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Saímos do estacionamento de um prédio comercial de luxo e caminhamos calmamente em direção a entrada. Namjoon caminhava ao meu lado e em alguns momentos sentia o seu olhar em minha direção, mas não quis retribuir. Não falamos muito durante o nosso percurso, não queria fazer questionamentos que soassem invasivos e nem queria começar assuntos que ambos não gostaríamos de terminar. O meu sofrimento teria um fim mesmo o mundo não acabando, eu colocaria um fim a tudo isso. Agora, as palavras de Taehyung faziam sentido, morrer é de fato uma bela forma de fugir dos seus problemas. Se continuasse viva tudo o que teria das pessoas seria pena e eu não estava preparada para viver assim, não era justo.

— Por qual razão estamos aqui? – indaguei quebrando o silêncio. — Por qual motivo você confia em mim e quer me ajudar? – eu poderia estar mentindo e ele nem saberia.

Namjoon parou e respirou fundo, me olhando nos olhos. Antes de entrarmos na recepção do prédio, ele ainda possuía algo para falar e a expectativa aumentou a minha curiosidade. No fundo, eu procurava um motivo para viver em suas palavras.

— Você fez algo impossível. – respondeu. — Algo que esperamos acontecer por algum tempo.

— O que seria? – retruquei.

— Você fez o Taehyung feliz. – ele respirou novamente. — Pensamos que ele não seria capaz de ser feliz de novo e que morreria em algum momento, você trouxe felicidade para ele e todos nós.

— Não entendo a impossibilidade disso. – murmurei.

— Um dia você entenderá. – as suas palavras eram firmes. — Ver a sua felicidade me obrigou a gostar de você. Por mais que eu não vá com a tua cara, ver a felicidade do meu amigo é algo valioso para mim.

Desviei o meu olhar do seu, não queria pensar em nada. O seu amigo sofria por minha culpa e eu sentia o peso disso sobre os meus ombros, a sensação não era boa e por vezes e entorpecida. Por não conseguir colocar limites na minha mãe, permiti que James fizesse qualquer coisa comigo e eu por muito tempo me comportei como se ele fosse meu dono. Crescer em uma tradição que te obriga a fazer tudo o que os seus pais querem, é cruel. A minha vida não tinha valor para ninguém e eu via isso agora.

— Está se sentindo melhor? – indagou.

Queria perguntar os motivos do seu ódio por mim, mas estava com medo de ouvir a sua resposta. Namjoon parecia um homem sensato e eu não podia abusar da sua simpatia em um momento como esse.

— Não. – murmurei.

— Por favor, seja sincera com o médico. – pediu abrindo a porta para que eu entrasse. — Você ficará bem.

Entramos no prédio e silenciosamente o segui, caminhamos em direção a recepção e ele conversou com uma das mulheres. Os seus olhares me examinaram, mas não pareciam me julgar. Olhei em volta e percebi que jamais teria dinheiro para pagar uma consulta ali, somente a alta sociedade poderia ser tratada pelos médicos ali. Nestes lugares, o seu nome não importa. Tudo é feito de acordo com o tamanho da sua conta bancária, respirei fundo e me assustei ao ver que ele me olhava juntamente com uma enfermeira.

— Não se preocupe. – disse. — Ela cuidará de você.

Respirei fundo e segui a mulher, ela me levou para uma sala ao fundo do corredor. Confiaria em Namjoon, afinal de contas, nada do que ele pudesse fazer pioraria o meu estado atual. Mesmo não querendo assumir, ele era o único que estava do meu lado e poderia explicar para Taehyung o que havia acontecido. Assim que descobrir sobre a minha morte, ele se sentirá culpado e ter Namjoon ao seu lado será bom. Ele saberá de toda a verdade e compreenderá que a culpa não é sua, a mulher fez sinal para que eu me sentasse na cadeira e em seguida retirou uma amostra do meu sangue. Me senti mal por estar nessa situação, mas não havia saída.

— Posso fazer uma pergunta? – murmurei enquanto ela colocava as minhas informações no computador.

— Claro. – respondeu sorridente.

— É possível descobrir se há indícios de relações sexuais mesmo o ato sendo consumido há alguns dias? – a minha pergunta era confusa, mas ela entendeu o que eu queria.

— Se a relação foi somente com uma pessoa, é provável. – murmurou. — Deseja fazer esse teste? – o seu olhar me passou confiança.

— Sim. – sussurrei.

— Sem problemas, mas eu preciso perguntar. – ela limpou a sua garganta. — Você sofreu algum tipo de abuso?

Se me atrevesse a contar todos os abusos feitos por James, ela provavelmente me indicaria uma clínica psiquiátrica como válvula de escape.

— Acredito que sim, mas não tenho a certeza. – murmurei desviando o meu olhar.

Ela respirou fundo.

— Por favor, use o pequeno cômodo ali e retire a sua roupa de baixo. – pediu. — Em seguida, se deite na cama.

Assim o fiz, fui em direção ao cômodo e retirei a minha roupa de baixo. Não esperei muito e saí do cômodo, indo até a cama. Me deitei e posicionei as minhas pernas sobre a cama e esperei por ela, o momento era constrangedor e eu não queria pensar na vergonha que sentia. Após terminar o seu trabalho com cuidado, ela se levantou e esperou. No momento seguinte uma médica entrou na sala e veio em minha direção.

— Olá, como você está? – ela era simpática.

— Bem. – murmurei.

A médica permaneceu em silêncio e observou a minha intimidade, ela também retirou algumas amostras da minha intimidade e respirou fundo. Ela se levantou e fiz sinal para que eu me vestisse, assim o fiz. Caminhei em direção ao cômodo e coloquei a minha roupa. Quando saí apenas a enfermeira se encontrava e ela fazia alguma coisa no computador, eu não sabia o que dizer e me sentia desconcertada.

— Espere um pouco, a médica falará com você em breve. – comunicou saindo da sala.

Respirei fundo e me sentei na cadeira, ao fundo pude ouvir passos no corredor e a porta se abriu. Namjoon entrou e trouxe um copo com água, assim como um belo sorriso no rosto.

— Está tudo bem? – questionou me entregando o copo.

— Sim. – sussurrei.

Sem falar nada ele segurou uma das minhas mãos e a apertou, ele me acalmava ao mesmo tempo que me assustava. Não me esqueceria dos seus meios-carinhos e da sua forma de me apoiar, mesmo indo contra o que ele sentia por mim.

— Está com fome? – continuou acariciando a minha mão.

— Não, obrigada. – murmurei.

— Você está tão quieta, estou preocupado com você. – não entendi, mas não discutiria.

— Agora eu entendo o Taehyung. – comentei. — Estar sem rumo e desejar morrer, isso me parece uma solução mais viável.

— Não diga isso. – disse. — Não posso perder você também.

— Como? – retruquei ao ouvir. — O que quer dizer com isso? – do que ele estava falando.

— Nada. – respondeu desviando o seu olhar. — Não é nada.

— Sabe os motivos dele? – eu queria saber.

— Sim, mas não quero falar sobre isso. – murmurou. — Hoje você é importante.

— Um grupo, sete homens e um segredo. – ele sorriu ao ouvir.

— Taehyung comentou que você é desligada do mundo, mas não pensei que fosse tanto. – começou. — Ser um artista de K-Pop te obriga a ser assim, do jeito que somos.

— K-Pop? – retruquei. — Não podia ser Rock? Samba? Metal ou sei lá, Indie? Precisava ser K-pop? – eu estava em choque.

Namjoon sorriu e apertou a minha mão.

— Sim e somos conhecidos mundialmente. – o meu coração apertou ao ouvir. — Não podemos nos envolver em relacionamos publicamente, mas se ninguém sabe, não dói, certo? – sorri de canto ao lembrar de ouvir Taehyung falar o mesmo.

— Não entendo, mas respeito. – murmurei.

— As nossas fãs gostam da ideia de sermos delas. – ele parecia triste. — Acabar com este encanto é cruel e seria dar um tiro no pé.

— Isso é triste e ao mesmo tempo, carinhoso da parte de vocês. – não me sentiria bem em uma situação assim. — Mas eu sinto muito por sua tristeza.

Namjoon sorriu de canto e levou a minha mão até a sua boca onde a beijou com carinho. As suas mudanças de humor não eram normais, uma hora ele me amava e na outra odiava, estava tudo tão confuso.

— Não sinta, adoramos o nosso trabalho e tudo o que fazemos por nossos fãs. – ele respirou fundo. — Não trocaríamos isso por nada, mas confesso que as vezes eu desejo amar alguém sem que o mundo saiba. – os seus olhos se inundaram. — Você transformou a forma como Taehyung sofre, hoje ele sofre ao seu lado e você o ampara sempre que ele pensa em morrer. – senti um arrepio ao ouvir as suas palavras.

— E você? – indaguei baixinho. — Sofre sozinho ou acompanhado?

— Sozinho. – respondeu. — O meu sentimento está guardado em mim e não me atrevo a sentir ou dizer algo. – ele parecia triste.

— Sinto muito. – murmurei.

— Não se pode ter tudo. – isso era triste. — E pare de sentir muito.

Namjoon permaneceu em silêncio e eu aproveitei para examinar o seu rosto, a sua beleza era diferente e o seu rosto demonstrava a sua firmeza. No entanto, ele também conseguia ser delicado. Sempre que ele sorria, as suas covinhas se faziam presentes e isso o tornava mais fofo. Ele me transmitia paz e segurança, embora ele também conseguisse me maltratar.

— Tudo ficará bem. – disse do nada. — Eu afirmo isso, me ajuda a manter a cabeça no lugar. – sorri de canto.

— Todos vocês se comportam assim? – indaguei.

— Todos temos segredos, uns compartilham e outros não. – ele sorria ao falar, mas não me passou segurança.

No momento eu desejava morrer, lembrar do semblante de Taehyung deixando o meu quarto ainda partia o meu coração em vários pedaços e fez com que o meu peito fosse o lar da angústia. Esse pesadelo necessitava de um fim, mesmo Namjoon não querendo. 

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