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A água me invadia e limpava o meu corpo. Sentia a dor me comer de dentro para fora, os momentos estavam confusos e não conseguia explicar o que havia acontecido. A visita de Namjoon trouxe informações inesperadas, não sabia como decifrar os seus significados, mas compreendia que elas significavam a perda de Taehyung. Este era um dos motivos para evitar conhecer alguém e me permitir, eu precisava evitar sentimentos, pois, isso podia acontecer. Permiti que ele invadisse a minha vida com o seu amor e aos poucos, ele conquistou tudo em mim. Perdê-lo significaria não conseguir viver em paz, nenhuma dor até o momento seria tão grande como a dor de perder um amor verdadeiro.

— Alice. – murmurou Namjoon. — Vou consertar isso, eu prometo.

Não respondi, eu só conseguia chorar. A dor que sentia era cruel, nem mesmo tudo o que vivi com James foi capaz de me causar algo assim. Não queria aceitar, mas não tinha como lutar contra. Esse era o meu medo ao me entregar nos braços de alguém que não seria meu, o perder por causa das minhas decisões erradas.

— Eu. – falar me causava dores. — Não sei se James me tocou, não sei o que Taehyung viu e só de imaginar isso, eu estou morrendo por dentro. – provavelmente ele estava abusando de mim.

— Vamos descobrir juntos. – murmurou. — Confie em mim.

— Não quero descobrir isso. – retruquei segurando os meus soluços. — Não quero ter de lidar com todas essas informações, está tudo acabado.

Dobrei os meus joelhos e os apertei contra o meu peito, a minha dor era tão grande que me consumia de dentro para fora, podia sentir isso.

— Tudo ficará bem. – disse. — Vamos descobrir o que está acontecendo com você e assim que o Taehyung souber, tudo ficará bem. Ele fará de tudo para ter você de volta, ainda mais se você não tem culpa.

As palavras de Namjoon não me passaram nenhuma segurança, eu sabia dos medos de Taehyung. O seu medo era me perder para James, esse seria o nosso fim. No fundo, eu também sabia disso e deveria ter usado a minha inteligência para compreender que a calma de James não era normal. O seu silêncio era um sinal nítido de que ele estava planejando algo contra mim, arquitetando algo para me separar de Taehyung e como sempre, eu não vi isso.

Só de imaginar que as suas mãos percorreram o meu corpo, o meu estômago voltou a revirar e a ânsia tomou conta de mim. Passei as minhas unhas por minha pele e arranquei pedaços de mim. Precisava arrancar qualquer indício de James, qualquer contato da sua pele contra a minha. O sangue escorria por minha pele e encontrava a água tornando toda a cena mais cruel ainda, quanto mais eu sangrasse, mais rápido os seus toques seriam apagados.

— Você vai derreter aí dentro. – murmurou Namjoon.

Pude ver a sua sombra se mexer e a água parou de escorrer sobre mim. Namjoon esperou, mas ao notar que não sairia do banho ele abriu a porta e me avistou sentada no chão. Os seus olhos dobraram de tamanho e as lágrimas tomaram espaço em seus olhos, mas ele as engoliu bem. Em silêncio ele pegou a toalha em suas mãos e a envolveu em meu copo, em seguida pude sentir as suas mãos me envolverem e ele me pegou no colo.

— Não se machuque assim. – pediu me levando para o quarto. — Não faça isso com você mesma. – continuou me sentando na cama.

Eu queria morrer, olhei para o chão e vi o caminho de sangue que fizemos. As gotas marcavam o caminho que eu deveria seguir, olhei para Namjoon e não senti conforto. Ele pegou outra toalha e cuidadosamente enxugou o meu corpo, senti as suas mãos firmes me tocarem com gentileza. O homem que ali se encontrava não gostava de mim, entretanto, ele estava cuidando de mim. Em silêncio ele se ergueu e enxugou as minhas costas, passando a toalha por cima dos meus ferimentos.

— Isso é tão cruel. – murmurou enxugando os meus cabelos.

Namjoon se posicionou em minha frente e entregou a tolha em minhas mãos, se virando de costas. Me levantei e enxuguei a minha intimidade assim como os meus seios, pude vê-lo caminhar em direção ao meu guarda-roupas onde ele procurou alguma coisa. Me sentei novamente e esperei por ele, após alguns segundos ele voltou segurando as minhas roupas. Em silêncio ele se ajoelhou e colocou a minha calcinha, seguido por uma calça e meias.

Assim que terminou ele colocou um sutiã e me vestiu uma blusa. Respirei fundo ao ver que ele estendeu as suas mãos para mim, as segurei e senti o seu peso me erguer para cima. Ele puxou a minha calcinha e a minha calça, me vestindo. Deixei o meu corpo pesar e voltei a me sentar na cama, ele me olhava com seriedade e os seus olhos continham preocupação, mas isso não me afetava muito, nada me afetaria de novo. Namjoon ignorou a minha reação e colocou um sapato em mim.

— Nunca vi algo assim. – murmurou. — É a primeira vez que vejo algo assim.

— O quê? – indaguei sem forças.

— Alguém provar a sua inocência através de tanta dor. – olhei para ele e senti vontade de chorar. — Eu acredito em você, não sofra mais.

Respirei fundo e segurei as minhas lágrimas, isso não significava que tudo ficaria bem, isso não significava nada.

— Alice. – ele limpou a sua garganta. — Eu sei que vai soar indiscreto ou ofensivo, mas você está sentido dores íntimas? – a sua pergunta me confundiu. — Eu notei que você está toda vermelha.

— Sim. – sussurrei. — Mas não importa.

— Vamos, me deixa arrumar o seu cabelo para sairmos. – disse me virando de costas.

— Sair? – indaguei.

— Sim. – respondeu penteando os meus cabelos. — Sair.

— Não podemos sair. – retruquei. — Não quero sair de casa.

— Nós vamos ao médico. – continuou. — Preciso te levar ao médico.

— E o que pretende com isso? – ele não podia me obrigar a sair.

— Eu posso estar errado. – respondeu me virando para ele. — Mas acho que você está sendo envenenada. – o meu coração acelerou ao ouvir.

— Não é possível. – murmurei.

— Pode ser que não, mas nada prova o contrário. – retrucou. — Desde que James voltou você tem passado mal, a sua memória está um lixo e me desculpe dizer isso, mas a sua intimidade não parece estar normal. – Namjoon engoliu as suas palavras a seco. — Você está com a pele irritada, vermelha e por isso deve estar sentindo dores. Isso pode ser sinais de envenenamento ou maus-tratos.

— E daí? – bufei. — Quem se importa com isso?

— Como assim? – retrucou. — Cala a boca, eu me importo com você ou não estaria aqui. – ele alterou o seu tom de voz.

Ter um amigo de Taehyung cuidando de mim era a prova viva de que estava no fundo do poço e não tinha como sair dele.

— Agora escreva um bilhete para os seus pais. – pediu me entregando papel e caneta. — Diga que está bem e que volta logo.

— Por qual motivo eu mentiria? – retruquei.

— Não discuta comigo. – pediu. — Faça o que estou pedindo.

Namjoon adorava dar ordens, peguei o papel e a caneta, escrevendo um bilhete. Ele leu o bilhete e me pegou pelas mãos, com cuidado ele me puxou para fora do quarto e eu o segui sem lutar. A minha força de vontade tinha deixado o meu corpo, no momento somente o pensamento de ter James me tocando tomava conta de mim. Não havia dor maior do que essa, tudo o que ele fazia comigo não era justo.

— Vamos. – disse abrindo a porta do meu apartamento após deixar o bilhete na cozinha. — Precisamos nos apressar.

Os atos de Namjoon eram calculados, o segui em silêncio e sabia que discutir não ajudaria muito. Não queria discutir com ele, eu sabia o que precisava fazer quando voltasse para casa e eu faria isso. As pílulas que tirei das mãos de Taehyung serviriam para algo e essa era a única certeza que eu tinha em toda a minha vida, somente a minha morte mudaria o rumo dos acontecimentos.

— Por qual razão você está fazendo isso? – indaguei enquanto caminhávamos até o elevador.

— Eu acredito em você. – respondeu. — Na verdade, todos acreditamos. Quando o Taehyung voltou e contou tudo o que tinha acontecido, ninguém acreditou nele. – paramos em frente ao elevador e esperamos. — Hoseok e Jimin queriam vir aqui falar contigo, mas os impedi e no fundo, acredito que Taehyung não sabia muito bem o que ele tinha visto.

— Ele tem todo o direito de acreditar nisso e de me odiar. – murmurei.

A porta do elevador se abriu e ele entrou, me puxando em seguida.

— Não acreditamos que você seria capaz de algo assim. – disse. — Por isso, estou aqui e me preocupo com você.

— Você não gosta de mim. – me atrevi. — Nunca gostou e sempre me tratou com indiferença.

Namjoon não me olhou, ele permaneceu distante e olhou para os seus sapatos.

— Tudo ficará bem. – disse.

— Não quero mais viver, eu não aguento mais. – murmurei.

Ele não respondeu, permanecemos em silêncio. Não queria este cuidado e precisava morrer o mais rápido possível. Assim que voltasse para casa teria o meu último ato na terra, eu acabaria com a minha vida. 

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