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Agarrava o assento do avião como se não houvesse amanhã, o meu coração estava acelerado e tudo o que conseguia imaginar era a nossa morte. Taehyung segurava a minha mãe e nem sequer parecia preocupado com o que estava acontecendo. Por vezes, ele me lançava um sorriso sarcástico e parecia se divertir com a minha ansiedade. Me encontrava no meu limite e se o avião não encontrasse estabilidade, eu teria os gêmeos ali mesmo. Passei uma das minhas mãos sobre a minha barriga e procurei mentalizar coisas boas, pensar em coelhinhos talvez me ajudasse a manter a sanidade.

— Está tudo bem? – provocou ele.

— Acha que estou bem? – retruquei lhe arrancando um sorriso. — Essa coisa irá nos matar! Pede para parar que eu desejo descer. – Taehyung soltou uma gargalhada ao ouvir.

— É apenas uma turbulência, já passa. – respirei fundo para não bater nele. — Não se preocupe, vem cá. – continuou deitando a minha cabeça em seu ombro.

Encostei a minha cabeça em seu peito e procurei ouvir os batimentos do seu coração, ele costumava me acalmar. Taehyung respirava com calma e os seus batimentos eram calmos, pontuados e isso me passou segurança. A melodia do seu coração rapidamente ecoou com mais força e a minha serenidade voltou a encontrar o meu corpo. Taehyung respirou fundo e em sussurros começou a cantarolar uma canção para mim, senti um arrepio percorrer todo o meu corpo, me fazendo erguer a minha cabeça para o contemplar. A sua voz rouca soava tão perfeita e eu não podia acreditar que ele cantava para mim, era a primeira vez que ele cantava para mim e eu não sabia como processar todas as emoções do momento.

— Está tudo bem? – questionou ao ver a minha reação.

Em resposta os meus olhos se encheram de lágrimas e eu procurei processar o que ouvi. Nunca conheci alguém com uma voz tão bela e calma, sem falar nada, voltei a deitar a minha cabeça em seu peitoral e respirei fundo. O seu coração continuou calmo e passando uma das suas mãos por meus cabelos, ele voltou a entonar uma melodia. Me sentia confusa e não conseguia pensar em mais nada, a sua voz entrou em meus ouvidos como um furacão e devastou tudo, derretendo tudo em mim.

Voltei os meus olhos para o meu relógio de pulso que marcavam quatros horas, fechei os meus olhos e me deixei levar pelo momento. Não queria que ele parasse nunca mais, queria ouvir o seu cantarolar para o resto da minha vida. Os arrepios por meu corpo não cessaram e continuaram me despertando sentimentos bons, sensações que não havia sentido antes. O coração de Taehyung acompanhava a melodia que ecoava dos seus lábios, me deixando mais vulnerável ainda.

Lembro de comentar que criávamos memórias que seriam difíceis de esquecer e se necessário, seria um processo doloroso onde perderíamos momentos como este. Assim que ele terminou de cantar, permaneci deitada em seu peito por alguns minutos, ouvindo o seu coração bater. As lágrimas desciam por meu rosto e eu me sentia tão feliz, não sabia que podia ser tão feliz como estava no momento. Respirei fundo e limpei as minhas lágrimas, erguendo o meu rosto para o fitar. Ele pousou uma das suas mãos sobre o meu rosto e sorriu, não consegui controlar e deixei as lágrimas descerem.

— O que foi? – sussurrou limpando as minhas lágrimas.

— Você é tão perfeito. – sussurrei contendo os soluços.

— Você gostou? – indagou sorrindo de canto.

Como podia não gostar de algo tão puro?

— As sensações que percorrem o meu corpo quando estou contigo, são indescritíveis. – murmurei. — Não sabia o que era estar em paz até conhecer você.

— Alice. – sussurrou. — Não seja tola, não me faça chorar.

— Por qual motivo você nunca cantou para mim? – questionei.

— A turbulência passou. – respondeu ignorando a minha pergunta. — Está se sentindo melhor?

Não havia notado, eu me sentia bem no momento. Se o avião caísse neste exato momento, eu não me importaria. Assim que ouvi a sua voz doce, nada mais fez sentido e eu me rendi a ele sem saber as razoes, no entanto, eu estava feliz por estar ali.

— Nunca cantou para mim antes. – murmurei.

— Você nunca pediu e eu não acho que seja tudo isso. – respondeu dando de ombros.

Permaneci em silêncio, incrédula. Não consegui desviar os meus olhos, ele, no entanto, desviou os seus olhares para outra direção e procurou se concentrar em outra coisa. Ao notar que eu não me moveria, ele respirou fundo e me olhou nos olhos.

— Nunca cantei por medo. – sussurrou.

— Medo? – não entendi.

— Sim. – ele estava sério.

— Medo do quê? – queria compreender os seus motivos.

— De você não gostar. – murmurou. — Não sei, acho que sempre imaginei que você acharia estranho e que desistiria de mim se me ouvisse cantar. – isso era um disparate sem dimensão. — Quando começamos, eu recebi muitas críticas por causa da minha voz.

— Aposto que você era apenas um menino. – murmurei. — Não acredito como alguém pode ter a audácia de não gostar do que você faz. – ele sorriu de canto.

— Boba. – disse se aproximando.

Taehyung encostou os seus lábios aos meus e me beijou, senti os seus carinhos e sorri.

— Essa canção foi escrita por você? – queria saber mais.

— Sim. – murmurou. — Juntamente com Namjoon.

— E qual é o nome? – questionei. — Adoraria ouvir a versão completa com Namjoon.

— 4 o'clock. – murmurou me fazendo sorrir.

— O que foi? – indagou ao notar.

— Quando você começou a cantar, o relógio marcava quatro horas. – ele sorriu.

— Sério? – ele parecia não estar surpreso.

— Sim. – sussurrei.

— E há quem não acredite em destino. – sorri ao saber que ele havia feito de propósito.

Revirei os olhos e sorri, ele sabia que eu notaria em detalhes e fez de propósito. Ele queria mandar uma indireta ao falar do destino, sabia que ele nos ajudava muito, mas não acreditava que o destino sabia de tudo. Respirei fundo e voltei a me deitar em seus braços, fechando os meus olhos em seguida. 

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