» Park Chin Hwa «

***

À medida que me aproximava do meu escritório, sentia o meu coração bater mais forte. Por um lado, eu não queria demonstrar que sabia do passado da minha secretária e, por outro lado, procurava não sentir nada ao saber que ela tinha um passado com o amor da minha vida. Respirei fundo e caminhei em direção a minha sala, não podia sentir nada pelos momentos seguintes. Ao me ver, ela esboçou um sorriso enorme e se ergueu, em sinal de respeito. Sem falar nada, ela pegou um copo de café que já estava em sua mesa e estendeu em minha direção. Parei em sua frente e sorri de canto, ponderando as minhas próprias palavras. Não podia fracassar agora e não podia tornar a nossa convivência em algo sofrido.

— Bom dia, Alice! – exclamou sorridente.

— Bom dia. – não podia soar grossa.

— Eu já deixei o seu café pronto. – continuou esperando que aceitasse o mesmo.

— Obrigada, mas prefiro não tomar café hoje. – ela franziu o sobrolho ao ouvir. — Estou com uma leve dor de cabeça. – e isso não era mentira.

— Está bem. – pude ver que ela ficou triste. — Antes que me esqueça, você tem uma reunião em dez minutos.

— Hoje? – retruquei olhando para a minha agenda aberta em cima da sua mesa. — Não me lembro de ter marcado reuniões externas para hoje.

— Essa reunião não foi marcada por nós. – respondeu. — Todos os departamentos estão passando por reuniões surpresas com o chefe. – não entendia. — Park Chin Hwa pediu que você fosse até a ele assim que chegasse.

— Ele disse sobre o que se tratava? – indaguei procurando compreender.

— Não, apenas pediu para te informar. – respirei fundo e sem pensar duas vezes, segui em direção a sala dele. — Obrigada, Oh Reum.

A minha mente procurava compreender o que acontecia. No entanto, eu não sabia exatamente o que pensar. Não sabia que tínhamos assuntos em comum, por isso, a minha curiosidade aumentou. Por ter acesso a todos os documentos da empresa, me dei a liberdade de olhar alguns documentos feitos por ele. Será que por este motivo ele queria a minha presença em sua sala? Respirei fundo e parei em frente a sua sala, não sabia se deveria bater ou esperar mais um pouco. No entanto, não consegui, pois, ouvi vozes no corredor e de longe, o semblante do herdeiro se fez presente. Não sabia como reagir, então, esperaria.

— Alice! – exclamou ao se aproximar.

— Bom dia. – murmurei. — Perdão, mas a minha secretária me informou que temos uma reunião?

— Sim. – disse sorridente. — Por favor, entre.

Ele abriu a porta do seu escritório e fez sinal para que entrasse. Assim o fiz e rapidamente senti o assombro tomar conta de mim. A sua sala era quatro vezes maior que a minha e a sua decoração chique, me fez sentir bem pequena. Tudo ali era luxuoso e sinceramente, neste momento era possível ver que ele era o filho do dono da empresa. Sabia o seu nome, mas como lembrete, ele estava escrito na placa em cima da sua mesa. Consegui a liberdade de o chamar pelo primeiro nome, mas não o faria, por respeito. Voltei a minha atenção para o homem em minha frente e respirei fundo. Ele vestia roupas pretas muito elegantes, os seus cabelos negros soltos ao vento estavam estilizados com elegância. Em seus olhos havia um brilho encantador e em seu rosto, covinhas que mesmo sem expressões, eram visíveis.

— Bom, como anda a minha pessoa preferida? – disse quebrando o silêncio. — Está tudo bem?

— Sim, e você? – murmurei sem jeito.

— Alice, pedi a sua presença aqui por um motivo bem sério. – tremi ao ouvir. — Penso que você já ouviu as novidades.

— Não. – murmurei. — Mas penso que é sobre os erros que cometi durante o meu trabalho. Me perdoe, sei que errei muito, mas procuro melhorar todos os dias. – ele me ouvia atentamente, mas isso não era novidade para ninguém.

— Alice. – sussurrou. — Não pedi essa reunião para falarmos sobre erros que podem acontecer a qualquer momento, cometidos por qualquer um de nós. – respirei fundo. — Todos temos o direito de errar e consertar estes erros.

— Então? – indaguei.

— Não sei se você sabe, mas como herdeiro, eu possuo muito poder sobre essa empresa. – ele estava se gabando? — Poderes que eu ainda não sei como gerir.

— Está bem. – murmurei. — Mas qual é a relação comigo? – eu estava confusa.

— Preciso de alguém como você. – a minha confusão aumentou. — Necessito de alguém de confiança. Alguém que cuide dos meus interesses e dos interesses da empresa quando não estiver presente. – não sabia o que dizer. — Eu confio em você e acredito que você precise se arriscar mais.

— Espere. – disse colocando a minha bolsa sobre uma das suas cadeiras. — O que está acontecendo? – indaguei andando de um lado para o outro.

— Por qual motivo acha que está acontecendo algo? – indagou colocando as mãos nos bolsos da sua calça.

— Você não está pedindo algo simples. – ele sorriu de canto demonstrando as covinhas. — E você não está pedindo algo fácil, mas sim, algo que não tenho muito interesse. – ele me ouvia com atenção. — Então, eu acredito que algo esteja acontecendo, algo que você ainda não me comunicou e que eu possa dizer não, se souber.

— Você está certa. – murmurou. — Porém, no momento certo você saberá. No momento preciso ter a certeza de que posso confiar em você e que você pode me ajudar. – os seus olhos permaneceram firmes, como se me testasse.

— Não posso prometer fieldade, se não souber do que se trata. – ele sorriu de novo. — Não posso me comprometer, além disso, eu possuo uma vida fora da empresa. – ele franziu o sobrolho. — Então, pergunto de novo. O que está acontecendo? – esperava uma resposta.

— Alice. – tremi ao ouvir. — O meu pai está no hospital. – paralisei ao ouvir as suas palavras.

— Céus! – exclamei me sentando na cadeira. — O que aconteceu? – não conseguia acreditar.

— Não sabemos. – murmurou demonstrando tristeza. — Pelo que os médicos afirmaram, ele foi envenenado. – que horror.

— Eu sinto muito. – sussurrei.

— Preciso de você. – disse me olhando nos olhos. — Preciso de alguém com caráter, alguém com princípios e alguém que não se venda por nada. – como ele sabia que conseguiria ser assim? — Preciso de alguém que cuide da empresa, para que eu possa cuidar do meu pai.

— E o que te faz pensar que sou capaz? – não estava disposta a ter essa responsabilidade.

— Sinto isso e vejo isso. – murmurei. — Você me passa a sensação de ser alguém digno e não costumo me enganar. – respirei fundo. — Ninguém precisa saber das suas novas tarefas. Controle tudo a meu comando e assim que o meu pai melhorar, volto para lhe ajudar. – mordi os lábios ao ouvir.

— Não sei. – disse erguendo o meu corpo. — Não me parece ser seguro cuidar dessa empresa sozinha. – ele me olhou sem compreender. — Se o seu pai está nestas condições, o que nos garante que você não possa passar pelo mesmo? O que nos garante que eu não possa passar pelo mesmo ao assumir? – será que ele não tinha medo?

— Você e a minha mulher possuem o mesmo questionamento. – franzi o sobrolho.

— Ela é uma mulher sábia, deveria lhe dar ouvidos. – ele sorriu.

— Sim. – murmurou. — Você já se casou?

— Ainda não. – disse desviando o olhar. — Mas em breve.

— Não se case. – murmurou. — Não vale a pena.

— Como? – retruquei. — Por qual razão diz isso? – ele sorriu de canto.

— Daqui a uns dias, meses, anos e momentos, você sentirá o que é ser incompleta. – respirei fundo. — Então, você desejará momentos que não pode viver e aventuras que não são permitidas. Até mesmo o desejo por pessoas que não pode sentir e nem mesmo os filhos conseguirão manter o seu casamento firme e forte. – ele estava triste. — Se aventure enquanto pode, pois, depois, viverá apenas de desejos que não podem ser realizados.

— Não sabia que tinha filhos. – comentei sem falar muito.

— Uma menina. – sorri de canto. — Uma bela menininha, feliz e muito saudável.

— Seu casamento está em crise? – não deveria, mas desejei saber.

— O meu casamento não existe mais. – respondeu. — Apenas dois adultos fingindo que se amam para não desapontar uma menininha de quatro anos. – a dor era visível.

— Sinto muito. – foi o que consegui dizer.

Ele ouviu as minhas palavras, respirou fundo e veio em minha direção. Permaneci parada, esperando por ele. Park Chin Hwa se aproximou de mim e segurou as minhas mãos, as apertando com força. As suas mãos estavam quentes e os seus olhos invadiram os meus, me fazendo tremer. O que estava acontecendo? Sem esperar muito, ele puxou as minhas mãos e as levou até a sua boca, onde, cuidadosamente, as beijou. Respirei fundo novamente e procurei me retirar do momento. No entanto, ele não deixou e em seus olhos pude ver a realidade do momento. Ele estava com medo e podia ver isso. Assim que ele soltou as minhas mãos, me afastei dele e esperei por algum comentário que quebrasse o clima estranho.

— Por favor, me ajude. – pediu após algum tempo.

— Está bem. – aceitei. — Porém, preciso que prometa que assim que souber mais detalhes sobre o estado de saúde do seu pai, você me avisará. – ele sorriu de canto. — Preciso saber se corro perigo e claro, ninguém precisa saber que cuido de tudo por você. – ele aceitou sem questionar.

— Obrigado. – sorri de canto. — Prometo que não me esquecerei do seu gesto.

— Está bem. – disse indo em direção a porta. — Vou trabalhar um pouco, não quero que as pessoas comentem sobre a minha ausência lá e presença aqui. – ele sorriu.

Sem falar nada, abri a porta da sua sala e saí. Park Chin Hwa não me seguiu e nem me acompanhou. No corredor havia algumas pessoas e pelos seus olhares, notei que eles imaginavam coisas. Tudo o que eu não precisava, comentários maldosos sobre mim e o herdeiro da empresa. O seu nome causou burburinhos quando ele decidiu ocupar uma sala no andar dos "plebeus", logo, tudo ficaria pior com a minha presença em sua sala. Por mais que não pensasse nada de errado, as pessoas fariam. Elas questionariam os temas que teria, com ele sendo a mais nova empregada e claro, os erros cometidos em meu nome também ecoavam por todos os lados. Logo, eles inventariam que estava sendo privilegiada por algum motivo estúpido.

Parei em frente à minha sala e notei que Oh Reum não estava ali. No entanto, o seu computador estava ligado e pude ver que ela pesquisava passagens de aviões. Será que ela pretendia viajar? Respirei fundo e entrei na minha sala, afastando os meus pensamentos. Fui em direção a minha mesa e coloquei a minha bolsa em cima dela, me sentando em seguida. Liguei o meu computador e comecei a organizar tudo o que precisava para o dia. Ao fundo, pude ouvir os passos de Oh Reum e isso me fez ter outra postura. Após alguns segundos, ela bateu na porta e após ouvir o meu, sim, ela entrou. Respirei fundo e esperei, ela tinha um sorriso nos lábios e parecia muito feliz. Não sabia se isso era algo bom, mas sempre que ela sorria, eu me lembrava de tudo o que sabia.

— Alice. – disse entrando. — Aqui estão alguns documentos enviados para você através de fax. – franzi o sobrolho ao ouvir.

— Fax? – ela sorriu. — Sério? – não podia acreditar.

— Sim. – respondeu colocando as folhas sobre a minha mesa. — Algumas empresas ainda preferem a comunicação por Fax.

— Está bem. – aceitei olhando a papelada. — Se não tem outro jeito.

— Infelizmente, não. – continuou. — Não se esqueça que todas as respostas também precisam ser enviadas por Fax, já que eles não possuem nenhum outro meio de comunicação. – respirei fundo. — Se precisar de qualquer coisa, por favor, me chame.

— Obrigada. – disse ao vê-la sair da minha sala.

Por alguns momentos esqueci que tinha um problema pessoal com Oh Reum. Ela não sabia, mas eu ainda pensava em tudo o que ela sabia sobre Kim Taehyung. Não queria aceitar que outra mulher conhecia o meu Taehyung, e que assim como eu, ela também se deleitou em seus carinhos. Respirei fundo ao lembrar que ela chegou a pensar em uma família ao seu lado e que eles passaram noites se amando, assim como fazíamos. Talvez esse seja o meu problema atual, esse é o motivo de não conseguir me entregar a ele. Lembrar que ela também se entregou a ele, quantas vezes desejou e quantas vezes ele quis. Não podia usar isso contra nenhum de nós, porém, precisava de tempo para digerir e compreender isso.

***

Park Chin Hwa

A minha mente vagava por todas as possibilidades, tudo precisava ser minimamente calculado. Não podia perder contratos importantes e os nossos clientes não podiam pensar que a empresa estava com problemas. Todavia, tudo em mim sabia que ficaríamos bem. Alice ajudaria nos trâmites normais e os nossos diretores ajudariam nos outros. Poderia passar um tempo ao lado do meu pai, poderia procurar justiça em seu nome, mesmo sabendo que ele não merecia muito. No entanto, seria difícil achar alguém que não gostasse dele, todos não gostavam dele. Respirei fundo e olhei para o diretor em minha frente, ele olhava para os novos contratos feitos para adicionar a Alice na liderança do grupo. Compreendia a sua preocupação, afinal de contas, ela havia acabado de chegar na empresa.

— Tem certeza disso? – indagou me olhando. — Isso não parece uma boa ideia.

— Sim. – afirmei. — A Alice é competente e saberá administrar os cargos mais baixos em minha ausência.

— Não me leve a mal. – eu não levaria. — Sei que a moça é competente e muito inteligente. Porém, ela acabou de chegar. Não acho que esteja preparada. Possuímos pessoas que esperam por essa oportunidade. – ele tinha razão. — Não quer pensar mais um pouco? As pessoas podem comentar sobre isso, se souberem. – compreendia tudo.

— Elas não precisam saber. – respondi. — A Alice fará tudo sem que ninguém saiba. Confio na Alice e a sua lealdade é algo muito admirável. Se algo acontecer comigo, confio nela para continuar com as ideias da empresa até que o testamento do meu pai e o meu sejam lidos para o resto da empresa. – ela não sabia deste pormenor.

Não queria discutir sobre isso e essa era a minha decisão. O estado do meu pai era bem crítico e até descobrir o que havia realmente acontecido, precisava estar ao seu lado. Pois, ainda corríamos o risco de uma emboscada. Após sair do hospital, ele precisaria de tempo para se recuperar e se fizesse tudo sozinho, eu teria muito trabalho para completar. Ao mesmo tempo, não confiava nos diretores da empresa, todos queriam o mesmo. Assumir a liderança do império do meu pai, colocando assim, o único herdeiro para fora da gestão. Estes passos foram dados antes, mas eles não conseguiram ir muito longe. Então, precisava tomar cuidado para não perder um império que era meu por direito.

— Por qual motivo você escolheu a Alice? – indagou colocando os papéis em cima da minha mesa.

— Por sua lealdade. – respondi cruzando os braços. — Além de ser competente, ela é discreta. Podemos confiar na Alice, confie em mim.

— A sua esposa sabe do seu encanto por essa moça? – isso era ridículo.

— Não existe encanto. – respondi me levantando. — Por qual motivo preciso ter interesse na Alice? Não posso admirar o seu trabalho como funcionária? Preciso gostar dela, no processo? – ele me olhava com atenção.

— Chin Hwa, você sabe que eu sou bem sincero sobre os meus sentimentos e desejos. – queria revirar os olhos. — E sou a favor de encontros de desejos no trabalho. – isso era nojento. — Porém, tome cuidado com os seus sentimentos ocultos e por estes desejos não adereçados que você insiste em não ter.

— Não se preocupe com o meu casamento. – pedi. — A Alice não está em minha mente da forma doentia como você pensa. – eu realmente não me atraia por ela. — E a minha esposa não precisa se preocupar com a minha lealdade. – eu que me preocupava com a dela.

— Está bem. – aceitou indo em direção a saída da minha sala. — Lembre-se disso como um conselho de amigo. – não éramos amigos.

As pessoas insistem em acreditar que sabem mais sobre a sua vida do que você mesmo. Elas insistem em conselhos, momentos e até mesmo experiências que não se enquadram em nada do que você sente. Não possuía muitos amigos e os que tinha, estavam em minha vida apenas por interesse. Ser o herdeiro de uma empresa assim não era algo bom, muito menos memorável. Tudo em mim atraia pessoas ruins e interesseiras, fazendo com que pessoas boas nunca chegassem de fato ao meu encontro. Sem pensar muito, saí da minha sala e caminhei em direção a sala da Alice. Já éramos assunto, as pessoas pensavam coisas nojentas sobre nós, mas isso não me importava. Neste momento apenas a saúde do meu pai era importante.

— A Alice está? – indaguei a sua secretária que comia um donut.

— Sim, senhor. – disse com a boca cheia.

— Não precisa anunciar. – retruquei entrando na sala.

Sem falar nada, entrei na sala. A Alice estava concentrada e pareceu não notar a minha presença. Parei por alguns segundos e observei os seus movimentos, algo que ainda não tinha feito. De fato me encontrava em frente de uma mulher muito bonita, em todos os aspetos possíveis. Alice tinha os cabelos longos, cor de âmbar. Os seus olhos escuros combinavam com a sua pele branca, delicada ao ponto de a tornar frágil. Em seus lábios pequenos e detalhados, estava a cor do desejo que todos falavam. Será que o homem em sua casa a via assim? Será que ele sabia de todos os detalhes que os homens de fora apreciavam em sua Alice? Afastei os meus pensamentos pecaminosos e bati na porta, chamando a sua atenção para mim.

— Ei. – respondeu sorrindo.

— Posso entrar? – indaguei.

— Sim, claro. – respondeu se levantando. — Entre, vou preparar um café. – franzi o sobrolho.

— Não sabia que você possuía esse luxo. – ela soltou uma gargalhada ao ouvir.

— Eu gosto da ideia de ter café quando desejar. – respondeu preparando o mesmo. — Não gosto da ideia de ter Oh Reum cuidando de tudo o que consumo. – isso era novo.

— Por acaso temos um problema com a sua secretária? – questionei me sentando em seu sofá.

— Ainda não. – murmurou olhando para mim. — Podemos falar sobre isso quando o seu pai melhorar.

— Alice, precisamos conversar. – pude ver o medo em seus olhos. — Lembra do que conversamos mais cedo?

— Sim. – respondeu colocando o café em xícaras. — Aconteceu alguma coisa?

— Sim. – respondi pegando a minha xícara. — Preciso que você assuma a empresa agora, pois, preciso viajar.

— Eu? – retrucou deixando o seu café cair sobre a mesa. — O que aconteceu? Não pode ser outra pessoa? – sorri de canto ao ouvir.

Sabia que pedia muito, mas precisava da sua ajuda. No entanto, antes de me ausentar, faria questão de ensinar tudo o que ela precisava saber para continuar com a agenda da empresa. Não cometeria o erro de a deixar sem instruções. Todos os meus ensinamentos seriam importantes para que ela compreendesse o tamanho da sua pessoa nos negócios e o quão importante se tornaria em minha presença. Ela não podia cair no erro de acreditar nos diretores, pois, eles apenas se importariam com o poder. Em minha mente, sabia que isso seria bom para o seu futuro e que um dia ela me agradeceria por isso.

— Alice, você precisa perder esse medo. – tentei. — Precisa acreditar mais em suas qualidades.

— E se precisar de ajuda e não conseguir me comunicar contigo? – isso não aconteceria.

— Não estará sozinha. – disse tomando um pouco do meu café. — Os outros diretores estarão contigo e eu sempre estarei disponível para você. – isso era verdade.

— O que eu teu pai disse sobre isso? – questionou limpando o café que deixou cair. — Sobre você me obrigar a ficar no comando da empresa. – sorri ao ouvir.

— Você deveria mudar o seu nome para drama, melhor, rainha do drama. – respondi sorrindo. — Não se preocupe.

Alice se sentou no sofá em minha frente e esperou por mim, pude ver o seu nervosismo. Tomei mais um gole do meu café e deixei a xícara de lado, olhando em seus olhos. Não tinha nenhum sentimento por Alice, não sentia desejos, não sentia vontade de me aventurar em seus lábios. Porém, sentia um respeito enorme por tudo o que ela era e representava em minha vida. Encontrava em Alice algo que não sabia decifrar. Em seus olhos, encontrei amor e carinho. Em seus gestos encontrei ensino e muita calma. Não queria perder a sua amizade, então, tudo o que pudesse fazer por ela e por nossa amizade, o faria.

— Vamos almoçar juntos? – pedi quebrando o silêncio.

— Não tem como fugir de você? – sorri. — Pelo menos você vai pagar o almoço?

— Eu não disse isso, você ganha muito bem aqui. – ela cerrou os olhos. — Estou brincando, eu pago.

Sem falar nada, nos erguemos. Ela pegou a sua bolsa e eu a esperei na porta. Em silêncio, ela caminhou em minha direção e sorrindo, saímos da sua sala. O corredor estava vazio, o horário de almoço era mais calmo. A secretária da Alice não se encontrava, então, ela provavelmente estava com o resto da empresa. Alice caminhava ao meu lado, em silêncio. Não queria saber o que ela pensava, pois, isso era notório em todos os seus gestos. Assim como eu, ela pensava no que as pessoas falavam sobre nós. Entramos no elevador após trocar alguns breves olhares. Queria quebrar o silêncio entre nós, mas não sabia como ou por onde começar.

— O que você tanto pensa? – indaguei por fim, quebrando o silêncio.

— Não sei ao certo. – murmurou. — Penso que estou assumindo responsabilidades que possam me afastar da minha família, e eu não quero isso. – compreendia o seu lado.

— Entendo. – respondi enquanto saíamos do elevador. — No entanto, prometo que você terá todo o tempo do mundo ao lado da sua família e que nada faltará enquanto você me ajudar. – ela respirou fundo.

— Espero que você tenha razão. – disse me seguindo em direção ao restaurante. — Sinto muito por vagar por meus pensamentos, prometo que escuto tudo o que você está dizendo. – sorri de canto.

Entramos no restaurante e automaticamente olhamos para os lados, procurando sinais dos outros funcionários. Para o meu alívio, não havia ninguém ali, poderíamos ter uma refeição em paz. Sentamo-nos em uma mesa mais afastada e esperamos por algum garçom. A Alice olhava para o nada e em seus olhos escuros havia algo que me fazia querer questionar tudo o que ela pensava no momento. Todavia, eu não podia. Não era justo, não queria ser invasivo.

— Alice, você se sairá muito bem. – afirmei procurando lhe passar conforto. — Melhor do que eu faria em sua posição.

— Como está o seu pai? – indagou. — Alguma novidade?

— Melhorando, mas ainda precisamos descobrir quem o magoou. – respondi vendo que um garçom trazia água para a nossa mesa. — Infelizmente, o meu pai tem muitos inimigos. Será difícil descobrir quem deseja algo contra a sua vida. – respirei fundo.

— Espero que descubra logo, assim poderá voltar rápido. – murmurou tomando um pouco de água.

— Deseja a minha presença por receio de assumir a empresa ou por estar apaixonada por mim? – brinquei fazendo com que ela se engasgasse com a água.

— Até parece. – disse sorrindo. — Eu amo a perfeição que tenho em casa. Quando você viaja? – questionou.

— Em dois dias. – respondi baixinho.

— E quando volta? – retrucou.

— Em breve. – não queria falar muito sobre a minha viagem. — Obrigado por fazer isso por mim, nem sei como agradecer.

— Está bem. – sussurrou. — Tudo dará certo, eu acredito nisso.

— Eu confio em você. – murmurei. — Agora você precisa fazer o mesmo.

— Chin Hwa, como se chama a sua filha? – franzi o sobrolho ao ouvir.

— Mi-cha. – respondi sorrindo. — Park Mi-cha.

— Bela. – murmurou. — Que nome lindo.

— Sim, combina muito com ela. – respondi sorrindo de canto.

— Sei que não é da minha conta, mas por qual motivo a sua esposa não pode assumir a empresa? – era uma pergunta coerente. — Já que ela trabalha na mesma área que você? – respirei fundo.

— Ela não seria capaz e o meu pai não confia nela. – respondi evitando dar detalhes.

— Por qual razão? – eu também gostaria de saber.

— O meu pai não acha que somos uma família de verdade e que se colocar a empresa em suas mãos, perderíamos tudo para o seu amante. – senti a dor me invadir. — Por isso preciso de você e confio em você. – evitava ser frio ao falar da minha esposa.

— Eu sinto muito. – murmurou. — É triste saber de tudo isso. – as suas palavras me confortaram.

— Não se preocupe. – disse firmemente. — A traição da minha esposa é uma das menores preocupações que possuo. Assim que o meu pai melhorar, cogito dar entrada no divórcio e pedir a guarda da minha filha.

— Lembra do que você me disse ontem? – indagou ela olhando em meus olhos.

— O quê? – eu falava muito.

— Se nada der certo, coma cenouras. – soltei uma gargalhada ao ouvir. — Não faz sentido, mas me fez sorrir.

— Obrigado, Alice. – sussurrei. — Você me faz esquecer dos meus problemas. – era sincero.

— De nada. – respondeu sorrindo. 

***

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