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Eu não me sentia bem e isso era algo notório. Ao chegar em casa tudo piorou e a realidade dos meus erros tomou conta de mim. Estava com muita vergonha e mesmo não ouvindo coisas ofensivas vindo dos meus superiores, eu sabia que a empresa comentaria sobre os meus erros e eu seria motivo de piada entre os outros funcionários. Em todos os anos trabalhando para uma empresa, eu nunca havia passado por uma humilhação assim. Nunca cometi um erro tão grande que colocasse em dúvidas a minha integridade e a qualidade da minha profissão. Estar em casa com a minha família não ajudou muito e o banho de quase duas horas também não. Tudo o que consegui foi atiçar a curiosidade de Taehyung e deixar um clima estranho entre nós.
— Você está tão calada. – murmurou Taehyung. — Aconteceu alguma coisa?
— Não. – murmurei com certa indiferença.
Sentia-me humilhada e com muita raiva de todos os momentos que não consegui controlar. Não conseguia desligar os meus pensamentos e não conseguia esconder ao ponto de fazer com que Taehyung não notasse a minha indiferença sobre os assuntos que ele procurava comentar comigo. A noite foi estranha e a manhã começou estranha. Porém, em breve precisaria ir para trabalho e o pesadelo seria real.
— Amor, fala comigo. – disse chamando a minha atenção para ele. — O que aconteceu?
— Não há o que falar. – não podia contar. — Posso ficar em silêncio por um tempo? Por favor. – seria grossa, mas precisava desse momento.
— Está bem. – murmurou se levantando do sofá. — Se você diz. – estava com receio do que ele pensaria sobre mim.
Respirei fundo e fui até a janela, precisava de um pouco de ar fresco ou ficaria maluca. Eu morava no décimo segundo andar e uma queda seria fatal. O que eu estava pensando? Não podia perder o meu juízo por causa de um erro que não foi cometido por mim. Se pensasse com a cabeça fria e procurasse os documentos certos, eu conseguiria provar que não havia cometido erro nenhum. Sobrecarregar o meu pensamento não ajudaria em nada. Fechei a janela e me afastei do parapeito, caindo diretamente nos braços de Kim Namjoon.
— Cuidado. – disse segurando os meus braços. — Está com pensamentos suicidas? – era uma piada, mas não achei graça.
Não respondi, apenas me soltei dos seus braços e caminhei em direção ao meu quarto. Não queria conversar com ninguém e a sua piada não teve efeito em mim, não me lembrava do momento em que ele chegou. Então, tudo estava muito confuso e eu parecia perder a noção do tempo por causa de um erro.
— Alice? – indagou me seguindo. — O que você tem?
— Nada. – murmurei organizando a minha bolsa. — Não é nada.
— Alice, não preciso de muito para saber que você não está bem. – respondeu se encostando na porta. — Não precisa falar se não quiser, mas não finja que está tudo bem.
— Desculpe. – murmurei. — Você não tem culpa de nada e eu só estou de mau-humor.
— O que aconteceu? – questionou olhando-me nos olhos.
— Fui humilhada no trabalho e ainda não consegui digerir isso. – respondi.
— Humilhada? – retrucou cruzando os braços. — O que aconteceu? Por qual motivo você foi humilhada?
— Eu cometi um erro sem saber. – respondi. — Não tenho a certeza se fui eu quem cometeu, mas o erro está lá.
— Sinto muito. – murmurou. — Erros acontecem e você não pode deixar que isso acabe com a sua felicidade. – ele conseguia me acalmar sem tentar muito. — O que aconteceu e qual foi o erro?
— Segundo o dono da empresa e a minha superior, todos os meus relatórios não correspondem com as diretrizes da empresa. – respondi. — O que eu não entendo. Oh Reum esteve comigo em todas as reuniões, ela leu todos os meus relatórios e viu que tudo correspondia com o que a empresa queria. Porém, ontem, quando o meu mundo desabava, ela não se intrometeu. Acredito que estava com medo de se impor perante ao nosso chefe.
— Quem é Oh Reum? – questionou respirando fundo.
— A minha secretária pessoal. – murmurei me sentando na cama.
— Park Oh Reum? – olhei para ele sem entender.
— A conhece? – isso seria uma tremenda coincidência.
— Se for a pessoa que estou pensando, sim. – ele não parecia feliz. — Espero que não seja.
— De onde a conhece? – agora eu queria saber mais.
— Ela é a ex-namorada do. – ele parou e respirou fundo. — Ela é a ex-namorada de um amigo meu.
— Que amigo? – será que era um dos meninos?
— Você não o conhece. – ele parecia mentir para mim. — Não se preocupe.
— Eu me sinto uma idiota. – murmurei abaixando a minha cabeça. — Esse erro colocou todo o meu talento e todas as minhas qualificações em questionamentos e isso acaba comigo aos poucos. Não sei como chegar na empresa sem sentir vergonha.
— Alice, não se crucifique tanto. – disse sentando-se ao meu lado. — Erros acontecem e você disse que não os cometeu. Logo, tudo o que você precisa fazer é concentrar em todos os trabalhos que precisa fazer daqui para frente e provar que eles sempre foram feitos da forma correta. – sorri de canto ao ouvir.
— O que eu faria da minha vida sem você? – ele sorriu.
— Provavelmente você não seria tão feliz. – sorri. — Porém, tome cuidado. Se a Oh Reum que trabalha para você for a mesma que conheço, ela é perigosa. – ele sabia de algo, mas não contaria.
— O que quer me dizer, Nam? – retruquei olhando em seus olhos.
— Não quero falar sobre ela sem ter a certeza e sou a favor de que as pessoas possam mudar. No entanto, tome cuidado. Se você puder fazer o seu trabalho sozinha, use isso e evite falar muito sobre os seus planos para pessoas que possam prejudicar o seu trabalho. – ele tinha razão. — Você fazia isso quando trabalhava em casa, faça na empresa também.
— Por qual motivo você não estuda psicologia? – ele sorriu. — Você me ajuda mais do que devia e sou tão grata por isso.
— Não se preocupe com isso. – murmurou passando uma das suas mãos por meu rosto. — Amigos servem para isso e eu jamais deixarei de te ajudar. Agora vamos, me deixa te levar para o trabalho.
— Não precisa. – disse me levantando. — Eu vou sozinha.
— Nem pensar. – retrucou também se erguendo. — Quero muito te acompanhar e podemos falar sobre outro assunto. – franzi o sobrolho.
— O quê? – retruquei.
— Falamos melhor no carro. – respondeu indo em direção a saída do quarto. — Vamos?
Sorri de canto, peguei a minha bolsa e segui Kim Namjoon até a sala. Taehyung se encontrava sentado no sofá e assistia televisão. Sabia que ele estava zangado comigo e era compreensível, mas assim que voltasse do trabalho, eu contaria tudo o que estava acontecendo e ele compreenderia os meus motivos. Parei em sua frente e ajoelhei, olhando em seus olhos. Kim Namjoon continuou em direção a porta e esperou por mim, sorrindo de canto. Taehyung me olhava com carinho, mas não parecia compreender o que eu queria dele. Respirei fundo e passei uma das minhas mãos por seu rosto, o fazendo sorrir de canto.
— Ei, sinto muito. – murmurei. — Estou chateado por causa de alguns problemas no trabalho. Mas prometo que contarei tudo o que aconteceu assim que chegar. – ele respirou fundo. — Está bem?
— Sim. – sussurrou beijando a minha mão. — Bom trabalho, meu amor.
Sorri e me levantei indo em direção ao quarto dos gêmeos. Apressei os meus passos e rapidamente dei um beijo nos meus filhos, os arrancando suspiros. Não podia ficar por muito tempo e não queria acordá-los. Voltei para a sala e calmamente fui em direção a Namjoon que já segurava a porta para sairmos. Ambos nos despedimos de Taehyung, que ainda estava sentado no sofá, mas não parecia tão zangado quanto antes. Não sabia o que Namjoon queria de mim, mas tinha uma leve ideia do que poderia ser. Caminhamos em silêncio até o elevador e assim que a porta se fechou, ele respirou fundo.
— Alice, você lembra da garota que está vivendo com Seokjin? – ele foi direto ao assunto.
— Sim.
— Eu quero muito que ela se sinta bem em minha presença, mas não sei como o fazer. – sorri de canto. — Preciso da sua ajuda. – disse saindo do elevador.
— O que eu posso fazer para te ajudar? – questionei o seguindo para o seu carro. — Eu nem a conheço.
— Eu sei, mas pensei que poderia apresentá-la. – continuou abrindo a porta do carro para mim. — Acredito que você gostará dela.
— Está bem. – ele rapidamente deu a volta e entrou no carro. — Acho que posso ajudar nessa parte.
Namjoon sorriu e ligou o seu carro, nos direcionando em direção ao meu trabalho. Não tinha a certeza de que esse era o único tema que ele queria discutir comigo, porém, não discutiria com ele. Namjoon me fazia um favor e a sua companhia sempre era muito bem-vinda. Então não brigaria com ele e nem procuraria descobrir se o que ele falava era de fato o que estava acontecendo. Não morava longe do meu trabalho e sinceramente todo o percurso poderia ser feito a pé. No entanto, existe algo em você quando a sua vida muda de rumo e de repente você precisa estar sempre arrumada e pronta para uma reunião. Andar até ao trabalho me faria suar e eu não podia permitir isso, precisava manter a minha postura. Agora, antes que nunca, precisava manter a confiança em mim e tudo ficaria bem.
— Pronto. – murmurou parando o carro em frente a empresa. — Entregue.
— Obrigada, senhor. – ele sorriu.
— De nada. – murmurou. — Te vejo mais tarde.
— Sim. – disse saindo do carro.
Saí do carro e entrei na empresa, indo diretamente para o elevador. Namjoon não comentou e nem insinuou nada, no entanto, eu sabia o que ele estava fazendo ali. A sua companhia não era apenas para apresentar a mais nova integrante da família de Seokjin. Ele estava ali para garantir que eu não estivesse sozinha. Ainda tínhamos algo para resolver e até decidir como faríamos, eles usariam métodos bobos para me proteger. Lembro de ouvir Seokjin dizer que não me deixaria sozinha e ter Namjoon por perto era o sinal de que ambos estavam com os planos em dia. Sorri de canto e saí do elevador, caminhando diretamente para a minha sala. Oh Reum encontrava-se atrás da sua mesa e parecia concentrada.
— Bom dia, senhora. – disse ao me ver passar por sua mesa.
— Bom dia. – não falaria nada, gostaria de manter a distância entre nós. — Me acompanhe, por favor.
Ela se levantou e me seguiu em silêncio, destranquei a porta do meu escritório e me deparei com a bagunça que deixei para trás. Oh Reum carregava um bloco de notas em suas mãos e esperava por mim com um sorriso no rosto. Respirei fundo e caminhei até a minha mesa, colocando a minha bolsa de lado. Agora era o momento de começar de novo e mudar aquilo que precisava ser mudado. Coloquei as mãos na cintura e ponderei a melhor forma de tocar no tema sem a magoar ou passar a impressão de que ela não era importante, e que o seu trabalho não era correto. Muito pelo contrário, ela fazia um trabalho maravilhoso, mas precisava tomar cuidado.
— Quando começaremos as revisões dos novos projetos? – indagou ao notar o meu silêncio.
— Oh Reum. – murmurei. — A partir de hoje, eu farei todo o meu trabalho sozinha. Aprendi a minha lição e para evitar questionamentos sobre a eficiência do meu trabalho, eu o concluirei sozinha.
— A senhora não gostou da minha contribuição? – respirei fundo ao ouvir. — É isso?
— Não. – murmurei. — Eu gosto do seu trabalho, mas nem tudo precisa ser compartilhado. Preciso concluir os meus trabalhos sozinhas e farei isso, mesmo sobrecarregando a minha vida pessoal. – ela parecia não compreender. — Sinto muito, mas você passará apenas a cuidar das atividades de secretária.
— Sinto muito por ontem. – respondeu. — Deveria ter dito algo e tomado o seu lado, porém, fiquei com medo de ser demitida por desacato.
— Não se preocupe com isso. – murmurei sentando-me. — A culpa foi minha. Agora, por favor, volte ao seu trabalho e traga o meu plano de reuniões quando puder.
Oh Reum saiu da sala em silêncio, mas eu sabia que ela estava chateada comigo. Porém, isso não me importava mais. Não podia cometer mais erros e as palavras de Namjoon pairavam em minha mente. Respirei fundo e voltei a minha concentração para todo o trabalho que tinha pela frente. Faria todos os relatórios de novo e corrigiria todos os possíveis erros feitos por mim. Precisava limpar o meu nome e mostrar que o meu trabalho era realmente de qualidade. Antes de começar, eu precisava tomar um café, mas o buscaria sozinha. Não queria confiar em Oh Reum e nada vindo dela seria aceito até descobrir se podia ou não confiar em sua pessoa. Caminhei em direção a saída do escritório, mas parei no caminho ao ouvir a voz dela. Ela falava baixo, mas mesmo assim era possível compreender o que ela falava.
— Ela está diferente. – sussurrou. — Estou dizendo, acredite em mim. Será que ela descobriu algo? – permaneci em silêncio.
De quem ela estava falando?
— Eu sei disso, mas é perigoso e eu não sei se consigo fazer hoje. – continuou ela em sussurros.
Respirei fundo e tentei aproximar mais, procurando ouvir um pouco mais.
— E se estiver grávida? – franzi o sobrolho.
Neste momento compreendi que nada tinha a ver com a história. Ela provavelmente falava com um namorado ou ex-namorado sobre um problema pessoal. Será que Oh Reum estava grávida? Bem, isso explicaria muitas coisas, principalmente as suas mudanças de humor. Afastei tudo o que pairava sobre o meu pensamento e saí do meu escritório, indo diretamente para a cozinha do nosso andar. Não olhei para trás e não procurei ver a sua reação ao me ver sair da sala. Se Oh Reum estivesse grávida, ela não teria mais utilidade para empresa e seria provavelmente dispensada das suas tarefas para cuidar dos seus filhos. Isso seria bom para ela e para mim, que pararia de andar em ovos perto de sua pessoa. No entanto, ela ainda não podia saber disso e eu não comentaria sobre até saber mais sobre a sua situação atual.
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