IX. Depois da Lua de sangue.

Taehyung acordou com a cabeça latejando levemente, mas a visão de Jungkook ao seu lado, dormindo tranquilamente, fez sua dor parecer insignificante. O alfa estava tão próximo que seu nariz quase tocava o pescoço do ômega, e um braço forte repousava preguiçosamente sobre sua cintura. O outro braço estava debaixo de sua cabeça, agindo como um travesseiro improvisado. Taehyung se perguntou se aquilo não estaria deixando o braço de Jungkook dormente.

Com cuidado, ele retirou o braço que o envolvia e se virou, ficando de frente para o alfa. A tranquilidade no rosto de Jungkook era cativante. Tomando coragem, Taehyung levou sua mão trêmula à bochecha do alfa, acariciando-a com gentileza. A pele quente sob seus dedos era um lembrete de que tudo aquilo era real.

— Eu gosto, Tae... — Jungkook murmurou, ainda com os olhos fechados, mas claramente consciente do toque.

Os olhos de Taehyung se arregalaram, e ele rapidamente se virou, o rosto corando profundamente.

— Não acredito que você estava acordado... — sussurrou, envergonhado.

Jungkook deixou uma risadinha rouca escapar antes de abraçar Taehyung com firmeza, seu único braço envolvendo a cintura do ômega.

— Não dá pra resistir, Kaori. — ele provocou, esfregando o nariz no pescoço do Kim.

— Jungkook, pare de se esfregar. — Taehyung protestou, tentando manter a compostura, mas sua voz saiu mais suave do que pretendia.

— Casamento agora... — Jungkook declarou com seriedade repentina, surpreendendo Taehyung.

O ômega suspirou, revirando os olhos.

— Não nos casamos. Eu nem tenho uma aliança. — rebateu, tentando escapar da intensidade do momento.

Jungkook franziu a testa, confuso, como se o conceito fosse estranho para ele.

— Aliança? — repetiu, testando a palavra como se fosse nova para ele.

Com um gesto simples, o alfa ergueu a própria mão marcada e, em seguida, segurou a de Taehyung, mostrando-lhe a marca luminosa que ligava os dois.

— Isso aliança, Taehyung. É eterno. — Ele falou, sua voz grave e cheia de convicção.

Taehyung ficou em silêncio, encarando a marca em sua pele. Não havia muito o que argumentar; Jungkook tinha razão. Aquela ligação era única, muito além de qualquer anel ou ritual humano. Ele suspirou, um pequeno sorriso escapou enquanto tentava esconder o rubor crescente em seu rosto.

— Você nunca facilita pra mim, né? — murmurou, desviando os olhos.

— Nunca.

Jungkook respondeu com um sorriso travesso, antes de inclinar a cabeça e roubar um beijo rápido, deixando Taehyung ainda mais corado.

— Eu… eu sinto você. — Taehyung falou de repente, sua voz baixa, mas cheia de emoção. — São várias emoções, é tão estranho, parece que Kaori está falando na minha cabeça.

Jungkook levantou uma sobrancelha, interessado.

— O que ela diz?

Taehyung hesitou, mordendo o lábio. Ele fechou os olhos, tentando organizar os pensamentos e as sensações que dançavam em sua mente.

— Ela… ela quer sair. — Taehyung finalmente admitiu, sua voz quase um sussurro.

Jungkook franziu a testa, seu sorriso diminuindo. Ele não parecia surpreso, mas sua expressão ficou mais séria.

— Sair? — repetiu, como se quisesse confirmar.

— Sim. — Taehyung abriu os olhos e encontrou o olhar de Jungkook. — Ela está inquieta, como se estivesse presa. É como se ela quisesse tomar conta… de mim.

O alfa suspirou, passando a mão pelos cabelos.

— Tae. Kaori não é apenas uma memória. Ela faz parte de você. Mas… — ele fez uma pausa, segurando o rosto do ômega com ambas as mãos. — Você quem controla.

— E se eu não conseguir? — Taehyung perguntou, sua voz tingida de preocupação.

— Você conseguir. — Jungkook afirmou com firmeza.

Taehyung respirou fundo, tentando absorver as palavras do alfa.

— Como você tem tanta certeza?

Jungkook sorriu de leve, inclinando-se para beijar a testa de Taehyung com um gesto cheio de ternura.

— Você força.

Então, com um movimento exagerado, ele flexionou os bíceps musculosos, exibindo-os como se fosse um troféu. Taehyung soltou uma risadinha, achando a cena tão absurda quanto divertida. Mas, enquanto seus olhos deslizavam involuntariamente pelos braços definidos do alfa, algo mais surgiu — um misto de emoção, diversão e um desejo de tesão crescente que ele tentou ignorar.

Ele mordeu o lábio inferior, desconfortável com os pensamentos que se formavam. Eram intensos, eróticos, e completamente fora de lugar naquele momento. Taehyung desviou o olhar rapidamente, tentando recuperar o foco, mas sua mente insistia em traí-lo.

Jungkook arqueou uma sobrancelha, seus sentidos aguçados captando o leve aumento no ritmo cardíaco de Taehyung, a mudança quase imperceptível em sua respiração. Mas foi o aroma que chamou sua atenção. Ele inclinou a cabeça levemente, os olhos se estreitando enquanto um sorriso travesso começava a surgir.

— Tae... acasalar? — ele perguntou repentinamente, sua voz baixa e séria, mas havia uma faísca de provocação no tom.

Taehyung congelou. Seus olhos arregalaram, e ele quase engasgou com a própria saliva.

— Q-QUE?! Não! Você deve ter entendido errado. — Sua voz saiu alta e nervosa, claramente tentando desviar a atenção.

Jungkook deu um passo à frente, inclinando-se um pouco mais próximo. O sorriso brincalhão não abandonava seus lábios enquanto ele observava o rosto corado do ômega.

— Nunca erro.

O corpo de Taehyung enrijeceu. Ele sentiu o calor subir ainda mais, e o embaraço tomou conta de suas feições.

— Isso é… completamente fora de questão. — ele insistiu, cruzando os braços defensivamente, mas sua voz não tinha tanta firmeza quanto pretendia.

Jungkook inclinou a cabeça, seu sorriso se alargando.

— É? — ele murmurou, o tom mais grave, mais provocativo.

Taehyung sentiu como se o chão tivesse desaparecido sob seus pés. O cheiro de Jungkook o envolvia, intensificando tudo o que ele já estava sentindo. Ele sabia que o alfa podia sentir sua excitação — era impossível esconder.

— Pare… — Taehyung tentou soar autoritário, mas sua voz saiu como um sussurro trêmulo.

— Não posso. — Jungkook murmurou, aproximando-se ainda mais.

Seus olhos âmbar estavam fixos nos de Taehyung, cheios de uma intensidade que o fazia prender a respiração.

— Seu cheiro, Tae. — O alfa roçou os lábios contra a orelha do ômega, sua voz carregada de desejo, mas também de cuidado. — Não lute.

— J-Jungkook… — Taehyung gaguejou, seu coração disparado enquanto as mãos fortes do alfa seguravam delicadamente sua cintura, mantendo-o firmemente no lugar.

Ele não sabia o que dizer ou fazer, mas uma coisa era certa: não havia como escapar daquela intensidade que o envolvia por completo.

O acasalamento não aconteceu. Taehyung saiu correndo, o coração disparado e a mente em conflito. Atrás dele, Jungkook ficou parado, frustrado e confuso, enquanto o vínculo pulsava intensamente entre eles. Mesmo afastado, Taehyung podia sentir a mistura de emoções do alfa: desejo, paciência e uma leve ponta de decepção.

Ele parou ao lado de um rio, tentando se recompor. A água intensamente gelada que ele usou para molhar o rosto não ajudava a dissipar o calor em seu corpo ou os pensamentos conflitantes.

“Por que estou assim?” pensou, os dedos tremendo. “Eu quero, mas algo dentro de mim me segura…”

Foi então que ouviu passos leves pela neve atrás de si. Taehyung se virou rapidamente, seus instintos em alerta, mas relaxou levemente ao ver So-hee emergir das árvores. A bela mulher tinha um sorriso acolhedor no rosto, mas havia algo na maneira como seus olhos analisavam Taehyung que o deixava um pouco desconfiado.

— So-hee? O que está fazendo aqui? — perguntou, dando um passo atrás.

— Eu ia te perguntar o mesmo. — Ela riu suavemente, inclinando a cabeça. — Você parece tão perdido… o que aconteceu, Taehyung?

O ômega hesitou. Ele ainda não sabia muito sobre Han So-hee, exceto que ela era uma presença constante na aldeia e parecia ter um vínculo com Jungkook que ele ainda não compreendia totalmente. Mesmo assim, algo no tom de voz dela parecia genuíno.

— Eu… só precisava de um tempo sozinho. — respondeu, evitando o olhar dela.

So-hee arqueou uma sobrancelha, claramente percebendo que ele não estava sendo completamente honesto.

— Um tempo sozinho, hein? Isso não parece algo que você faria logo após o ritual da Lua de Sangue. — disse ela, a curiosidade evidente em sua voz. — O que aconteceu com Jungkook? Vocês discutiram?

— Olha... nós mal nos conhecemos, e eu não vejo por que falar sobre isso com você. — Taehyung disse, direto, sua voz carregada de sinceridade, mas sem hostilidade.

Han So-hee pareceu surpresa com a resposta, mas logo recuperou a compostura. Seu sorriso vacilou apenas por um instante antes de voltar a exibir a calma habitual.

— Jungkook é muito importante para mim, e...

— Então você deveria falar com ele, So-hee.

Taehyung a interrompeu, sua voz firme, mas não rude. Ele a encarou com um olhar que transmitia tanto sua determinação quanto o limite que acabara de estabelecer.

So-hee abriu a boca para responder, mas nada saiu. Ela parecia estar pesando suas palavras, como se buscasse uma maneira de continuar, mas, antes que pudesse dizer algo, Taehyung já havia dado as costas.

Sem olhar para trás, ele caminhou de volta para a trilha que o levaria a aldeia. Sua mente ainda estava confusa, mas seu coração sabia que ele não precisava compartilhar seus sentimentos mais íntimos com alguém que mal conhecia, especialmente alguém cuja relação com Jungkook ainda parecia cercada de mistérios.

Enquanto caminhava, as emoções no vínculo começaram a pulsar novamente, e ele sabia que Jungkook estava tentando alcançá-lo de alguma forma, como se dissesse silenciosamente que estava esperando. Mesmo sem estar pronto para enfrentar tudo de uma vez, Taehyung sentiu um fio de coragem se firmar dentro de si.

"Eu vou entender isso no meu tempo", pensou, sentindo a brisa fria da floresta acariciar sua pele.

Enquanto voltava, Taehyung percebeu uma movimentação estranha ao seu redor. Seus sentidos estavam aguçados, seus instintos alertas. Ele sentiu o coração acelerar enquanto algo pulsava dentro de si, algo que ele não conseguia identificar. De repente, a voz de Jungkook ecoou, forte e urgente, chamando pelo seu nome:

— TAEHYUNG!

A intensidade do grito o fez olhar na direção da voz, mas seu corpo não reagia. Uma dor insuportável o dominou, como se algo dentro dele estivesse se rompendo. Ele caiu de joelhos, tampando os ouvidos, tentando afastar a pressão que o consumia.

Quando finalmente conseguiu erguer o olhar, viu Jungkook correndo em sua direção, mas seu alívio foi curto. Um som de impacto fez Taehyung se sobressaltar, e ele viu o alfa sendo derrubado violentamente por uma figura lúpus desconhecida.

Essas pessoas... não eram familiares. Suas roupas eram diferentes, seus corpos menores, mas não menos letais. Taehyung sentiu o estômago revirar ao ver Jungkook se levantar com um rosnado feroz, derrubando e rasgando a barriga de um dos inimigos em um único golpe brutal, revelando as tripas e jorrando sangue pela neve.

Mas a luta não parou por ali. Logo, mais lobos avançaram sobre o alfa. O clã inteiro entrou em combate, lutando com uma determinação que Taehyung não compreendia. O ômega observava, paralisado, sem entender o motivo daquele confronto.

"Você vai ficar parado enquanto o nosso alfa está sofrendo?"

Uma voz ecoou em sua mente, forte e impositiva. Ele piscou, confuso, tentando entender se aquilo vinha de si mesmo ou de algo mais profundo.

— O quê...? — murmurou, sem forças.

"Eu preciso que se concentre, afaste seu medo, para que eu possa assumir o controle."

— Eu... não consigo... Jungkook, eu estou com medo, muito me-medo... — sussurrou, sua voz falhando enquanto o terror o dominava.

De repente, um rosnado alto e ensurdecedor cortou o caos ao redor. Taehyung congelou ao ver Jungkook se transformando diante de seus olhos, sua forma humana cedendo lugar a um lobo imenso e selvagem. Com olhos brilhando de pura fúria, o alfa avançou, destroçando qualquer inimigo que ousasse cruzar seu caminho.

Era uma visão ao mesmo tempo aterrorizante e fascinante. Aquele não era apenas Jungkook, o homem que ele conhecia. Era o alfa primordial, a força incontrolável que protegia o que era seu.

O lobo gigante parou abruptamente diante de Taehyung, farejando-o com urgência, verificando cada parte de seu corpo em busca de ferimentos.

— Jungkook... — Taehyung murmurou, sua voz trêmula.

Os olhos do lobo, antes cheios de ódio, suavizaram ao encontrar os de Taehyung. Mesmo naquela forma brutal, ele reconhecia seu ômega. Uma promessa silenciosa parecia emanar de seu olhar: ninguém o machucaria enquanto ele estivesse ali.

Enquanto Taehyung permanecia ajoelhado, sua respiração trêmula e o coração acelerado, Jungkook, em sua forma de lobo, se aproximava com passos pesados. Seus olhos, brilhando com intensidade sobrenatural, analisavam o ômega com preocupação. Ele rosnava baixo, mas não de ameaça; era um aviso para qualquer inimigo que ousasse se aproximar.

— Jungkook… — Taehyung murmurou, estendendo a mão trêmula na direção do alfa.

O lobo abaixou a cabeça, farejando o ar ao redor de Taehyung. Seu focinho tocou levemente a testa do ômega, confirmando que ele estava fisicamente ileso. Só então, Jungkook permitiu-se relaxar ligeiramente, soltando um suspiro grave que soava quase como um murmúrio. Mas seus olhos ainda estavam atentos, varrendo o ambiente em busca de qualquer ameaça restante.

— Por favor, não me deixe aqui. — Taehyung murmurou, sua voz frágil, mas carregada de emoção.

O lobo inclinou a cabeça, como se entendesse as palavras do ômega. Ele deu um passo à frente, envolvendo Taehyung em um círculo protetor com seu corpo robusto, com pelo preto. Mesmo em sua forma selvagem, havia algo reconfortante em sua presença, algo que Taehyung sentia em seu âmago.

O ômega, ainda ajoelhado, levou as mãos trêmulas ao pelo escuro e espesso do alfa, sentindo o calor que irradiava de seu corpo.

— Você é… tão diferente, tão lindo, Jungkook. — Ele sussurrou, um pequeno sorriso surgindo em seus lábios, apesar do caos ao redor.

Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, um ruído chamou a atenção de ambos. Jungkook levantou a cabeça rapidamente, seus olhos âmbar fixando-se na direção do som. Outro inimigo estava se aproximando, mas desta vez, não seria uma ameaça por muito tempo.

Com um movimento ágil, o lobo rugiu, seus músculos se contraindo antes de avançar em um salto poderoso. Taehyung assistiu, de coração apertado, enquanto Jungkook enfrentava o intruso com uma fúria implacável. Cada movimento era preciso, instintivo, e o inimigo logo foi neutralizado.

Taehyung sentiu uma mistura de alívio e angústia. Por mais impressionante que fosse a força de Jungkook, ver o alfa lutar sozinho contra tantos o fazia se sentir impotente.

Os gritos do clã rival ecoaram, palavras ásperas e carregadas de ameaça que Taehyung não compreendia, mas que fizeram Jungkook agir imediatamente. O enorme lobo abaixou-se, seu olhar feroz voltando-se para Taehyung.

— O que está acontecendo? — Taehyung perguntou, confuso e ansioso, mas não houve resposta direta.

Jungkook inclinou-se levemente, e antes que Taehyung pudesse protestar, sentiu as garras firmes do alfa segurando-o e posicionando-o sobre suas costas largas.

— Jungkook, o que você está fazendo? — Ele exclamou, mas uma voz dentro de sua mente o interrompeu. Era Kaori.

"Se segure, Taehyung."

O ômega agarrou-se ao pelo áspero e quente do lobo, seus dedos enterrando-se no manto negro enquanto sentia o poder pulsante sob ele. Jungkook não hesitou. Com um salto ágil, ele partiu em disparada, sua velocidade quase sobrenatural transformando o cenário em borrões brancos.

O vento chicoteava o rosto de Taehyung, mas ele não ousava soltar-se. Cada passo do lobo era firme e decidido, o som das patas contra o solo abafando o eco distante dos gritos de seus perseguidores. Apesar do medo, havia algo emocionante naquilo, como se ele estivesse experimentando uma parte da conexão primordial entre eles.

— Para onde estamos indo? — Taehyung gritou contra o vento, tentando ser ouvido.

"Para um lugar seguro.” Kaori respondeu, sua voz firme, mas reconfortante.

O ômega fechou os olhos, tentando se acalmar e confiar plenamente no alfa. Ele sabia que Jungkook faria qualquer coisa para protegê-lo, mesmo que isso significasse enfrentar o mundo inteiro.

(...)

Depois de um tempo que pareceu tanto segundos quanto uma eternidade, Jungkook desacelerou, entrando em uma casa oculta por grandes formações rochosas e densa vegetação. Lá dentro, o ambiente era frio e úmido, mas protegido. O lobo abaixou-se cuidadosamente, permitindo que Taehyung descesse uma de suas costas.

— Isso foi… intenso. — Taehyung disse, tentando recuperar o fôlego, suas mãos ainda tremendo ligeiramente.

Jungkook, ainda em sua forma de lobo, aproximou-se, esfregando o focinho contra o rosto de Taehyung, um gesto reconfortante. Mesmo sem palavras, o ômega podia sentir a mensagem clara: Você está seguro agora.

— Vamos ficar bem, Jungkook? — Taehyung perguntou, sua voz baixa, quase um sussurro carregado de incerteza.

O alfa, em sua forma selvagem, deitou-se no chão com um suspiro pesado. O cansaço finalmente o alcançava, seu corpo forte demonstrando os sinais de uma exaustão. Seus olhos brilhantes se voltaram para Taehyung, silenciosamente prometendo que o protegeria, custasse o que custasse.

Taehyung se aproximou com cuidado, seus passos hesitantes, mas determinados. Ele se sentou ao lado do alfa, os dedos delicados começando a massagear os músculos tensos do pescoço e ombros de Jungkook. Era um gesto simples, mas carregado de significado.

Jungkook soltou um rosnado baixo, não de ameaça, mas de alívio. O toque do ômega, tão diferente de qualquer outro, parecia ser a única coisa capaz de acalmar a tempestade dentro dele.

Taehyung, sentindo o ar gelado, puxou o grande rabo peludo de Jungkook para seu colo. Era quente, e um tanto áspero e ele não pôde evitar o leve sorriso que surgiu em seus lábios.

— Eu sei... — Taehyung começou, sua voz ainda baixa, mas agora com uma nota de confiança. — Eu sei que vou ficar protegido, porque você está comigo, Jungkook.

Jungkook virou a cabeça na direção dele, os olhos semicerrados pela exaustão, mas brilhando com uma emoção silenciosa. Ele não precisava dizer nada. A forma como puxou Taehyung para mais perto, envolvendo-o com seu corpo massivo, já dizia tudo.

Enquanto o ômega se aninhava contra ele, sentindo o calor e a segurança que só Jungkook podia oferecer, seus olhos começaram a se fechar lentamente.

HORAS ANTES.

Jungkook permaneceu sentado na beira da cama, com as mãos passando pelos cabelos enquanto sua mente trabalhava incansavelmente. Ele sabia que não poderia — e jamais deveria — forçar Taehyung a qualquer coisa, mas lidar com as reações do ômega estava deixando-o frustrado. Ele respirou fundo, tentando dissipar as emoções negativas.

— Preciso me ocupar — murmurou para si mesmo, levantando-se e alisando as roupas com gestos automáticos.

Ainda havia trabalho a fazer, e um dos mais importantes era caçar para o clã. Especialmente para Taehyung, que precisava de nutrientes mais fortes para recuperar energia. Não podia se dar ao luxo de permanecer na cama quando seu ômega e seu clã dependiam dele.

Enquanto Jungkook saía da cabana, ele encontrou Namjoon caminhando apressado em sua direção. O alfa exalava preocupação, o que fez Jungkook franzir o cenho.

— Onde está Taehyung? — perguntou Namjoon, sem rodeios.

— Ele saiu mais cedo — respondeu Jungkook, tentando parecer despreocupado. — Por quê?

Namjoon olhou para ele, a expressão ficando mais grave.

— Precisamos encontrá-lo. Algo aconteceu.

— O que você quer dizer? — Jungkook questionou, o corpo já entrando em alerta.

— Venha comigo — Namjoon respondeu, sem perder tempo.

Namjoon guiou Jungkook pela floresta até uma das cabanas mais afastadas do território. Conforme se aproximavam, Jungkook sentiu o cheiro de sangue e outros aromas que não pertenciam ao seu clã. O alfa franziu a testa e acelerou o passo, ultrapassando Namjoon ao abrir a porta da cabana.

Dentro, um pequeno grupo estava reunido. Três membros do clã rival estavam amarrados e feridos, enquanto dois guerreiros do próprio clã de Jungkook monitoravam a situação.

— O que está acontecendo aqui? — Jungkook exigiu, sua voz grave preenchendo o ambiente.

Um dos guerreiros se adiantou, inclinando levemente a cabeça em respeito.

— Eles foram capturados perto do limite do território. Estavam rondando as áreas próximas à cabana de Taehyung.

Jungkook sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Ele avançou, os olhos brilhando em fúria enquanto encarava os prisioneiros.

— Vocês estavam atrás dele? — ele rosnou, cada palavra carregada de ameaça. — Por quê!? Fizemos um pacto!

Os prisioneiros mantinham o silêncio, mas um deles, ao desviar o olhar, deixou transparecer o medo diante da presença avassaladora de Jungkook. Foi quando outro, mais ousado, rompeu o silêncio.

— O humano que vocês abrigam deve ser morto! Ou trará problemas para todos nós! — gritou, sua voz carregada de ódio e desespero.

O rosnado que escapou do peito de Jungkook foi suficiente para fazer os prisioneiros recuarem instintivamente, mesmo estando amarrados.

— Taehyung não é uma ameaça! Ele não será morto! — rebateu Jungkook, sua voz trovejando na cabana como uma promessa inquebrável.

O silêncio que se seguiu foi pesado, até que Minseok, um dos guerreiros do próprio clã, deu um passo à frente.

— Eu... eu concordo com ele — disse Minseok, sua voz baixa, mas firme o suficiente para atrair a atenção de todos.

Os olhos de Jungkook se estreitaram, virando-se para encará-lo com uma intensidade brutal.

— Explique. — A palavra soou como uma ordem.

Minseok respirou fundo antes de continuar.

— Apesar de Kaori ter reencarnado nele, isso faz dele um alvo, ele pode ter parentes que busca por ele, e pelos desaparecido…Outros clãs acreditam que Taehyung traz consigo algo... perigoso. Uma força que pode atrair ameaças para o nosso território.

Jungkook deu um passo à frente, o peso de sua presença fazendo Minseok hesitar.

— E você acredita nisso? — Jungkook questionou, cada palavra carregada de frieza.

Minseok desviou o olhar, como se estivesse escolhendo suas palavras com cuidado.

— Não sei se acredito. Mas é um risco. O clã rival está desesperado, e isso pode significar que eles sabem algo que nós não sabemos.

Namjoon interveio antes que Jungkook pudesse perder o controle.

— BASTA! Precisamos discutir isso com o Conselho. Decisões sobre Taehyung não podem ser tomadas de forma precipitada — disse, sua voz firme ecoando na cabana.

Jungkook fechou os olhos por um momento, tentando conter a raiva que fervia em suas veias. Ele inspirou profundamente, deixando que o peso das palavras de Namjoon o alcançasse.

— Levem esses vermes para a prisão — ordenou Namjoon, apontando para os prisioneiros.

Os guerreiros acenaram com respeito, apressando-se para cumprir as ordens. Namjoon e Jungkook saíram da cabana juntos, a tensão entre eles era quase palpável.

— Você sabe que ele não está completamente errado, não é? — Namjoon comentou, com a voz baixa.

Jungkook parou e virou-se para o amigo, os olhos brilhando com uma intensidade que Namjoon raramente via.

— Taehyung não é um problema. Ele é minha responsabilidade — disse Jungkook, cada palavra saindo como uma declaração definitiva. — E eu vou proteger o que é meu, Namjoon. Se isso significa matar quem ousar machucá-lo, eu farei.

Ele deu um passo à frente, sua presença esmagadora.

— E se um dia você, o grande líder, tentar impedi-lo de estar seguro, não hesitarei em eliminá-lo também.

Namjoon ficou em silêncio, analisando as palavras do alfa. Ele sabia que Jungkook estava falando sério. O instinto protetor pelo ômega ia além de qualquer laço ou hierarquia.

— Não sou seu inimigo, Jungkook — disse Namjoon finalmente, o tom neutro e os olhos fixos no alfa. — Só quero garantir que você está preparado para o que pode vir. Proteger Taehyung é uma coisa. Proteger o clã todo será outra história.

Jungkook parou, girando lentamente para encarar Namjoon. Seu olhar estava sombrio, quase cortante, e a frieza em sua voz deixou claro que ele não estava disposto a discussões.

— Eu não me importo com o clã — disse ele, cada palavra carregada de firmeza.

Namjoon ergueu uma sobrancelha, a expressão incrédula e ao mesmo tempo, preocupada com as atitudes do alfa mais novo.

— Você sabe que não pode dizer algo assim levianamente, Jungkook. O clã também é a sua responsabilidade. É sua missão proteger cada um deles.

— Minha única missão é proteger Taehyung — Jungkook retrucou, a raiva latente começando a escapar em seu tom. — Esse clã pode cuidar de si mesmo. Não foi o clã que me manteve de pé quando perdi tudo. Não foi o clã que trouxe sentido à minha existência novamente. Foi ele. Taehyung. Porque eu sabia que ele voltaria para mim.

Namjoon suspirou, cruzando os braços enquanto avaliava o amigo.

— Essa obsessão pode ser a ruína de ambos, Jungkook. Você precisa de equilíbrio.

— E você precisa entender que meu equilíbrio é ele. Não peça que eu escolha entre Taehyung e o clã, porque você não vai gostar da resposta.

Namjoon permaneceu em silêncio por alguns instantes, as palavras de Jungkook reverberando no ar pesado entre eles. Finalmente, ele assentiu, mas não sem uma expressão de desaprovação.

— Então, é melhor garantir que essa escolha não custe mais do que você está disposto a pagar — murmurou Namjoon antes de se afastar, deixando Jungkook sozinho com seus pensamentos sombrios.

Jungkook observou o amigo partir, o coração pesado com a verdade que ele próprio não queria admitir: estava disposto a sacrificar tudo por Taehyung, mesmo que isso significasse carregar o peso de suas escolhas sozinho.

Mas então, gritos e rosnados ecoaram pelo ar, cortando o silêncio como lâminas afiadas. Jungkook ficou imediatamente em alerta, os pelos de sua nuca se eriçando com o instinto de perigo. Ele saiu da cabana em um salto, os olhos vasculhando a área ao redor.

A cena diante dele era de puro caos. Guerreiros do clã lutavam com ferocidade contra invasores desconhecidos, enquanto o cheiro de sangue começava a dominar o ar. No centro de tudo, Namjoon estava paralisado, os olhos fixos no horizonte com uma expressão de terror e compreensão repentina.

— Era uma distração... — Namjoon murmurou, mais para si mesmo do que para qualquer outro.

Foi como se uma corda invisível tivesse puxado Jungkook de volta à realidade. Seu peito apertou, e uma sensação avassaladora de pânico tomou conta dele.

— Taehyung... — ele murmurou, com a voz rouca, o nome do ômega escapando de seus lábios como um sussurro de desespero.

Sem perder mais tempo, Jungkook correu, movendo-se com uma velocidade sobre-humana. Ele sabia. Sabia que aquilo tudo era um plano para afastá-lo, para distraí-lo do que realmente importava.

Suas garras se estenderam, seus instintos de alfa em plena ativação enquanto avançava, o coração martelando em seu peito.

O som de passos rápidos e vozes desconhecidas mais à frente confirmaram seus piores temores. Eles estavam atrás de Taehyung, e ele precisava alcançá-lo antes que fosse tarde demais.

Até a próxima atualização ❤️

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