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As horas não passavam e a minha cabeça não conseguia esquecer as palavras de Oh Reum. A sua história era triste e eu jamais desejaria isso para ninguém. Porém, em uma relação sempre existem dois culpados. Ouvir a sua história me lembrou da minha e de toda a dor que sentia ao imaginar que James poderia ter acabado com a minha vida, mas optou por não fazer. Mesmo não sendo o mesmo, ouvir o nome era o suficiente para me causar arrepios e muita dor de cabeça. Todos tinham o direito de conhecer um James, certo? Respirei fundo e olhei para a tela do computador, estava quase na hora de ir embora e eu mal podia esperar para estar com a minha família.

— Você não deveria trabalhar tanto. – disse Oh Reum, me assustando.

— Não me assuste assim, por favor. – pedi. — Acabei de revisar alguns documentos e já estou indo para casa.

— Sinto muito. – murmurou. — Não queria te assustar.

— Tudo bem. – aceitei digitando as últimas palavras no texto. — Porém, bata na porta antes de entrar e espere a minha permissão para entrar. – isso precisava ser bem nítido. — Não gosto da forma como você entra no meu escritório.

As teclas do computador vibraram com os meus dedos. Por um lado, estava muito nervosa e pelo outro, também. Não queria brigar com ela, mas não gostava da ideia de ser assustada ou bisbilhotada sem perceber. Oh Reum ainda era perigosa e eu não podia correr o risco de compartilhar mais do que ele precisava saber.

— Quero ser como a senhora quando crescer. – comentou me roubando um sorriso. — Parece ser tão determinada e sempre cheia de si.

— Não precisa me chamar de senhora. – pedi. — Afinal de contas, é possível sermos da mesma idade.

— Senhora, é o meu trabalho. – respondeu.

— Eu sei e eu, como sua superior, confirmo que não precisa. – insisti. — Basta manter o respeito e a cordialidade. Isso já é o suficiente.

— Está bem. – aceitou. — E como devo chamá-la?

— Alice. – murmurei.

Oh Reum me olhava com curiosidade. Os nossos pensamentos eram iguais, pois, eu também queria saber mais sobre o homem comentado em suas histórias. Não era possível que ela conhecesse o mesmo James. Não queria causar dores desnecessárias, mas queria muito saber quem era o homem. Respirei fundo e voltei a minha concentração para o computador, estava tudo pronto e eu já podia ir embora.

— Senhora? – indagou chamando a minha atenção.

— Sim? – murmurei sem olhar em sua direção.

— Desculpe. – disse. — Alice, por favor, não trabalhe tanto. – sorri.

Oh Reum sorriu e saiu da sala, me deixando sozinha. Respirei fundo e olhei para o vazio, não queria pensar em mais nada. Desliguei o computador e calmamente me ergui, pegando os meus pertences. Precisava chegar em casa o mais rápido possível, pois, não suportava a saudade dos meus filhos. Em silêncio caminhei em direção a saída da minha sala e apaguei as luzes, deixando apenas as luzes de Seoul iluminarem o local. Oh Reum não se encontrava, ela provavelmente já tinha se retirado. Prontamente fui em direção ao elevador e me preparei para sair do prédio. Não tinha muito contato com os outros setores, mas possuía acesso a todas as informações compartilhadas no computador.

A vantagem de ser superior, era de fato o acesso a todas as informações da empresa. Mesmo não fazendo parte das outras equipes, eu podia acessar as informações e ver os seus quadros de atividades. Era tudo tão organizado e de fácil compreensão que dava gosto trabalhar com eles. Saí do elevador em direção a saída do prédio e me assustei ao encontrar o carro de Seokjin parado na porta. Sorri de canto, eu estava com saudades dele e a sua companhia era tão importante para mim. Ele estava encostado com as duas mãos nos bolsos, olhando para o nada. Assim que notou a minha presença, ele sorriu de canto e esperou por mim.

— Aconteceu alguma coisa? – estava com medo de ouvir a sua resposta. — O que você está fazendo aqui?

— Nada aconteceu. – respondeu me olhando nos olhos. — Estava com saudades e resolvi te acompanhar até em casa.

— Saudades? – eu também estava, mas ele não podia saber. — Isso é novo. – provoquei.

— Não comece, sim? – retrucou. — Vamos?

— O meu carro está na garagem. – disse olhando para ela. — Não quero deixar aqui.

— Amanhã você vem de táxi. – mordi os lábios ao ouvir. — Por favor, me deixe te levar para casa.

— Está bem. – aceitei.

Seokjin sorriu e abriu a porta do passageiro para que eu pudesse entrar. Respirei fundo e entrei, esperando por ele. Ele rapidamente entrou e colocou o cinto de segurança, me fazendo fazer o mesmo. Em silêncio, ele ligou o carro e nos guiou pelas ruas de Seoul. Não sabia se deveria chamar a sua atenção para mim e não queria tocar em temas sensíveis que levassem a nossa distância. No entanto, ele compreendeu o meu silêncio e olhou para mim, sorrindo de canto. Seokjin não costumava abrir o seu coração, mas os seus gestos eram sinais de arrependimento e saudades.

— Como você está? – questionou quebrando o silêncio.

— Do mesmo jeito de sempre. – murmurei. — E você?

— Cansado, mas bem. – não questionaria mais. — Sinto muito por ter sumido, não era a minha intenção.

— Não se preocupe. – sussurrei.

— Alice. – respirei fundo ao ouvir. — Namjoon comentou comigo o que aconteceu.

— Imaginei que ele faria. – não queria me lembrar do assunto.

— Sabe que ninguém magoará você em nossa presença, não sabe? – eu não sabia. — Não permitirei que você sofra de novo.

— Não se preocupe comigo, eu estou bem. – sabíamos que não estava.

Seokjin respirou fundo e voltou a sua concentração para a estrada, não queria falar sobre isso. Lembrar que ainda corria perigo me deixava triste e eu não queria encontrar os meus filhos com estes pensamentos ruins. Nenhum de nós merecia tal gesto, então, eu pensaria em coisas positivas por todos nós. Após alguns minutos ele parou o carro em frente ao meu prédio e voltou a sua atenção para mim, me olhando nos olhos. Senti um arrepio me percorrer ao encontrar os seus olhos negros. A sua presença me deixava feliz e me lembrava de tudo o que eu queria compartilhar com ele, no entanto, eu não podia. Respirei fundo e esperei por ele.

— Parabéns pelo seu novo trabalho. – disse me olhando nos olhos. — Estou muito orgulhoso de você.

— Obrigada. – respondi tirando o cinto de segurança.

— Boa noite, Lice. – senti que ele queria dizer mais, porém não disse. — Eu volto amanhã para ver as crianças.

— Boa noite. – murmurei.

— Alice. – disse me fazendo parar. — Eu sinto muito, não me trate assim. – respirei fundo.

— Tudo bem. – não queria discutir com ele. — Não se preocupe com isso.

— Prometo não sumir de novo. – continuou apertando uma das minhas mãos. — Não quero perder nenhum acontecimento da sua vida.

— Não gosto de promessas. – murmurei.

— Ei, eu cumpro as minhas promessas. – disse passando a outra mão por meu rosto. — Te vejo amanhã?

— Está bem. – murmurei. — Boa noite.

Não esperei por sua resposta, apenas saí do seu carro. Seokjin não disse nada e esperou até que eu entrasse no prédio para ir embora. Assim que vi o seu carro se afastar, caminhei em direção ao elevador. A sua presença era apenas para me lembrar de que não estava sozinha e que mesmo com a nossa indiferença, ele ainda estava ali por mim. Procurava compreender os seus motivos, mas o conhecia e sabia que ele agiria de uma forma ruim se não fosse repreendido antes. Respirei fundo e entrei no elevador, indo para casa. Não queria pensar em mais nada e tudo o que precisava fazer, era ver a minha família. Caminhei pelo longo corredor até o meu apartamento e abri a porta. As luzes ambientes estavam acessas, mas ninguém se encontrava presente.

— Amor? – chamei baixinho para não os assustar.

Todavia, ninguém respondeu. Em lentos passos fui em direção ao quarto dos gêmeos e me assustei ao ver que estava vazio. Aos poucos, sentia o pavor tomar conta de mim. Será que algo havia acontecido com eles? Não podia pensar assim, mas o medo se tornou real ao ponto de me fazer sentir dificuldade para respirar. Mantendo a calma, fui em direção ao nosso quarto, não seria nada. Taehyung provavelmente estava com os seus amigos e em breve voltaria para casa com os nossos filhos no colo. No entanto, ao chegar no quarto pude sentir a calma me invadir. As lágrimas tomaram os meus olhos e o pranto se tornou presente, não pensava ver algo assim. Taehyung estava deitado na cama e do seu lado, os gêmeos. Os bebês seguravam as suas mãozinhas e ele os protegiam.

A forma como ele estava posicionado era delicada o suficiente para não magoar os nossos filhos e, mesmo assim, os acolher em seu calor de pai. Em silêncio, caminhei em direção a cômoda do nosso quarto e peguei a nossa máquina fotográfica, tirando uma foto. A pequena máquina polaroid aos poucos revelou a imagem que sempre sonhei quando menina. A minha família envolta em amor e compaixão. Após alguns minutos observando a cena, respirei fundo e saí do quarto. Tomaria o meu banho no quarto de hóspedes para não os acordar. Entrei no quarto e retirei a minha roupa, a jogando sobre a cama. Nunca mais estive ali depois da partida de Young Soo, não possuía coragem para estar sozinha com as suas memórias.

Entrei no banheiro e rapidamente me coloquei debaixo da água, sentindo a tensão muscular diminuir com o tempo. A minha mente procurava não pensar na presença de Seokjin e, em simultâneo, não se atrevia a lembrar da história contada por Oh Reum. Não queria pensar em mais nada que pudesse acabar com a minha paz momentânea. Ver a minha família em paz, me fez lembrar de que eu ainda estava viva e que o momento era bom. Após alguns minutos, desliguei a água e saí, me enrolando em uma toalha. Sequei o meu corpo e me permiti ficar nua, não estava tão frio. Em silêncio saí do quarto e fui diretamente para a cozinha, estava faminta. Para o meu espanto, Taehyung estava lá e comia algo. Passei por ele e despertei a sua atenção, ele examinou o meu corpo e mordeu os seus lábios.

— Cuidado para não babar. – ele sorriu. — Gosta do que vê?

— Não me dê ideias. – respondeu deixando o cereal de lado. — Posso transformar a sua noite em um filme pornô. – continuou se levantando.

— A ideia é interessante. – disse sentindo os seus braços me envolverem. — Pensarei com carinho.

Em silêncio, ele encostou os seus lábios aos meus e nos envolveu em um beijo quente e firme.

— Eu te amo. – sussurrou entre os nossos beijos.

— Estava com saudades de você. – assumi.

— Eu também, meu amor. – respondeu me soltando.

Sorri e fui em direção a geladeira, precisava fazer algo para comer. Aos poucos eu sentia falta de tudo o que a minha família podia oferecer e muitas vezes, me questionava se fazia a coisa certa ao trabalhar fora. Taehyung permaneceu parado observando os meus passos, me sentia bem com a sua presença.

— Como foi o seu dia? – indaguei pegando alguns ingredientes. — Aconteceu alguma coisa?

— Não. – murmurou. — O nosso dia foi calmo. Os meus pais estiveram aqui com a minha irmã e brincamos muito com os gêmeos. – ainda não conhecia os seus irmãos. — Ah, Hoseok esteve por aqui também e saiu com os bebês para passear. – ele parecia cansado e isso me preocupou.

— Amor, tem certeza de que está tudo bem? – indaguei o olhando nos olhos.

— Sim, vida. – respondeu sorrindo.

Por mais que tentasse, ele não conseguia me convencer de que estava tudo bem. Sentia que ele não estava bem e que escondia isso de mim, o que me levou a questionar se ele estava assim por causa dos nossos filhos. Ele não desviou os seus olhos e, no fundo da sua imensidão, pude ver que ele não estava contando toda a verdade. Não era fácil cuidar de duas crianças sozinho, porém, ele jamais assumiria que não estava bem para não me preocupar. Sabia disso e era grata por tê-lo dessa forma, mas me preocupava com ele por medo de o perder aos poucos. Desviei a minha atenção para a sanduíche que pretendia fazer e respirei fundo. Taehyung me acompanhava com os olhos, após algum tempo ele se ergueu e foi para a sala, se jogando no sofá. Algo não estava certo, mas não podia e nem queria questioná-lo. As suas mentiras não durariam para sempre e em breve, ele teria de assumir que não estava bem. 

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