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***
Namjoon estava estranho e podia ver em seus olhos que ele procurava a forma correta de dizer que sentia muito. No entanto, ele não precisava sentir muito, pois, não havia feito nada de errado. Ele não sabia que Taehyung se encontrava ali e que muito menos estávamos quase fazendo sexo. Não que ele precisasse saber, mas eu deveria ter informado já que sabia que ele voltaria para me ver como havíamos combinado no dia anterior. Ele não queria falar de mim ou do meu relacionamento com Taehyung, ele procurava alguém para desabafar sobre a sua vida. Me sentia na obrigação de estar ao seu lado já que ele havia feito o mesmo por mim quando precisei de um ombro amigo.
— Não queria atrapalhar nada. – ele estava com vergonha. — Sinto muito, Alice.
— Tudo bem. – murmurei lhe dando um beijo no rosto. — Não é culpa sua, você não fez nada de errado.
— É isso então? – retrucou me olhando nos olhos. — Vocês estão juntos novamente? – não sabia como responder.
— Não sei. – murmurei. — Não é certo, mas acredito que caminhamos para esse fim.
— E tudo o que ele fez será esquecido? – ele parecia não gostar das minhas decisões. — É isso mesmo?
— Nam. – sussurrei. — Sei que está zangado com ele por causa das suas atitudes na Espanha, mas já passou. Se consegui perdoar e esquecer, você também deve. – ele respirou fundo ao ouvir.
— Sei disso. – respondeu. — No entanto, eu não consigo esquecer que ele machucou você fisicamente. Isso não podia ter acontecido assim!
— Por qual motivo você está assim? – ele me olhou sem compreender. — Não é por causa do Taehyung. – conhecia o meu amigo.
— Seokjin volta amanhã. – então era isso. — Ele está voltando de Jeju com o Yoongi.
— E o que te aflige? – retruquei.
— Kim Taehyung. – disse cerrando o seu maxilar. — Isso não vai dar certo e eu não acho que ele está preparando para encarar o Yoongi.
— Namjoon, você acha mesmo que Taehyung está em posição de exigir algo de nós? – questionei. — Não é você que deseja os seus amigos juntos?
— Sim. – não queria brigar com ele. — É tudo o que mais desejo, mas não será tão fácil.
— O que você quer de mim? – tudo isso precisava ter um propósito.
— Procure não criar guerras com o Taehyung para impor a sua vontade de ter o Yoongi por perto. – pediu. — Não será fácil para ele. Acabou de voltar e terá de encontrar o seu amigo que acha que o traiu e, ao mesmo tempo, lutar por você. – compreendia o seu lado. — Eu amo você e se precisar escolher, jamais deixarei o seu lado. Porém, não me faça escolher entre os meus amigos, por favor.
— Acha que Min Yoongi é culpado de algo? – começava a ficar chateada. — Pensa que tivemos um caso?
Kim Namjoon esteve ao meu lado durante todo o meu processo de cura. Assim como os seus amigos, ele me ajudou a manter as minhas forças para trazer os meus filhos ao mundo. Porém, eu não podia permitir que ele colocasse o caráter de um dos seus amigos em questionamento por motivos bobos criados por Taehyung. Nenhum de nós era inocente, sabíamos disso, porém, ninguém precisava sofrer por uma história que não havia acontecido. Min Yoongi tentou, mas não conseguiu mudar o que eu sentia por seu amigo.
— Min Yoongi não é culpado. – respondeu se aproximando de mim. — A nossa carência não tem nada a ver com você, mas sim conosco. Só que o carinho que encontramos em você, não existe em lugar nenhum. – pude ver os seus olhos mudarem. — Daria o mundo para ter a sorte do Taehyung, porém, ele não dá valor. Isso é o que nos magoa, pois, como amigos sabemos ver o valor de tudo isso aqui. – concluiu olhando para os lados.
— Eu sinto muito. – sussurrei. — Gostaria de amar todo mundo, mas eu o amo. – ele sorriu.
— Não esperava outra reação da sua parte. – sorri de canto. — Preciso ir, nos vemos amanhã?
— Sim. – respondi lhe dando um abraço. — Obrigada por tudo, principalmente por me respeitar tanto.
— A vida nos proporciona momentos, cabe a nós cultivá-los. – respondeu beijando a minha cabeça. — Me solta carrapato. – sorri.
Kim Namjoon se soltou dos meus braços e caminhou em direção a porta. Toda vez que o via ir, sentia uma dor invadir o meu peito. Não falávamos muito sobre os seus sentimentos, ele sabia esconder muito bem. Em momentos como esse, ele deixava claro que precisava de carinho, mas continuava com o seu respeito intacto. Lembro de o ver com vários olhos, porém, nenhum deles me levava aos sentimentos que ele sentia por mim. Conversei sobre isso com Seokjin, alguém neutro em todos os sentidos. De acordo com as suas declarações, a carência de Namjoon vem de tempos em que não compreendemos.
Em algum momento ele amou alguém com intensidade, mas do nada, ele voltou a ser triste. Ninguém conheceu o seu amor e ele não falou sobre como e quando tudo acabou, mas todos souberam que ele estava de luto. A sua alma ficou assim por vários meses até que ele pôde direcionar tudo para mim. Alguém que se assemelhava com o que ele conhecia e fazia de tudo para o ver bem, mesmo que inconscientemente. Hoje, éramos bons amigos e todo o respeito entre nós não nos permitia sentir mais nada. Namjoon era a minha definição de paz e sempre que me sentia mal, sabia que podia encontrar conforto e acalento em seus braços. Será que ele sabia disso?
***
— Sinceramente, penso que você deveria ficar sozinha. – era estranho ouvir a sua voz após tantos anos. — Tudo está recente e você ainda está descobrindo o que quer da vida, não é?
Não possuía muitos amigos, mas ela se importava comigo. Mesmo estando longe e com vidas completamente diferentes, sempre encontrávamos algum tempo para jogar a conversa fora. Durante as visitas de James tudo se tornou difícil, pois, acabei por esquecer que tinha uma amiga além dos amigos de Taehyung. Provavelmente deveria recorrer a ela em momentos de solidão, isso faria com que Taehyung e seus amigos não brigassem tanto por minha causa. Porém, a distância entre nós, dificultava o nosso encontro. Queria ter a minha amiga por perto, mas não podia exigir isso dela ou de ninguém.
— Não posso pensar somente nas minhas necessidades. – respondi tomando um pouco do chá. — Taehyung é o pai dos meus filhos e eu ainda o amo muito.
— Alice, depois de tudo o que você me contou. – ela fez uma pausa. — Não há dúvidas de que não existe ninguém nesse mundo mais capaz do que você. A razão de toda essa liberdade e poder vem dali. – disse apontando para os meus filhos. — Não se esqueça disso. – ela tinha razão, eles eram tudo.
— Isso é verdade. – murmurei. — Ainda preciso pensar sobre muitas coisas, mas decidi que quero manter a presença de Taehyung em minha vida.
Para qualquer um, ele não merecia o meu amor. Todavia, não queria expor os meus sentimentos assim e tudo o que sentia por Taehyung não podia ser explicado. Os sentimentos que carregava em mim, eram e seriam para sempre dele, logo, não havia motivos para não os reconhecer. Não queria falar sobre nós e esse assunto não deveria ser de mais ninguém além de nós dois, era o correto a ser feito. Em minha mente eu sabia o quanto era importante ter a presença de Taehyung em minha vida e estava mais que decidida a seguir com os meus planos e o trazer de volta para o conforto do nosso amor. Já podia ver a sua carinha de felicidade ao ouvir isso.
— Não o conheço. – continuou. — Mas ele não te merece, por tudo o que ouvi, você merece algo melhor.
— Como estão as coisas em casa? – precisava mudar de assunto, não queria continuar a nossa conversa. — Algo novo?
— Continua tudo do mesmo jeito. – respondeu bufando. — Morar em cidade pequena continua sendo horrível, não recomendo. Ficou sabendo da morte de James? – senti o meu coração parar, não sabia o que responder.
— Vamos para a sala. – pedi. — Não quero tocar no nome dele perto dos meus filhos. – ela entendeu e se levantou, me seguindo.
— O que aconteceu com ele? – questionei me sentando no sofá. — Não sabia disso.
— Pois é, ele morreu. – ela não havia percebido nada. — Não sabemos os motivos ou quem foi, mas ele não tinha muitos amigos. – continuou cruzando os braços. — James piorou muito depois que você saiu de lá, ele teve várias ameaças de morte.
— Posso imaginar. – não queria falar dele.
— Lembra daquela garota que estudava conosco? – franzi o sobrolho ao ouvir. — Aquela que sempre andava falando sobre coisas ocultas e de como o mundo terminaria em dominação satânica? – eu não pensava mais nessas pessoas. — Então, ele namorou com ela por uns meses. Só que terminou e ela acabou se matando por causa dele. – tremi ao ouvir as suas palavras.
— Que horror. – sussurrei.
— James foi cruel com muitas pessoas. – ela não sabia o que ele havia feito comigo. — Os pais dela juraram vingança, até hoje são considerados possíveis culpados por sua morte. – ela falava com tanta naturalidade. — Alice, ele não era assim com você. Como pode alguém mudar tanto? – ela não sabia de nada.
— Não sei. – não queria me lembrar dele. — A vida tem dessas coisas.
— Enfim. – disse respirando fundo. — Me conte como é ser mamãe?
— Uma confusão. – ela soltou uma gargalhada. — Muito trabalho, mas eu amo. Eles se tornaram o meu mundo e eu faço de tudo por aqueles serzinhos ali dentro.
Não conseguimos continuar a nossa conversa, pois ouvimos barulhos na porta e, no fundo, Taehyung entrou. Ao vê-lo pude sentir o meu coração vibrar de alegria, ele estava mais lindo do que nunca. De longe era possível ver as suas roupas de marca e ao me ver, o seu sorriso dobrou de tamanho. Tudo em si me remetia saudades, amor e muita vontade de o abraçar forte. Em silêncio ele veio em nossa direção e esperou por alguma reação da minha parte.
— Oi. – disse se inclinando sobre o sofá para me dar um beijo no rosto.
— Oi. – respondi virando o rosto, deixando os nossos lábios se encontrarem. — Tudo bem? – ele pareceu confuso, mas não questionou.
— Sim e vocês? – disse olhando para a minha amiga.
— Essa é a minha amiga. – prossegui os apresentando. — Somos amigas desde a infância e nunca mais nos separamos.
— Só nos separamos quando você me deixou sozinha e veio para Seoul. – sorri ao ouvir.
— Prazer. – disse Taehyung. — Sou o Taehyung.
Percebi que ele não gostou da situação, mas se conteve bem. Em seus olhos o sentimento era outro e se o conhecia bem, ele precisava falar comigo sobre alguma coisa. Respirei fundo e esperei alguma reação da parte de ambos, ela com alguma piada sem graça e ele com algum comentário que me tirasse dali por algum tempo. No entanto, nada aconteceu e isso me deixou confusa.
— Vou ver os bebês. – disse ele quebrando o silêncio. — Se divirtam. – concluiu saindo da sala.
— Está bem. – disse sorrindo de canto.
— Ele é assim mesmo? – comentou baixinho. — Ou só comigo?
— Assim como? – retruquei.
— Frio e indiferente. – sorri de canto. — Será que ele não gostou de mim? – era possível.
— Não se preocupe. – murmurei. — Ele não está acostumado com visitas da minha cidade natal.
— Ah, então deve ser isso. – respondeu se recostando no sofá. — Ciúmes! Você me arruma cada homem, hein? – soltei uma gargalhada ao ouvir.
— Assim que se conhecerem melhor, ele se soltará mais. – disse me levantando. — Apesar do semblante de pessoa normal, ele é bem tímido. Agora me deixa ir lá ver uma coisa, já volto.
Pousei a xícara que ainda segurava em minhas mãos e caminhei em direção ao quarto dos bebês, onde gentilmente fechei a porta. Taehyung estava sentado no pequeno sofá e tinha os seus olhos fechados, sorri ao ver. O seu semblante de perfil era invejável, o seu nariz e a sua boca carnuda me traziam sentimentos bons ao vê-lo. Me aproximei com calma e me sentei ao seu lado fazendo com que ele abrisse os seus olhos para me contemplar. Me sentia tão bem em sua companhia, será que ele sabia disso?
— Ei, Alice. – sussurrou.
— Ei. – sussurrei de volta. — Está tudo bem?
— Ela vai ficar aqui? – ele parecia não querer.
— Por alguns dias. – murmurei. — Ele veio me ver e conhecer os meus filhos.
— Aqui? – retrucou. — Ela não podia ficar em um hotel ou algo assim?
— Qual é o problema de ela ficar aqui? – eu não entendia.
— Isso não vai dar certo. – murmurou se aproximando de mim.
— Por qual motivo não daria? – ele mordeu os seus lábios.
— Não gostei dela. – ele nem a conhecia. — A áurea de uma pessoa diz muito sobre o seu caráter e isso me impossibilitará de te conquistar. Já não basta o Nam interrompendo os nossos momentos? – sorri.
— Tae? – ele se arrepiou ao ouvir.
— Eu te amo tanto. – sussurrou.
— Então volta para casa. – pedi.
Ele arregalou os seus olhos ao ouvir e se ergueu, me olhando com muita seriedade. Ele não acreditava em minhas palavras e eu estava com medo do que ele poderia fazer a seguir.
— O quê? – retrucou.
— Eu quero que você volte para mim. – pedi me levantando. — Quero que você volte para casa.
— Sério? – pude ver as lágrimas invadirem os seus olhos.
— Sim. – murmurei me aproximando. — Ficamos muito tempo longe um do outro, vamos nos encontrar de novo.
— Alice. – disse engolindo o seu choro. — Sabe o que isso significa?
— O quê? – precisava me conter ou choraria também. — O que isso significa?
— Que você me perdoa. – sim, eu perdoava. — Que você compreendeu que não era eu e sim os meus ciúmes. Acima de tudo, significa que você ainda me ama.
— Eu amo. – respondi. — Quero o seu amor perto do meu, onde ele pertence.
Taehyung sorriu e limpou as suas lágrimas antes que elas pudessem cair. Em seguida ele veio em minha direção e me deu um beijo forte, mas aconchegante. Me permiti sentir tudo o que tinha direito, ele era meu e ninguém conseguiria mudar isso. A sua boca encontrava a minha com saudade, a saudade que sentimos de todos os beijos que não podíamos dar por causa da solidão. Assim que os seus lábios soltaram os meus, tudo o que senti em mim, foi paz.
— Eu te amo. – disse me dando um selinho. — Vou buscar as minhas coisas. – sorri.
Agora faltava pouco para ter a minha família de volta.
***
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