» 30 «

***

— Amor. – sussurrou assim que atendi o telefone.

— Taehyung. – murmurei contendo as minhas emoções em mim.

— Está tudo bem? – indagou docemente. — Você soa triste, aconteceu alguma coisa?

— Não. – menti. — Acabei de acordar e a surpresa me deixou pensativa. – respirei fundo antes de continuar. — Mas estou bem. – mentia de novo.

— Aceitarei a sua mentira por enquanto. – tremi ao ouvir. — Não quero imaginar que você esconde algo e não quero estragar esse momento ao seu lado. – ele já me conhecia e isso não era bom. — Se você deseja saber, eu estou com saudades e ainda sinto os seus beijos em meus lábios. – prosseguiu.

— Não entendo. – murmurei. — Se está com saudades deveria voltar, ficar ao meu lado. Assim você não sentiria saudades. – o provocava sem direito.

— Estar aqui é a única forma de estar ao seu lado. – continuou baixinho. — Pode parecer confuso e sem nexo, mas a minha liberdade depende dos compromissos que ainda preciso cumprir.

— Eu entendo. – sussurrei. — Sinto muito, é cruel pedir algo sem saber exatamente o que você está fazendo.

— Quando voltar você saberá de tudo. – respondeu seriamente. — Não quero esconder a minha vida de você e eu quero que os nossos segredos sejam mútuos. Porém, não quero fazer isso pelo telefone, não será real. – era compreensível.

No momento seguinte apenas o silêncio tomou conta da nossa conversa, a sua respiração era intensa e oscilada, enquanto a minha era calma e desesperada. A minha realidade era cruel, mas eu precisava aceitar o meu destino. Não estava segura e jamais conseguiria ser feliz, não conseguiria seguir com a minha vida sem a presença do meu passado me torturando pelo caminho. Taehyung respirou fundo e isso fez o meu coração acelerar.

— Ei, Alice? – sorri de canto ao ouvir. — Precisarei ir ao médico, não me sinto bem.

Sempre que o assunto não lhe agradava ou não podia ser comentado, ele mudava rapidamente procurando fazer uma piada em seguida. Não questionar era a melhor solução e eu não queria saber o que ele pensava no momento, poderíamos sair desta conversa com dores irreparáveis.

— Ao médico? – indaguei baixinho. — Você está doente? Tem se alimentado bem?

— Me sinto estranho, acredito que estou grávido de um filho seu. – sorri de canto ao ouvir. — Estou com receio de receber um teste positivo.

— Você é estúpido. – disse. — E eu ainda acredito nas baboseiras que você fala, pois, eu exijo um teste para ter a certeza de que o filho é meu. – brinquei me jogando no sofá.

— Quanta audácia! – retrucou. — Acha mesmo que ando de mão em mão? Acredita que ando saindo com qualquer pessoa? – sorri ao ouvir. — Mas eu realmente gostaria de criar uma família ao seu lado.

— Não quero ser mãe. – murmurei. — A melhor virtude de uma mulher é reconhecer que não tem amor para dar. Ter uma família requer ser melhor do que a família que te trouxe ao mundo e isso não é o meu caso.

Não desejava filhos e isso era a única decisão que poderia decidir por mim. Crescer em minha família fez com que eu tomasse essa decisão, conhecer os homens que conheci fez com que eu selasse esse pacto comigo mesma. Mesmo não me relacionando com ninguém, eu me cuidava para não correr nenhum risco. Depois de passar pelas mãos da dor, eu não podia arriscar uma emboscada.

— Eu estava brincando. – disse baixinho. — Mas do nada senti uma brisa fria invadir o meu corpo.

— Você sabe quando volta? – tentei mudando de assunto.

— Não sei, Elsa. – ele era ridículo e mesmo querendo sorrir, não estava no clima. — Assim que souber você será a primeira pessoa a saber.

— Taehyung! – gritou uma voz masculina ao fundo. — Você poderia desligar o telefone e voltar ao trabalho?

— Em um minuto Seokjin. – pediu Taehyung.

— Posso questionar sobre quem é Seokjin? – questionei esperando ouvir uma resposta.

— Seokjin é um convencido. – respondeu seriamente. — Em seus sonhos ele acredita ser o homem mais lindo do mundo. – pude ouvir gargalhadas ao fundo.

— Eu não acho. – comentou a mesma voz. — Eu sou o homem mais lindo do mundo, único e poderoso. – afirmou.

— E é? – indaguei chamando a atenção de Taehyung.

— O quê? – retrucou com confusão.

— O homem mais lindo do mundo? – provoquei sabendo que isso o deixaria com ciúmes.

— Para você, somente eu sou o mais lindo do mundo. – disse alterando a sua voz. — Não se esqueça que você me adora mocinha.

— E quando foi que o seu sonho acabou? – continuei com a minha provocação.

— Você é muito linda. – disse. — Mas as suas piadas não possuem nenhuma graça, eu tenho um bom senso de humor e muito ciúme correndo em minhas veias. – sorri de canto. — Não me provoque dona Alice.

Taehyung com ciúmes era uma das coisas mais lindas do mundo, adoraria ver o seu rosto ao ouvir as minhas palavras em seu ouvido.

— Quando conheceremos a famosa Alice? – perguntou outra voz. — Começo a acreditar que ela é um homem, e você está com medo de nos contar.

— Por favor, me deixem. – pediu. — Vocês precisam aprender o significado da palavra privacidade.

Taehyung despertou gargalhadas e eu permanecia confusa.

— São os amigos que você comentou no outro dia? – perguntei sabendo que ele não falaria muito sobre isso.

— Você saberá em breve. – murmurou. — Um dia você se arrependerá de os conhecer, acredite em mim.

— E quando você volta mesmo? – repeti esperando ouvir algo diferente.

— Não sei anjo. – sorri de canto. — Mas prometo voltar em breve, por favor, me espere.

Não é como se tivesse escolhas, eu estava morrendo de medo e não sairia de casa até que ele voltasse para me fazer companhia por algum tempo até decidir o que fazer.

— Ei, Alice?

— Sim.

— Estou com tantas saudades do teu sabor. – disse pesadamente me despertando desejos.

— Você só pensa em sexo? – retruquei.

— Não seja maldosa! – sorri. — Estou falando do sabor da tua comida, você é impura. – a sua resposta me fez cerrar os olhos.

— Você nunca comeu a minha comida. – ele sorriu. — Não minta para mim.

— Eu sou um anjo, bebê! – exclamou. — Um anjo, foi você que abusou de mim e da minha inocência.

— Eu? – indaguei com certa indignação. — Que absurdo!

— A minha inocência foi roubada. – prosseguiu com as suas provocações. — Deveria se envergonhar, uma senhora da sua idade abusando de um bebê como eu.

Taehyung falava com tanta naturalidade que soava verdadeiro, o que era estúpido. Porém, eu adorava muito a sua forma de ser e todo o carinho que ele inconscientemente me passava através das suas palavras e momentos de amor.

— Pedófila! – gritou me assustando.

Não pude evitar uma gargalhada, ele era tão estúpido.

— Preciso ir, te ligo mais tarde anjo. – murmurou. — Está bem?

— Sim, boa sorte. – aceitei.

— Ei, Alice? – indagou.

— Sim.

— Me espere, tá? – pediu. — Não vá procurar outros bebês por aí quando estiver fora.

— Você só pode ser louco. – retruquei. — O maníaco do parque aqui é você, não eu.

Taehyung soltou uma gargalhada tão gostosa que eu me senti bem novamente.

— Te gosto. – e desligou sem esperar a minha resposta.

Joguei o meu telefone no chão e fechei os meus olhos, deixando o momento tomar conta de mim. Não queria pensar em mais nada, apenas queria deixar a voz doce de Taehyung ecoar dentro da minha cabeça. Gostava dele e isso era real, mas precisava decidir o meu futuro sem a sua presença ou ambos acabaríamos magoados. 

***

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top