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Contém descrição de violência

possível gatilho

As palavras de James ecoaram em minha mente me causando dor. As minhas pernas tremiam e o meu coração acelerou mais do que necessário. Respirei fundo e procurei conter as lágrimas e os soluços, ele exigia que me deitasse com ele. Se tentasse lutar ele me machucaria mais e poderia abusar de mim com crueldade, eu precisava encontrar uma saída para este momento. Era uma situação de perigo e eu precisava encontrar a forma certa de sair, sem me machucar no processo. À medida que ele ia em direção a cama, as suas roupas caiam no chão. Ele tirou a sua camisa e ficou com o seu peitoral nu, em um momento distante foi esse o homem que desejei como pai dos meus filhos. Hoje, olhando para ele tudo o que sentia era ânsia de vômito.

Me sentia apavorada e estava com medo do que podia acontecer, ele abusaria de mim e isso era uma verdade. Acredito que esse sempre foi o seu plano, por isso ele estava ali e não ter os meus pais em casa, o proporcionou isso. Será que se eu gritasse, alguém me ajudaria? James se sentou na cama e olhou para mim, esperando a minha reação. Os seus olhos continham desejo e os meus provavelmente demonstravam indignação. Respirei fundo e fui em sua direção, não tinha como fugir e não tinha como pedir ajuda. Se fosse contra as suas ordens, ele magoaria o meu amor. Então se cedesse, talvez doesse menos. Parei em sua frente e esperei, sem falar nada ele me puxou e me jogou na cama, caindo em cima de mim.

— Estou com tantas saudades tuas. – sussurrou beijando a pele do meu pescoço.

As lágrimas desciam por meu rosto e já se tornavam comuns, não era novidade. Senti as suas mãos percorrerem o meu corpo e os soluços voltaram a ecoar, ao ver que ele tentou enfiar uma de suas mãos por dentro do meu pijama, procurei lutar e o tirar de cima de mim. Ele me prendeu com mais força e segurou os meus braços por cima da minha cabeça, me impedindo de lutar. A sua boca procurava beijar a minha enquanto eu me esquivava dos seus lábios nojentos. Queria poder gritar e por um momento tentei, mas uma das suas mãos abafou os meus gritos.

— Não tente evitar isso. – murmurou chupando a ponta da minha orelha. — Você é minha e eu te mostrarei isso.

— James. – tentei contra a sua mão. — Por favor.

Ele retirou a sua mão da minha boca e me olhou nos olhos, as lágrimas não me deixavam ver o seu rosto.

— Você disse que não me maltrataria de novo. – tentei entre soluços.

— Sim. – respondeu acariciando o meu rosto. — Mas você não acredita em mim. Então não tenho motivos para tentar te impressionar.

— Por favor, não abuse de mim. – pedi. — Por favor, não faça isso de novo.

Essas foram as palavras ditas por mim na noite em que ele tirou a minha virgindade, elas não fizeram sentido no momento e hoje provavelmente continuariam sem definição.

— Isso não é o que você pensa, Alice você me ama. – não podia acreditar nisso. — Assim que estiver dentro de você, entenderá isso e sentirá o meu amor.

— Não! – gritei batendo em seu peito. — Me solta!

Todo o meu medo e insegurança eram combustíveis para a sua loucura, ele adorava me ver indefesa pedindo por socorro. Em silêncio ele desceu os seus lábios para o meu pescoço e esfregou o seu corpo no meu, antes de conseguir raciocinar pude sentir os seus lábios em meus seios, os chupando por cima da blusa que vestia. Fechei os meus olhos e procurei me lembrar de Taehyung, não podia me lembrar disso. James não conseguiu continuar, pois, no fundo a campainha ecoou. Ele se assustou e parou os seus movimentos, saindo de cima de mim. Aproveitei o momento e me levantei correndo para fora do quarto. Não consegui ir longe, pois, logo em seguida senti um embate contra as minhas costas e ambos caímos no chão. Ele me puxou pelas pernas e me virou, o seu corpo segurava o meu com força e a sua mão contra a minha boca me impedia de gritar.

— Se você abrir a boca sobre o que estávamos fazendo, eu mato quem estiver do outro lado. – ameaçou.

Os seus olhos continham fúria e as lágrimas desciam pelos meus olhos, eu pedia para que do outro lado estivesse o meu pai, ele saberia me proteger.

— Agora, eu vou soltar você e com cuidado você abrirá a porta. – continuou. — Não me faça cometer um crime hoje.

James me soltou e saiu de cima de mim, me sentei e procurei recuperar o meu fôlego. A campainha ecoou novamente e eu imaginei que se Taehyung estivesse do outro, seria o nosso fim. Me recompus e limpei o meu rosto procurando consertar a minha aparência. Ele me olhava com atenção enquanto colocava a sua blusa e assim que me viu ir em direção a porta, ele voltou a erguer a sua blusa e mostrou o cabo de uma arma. Senti um arrepio e procurei manter a neutralidade, não podia cometer erros ou a primeira bala do dia seria disparada por mim e contra mim. Parei em frente a porta e organizei o meu pijama, prendendo os meus cabelos em seguida. Abri a porta e me assustei ao ver quem era.

— Namjoon? – retruquei confusa.

— Senhorita. – murmurou. — Está tudo bem?

— Sim. – arregalei os meus olhos três vezes e ele compreendeu os meus sinais.

Pedia ajuda por código morse e o medo em meus olhos seria suficiente. Namjoon entendeu a minha mensagem, porém, os seus olhos não mudaram. A sua serenidade era real e por um momento me senti bem ao vê-lo, mesmo sabendo que ele não gostava de mim. James caminhou em nossa direção, mas se manteve afastado olhando de longe. Os olhos de Namjoon percorreram o meu corpo e ele parou em meus seios, eu sabia o que ele via e esperava ser o suficiente.

— Entregaram o seu correio em meu apartamento por engano. – continuou mentindo. — Sempre a mesma coisa por aqui.

— Tudo bem, acontece. – murmurei.

— A senhorita ouviu falar da reunião de condomínio? – não entendi o que ele queria, mas seguiria a sua linha de pensamento. — Eu trouxe estes formulários para que você possa dar uma olhada.

Realmente havia uma reunião de condomínio marcada para o meu prédio e ele usava isso para me dizer alguma coisa.

— Sim, mas não devo comparecer. – continuei.

— Entendo. – disse. — Pode parecer confuso, mas não se trata apenas de reclamações sobre os vizinhos. – eu não entendia. — Mas se existe algo, eu preciso saber. – ele me dava dicas. — Só assim podemos manter a ordem no prédio.

— Bom, na verdade o vizinho de cima faz muito barulho. – não tinha nenhum vizinho no andar de cima. — Os seus barulhos me causaram dores de cabeça. – pude ver por cima dos ombros que James olhou para o teto.

— Entendo. – prosseguiu Namjoon. — Isso me parece um motivo para você comparecer a reunião. – ele atuava bem. — Já pensou em chamar a polícia para ele? – James cruzou os braços ao ouvir.

— Não. – murmurei contendo as lágrimas. — Veja, eu trabalho em casa e preciso de calma para concluir os meus trabalhos. Entendo que ninguém pode parar a vida por minha causa, mas é irritante ter de lidar com tantos barulhos e a vizinha do lado também faz o mesmo. – continuaria mentindo. — Ela briga intensamente com o seu marido, penso que chamar a polícia não ajudará muito. Eles não podem me ajudar com isso. – falávamos de James e ele parecia não compreender. — Ouvi dizer que o marido dela é policial, então, não ajudará muito.

— Senhorita, não tenha medo. – senti o meu coração apertar. — Você deve comparecer à reunião e falaremos sobre isso. A melhor forma de resolver isso, será conversando sobre estes detalhes. – franzi o sobrolho. — A comunicação é o melhor método.

Sorri de canto ao ouvir, ele me passou segurança. Enquanto fingíamos uma conversa totalmente sem nexo, onde procurava lhe dar sinais que precisava de ajuda, James nos observava em silêncio. Após um tempo ele saiu da sala e caminhou para o meu quarto, senti um alívio ao ver que Namjoon sorriu de canto demonstrando que estávamos sozinhos.

— Me ajuda. – pedi sem tom.

— Eu vou tirar você daqui. – sussurrou quase sem som. — Aguente firme, por favor.

Acenei afirmativamente e ele sorriu de canto, era estranho estarmos assim. Namjoon não gostava de mim e isso era nítido, mas no momento ele estava ali e eu ainda não sabia o que ele faria. Será que James não sabia que ele fazia parte do grupo de amigos de Taehyung? Será que ele havia mentido sobre saber tanto?

— Cuidado com as cartas. – murmurou.

Sorri de canto e no fundo do corredor ouvimos vozes, respirei de alívio ao ouvir a voz do meu pai. Estava segura de novo e James não tentaria nada em sua presença, Namjoon sorriu de canto ao ver que eu estava aliviada. Ele provavelmente estava ali por Taehyung, sentia isso. Mesmo longe ele pensava em mim e ainda bem que ele pensava em mim.

— Está tudo bem? – indagou a minha mãe.

— Sim. – respondi evitando brigar com ela. — Esse senhor é o síndico do prédio e veio me convidar para uma reunião dos moradores.

— Olá. – disse ele. — Então nos vemos na reunião? – indagou.

— Sim. – murmurei. — Pensarei nas possíveis reclamações e lhe aviso. – me sentia mal por mentir, mas era necessário.

Os meus pais entraram e continuaram a conversar sobre alguma coisa, James não estava presente e eu senti que precisava falar mais.

— Tem certeza de que não quer ir agora? – indagou ele.

— Não. – murmurei. — Não posso ainda, mas me tira daqui. O meu pai está aqui e nada acontecerá no momento, mas não sei por quanto tempo estarei segura. Ele está armado. – sussurrei.

— Volto em breve. – sussurrou.

Respirei fundo e o vi ir embora, me sentia prisioneira em minha casa e isso não era normal. Fechei a porta e voltei para a sala onde os meus pais se encontravam, o meu pai me acolheu com um sorriso e antes de conseguir demonstrar qualquer coisa, eu cruzei os meus braços sobre o meu peito e procurei esconder as marcas molhadas da boca de James. Sem falar nada, caminhei em direção ao meu quarto e tentei não dar importância aos documentos que Namjoon havia me entregado. Se demonstrasse emoção, James ficaria curioso. Entrei no quarto e coloquei os papéis em cima da cômoda, fingindo não dar importância.

Ao me virar, me deparei com James me olhando. Eu estava com medo, mas não podia reagir assim ou colocaria o meu pai em risco. James não seria capaz de machucar a minha mãe, mas com certeza, tentaria algo contra o meu pai.

— Quem era? – questionou.

— O síndico do prédio. – menti. — Ele acha que conseguirá mudar todos os moradores com as suas reuniões de condomínio. – permaneci calma, jogando o seu jogo.

— Você não precisa ter medo de mim. – murmurou me fazendo ter a sensação de que era louca.

— Como não? – sussurrei. — Você quase abusou de mim.

— Já sabemos que não sou uma boa pessoa. – respondeu calmamente. — Tenho machucado você mais do que queria, não consigo ser racional ao seu lado.

Sem esperar a minha resposta, ele segurou as minhas mãos e me puxou para a cama onde nos sentou. Procurei controlar o meu medo e ao fundo conferi se a porta ainda estava aberta. As vozes dos meus pais ecoavam e isso me deu conforto, ele não seria capaz de tentar nada.

— O seu síndico disse algo que me trouxe de volta. – continuou. — A comunicação é a base de qualquer coisa. Alice, eu não quero ser ruim para você. – senti o meu coração apertar. — Não quero abusar de você, quero que você sinta prazer em estar comigo. Mas quando vejo, já é tarde demais.

— Você acha que tem o direito de me causar tanta dor. – sussurrei controlando os soluços. — A minha vida não tem valor em suas mãos.

— Não é bem assim. – como não? — Eu quero te mostrar que mudei, mas acabo deixando a frustração tomar conta e acabo te ferindo. – a sua voz continha arrependimento e isso era algo novo. — Me dá uma chance de ser seu amigo, se não conseguir a sua amizade, eu aceito desistir de você. – isso não podia ser real.

— E o que acontece durante esse tempo? – retruquei. — Você me estupra, me bate ou mata as pessoas que amo?

Ele apertou as minhas mãos com carinho e respirou fundo. James não demonstrava empatia por ninguém, mas quando o fazia era possível ver a sinceridade dos seus atos.

— Eu sei que não parece amor e nem deve ser considerado como amor, mas eu te amo. – sussurrou. — Você é o meu primeiro amor e eu sou tão cruel contigo, vivo te ameaçando e te causando danos irreparáveis. – isso era verdade. — Desde que você me deixou, eu sofro e penso que se você sofrer estaremos iguais. – James virou o seu rosto para esconder as suas lágrimas. — Me desculpe.

Era a primeira vez que o via chorar em toda a minha vida.

— Você é e sempre será o amor da minha vida. – continuou. — Eu te amo até hoje.

— Se me ama tanto, por qual motivo sofremos tanto? – indaguei limpando as minhas lágrimas. — Me deixa ir, me permita viver a minha vida.

Não entendi por qual motivo eu estava ali, conversando com ele, mas o acalmar poderia ser boa ideia. Antigamente isso funcionava e ele voltava a ser normal por um tempo. Se conseguíssemos tréguas, ninguém precisava morrer por minha causa e ele me deixaria ir por um tempo.

— Não quero te ver sofrer, jamais. – mas me causa dor? — Hoje pude ver o pavor em seus olhos e isso me doeu, não te quero assim. – isso nunca seria diferente.

— Eu não te amo mais. – murmurei. — Me desculpa, mas não consigo amar a violência.

— Eu sei. – respondeu rapidamente. — Estou saindo daqui e vou para um hotel, só te peço para passar bons dias ao lado dos seus pais, eles não têm culpa. – isso era remorso? — Não quero que eles sofram, os seus pais me acolheram e eu não quero perder isso. – eu não sabia o que pensar. — Você está livre de mim, prometo.

— Está bem. – disse sem entender.

— Hoje mesmo eu irei para um hotel e você não precisa ter medo de mim, está bem? – continuou acariciando a minha mão.

Sorri de canto e aceitei, não tinha nada para dizer. As suas palavras não me convenceram e eu procurava entender qual seria o próximo golpe. A ideia de não o ter ali era reconfortante e ouvi-lo dizer que eu estava livre também, mas será que era verdade? A sua calma era motivo de desconfiança, mas por um momento me senti em paz. Sem falar nada, ele me deu um beijo no rosto e se levantou indo em direção a saída do meu quarto.

— Boa sorte na vida, meu amor. – disse demonstrando tristeza.

Sem esperar a minha reação, ele saiu e me deixou sozinha. O que estava acontecendo? Era isso? Ele desistiria de mim, simples assim? Respirei fundo e voltei para os documentos que Namjoon me deu, os guardei dentro da cômoda e olhei para a sala. James conversava com os meus pais e em seu rosto não havia sinais de raiva, ele parecia descontraído e feliz. Será que esse era o fim da sua tortura e perseguição? 

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