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Assim que o silêncio tomou lugar, eu voltei a me sentir vazia. A tristeza e o pavor voltaram para me dominar, não estava bem e em breve tudo ficaria pior. A ansiedade devorava cada pedaço do meu corpo e a minha paz deixava a minha alma, trazendo as memórias que eu gostaria de esquecer. James sabia como me encontrar e se vingaria de mim por todos os meus atos contra a sua pessoa, sentia isso. Estava desprotegida e sozinha, do jeito que ele sempre gostou de me ter, frágil e sem saída. Os seus jogos me tornaram em um rato de laboratório para que ele possa fazer os seus experimentos sem que eu contasse para outro alguém ou fugisse dos seus braços. Neste momento somente as memórias dolorosas se faziam presente, procurando me lembrar que eu poderia tentar fugir de novo.
Precisava agir rápido. Fui até a sala e brutalmente joguei todos os objetos que estavam sobre a mesa no chão, a empurrei em direção a porta e voltei para a sala procurando por mais coisas que impedissem a entrada de alguém. A mesa não seria capaz de impedir a entrada de James, se ele quisesse entrar. Peguei algumas cadeiras e as empilhei sobre a mesa fazendo com que a maçaneta não conseguisse ser girada. Isso não o impediria de entrar, mas com certeza o atrasaria por algum tempo. Em seguida corri até a cozinha e procurei por uma faca, algo afiado que me protegesse de um ataque.
Assim que encontrei a faca que procurava, eu corri para o quarto. Peguei uma mala no canto do quarto e abri o meu guarda-roupas, jogando algumas roupas dentro da mala. A minha mente vagava por todas as decisões erradas que tomei durante a minha passagem pela terra. Me envolver com James me levou ao limite e ao mesmo tempo, me obrigou a tomar decisões erradas, provar coisas ilícitas e vender a minha alma por carinho. Ser obrigada a fazer algo para deixar alguém feliz não é viver, é ser crucificada aos poucos.
Fechei a mala e procurei pelos meus documentos, eu havia deixado tudo preparado. O dinheiro e todos os papéis necessários para sair do país se fosse preciso, isso era o que eu deveria ter feito. Mas a minha mente me propôs a falsa ilusão de que estaria segura em Seoul. Para todas as pessoas o meu relacionamento com James era perfeito e por um tempo, foi. James foi carinhoso comigo e cuidou de mim, no entanto, tudo mudou repentinamente e até hoje não sei explicar qual foi o seu gatilho. Lembro de ser feliz e de o ver como um bom amigo, mas isso é uma memória que o meu coração se recusa a aceitar.
Parei por alguns segundos e olhei em volta, não podia me esquecer de nada. Corri para a mesa da cama e peguei o meu carregador e abri as gavetas procurando por alguns objetos pessoais, não podia deixar nada para trás. Desta vez ele não podia me encontrar, não seria tão fácil assim. Respirei fundo ao ver que tinha tudo o que precisava, então calmamente, caminhei em direção a mesa do meu quarto e peguei um pedaço de papel, eu precisava deixar um bilhete para Taehyung, não podia sumir da sua vida sem tentar explicar os meus motivos, ele jamais me perdoaria.
Antes de conseguir escrever alguma palavra, pude ouvir o meu telefone tocar e me assustei. Me aproximei da sala e avistei o aparelho no chão junto com todos os objetos que estavam em cima da mesa de centro da sala. Peguei o aparelho e me sentei no sofá, respirando fundo em seguida.
Senti os meus olhos se inundarem, se ele soubesse o medo que sentia no momento, não me desejaria isso.
Respirei fundo e senti a primeira lágrima cair, não adiantaria falar de James. Ele era um pesadelo e precisava, aliás, eu necessitava fugir dele.
Esperei uma resposta, mas ela não veio. Deixei o meu telefone de lado e me levantei novamente, fui até as cortinhas e as fechei, não podia correr nenhum risco. Após concluir que estava protegida, me sentei atrás do sofá. Precisava ficar de olho e não podia dormir, assim que o dia amanhecesse eu deixaria a Coreia para o resto da vida. Precisava de uma solução e eu necessitava ir para uma cidade muito longe, em um país onde ninguém pode me encontrar. Não podia correr o risco de me encontrar com James e desta vez nem mesmo os meus pais saberiam da minha nova morada.
Taehyung não voltaria para mim após saber de James, ele estava certo. A minha vida só lhe traria desgraças e isso não era o que eu queria. Desejava o melhor para si, por isso, não queria que ele sofresse por minha causa. Me sentia tão sozinha, juntei os joelhos contra o meu peito e segurei a faca com força. Se James entrasse ali eu precisava estar pronta para matar, se fosse o caso.
Fechei os meus olhos e ouvi a minha respiração oscilar, todo o meu corpo doía e a minha mente pesava. A minha cabeça estava dolorida e as minha visão ficava escura por alguns momentos. Me sentia cansada, mas não podia ceder e nem deveria dormir, precisava vigiar. Abri os meus olhos ao ouvir passos no corredor, era ele, acontecia agora. As lágrimas desciam por meu rosto e o meu coração batia aceleradamente, eu morreria sem poder me despedir de ninguém. Neste momento eu preferia morrer, não aguentaria passar por isso de novo sem cair em lacunas profundas.
— Alice? – ouvi a voz de Taehyung e me assustei. — Abre a porta.
Ele batia com força e eu não sabia se era realmente ele, me levantei com calma e apontei a faca em direção a porta. Me apoiei nas cadeiras e nas mesas, olhei pelo olho mágico e vi o semblante de Taehyung do lado de fora, ele parecia preocupado. Desci das cadeiras e afastei tudo da porta, a abrindo em seguida. Respirei fundo e tentei me controlar, não queria perder o controle novamente. Abri a porta sabendo que ele poderia estar ali para se despedir de mim e isso não me deixaria bem.
— O que você tem? – indagou. — O que está acontecendo?
— Taehyung. – sussurrei sem forças.
Não consegui falar mais nada, pois, o meu corpo pesou e eu perdi o equilíbrio deixando a faca cair no chão. Taehyung rapidamente me segurou e me levou para dentro do apartamento, fechando a porta atrás de nós. As minhas lágrimas me impediam de ver alguma coisa, eu estava tão tonta, me sentia muito mal. Ele me carregou com muito cuidado até o sofá e me deitou, não conseguiria ficar acordada por muito tempo. A minha visão falhava e eu sentia que iria desmaiar.
— O que aconteceu aqui? – questionou olhando em volta. — Você está ferida?
— Que bom que você voltou. – sussurrei sem forças.
— Precisamos conversar. – disse me pegando no colo.
Sem falar nada, ele me levou para o meu quarto e eu permiti. Não tinha forças para discordar de nada e na verdade, me sentia bem por tê-lo ali. Se soubesse do medo que estava sentindo, provavelmente ele correria de mim. Assim como correria ao saber do perigo que corria estando ao meu lado. Taehyung precisava me deixar sozinha ou ele sofreria junto comigo.
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