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Eu não sabia o que fazer, mas procuraria uma maneira sem magoar ninguém. Após algum tempo pensando o que fazer, decidi sair do quarto e me assustei ao ver que todos os meninos estavam sentados no sofá. Respirei fundo e olhei em volta procurando sinais da Young Soo, mas não a avistei em nenhum lugar. Será que ela estava presa no quarto por causa da vergonha? Ao me ver, Taehyung veio em minha direção e procurou me dar um beijo, mas afastei o meu rosto e o seu beijo pegou na minha bochecha. Ele pareceu confuso, no entanto, não questionou. Namjoon olhava para mim e procurava compreender o que eu sentia, mas respirei fundo e me afastei indo em direção ao quarto de hóspedes.

Agora era o momento de ouvir tudo o que a Young Soo tinha para me falar. Queria muito falar com ela sobre todos os questionamentos que pairavam por minha cabeça. Assim que abri a porta, pude ver que o quarto estava vazio, ela não se encontrava ali. Tudo estava organizado e as suas malas que antes eram visíveis, não se encontravam no espaço. Então, era isso? Ela foi embora sem se despedir e sem se explicar? Respirei fundo e fechei os meus olhos, ponderando o que fazer para não sofrer mais.

— Ela foi embora. – sussurrou Yoongi em meu ouvido.

— Não teve coragem de me enfrentar. – murmurei. — É uma pena.

— Acho melhor assim. – comentou. — Não acha? – me virei para o olhar.

Yoongi me olhou com ternura, em seus olhos havia sinais de conforto e compreensão. Ele sabia como me acalmar apenas por estar ao meu lado, ele me conhecia sem conhecer e isso era bom para mim. Por um tempo eu havia esquecido de como era bom tê-lo ao meu lado, me passando confiança.

— Sim. – murmurei lhe dando um leve tapa no peito. — É melhor assim.

Saí do quarto de hóspedes e caminhei em direção ao quarto dos meus filhos, precisava estar com eles. Me aproximei do berço e os vi dormindo, eles eram perfeitos. Passei as minhas mãos por seus rostinhos e despertei sorrisos, era a nossa conexão silenciosa. Ter um filho era a melhor coisa do mundo e a relação criada, era infinita. Sentia os meus filhos perto de mim, mesmo sem estar perto deles. Me afastei e me sentei no sofá, olhando para o teto. Estar sozinha na presença dos meus filhos era bom, o silêncio e paz me transmitia conforto. Todo o meu mundo estava ali e nem mesmo as recentes descobertas mudaram o fato de que eu era feliz, muito mais feliz do que fui no passado.

— Posso entrar? – murmurou Taehyung chamando a minha atenção.

Acenei afirmativamente com a cabeça, ele fechou a porta atrás de si e caminhou em minha direção com muita delicadeza. Taehyung se sentou ao meu lado e observou o meu rosto, ele queria ouvir algo da minha boca e eu precisava falar algo. Todo o silêncio era um pedido de ajuda, ele desejava saber o que eu estava fazendo e com certeza o que eu estava sentindo.

— O que você tem? – murmurou ele. — Não se sente bem?

— Medo. – eu segurava as minhas lágrimas. — Estou com muito medo.

— Medo? – rebateu. — Medo do quê, meu amor? – respirei fundo.

— Taehyung, eu beijei o Yoongi. – disse rapidamente. — E antes que você surte, grite, me bata ou qualquer coisa do gênero. – ele me olhou com pavor. — Eu quero apenas compartilhar os meus motivos.

Ele mudou a sua postura e em seus olhos estava todo o pânico que eu também sentia, pude sentir que ele estava nervoso pelo pulsar da artéria em seu pescoço. Ele não sabia se tremia de ódio ou se gritava para expressar tudo o que sentia em seu peito. Respirei fundo e me levantei, precisávamos encerrar esse círculo agora.

— Eu precisava terminar isso. – procurei explicar. — A nossa história vem antes de nós. Yoongi sempre fez parte da minha vida e eu queria terminar tudo de uma vez por todas. – ele provavelmente se levantaria e me deixaria sozinha. — Não queria continuar com os pensamentos que me perseguem desde a época de James, então, cometi esse erro. Todavia, eu não quero esconder nada de você, por isso, preciso ser sincera.

Taehyung se levantou e começou a andar de um lado para o outro. Não compreendi o que ele fazia, mas esperaria por sua decisão final. Permaneci parada, neutra, esperando por ele. Após algum tempo ele se virou para mim e me olhou nos olhos.

— Pensei sobre isso quando estava na Espanha. – comentou. — Pensei que se vocês dormissem juntos, isso passasse. Em minha mente, tudo isso era apenas desejo. Porém, ao lembrar que ele vem do tempo do James, tudo me assustou mais. – respirei fundo. — Se você sentiu necessidade em se despedir ou se aproximar com esse beijo, eu entendo. – eu não acreditava em suas palavras. — Não sei o que faria em seu lugar e não sei se estaríamos juntos se eu fosse você. Confesso que não me perdoaria por tudo o que fiz, mas você perdoou e eu não acho esse beijo algo tão ruim ao ponto de nos virarmos um contra o outro novamente. – quem era esse homem?

— Não está chateado comigo? – indaguei ainda incrédula.

— Sim, bastante. – respondeu se sentando de novo. — Eu não posso exigir nada de você, causei estes momentos e toda a dor desnecessária que você sentiu nos trouxe até aqui. Essa intriga que eu causei entre os meus amigos por causa dos meus ciúmes doentios, ciúmes que um dia fizeram tanto mal a você. – respirei fundo. — Hoje eu decido que você pode ter decisões impulsivas, implorando apenas para que não as repita de novo. – ele abaixou a sua cabeça para esconder as suas emoções.

— Está insinuando que agi por impulso? – a minha pergunta era estúpida, mas queria compreender o seu comportamento. — É isso?

— Não agiu? – retrucou me olhando nos olhos. — Se não agiu por impulso, agiu por desejo? – não era nada disso.

— Taehyung. – murmurei. — Eu agi por impulso, mas agi sabendo de tudo o que fazia.

— Você tem todo o direito de tomar as decisões que achar necessário. – ele voltou a abaixar a sua cabeça. — Não se preocupe com o que eu quero dizer com as minhas palavras.

— Por qual motivo você está de cabeça baixa? – indaguei me sentando ao seu lado. — Por qual razão você não me olha nos olhos?

Ele ergueu a sua cabeça e mostrou as lágrimas que desciam por seu rosto, me fazendo sofrer. Senti as minhas lágrimas e as controlei, não podia desabar agora. Me aproximei dele e o abracei forte, procurando passar um pouco de confiança. Tudo podia mudar e neste momento nos encontrávamos em um impasse. Qualquer palavra mal colocada poderia mudar o rumo dos nossos sentimentos e da nossa relação. Os seus soluços ecoavam e o meu coração sofria ao ver a sua reação, não queria vê-lo assim, mas precisava ser sincera com ele e comigo. A sua ausência fez eco e os meus sentimentos foram colocados em questionamentos difíceis, algo que precisaria de tempo para mudar de novo.

— Não gosto de te ver chorar. – murmurei. — Por qual motivo você está chorando?

— Por medo. – disse me soltando. — Eu tenho medo de te perder, esse medo me persegue desde o dia que você voltou da Espanha sozinha.

— Acha que eu estaria aqui se fosse para você me perder? – indaguei passando uma das minhas mãos por seu rosto. — Acha que isso é possível?

— O Yoongi te conhece melhor do que eu. – respondeu. — Ele é maduro e não faz as besteiras que eu fiz. Além do mais, você seria mais feliz com alguém assim. – senti o meu peito doer. — Alguém que não sabe o seu ponto fraco para te magoar depois.

— Está terminando comigo? – indaguei contendo as minhas lágrimas. — É isso? – me levantei, precisava sair dali.

— Não! – exclamou se levantando. — Não, eu não quero terminar com você. Se depender de mim, eu jamais sairei da sua vida. Eu só queria constatar estes fatos para que você decida sabendo o que ganhará no fim. Alice, eu não sou como ele e nunca serei alguém bom para você. – a primeira lágrima desceu por meu rosto.

— Sabe o que você é? – indaguei. — Você me salvou da morte em várias ocasiões. Me ensinou que o medo faz parte da vida, mas não decide a vida. Você me deu motivos para viver quando eu queria morrer sem você, além de me ajudar a colocar duas almas no mundo que carregarão esse amor. – as suas lágrimas se intensificaram. — Você tem razão quando se compara ao Yoongi, ele não é isso. Ele é alguém que me lembra de um passado cruel e sem esperanças, que mesmo podendo me salvar, ele optou por sua amizade e me permitiu sofrer. – limpei as minhas lágrimas. — O Yoongi tem algo que você jamais terá.

— O quê? – disse se aproximando.

— O meu coração e todo o amor que sinto dentro dele. – ambos caímos em lágrimas. — Eu te amo, Taehyung. Jamais se compare a outro homem, não existe outro homem como você e nunca existirá. – ele precisava saber disso.

Taehyung se aproximou de mim e me abraçou, deixando os seus soluços ecoarem junto com os meus. Sentia os seus braços em mim e toda a segurança que precisava estava ali. Tudo em si era perfeito e nem mesmo o Yoongi conseguiria substituir isso. Em mim, tudo era dele e sempre seria dele até o fim dos tempos. Será que ele não percebia isso?

— Eu te amo, John. – sorri ao ouvir. — Eu quero que você me prometa algo. – pediu me soltando.

— O quê? – indaguei.

— Que neste momento, acabam os segredos, os medos, os receios, os desejos e tudo o que nos prenda aos erros do passado. – sim, eu prometia. — Eu não quero saber o que você fez com o Yoongi e nem os motivos, mas quero que isso acabe aqui e agora. Preciso que isso termine agora, por favor.

— Eu prometo. – disse me aproximando. — Prometo que agora seremos apenas nós quatro, para sempre.

— Quatro? – retrucou.

— Esqueceu dos seus filhos? – ele sorriu.

— Não. – murmurou. — Mas pensei que você ponderasse a ideia de ter mais filhos. – sorri ao ouvir. — Então não podemos fechar a conta. Seremos nós dois e quantos filhos os céus nos permitirem ter.

— Sim, senhor. – disse o beijando.

Taehyung me apertou em seus braços e devolveu o meu beijo com a mesma intensidade, me fazendo tremer em seus braços. Todo o meu corpo reagia aos seus toques, eu queria congelar esse momento para sempre. Me soltei dos seus braços e limpei o meu rosto procurando esconder o sofrimento que ainda sentíamos em nós. Ele fez o mesmo e sorriu, me deixando mole. Passei as minhas mãos por seu rosto e parei em seus lábios, o contemplando.

— Serei para sempre sua. – murmurei.

— Eu te amo. – sorri.

— Vamos comer algo? – indaguei. — Me sinto fraca e não quero passar mal de novo.

— Claro, meu amor. – disse me seguindo.

Taehyung segurou a minha mão e me guiou para fora do quarto, paramos em frente ao berço das crianças e lançamos um olhar para a perfeição que criamos juntos. Ele me olhou com orgulho e eu senti que estávamos bem e que finalmente poderíamos seguir a nossa vida sem nos preocupar com mais nada. Saímos do quarto das crianças entre sorrisos, passando por nossos amigos na sala. Namjoon olhou para mim e provavelmente viu o meu semblante deplorável. Sem esperar muito ele se levantou do sofá e nos seguiu para a cozinha. Seokjin fez o mesmo, esse era a forma que eles usavam para dizer "nós estamos aqui."

— Está tudo bem? – indagou Namjoon.

— Sim. – murmurei. — Tudo ótimo, não é Tae?

Ele sorriu e me agarrou por trás, me dando um beijo no pescoço. Era bom estar assim e eu sabia que isso duraria para sempre.

— O que deseja comer? – indagou ele mordendo a pontinha da minha orelha.

— Não sei. – respondi. — O que você tem para oferecer? – ele sorriu e me soltou.

Eu sabia o que ele queria, mas não podíamos no momento. Em sorrisos ele caminhou em direção a geladeira, onde procurou algo para fazer. Voltei o meu olhar para Namjoon e Seokjin que se encontravam sentados em nossa frente, ambos esperando alguma reação da minha parte. Sorri para confortá-los e respirei fundo ao me lembrar que ainda precisava terminar o meu ciclo com a Young Soo. Todavia, ela escolheu não estar presente e decidiu sozinha que não seriamos mais amigas.

— Não estarei aqui nos próximos dias. – comentou Seokjin chamando a minha atenção. — Então não posso cuidar dos gêmeos, Hoseok fará isso por mim.

— Aconteceu alguma coisa? – ele não parecia feliz.

— Sim. – murmurou. — O meu pai decidiu que quer adotar a filha de uma amiga, então, ela chegará amanhã. – ele respirou fundo. — Eu tenho a certeza de que essa garota é uma filha bastarda que ele procura esconder atrás de uma adoção.

— Seokjin. – disse o fazendo me olhar. — Não seja cruel com ela.

— Como não? – rebateu se levantando. — Isso não faz sentido, como ele adota a filha de uma mulher que conheceu na faculdade? Acha mesmo que essa garota não é filha dele?

— E se for? – retruquei. — Ela tem culpa disso? Você tem culpa disso?

— Alice. – tentou. — Você não entende. Não sei por qual razão a minha mãe aceita isso. É ridículo em vários sentidos.

— Principalmente no sentido que você a crucifica por um erro do seu pai. – ele me olhou com seriedade, mas não disse nada. — Não repita os erros do seu pai.

— Alice. – disse Taehyung me chamando. — Prova isso aqui. – ele notou a tensão entre nós.

Namjoon não se intrometeu, mas pude ver o olhar de Seokjin me perseguir. Provavelmente em sua mente ele acreditava que estava contra ele, no entanto, não era essa a realidade. Ele precisava ter cuidado com ela ou a trataria como um lixo, eu o conhecia bem. Respirei fundo e me concentrei em Taehyung, ele colocou uma colher cheia de comida em minha boca e sorriu. O sabor era maravilhoso e tudo feito com o seu amor tinha o gosto de paraíso.

— Por qual motivo você pediu para o seu pai não nos visitar? – o olhei sem compreender.

— Eu? – retruquei de boca cheia.

— Sim. – respondeu limpando a sua boca. — Ele me mandou uma mensagem dizendo que você pediu para ele não vir. – não compreendi. — Ele queria saber se está tudo bem com você.

— Taehyung. – disse engolindo o que tinha na boca. — Tem quase duas semanas que não falo com o meu pai ou com a minha mãe.

— Alice, o seu pai me mandou mensagem ontem. – continuou deixando a colher de lado. — Espere. – ele caminhou até a sala.

Eu não havia falado com o meu pai e muito menos com a minha mãe. Mesmo perdoando os seus atos e os seus comportamentos, ainda era difícil manter um contato com ela. No entanto, o meu pai sempre mandava mensagens e compartilhava tudo o que eles estavam fazendo. Eu jamais diria para ele não comparecer e a minha casa sempre estaria aberta para as suas visitas.

— Está aqui. – disse Taehyung me entregando o seu telefone. — Ele me mandou isso ontem. – li e não compreendi.

— Espere. – disse saindo da cozinha. — Vou buscar o meu telefone.

Saí da cozinha passando por Seokjin, em silêncio lhe dei um tapa no ombro e recebi o seu ódio de volta. Ele mudaria de opinião quando começasse a colocar em prática todo o amor que podia sentir pela filha de alguém que não necessariamente fosse a sua meia-irmã. Parei na sala e olhei para os lados procurando avistar o meu telefone, porém, ele não estava ali. Voltei a minha atenção para o quarto e assim que entrei procurei por todos os lados. Onde será que ele estava? Sempre o deixava em cima da minha secretária para fácil acesso e agora, não o encontrava. Não podia perder outro telefone, isso já não era normal.

— Alice. – murmurou Taehyung entrando no quarto. — O que está fazendo?

— Estou procurando o meu telefone. – respondi andando pelo quarto. — Juro que ele estava por aqui.

— Perdeu de novo? – aos poucos se tornava piada interna. — Precisaremos comprar outro? – continuou se jogando na cama.

— Parece que sim. – murmurei. — Podia jurar que ele estava por aqui. – continuei me jogando ao seu lado. — Eu não me lembro de falar para o meu pai não vir, aliás, não me lembro de falar com o meu pai. – ele sorriu e passou uma das suas mãos por meu rosto.

— Esquece isso. – sussurrou. — Vem aqui amar o teu homem. – ele me puxou para si e isso me despertou sorrisos soltos.

— Aí sim? – retruquei. — Meu homem? – era bom sentir o seu hálito junto ao meu.

— Só seu. – murmurou me roubando um beijo.

Sorri e me aconcheguei em seus braços, o sentindo perto de mim. Taehyung tinha um cheiro bom e muito anestesiante. Fechei os meus olhos e me deixei levar pelo momento. Seria um bom momento para continuarmos aquilo que começamos juntos, era um bom momento para selar o nosso amor para sempre. Tudo em mim era seu e ele precisava saber disso para não criar dúvidas bobas em sua cabeça. 

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