evitar. — Jungkook respondeu, seu olhar voltando a suavizar ao encarar Taehyung. — Você é meu mundo,Taehyung. E eu nunca vou deixar nada te tirar de mim.
O ômega sentiu as palavras de Jungkook ecoarem dentro dele, enchendo-o de uma paz que ele não sabia que precisava. Ele entrelaçou os dedos nos do alfa, puxando-o para mais perto.
— Então fique aqui comigo, só um pouco mais. — Ele pediu suavemente, seus olhos brilhando de expectativa.
Jungkook não precisou de mais nada. Ele se acomodou ao lado de Taehyung, permitindo que o ômega descansasse em seu ombro. O silêncio que se seguiu foi confortável, um momento de pura conexão entre os dois, onde palavras eram desnecessárias.
Ambos sentiram que estavam exatamente onde deveriam estar.
Aeroporto Internacional de Incheon – Seul, Coreia do Sul
Kim Seokjin ajeitava os óculos enquanto seus dedos habilidosos deslizavam pelo teclado do laptop em seu colo. Ele estava no saguão do aeroporto, esperando o voo que o levaria à Rússia. O caso em que estava trabalhando havia consumido seus dias e noites nos últimos dois meses, deixando-o frustrado com a falta de respostas.
A última mensagem do grupo de expedição ao Monte Elbrus ainda ecoava em sua mente. "Condições extremas. Retornaremos ao acampamento base. Comunicações limitadas." Depois disso, silêncio absoluto.
Jin bufou, apoiando o cotovelo no braço da cadeira e a mão no queixo, analisando novamente as informações que reunira. As autoridades russas haviam declarado que o grupo poderia estar preso em algum ponto da montanha, com o clima severo tornando o resgate quase impossível. A situação piorava a cada hora, e ele sabia que as chances de sobrevivência diminuíam drasticamente conforme os dias passavam.
Entre os desaparecidos estava Kim Taehyung, um jovem paleontólogo com um futuro brilhante. Seu nome agora não era apenas mais um na lista de membros da expedição; para Jin, ele carregava um peso pessoal. Embora ele tentasse manter a compostura profissional, o sangue frio necessário para lidar com esses casos parecia escapar cada vez que via a foto de Taehyung anexada aos relatórios.
O som do alto-falante anunciou que o voo para Moscou começaria o embarque em breve. Jin fechou o laptop com um clique determinado e suspirou profundamente, ajustando o casaco enquanto se levantava. "Não há tempo para mais hesitação", pensou. Ele precisava chegar ao Monte Elbrus e fazer algo que as operações locais pareciam incapazes de realizar: trazer Taehyung e os outros de volta.
Aeroporto de Moscou – Rússia
Jin desembarcou e, mesmo exausto pela viagem, já estava revisando o plano de ação. Ele havia entrado em contato com uma equipe de resgate local, mas sabia que eles estavam sobrecarregados e pouco otimistas.
— O Monte Elbrus não é só perigoso pela altitude — explicou um dos guias, um homem robusto com barba grisalha. — As mudanças climáticas são imprevisíveis, e a neve torna quase impossível rastrear qualquer sinal humano.
Jin ouviu tudo em silêncio, sua mente trabalhando rapidamente em alternativas. Ele sabia que cada minuto era crucial.
"Aguente firme, Taehyung."
Esclarecendo:
Taehyung é o único capaz de ouvir a voz de Kaori e estabelecer uma conexão com seu lobo interior. Diferentemente dos outros, que nascem com essa habilidade e aprendem a controlá-la desde cedo, ele nunca teve a oportunidade de treinar.
“Mas por quê, Ester?”, você pode se perguntar. É simples: Taehyung não nasceu com o domínio necessário sobre essa parte de si. Ele sequer compreende o funcionamento dessa ligação tão poderosa. E Kaori, sendo o espírito mais forte e dominante, sabe exatamente como usar isso a seu favor.
Enquanto os outros possuem um equilíbrio natural com seus lobos, Taehyung está à mercê de Kaori. Ela é livre para fazer o que bem entender, manipulando-o como uma marionete, já que ele não tem ideia de como contê-la.
Essa conexão os torna perigosos, tanto para os outros quanto para eles mesmos. Kaori é a personificação do caos e da força descomunal. Mas para isso se torna mais forte, o Taehyung tem que aprender suas emoções.
E é nesse conflito interno que reside sua maior fraqueza... e talvez sua maior força. Porque, apesar de tudo, Kaori e Taehyung são parte de um mesmo ser. Para sobreviver, ele precisará aprender a dominá-la ou arriscar ser destruído por ela.
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