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— Eu o matei.

Procurei segurar as minhas lágrimas e os soluços que não queriam cessar, eu precisava me controlar. Necessitava ser forte por nós dois e não podia deixar o meu coração perder o controle dos seus batimentos cardíacos e causar alguma dor em nossos filhos. Limpei as minhas lágrimas e o fitei novamente, me sentando ao seu lado. Não podia colocar nenhuma culpa sobre os seus ombros, ele não tinha culpa dos meus erros e as suas ações eram consequências disso. Toda a dor e tormenta foi causada por mim e eu tinha plena consciência disso, então, não pensaria algo ruim dele. Ele não merecia este tipo de comportamento vindo de mim e eu não estava em posição de julgar.

— Hoje pela manhã. – começou me assustando. — O meu pai me ligou e disse que tinha chegado uma carta para mim. – ele respirou fundo e fechou os seus olhos. — Eu fui até lá, peguei a carta e voltei. Abri a carta aqui e era de James, ele me pedia que eu o encontrasse no hotel. – ele abriu os olhos e me olhou. — James disse que começaria uma chacina se eu não fosse começando por sua mãe e os meus pais que estão hospedados em um hotel. – pude ver o seu corpo tremer. — Depois ele me mataria, os nossos bebês e por fim, você. – as lágrimas voltaram a descer por seu rosto.

Eu não sabia o que dizer, estava com muito medo.

— Quando cheguei ao hotel, ele havia armado uma cilada para mim. – ele respirou fundo e prosseguiu. — Brigamos, ele sacou uma arma e eu a tomei dele, e agora ele está morto Alice. – ele ocultou os detalhes. — Ele morreu.

Permaneci em silêncio, o meu coração batia tão forte que eu estava com medo de o sentir parar.

— Você acredita em mim? – eu acreditava, mas não sabia como expressar. — Não tive escolha! – exclamou pesadamente.

Taehyung segurou as minhas mãos entre as suas e as apertou como se estivesse pedindo, ou melhor, implorando que eu acreditasse nele e em suas palavras.

— Minha ... – limpei a garganta. — Minha mãe?

Será que ela também estava morta?

— Ela está bem. – murmurou.

Respirei fundo e organizei as suas palavras em minha mente, o meu desejo havia se tornado realidade. Eu desejei vê-lo morto, no momento eu sentia uma mistura de culpa misturado com alívio. Queria chorar, queria arrancar a dor do meu peito, mas não conseguiria. Me levantei e respirei fundo novamente, precisava ficar sozinha e organizar tudo o que ele havia acabado de confessar.

— Não vai. – pediu me pegando pelo punho.

— Descansa. – respondi me soltando.

Calmamente, eu caminhei em direção a saída do quarto. Os meus passos me levaram para o sofá onde eu me sentei, procurando manter a calma. Inspirei e expirei várias vezes procurando conforto em mim mesma. A minha mente repensava as suas palavras com calma, palavra por palavra, letra por letra. Assim que o dia amanhecesse toda a Seoul saberia o que havia acontecido, a polícia viria até a mim e eu não poderia entregar o pai dos meus filhos. Eu necessitava pensar em algo, a ideia de perder a companhia de Taehyung me comeu por dentro. Ele estava errado e havia cometido um crime, mas James merecia a dor. A sua morte significava a minha salvação, não podia condenar o pai dos meus filhos por me livrar disso. A questão é, será que conseguiria conviver com ele sabendo que ele era um criminoso?

Respirei fundo novamente e me levantei, precisava conversar com ele. Juntos poderíamos achar uma saída para este problema. Diria a polícia que eu havia matado James e contaria os anos de abusos, alegaria legitima defesa e ninguém poderia me acusar de outra coisa. Voltei para o quarto, mas me deparei com ele dormindo. Do mesmo jeito que eu o deixei, ele se deitou e adormeceu. Me aproximei e o puxei para o meio da cama, cobrindo o seu corpo nu. Afastei os meus pensamentos e saí do quarto, voltando para a sala. A melhor forma de o ajudar seria contando para Namjoon, ele saberia nos ajudar e saberia como agir.

Me sentia mal por arrancá-lo das suas merecidas férias, mas sozinha não seria capaz de fazer isso. Não conseguiria passar por esse momento, sozinha, mesmo querendo muito. À medida que o meu pensamento procurava soluções, pude ouvir algumas batidas na porta e me assustei. A este passo, provavelmente seria a polícia e já sentia ser tarde demais. Não tinha como ajudar o pai dos meus filhos. Em um ato de compulsão, eu corri para o nosso quarto e procurei as roupas que ele vestia. Sem pensar duas vezes, as peguei, juntamente com as toalhas e escondi em um canto do banheiro. Não podia haver provas contra ele, joguei uma água pela banheira e limpei os restos de sangue que havia tirado de Taehyung.

Me acalmei e calmamente voltei para a sala, alguém estava do lado de fora e a visita poderia não ser boa. Me aproximei da porta com muito cuidado e olhei pelo olho mágico. Senti o meu corpo temer ao ver o semblante da minha mãe do lado de fora, não sabia o que fazer, no entanto, eu não podia correr do momento. Precisava encarar a situação, ela não podia contar o que Taehyung estava envolto nisso tudo. Para proteger o amor da minha vida eu iria contra a minha mãe de novo, era necessário.

Abri a porta com muito medo, ela me olhava com seriedade e assim como Taehyung, ela parecia exausta. O rosto firme que antes me olhava com ódio, agora me olhava com ternura. Não compreendi o que estava acontecendo, mas senti que ela ameaçaria contar tudo para a polícia, isso se já não tivesse feito. A sua maior felicidade seria me ver longe de Taehyung para que eu ficasse com o seu amado James, agora com ele morto, ela provavelmente queria ver o meu sofrimento.

— O que deseja? – perguntei com calma.

Os seus olhos lacrimejaram e ela respirou fundo.

— Posso entrar? – eu não devia, mas aceitei.

Abri espaço para que ela entrasse, no fundo, eu só queria saber o que estava acontecendo e o que tinha acontecido. Será que ela contaria a mesma versão que Taehyung ou seria diferente? Ignorar o que ela tinha para falar poderia ser o meu fim e eu não estava preparada para isso.

— Vamos para a cozinha. – pedi.

Ela me seguiu em silêncio, não queria acordar o Taehyung e não podia expor a sua fragilidade.

— Está sozinha? – indagou olhando ao redor.

— Sim, apenas o meu cachorro está aqui. – ocultei a presença dele. — Quer beber algo? – não sabia o motivo da minha gentileza.

— Um chá, se não for incômodo. – murmurou. — Você não era fã de animais de estimação. – comentou. — Quase matou os coelhos que o seu pai comprou. – sorri de canto.

— Sente-se. – disse preparando o chá. — Por qual razão está aqui? – continuei ignorando o seu comentário.

— Precisava vir. – disse me olhando nos olhos. — Não podia ir embora sem vir aqui. – os seus olhos estavam cheios de lágrimas. — Se não falar contigo, não seria capaz de continuar vivendo. – engoli a seco. — Quando ele voltar. – a interrompi bruscamente.

— Ele quem? – indaguei.

— O seu namorado. – sussurrou ela. — Kim Taehyung.

Terminei de preparar o chá e a entreguei, quanto mais rápida fosse, mas rápido ela iria embora. Ela pegou a xícara com as suas mãos trêmulas, eu estava com tanto medo, que resolvi me sentar em sua frente para não cair. Não podia perder o controle de mim e algo me dizia que isso aconteceria em breve.

— Quando ele voltar, ame-o muito. – repetiu. — O ame para sempre. – não entendi o que ela queria.

— Por qual razão você está me falando isso? – ela não estava bem, será que planejava algo?

Ela respirou fundo e bebeu um pouco de chá, acredito que ela estava se acalmando antes de continuar.

— Ele precisará do seu amor e carinho quando voltar. – continuou. — Ele precisará da sua compreensão e de tempo, muito tempo para compreender o que aconteceu hoje. – franzi o sobrolho ao ouvir.

— O que aconteceu? Está indo embora com James? – não podia entregar que eu sabia dos acontecimentos.

— Não, estou indo sozinha. – ela se levantou e me fitou com seriedade.

— E o James? – questionei.

— Eu o matei. – respondeu deixando as suas lágrimas caírem. — Ele está morto e não pode machucar ninguém.

Senti o meu coração apertar, ouvi a mesma história contada de dois pontos de vistas. Um deles mentia para mim, o que estava acontecendo?

— Você o quê? – continuei fingindo. — Do que está falando?

— Serei direta, pois, preciso ir. – respondeu. — James armou uma cilada para o seu namorado e ele caiu. Quando cheguei ao hotel, encontrei alguém ferido e James batia nele com vontade. – os meus olhos se encheram de lágrimas. — James foi covarde e não lutou de homem para homem, mas teve ajuda dos seus amigos para amarrar o Taehyung. – eu sofria. — Sei que sou uma mãe ruim e que cometi muitos erros com você, mas você não merece sofrer assim. James perdeu o controle de tudo e tudo passou a ser sobre você. Percebi isso tarde demais e a única forma de me redimir, seria acabando com a sua vida. – o meu coração doía, Taehyung sofreu tanto para me proteger.

— Mãe. – sussurrei.

— Não conseguiria testemunhar a morte do pai dos seus filhos, peguei a arma e atirei em James. – ela parou e repensou as suas palavras. — Atirei em James e acabei com a sua vida.

— Ele está morto? – questionei. — Tem certeza disso? – não conseguia acreditar.

— Sim. – a sua voz continha frieza. — James foi longe demais, eu tinha de o fazer. Mas. – ela parou e chorou primeiro.

Senti que desmaiaria em breve, respirei fundo e procurei me acalmar.

— Mas o quê? – indaguei. — Diga!

— Taehyung assumiu a culpa, toda a minha culpa. – ela não aguentou e voltou a se sentar. — Ele tomou a arma das minhas mãos e colocou as suas impressões nela. Assim como passou o sangue de James em suas roupas para que ele tivesse provas. – as minhas lágrimas aumentaram. — Ele disse que você ficaria bem sem ele, mas não merecia ficar sem uma mãe.

Taehyung não havia feito nada, ele apenas estava protegendo a minha mãe. Queria sair da sua presença e abraçá-lo, queria dizer o quanto eu o amava e o quanto estava feliz por tê-lo ao meu lado. Acreditava nele e em sua bondade mais do que nunca, tudo ficaria bem. Nunca pensei estar neste momento, onde eu tinha a minha mãe em minha frente e sentia desejo de a abraçar. Foram anos de guerra e ódio, entretanto, ela agora trazia notícias boas e eu queria agradecer.

— Ele não fez nada, eu fiz. – continuou. — No entanto, para me proteger, ele assumiu a culpa. Me perdoa por ter sido tão cruel, me perdoa. – pediu em prantos. — Você escolheu o homem certo, ele é o homem certo para você.

Senti a minha respiração oscilar e a minha cabeça estava doendo, eu não queria perdoar, mas precisava compreender a grandeza dos seus atos. Taehyung a perdoou e arriscou a sua vida para a salvar, isso era a prova de que poderíamos perdoar o meu passado, mesmo sofrendo com as lembranças. 

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