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Eu não sabia como reagir, eram muitos acontecimentos novos. A minha felicidade era enorme e eu queria comemorar com os meus amigos. Saí de casa com a certeza de que não conseguiria conquistar metade do que havia conquistado em uma hora. Para o meu conforto, todas as palavras de Taehyung ecoavam em mim e me permitiam sentir que tudo ficaria bem, mesmo não estando. Já podia sentir a sua felicidade, mesmo sem compartilhar o que estava acontecendo. Não existe gratidão maior do que aquela que se conquista com amor e companheirismo.

Ainda me encontrava em choque e não acreditava que nos próximos tempos eu trabalharia para uma das maiores empresas do país. Não sabia se era a melhor decisão a ser tomada, mas sentia que precisava sair da minha zona de conforto. Possuía uma experiência invejosa e todos os livros revisados por mim, sempre foram publicados. Isso explica muito mais a qualidade do editor do que da própria empresa, então, não precisava me prender na ideia de que não era boa o suficiente para o mercado desejado. Taehyung tinha razão, eu não podia ter medo de enfrentar momentos e desafios novos.

Respirei fundo e voltei a minha concentração para o momento, eu ainda não me encontrava em casa. Após sair da melhor entrevista de trabalho do mundo, eu entrei em uma biblioteca e resolvi procurar alguns livros infantis. Gostaria de passar a cultura da leitura para os meus filhos, os, ensinando desde cedo de que um bom livro não pode ser substituído com facilidade. Em breve tudo isso faria parte da minha rotina, então, eu precisava conhecer as lojas em volta do prédio e assim, fazer conexões com outras pessoas. Precisava saber a localização de tudo, principalmente dos restaurantes para as reuniões.

— Bom dia. – disse a moça da loja chamando a minha atenção. — Você precisa de ajuda?

— Bom dia. – respondi sorrindo de canto. — Não, na verdade, estou apenas olhando as coleções. – não queria falar muito sobre mim.

Por todos os lados havia livros empilhados e alguns deles muito antigos. Desviei o meu olhar para os lados e não avistei nada de novo, tudo ali era bem antigo. Para um amante da leitura, isso era considerado um paraíso. Sempre sonhei em ter uma biblioteca em casa. A possibilidade veio com a renovação do apartamento e então com a ajuda de Namjoon, conseguimos criar uma pequena biblioteca que também é um escritório para momentos de introspecção. Para a minha alegria, ele também era fã de leituras longas e cheias de emoções, nos tornando parceiros incríveis.

— A senhora procura por algum livro específico? – continuou olhando em meus olhos.

— Não. – murmurei sorrindo com a ideia de ser considerada uma senhora. — Na verdade, não. Passava pela rua e observei a fachada cheia de livros antigos, não podia ir embora sem conhecer. – ela sorriu. — É interessante ver uma loja de livros em uma avenida cheia de lojas de roupas, restaurantes e cosméticos.

— Triste, não? – retrucou olhando para o lado de fora. — Sou a única sobrevivente aqui, a única que não se corrompeu por dinheiro. – a tristeza em suas palavras era nítido. — Prometi a minha avó que não jogaria o sonho dela no lixo por alguns dólares.

— Eu sinto muito. – e realmente sentia, tudo era tão triste.

— Obrigada. – sorri de canto. — Agora me diga, o que você gosta de ler? – fazia um bom tempo que eu não lia, então, não sabia muito bem o que gostava no momento.

— Eu adoro todos os tipos de leitura. – respondi olhando para os lados. — Porém, desde o nascimento dos meus filhos, eu não consigo ler nada. – sorri ao lembrar deles.

— Tão nova e já é mamãe? – eu não era tão nova como aparentava ser. — Não devemos esperar pela felicidade, logo, você está certíssima. – sorri.

— Qual é o nome do seu filho? – ela não compreendeu.

— São gêmeos, um casal. – respondi indo até o balcão.

— Que maravilha! – exclamou demonstrando felicidade. — Antigamente as mulheres que geravam gêmeos eram muito abençoadas. – franzi o sobrolho ao ouvir. — De acordo com os povos antigos, o nascimento de gêmeos tornava a mulher sagrada perante o seu povo. – isso não fazia sentido. — Lindo, não? – não.

— A primeira mulher a ter gêmeos deve ter sido muito feliz. – comentei evitando o meu sarcasmo. — Imagina ter dois bebês ao invés de um, sem saber.

— De fato foi, mas essa história eu lhe conto depois. – ela disse com convicção, como se soubesse que eu voltaria. — Por agora, aqui está algo para os seus filhos. – sorri de canto. — Algo clássico. – continuou me entregando o livro.

Sorri ao receber, era um gesto bonito. Senti o meu coração bater forte ao ver a capa, era o meu livro preferido e o possuía em várias línguas diferentes.

— O pequeno príncipe. – murmurei.

— Sim. – respondeu sorrindo. — É uma ótima leitura infantil e ensina mais aos adultos do que às crianças.

— É o meu livro preferido. – comentei ao ver que ela se apoiava ao balcão. — Sempre que posso, releio para me lembrar dos valores ensinados aqui.

— Pude ver nos seus olhos que você gostaria dele. – sorri de canto. — Você parece amar a leitura, então, fico feliz por estar certa.

— Quanto é? – não precisava comprar, mas não queria fazer desfeitas. — Será mais um para a minha coleção.

— Não é nada. – disse me olhando nos olhos. — Considere como um presente da minha avó para os seus filhos, ela faria o mesmo. – sorri.

— Eu não posso simplesmente aceitar. – tentei. — Deixe-me pagar por ele ou levar outro para aumentar o valor. – ela sorriu e voltou ao trabalho.

— Você é a primeira pessoa que entra aqui desde a morte da minha avó. – senti dor ao ouvir. — Por isso, me sinto bem ao te dar o livro. Volte mais vezes se puder e traga os seus filhos contigo. – pediu sorrindo.

— Obrigada. – murmurei. — Pode deixar que os trarei sim.

— De nada e volte sempre. – sorri e caminhei em direção a saída.

Saí da loja e parei na porta, olhando para a moça atrás do balcão. Dizem que não conhecemos ninguém por acaso e que todos os movimentos que fazemos são alinhados com o universo. Ainda não sabia como seria a minha vida pós trabalho, mas sentia que tudo ficaria bem e que em breve encontraria a felicidade completa. A moça da loja me lembrou de normas que pensei esquecer, por isso, era grata aos seus gestos de carinho para os meus filhos. Respirei fundo e caminhei pela avenida em direção ao carro de Taehyung, ele insistiu para o usar.

Não gostava de conduzir e por mim mesma, teria pegado um táxi ou usado os transportes públicos. Todavia, ele insistiu que usasse o seu carro e eu não consegui dizer não para a sua doçura e delicadeza. Tudo vindo de Taehyung e seus amigos continha muito luxo e conforto, algo que não combinava muito comigo. Por mais normal que fosse para ele, para mim tudo não passava de exageros. No entanto, eu não me sentia no direito de mudar os seus conceitos ou me intrometer na forma com que eles viviam a vida que tanto lutaram para conquistar. Viver bem não era nada fácil e para alguém como eu, a compreensão sempre seria difícil, pois, não havia passado necessidades.

"Ainda não acabou e você pagará por tudo, sua vagabunda."

Parei em frente ao seu carro e senti o meu coração bater mais forte. Peguei o bilhete e reli o que ali estava, alguém estava com raiva de mim. Respirei fundo e olhei para os lados procurando por algo, mas nada. As pessoas andavam de um lado para o outro e cada um seguia o seu caminho, ninguém se via. Entrei no carro e tranquei as portas, não podia demonstrar o meu medo no meio da rua. As minhas pernas tremiam e os meus olhos queriam chorar, não conseguia respirar e me sentia a beira de um ataque de pânico. Sabia que estava sendo observada, mesmo ninguém compreendendo isso.

Me sentia presa em sentimentos confusos e não conseguia ver a saída em nenhum lugar, eu não me sentia bem. Fechei os meus olhos e procurei mentalizar que eu estava bem e que tudo ficaria bem, nada aconteceria comigo. Abri os meus olhos e limpei as lágrimas que desciam por meu rosto, me lembrando que eu estava sozinha e provavelmente morreria sozinha. Todo o meu corpo procurava me dizer isso, mas eu não acreditei em seus sinais. Ergui o meu olhar e pensei nos meus filhos, eles me acalmavam em momentos assim.

Após algum tempo procurando me acalmar e adiar os meus ataques de pânico, alguém bateu no vidro do carro e me fez tremer de medo. Senti o meu coração acelerar de novo e os seus batimentos se faziam presentes em forma de dor. Virei o rosto com calma esperando ver um fantasma do passado, ele não estava ali, mas me perseguia por todos os lugares. No entanto, para o meu alívio, Kim Namjoon sorria para mim e esperava alguma reação da minha parte. Ao ver que era ele, saí do carro o mais rápido possível e pulei em seus braços, procurando proteção.

— Isso tudo é saudade? – comentou brincando.

Não respondi, eu só conseguia chorar.

— Ei. – disse acariciando os meus cabelos. — O que foi? Aconteceu algo na sua entrevista de trabalho?

Me soltei dos seus braços e o olhei em prantos, não conseguiria falar nada e não sabia se queria. Estava assustada e dentro do meu peito, eu sabia que algo aconteceria em breve. No momento eu me sentia aliviada por ver o seu rosto, mas também triste por saber que isso poderia mudar em breve. Namjoon me olhou e esperou alguma reação da minha parte. Em silêncio ele colocou uma das suas mãos em meu rosto e limpou as lágrimas, me fazendo chorar mais. Por qual motivo ele era o meu refúgio sem ao menos saber disso? Por qual razão eu não conseguia confiar em mais ninguém além dele? Seria ele a última pessoa a estar comigo antes da minha morte?

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