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TAEHYUNG

Há algumas horas que eu andava de um lado para o outro, procurando o que fazer. Não ter a Alice por perto fez com que os meus dias ficassem longos, chatos e sem definições. No momento, tudo me causava irritação e pouca coisa arrancava esse stress de mim. Nem mesmo cuidar dos meus filhos acalmava o meu coração quando a minha mulher não estava presente. Em todos os lugares, o seu semblante se fazia presente e o seu fantasma não me deixava só. Me levantei do sofá onde estava quase toda a manhã e fui em direção ao quarto, talvez organizar as minhas roupas e separar alguns itens para a doação me ajudasse com a saudade até a Alice voltar. Abri a minha parte do guarda-roupa e comecei a procurar por peças que não usava mais. Precisava separar peças que não usava mais e que estivessem fora de moda.

Há algum tempo que gostaria de fazer isso, até mesmo a pedido da Alice, já que ela não tinha mais espaço para guardar as roupas que comprava. Parei ao ver que, no fundo do armário havia uma caixinha, escondida atrás das minhas caixas de sapato. Retirei tudo do armário e peguei a caixinha, me erguendo e indo até a cama, onde a abri cuidadosamente. Para o meu espanto, ela estava cheia de envelopes destinados a mim. Engoli a seco todas as ideias que me passaram pela cabeça e os motivos que a levaram a escrever isso para mim. A letra delicada e formosa só podia ser da minha Alice, não conhecia ninguém com uma letra tão bonita como a sua. Abri um dos envelopes e mesmo sabendo que era invasão de privacidade, resolvi continuar.

Taehyung,

"Eu acho que é a primeira vez que escrevo para você. Não sou muito boa em demonstrar sentimentos, porém, sou boa em escrevê-los. Sempre que fecho os meus olhos, lembro-me da noite de outono em que nos conhecemos. Sinto o vento e a brisa tocarem a minha pele, sinto o cheiro forte e cativante que exala o mar. Ainda consigo ouvir as vozes e os sorrisos das crianças correndo de um lado para o outro. Sim, foi um dia tão agradável. O dia em que te conheci, o dia em que me perdi nos braços de um estranho. Agora, estamos separados por algo maior. Você se recupera de golpes dados por você mesmo e eu me encontro aqui, sentindo os nossos filhos em cada saudade que bate em meu peito.

A Espanha não nos trouxe boas lembranças e não nos ajudou a encontrar soluções. Decidi que não ficaremos juntos, mas decidi que contarei aqui os motivos que me fizeram sentir amor por você. Todos estes motivos serão guias, para que você não desista da vida quando não me tiver por perto. — as lágrimas queriam descer, mas as contive. — Sabe quando a vida te ensina lições de acordo com os problemas que você possui? Então, me sinto assim. Sinto como se tudo não passasse de um sonho e quando acordar, você estará ao meu lado, sorrindo para mim. Infelizmente, não é assim e sempre que acordo, me encontro sozinha. A minha cama está fria e vazia, um quarto cheio de memórias que desejo esquecer.

Concebo duas crianças com medo do futuro que lhes esperam. Não estaremos juntos para os guiar e sinto medo por eles, por crescerem com lares diferentes dos que idealizamos para eles. Será que você também pensa assim? Será que ainda pensa em mim? Será que ainda pensa em nós? Pensei que não saberia viver sem você, mas com o tempo percebi que não só consigo, como aos poucos esqueço você. O homem por quem me apaixonei morreu e não sei dizer quem o substituiu. Diga-me, quem é você que eu já não conheço mais? O que aconteceu com o amor que juramos um ao outro? Pensei em desistir antes, mas não pensei que o nosso fim chegasse tão rápido. Queria poder ouvir a sua voz dizendo que tudo ficará bem e que nada disso é real. Que você me quer e me ama como sempre disse, que seremos a família que sonhamos."

Neste momento, o meu coração sangrava. Parei de ler as suas palavras ao sentir as minhas lágrimas tocarem a folha de papel, molhando as letras escritas com tanta tristeza. A Alice nunca falou sobre a dor que carregou durante o tempo em que estive fora e em momento algum, me culpou de algo. Sempre achei que podia esquecer as coisas que lhe fiz, mas infelizmente, não podia. Sempre que penso em redenção, os meus sentimentos me lembram da crueldade que a fiz passar e o fato de que a machuquei, não deixa a minha mente. Respirei fundo, sequei as minhas lágrimas e continuei a ler. Agora, eu precisava chegar ao fim dessa história.

Taehyung,

"Hoje foi um dia difícil, vi muitos casais. Todos estavam tão felizes, tão felizes que me lembrou de nós quando ainda nos amávamos. Me lembrou de como era bom estar ao seu lado e como não apreciamos os momentos. Penso que nunca saberei se você realmente me amou, pois, você não me procurou e eu não tenho coragem de ir atrás. Por outro lado, isso é bom. Assim, eu não preciso recomeçar os meus planos, aqueles que fiz sem a sua presença. Os nossos filhos saberão quem você é e se depender de mim, eles conhecerão você. Quero que eles saibam a pessoa maravilhosa que você é e o quanto nos amamos. A noite passada foi estranha e me causou sentimentos cruéis, como aqueles que sentia no passado.

Senti medo, muito medo. Não só por mim, mas por todos nós. Em minha mente, tudo não passou de um aviso e o meu fim pode estar próximo. Se pudéssemos estar juntos novamente, eu gostaria de te falar um pouco sobre mim e como me sinto desde que nos conhecemos. Quero te dar motivos para seguir em frente e ser feliz, mesmo que não seja ao meu lado. Sinto medo de te deixar e ver a sua morte presente de novo, por favor, não faça isso. Nestes pesadelos que tenho, sinto que morrerei durante o parto e você precisa continuar cuidando dos nossos filhos. Preciso que você prometa isso, mas como não estás, os seus amigos prometeram por você. Espero que o meu medo não me impeça de trazer os seus filhos ao mundo, meu amor. Você merece."

Interrompi a minha leitura ao ouvir barulhos vindos da sala. Guardei as cartas e rapidamente corri para o guarda-roupa, não podia ser pego agora. Se a Alice estivesse ali, ela não gostaria da ideia de me ver invadindo a sua privacidade. Não queria começar uma briga, estávamos bem no momento e eu queria que isso fosse para sempre. Estava errado, sabia disso, mas agora, gostaria de saber o conteúdo de todas as cartas escritas e destinadas a mim. Respirei fundo, fechando a porta do guarda-roupa e fui em direção a saída do quarto. Parei na porta ao ver o semblante confuso de Seokjin, olhando para todos os lados. Sorri de canto ao ver, eu não era o único louco entre nós. Me aproximei e rapidamente chamei a sua atenção para mim.

— Aconteceu alguma coisa? – indaguei me aproximando.

— Não. – disse ao me ver. — Pensei que não estavas em casa. Onde estão os bebês? – ele sorria.

— No quarto deles, dormindo. – respondi parando em sua frente.

— Ah, que pena! – bufou. — Pensei que os veria acordados, estou com saudades deles. – sorri de canto.

— Eles já acordam. – assegurei. — Por onde esteve todos estes dias? – ele me olhou sem compreender.

— Não foram tantos dias assim. – resmungou se jogando no sofá. — Passei uns dias com os meus pais e com a garota que o meu pai adotou. – ele fez uma pausa. — Porém, me deram a carta de alforria e eu pude vir aqui.

— Não brinque com coisa séria. – pedi me sentando em sua frente. — Mas fico feliz em te ver, gostaria de te perguntar algo. – ele franziu o sobrolho. — Sei que nunca falamos sobre isso, mas gostaria de saber o que aconteceu com a Alice quando ela voltou da Espanha. – o seu rosto enrijeceu e ele pareceu zangado comigo.

— Como assim? – retrucou. — Ela teve os seus filhos, não ficou sabendo? – era irônico, sabia disso.

— Eu quero saber o que aconteceu, como ela ficou? – ele respirou fundo.

— Ela ficou muito triste. – respondeu baixinho. — Sofreu muito. – ele foi curto.

— Kim Namjoon comentou que você esteve ao lado dela durante todo o tempo. – continuei. — Até o nascimento das crianças, você chegou a viver aqui.

— Sim. – murmurou. — Não queria que ela ficasse sozinha. Por dentro, senti que ela poderia tirar a própria vida e levar os seus filhos juntos. – gelei ao ouvir.

— Ela disse isso? – ela não seria capaz.

— Não, Tae. – disse. — Não foi preciso. Lembra de quando você tentou tirar a sua vida? Você também não disse. – isso era verdade. — A tristeza que ela carregou foi dolorosa, até mesmo para mim que a vi de fora.

— Nunca esquecerei o que você fez por nós. – murmurei.

— Deveria. – franzi o sobrolho. — A Alice te perdoou por motivos bem maiores do que o amor de vocês. Penso que isso lhe deu um pouco de paz. – respirei fundo. — Lembro de acordar no meio da noite com os seus gritos, ela tinha pesadelos constantes. Várias vezes a encontrei suando e hiperventilando enquanto dormia e isso também quase tirou a sua vida. Por vezes, sentia que as crianças podiam não resistir. – as suas palavras me causaram pânico.

— Céus. – sussurrei.

— Sim. – continuou. — O meu pai esteve aqui várias vezes e a examinou, sempre pedindo que alguém ficasse com ela. Por isso, me mudei para cá até Namjoon voltar.

Abaixei a cabeça e deixei as lágrimas descerem por meu rosto, eu não queria mais.

— Você viveu tudo, tudo o que eu deveria viver ao seu lado. – murmurei. — Fez o papel de pai que eu não consegui. – me sentia muito mal.

— Sabe o que é curioso? – indagou fazendo com que erguesse a minha cabeça. — Ela nunca te odiou. Ela nunca te culpou por estes momentos e sempre que eu falava mal de você, ela te protegia. – sorri de canto. — E isso, meu amigo, é a coisa mais rara que vi em um ser humano. E é a coisa mais preciosa que você terá. – eu só queria abraçá-la. — Por isso, admiro a Alice e estou com ela para sempre.

— Eu tenho muita sorte. – murmurei limpando as minhas lágrimas do meu rosto.

— Sim, use isso a seu favor. – pediu. — Cuide dela com muito amor.

— Durante todo esse tempo, pensei que Yoongi havia me traído. – murmurei. — E, na verdade, eu me traí. Me deixei levar por erros e a julguei da pior forma possível. – eu sabia dos meus erros.

— Tae, todos eles em algum momento gostaram da Alice. – tremi ao ouvir. — O primeiro a se apaixonar depois de você, foi o Nam. Depois, Min Yoongi que já tinha um passado com ela. Hoseok teve um amor platônico banhado com respeito e por fim, quase que caio nos laços da sua Alice. – ele me olhava com seriedade. — Não dava valor a nada até estar com ela, sozinho. Ela me mostrou momentos que eu não conhecia e por um segundo, desejei ser o homem que ela amava. Na verdade, eu desejei ter uma Alice para mim. – respirei fundo. — No entanto, eu gosto de mulheres submissas e a Alice é muito dominante para estar comigo. – sorri ao ouvir. — Sua sorte foi essa. – concluiu sorrindo e piscando para mim.

— Não sabia disso. – murmurei.

— Não tem como saber. – retrucou. — Todos sentimos carência e desejamos alguém que nos ame assim. A Alice é sua mulher e respeitamos isso desde o dia em que você nos apresentou. Ninguém do nosso meio se atreveria a tirá-la de você. – sorri. — Depois de tudo, ela continua ao seu lado e te ama. Ninguém fará isso por você, não da mesma forma e intensidade. Se ela não desejar estar ao seu lado, ela não estará. Nenhum de nós pode influenciar isso. – ele tinha razão. — Então, relaxa.

— Você tem razão. – murmurei. — Acha que o Namjoon ainda gosta dela? – o seu olhar ficou sério.

— Por vezes. – sussurrou. — No entanto, Namjoon tem muito respeito e carinho por vocês, ele não se permite sentir. Não se preocupe conosco, a Alice é sua. – respirei fundo ao ouvir. — Afinal de contas, nem todo mundo consegue estar ao lado de uma mulher que gosta de comida para bebês. – soltei uma gargalhada ao ouvir. — Frutas em compotas? O que é isso? – ambos sorrimos.

— Eu a amo muito, muito mesmo. – ele sabia disso.

— Eu sei. – disse. — Porém.

Ele não conseguiu completar, pois, a porta da sala se abriu e a Alice entrou. Ela parecia cansada, mas não hesitou em sorrir ao nos ver. Em silêncio, ela tirou os seus sapatos, jogou a sua bolsa no chão e veio em nossa direção, se jogando ao lado de Seokjin.

— Boa noite, senhores. – disse fechando os olhos.

— Você está acabada. – comentou Seokjin.

— Aconteceu alguma coisa, amor? – perguntei sem compreender por qual motivo ela se sentou ao seu lado.

— Não. – murmurou. — Só estou cansada, muito cansada. Será que dá para sumir, tipo, agora? – prolongou de olhos fechados.

— Está louca? – indagou ele olhando para mim. — Se você sumir, seis homens se matam. – ela sorriu de canto.

— Apenas seis? – retrucou ainda de olhos fechados.

— É, alguém precisa cuidar do enterro deles. – sorri ao ouvir. — Depois eu me mato. – ela sorriu ao ouvir.

— Senti sua falta. – sussurrou.

— Eu não senti. – respondeu ele. — Você é muito chata e tem mania de sempre estar certa. – ela sorriu de novo.

Ainda em silêncio, ela abriu os seus olhos e me fitou. Assim que os nossos olhos se encontraram, pude sentir a minha alma perder um pouco do seu ser. Por alguns segundos o tempo parou e todas as minhas feridas se curaram, como era possível amar alguém na intensidade que eu a amava? Não pude evitar um sorriso ao ver os seus doces olhos e sorriso encantador. A minha vida estava ali, envolta em seus olhos.

— Tae. – murmurou pesadamente.

— Sim, amor da minha vida. – ela sorriu.

— Ew. – bufou Seokjin.

— Me leva para a cama? – continuou fazendo biquinho.

Seokjin sorriu e limpou a garganta, desviando o seu olhar. Em silêncio, me levantei e fui em sua direção. A envolvi em meus braços e a peguei no colo. A Alice colocou os seus braços em volta do meu pescoço e segurou firme, sorri ao sentir o seu perfume delicioso passar por meus sentidos. Ela deixou o seu corpo pesar e fechou os seus olhos, repousando a sua cabeça em meu peito. Desviei o meu olhar para Seokjin, que sorria. Ele estava diferente e eu gostava da sua nova versão, ele estava mais empático e a compaixão era nítida.

— Eu cuido dos bebês. – disse nos arrancando sorrisos.

— Obrigado. – murmurei.

— Ele deve estar imaginando muita coisa errada neste momento. – comentou ela baixinho.

Sorri de canto e entrei no quarto, encostando a porta com os pés. Cuidadosamente a deitei sobre a cama, ela sorriu ao sentir a maciez e rapidamente abriu os seus olhos. A ternura exalava de si e isso era tão bom, como eu amava a minha mulher. Sentia conforto em todos os momentos que passava ao seu lado e saber o quanto ela sofreu por mim, me fez ver o outro lado da vida que ainda não tinha chegado até a mim. O seu olhar rapidamente se voltou para o quarto e a confusão foi nítida ao ver que havia roupas espalhadas pelo chão.

— O que aconteceu? – indagou me olhando.

— Separei algumas roupas para a doação. – murmurei. — Já estava na hora, organizo tudo depois que terminar. – afirmei.

— Você é um doce. – sussurrou. — Eu te amo. – retrucou beijando a minha mão.

Sorri e me aproximei, lhe dando um beijo nos lábios. Ela sorriu e retribuiu o gesto, fazendo o meu coração acelerar.

— Eu vou descansar um pouco e quando acordar, te ajudo com os gêmeos. – sussurrou entre o beijo. — Prometo.

— Está bem, meu amor. – murmurei. — Relaxa.

Ela sorriu e fechou os seus olhos, a cobri com um lençol e me levantei indo em direção a saída do quarto. Encostei a porta atrás de mim para não a acordar, e voltei para a presença de Seokjin. Desde que o seu chefe morreu, ela trabalhava em dobro para ajudar Park Chin Hwa e isso acabava com ela. Seokjin não estava na sala, mas pude ouvir barulhos vindos do quarto dos gêmeos. Me aproximei e lá estava ele, brincando com os dois. Ele provavelmente os acordou para brincar com eles. Por fora, um homem forte e frio, mas por dentro, alguém suave e cheio de amor para dar. Sorri e me afastei novamente, os deixando sozinhos. Voltei para o sofá e me joguei, a minha cabeça estava a mil e tudo o que eu conseguia pensar era no sorriso da minha Alice quando ela olhava para mim. Eu jamais decepcionaria a mulher que amava e ela seria para sempre, feliz ao meu lado.

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