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••• dois meses depois •••
Após várias tentativas e várias mudanças, eu ainda não sabia se os móveis da sala estavam de acordo com o que eu queria. Há um mês tudo havia mudado, comprei móveis novos, comprei o apartamento do lado e os remodelei, tornando tudo em um só. Todas as cores foram repensadas e as decorações também, queria que os meus filhos encontrassem cores felizes e positivas ao nascerem. Jamais conseguiria isso sozinha, a ajuda dos amigos do pai dos meus filhos foi crucial para que tudo ficasse perfeito. A minha barriga estava enorme e junto com ela, as dores. O médico recomendou repouso e pouco stress, o que ativou o modo "mãe" em Namjoon e fez com que ele me adotasse.
Passava os meus dias sendo mimada por Namjoon e Seokjin, ambos fazendo de tudo para que eu me sentisse bem. Em alguns momentos, podia sentir uma rivalidade entre eles, pois, ambos gostariam muito que eu aceitasse os seus gestos sem discutir. Seokjin era muito mais dominante do que Namjoon em suas investidas e eu podia jurar que ele esperava submissão da minha parte. Algo que jamais aconteceria, mas que não o impedia de tentar. Namjoon, por outro lado, gostava do carinho e sempre que eu o demonstrava, os seus olhos brilhavam de alegria.
— Alice, você não acha que já está bom? – mordi os lábios ao ouvir.
— Não. – decidi por fim. — Ainda não se encontra do jeito que eu quero. – podia melhorar, só precisávamos tentar mais um pouco.
— Amada, você já mudou esse sofá de lugar oito vezes. – sorri de canto. — Se decida, meu amor. – Hoseok era a vitamina dos meus dias.
— Para falar a verdade, eu também acho que não está legal. – comentou Seokjin me apoiando.
— Está vendo? – rebati a Hoseok. — Bom senso é algo contagiante, vamos colocar ao pé da janela. – pedi.
Em sorrisos, Hoseok e Namjoon levantaram o sofá do chão e carregaram até o local apontado por mim. Eles não confessavam, mas adoravam essas mudanças de móveis, até por ser ideia deles. No fundo, eles gostariam de deixar o novo apartamento com um toque bem marcante, lembrando que eles estiveram ali durante o processo.
— Bem melhor! – exclamou Jimin. — Deu um "up" para esse canto morto. – sorri de canto.
— Sim, também acho. – agora sim, tudo estava perfeito. — Obrigada, meninos.
Em uma semana os meus filhos estariam aqui e tudo precisava estar perfeito. Mudei tudo em mim e aos poucos me acostumava com a ideia de criar os meus filhos, sozinha, com o apoio dos meninos. Não me esqueceria de todo o carinho e de todo o apoio que recebi nas últimas semanas, eles fizeram tudo isso possível. Tê-los comigo, diminuiu a solidão e abriu espaço para outros momentos bons, momentos que eu gostaria de lembrar para sempre. Estar ao lado de Seokjin foi bom, ele me ensinou a ser forte e a pensar mais em mim.
— Tudo está ficando lindo. – a voz de Namjoon era reconfortante.
— Sim. – murmurei. — Quase pronto para receber os meus anjinhos.
Em poucos dias eu teria os meus amores nos braços e eu mal podia esperar para sentir essa felicidade. Respirei fundo e saí da sua companhia, indo em direção a cozinha. No entanto, Namjoon me seguiu e isso me despertou um sorriso bobo, ele era a minha sombra.
— Ele estará aqui. – disse me fazendo olhar por cima dos meus ombros. — Não se preocupe.
— Você disse isso na semana passada. – murmurei. — E eu não estou preocupada.
Não deixei de acreditar no amor do seu amigo, mas aprendi a viver sem a sua presença. Juntei forças para esquecer tudo o que havia acontecido e me proibi de ter certos pensamentos sobre ele, assim como parei de pensar e falar o seu nome. Há dois meses não nos falávamos, ele não ligou, não escreveu e pelo que ouvi dos meninos, não perguntou sobre mim. No entanto, ele sempre questionava se as crianças estavam bem e isso era para mim mais do que o suficiente. Ele gostava de salientar que voltaria e que me ajudaria com todos os preparativos, porém, com o tempo, eu aprendi a não esperar. Desejando ou não, eu estava sozinha e precisaria das minhas forças para cuidar dos meus filhos.
— Eu sei. – disse me fazendo olhar para ele.
— Acha que preciso mudar as cores das paredes da sala? – questionei mudando de assunto.
— Alice, ele estará aqui. – insistiu. — Jungkook está ao lado dele e em breve eles voltarão.
— Se passaram dois meses, acha mesmo que eu espero algo dele? – retruquei tentando não soar arrogante.
— Eu sei, mas. – o interrompi.
— Sem, mas, por favor. – pedi. — Ele não está aqui, eu estou e preciso de mim para colocar essas crianças no mundo. – respondi com firmeza.
Namjoon respirou fundo e saiu da cozinha sem me responder, ele estava chateado. Não queria esquecer que o pai dos meus filhos existia e nem querendo isso seria possível, mas não podia continuar vivendo a espera de um fantasma. Não podia passar os meus dias esperando por alguém que não voltaria, alguém que não queria a minha companhia e que claramente não desejava estar ao meu lado. Por qual motivo, eu deveria continuar me crucificando por alguém que não sentia o mesmo por mim?
— Alice. – disse Seokjin ao se aproximar.
Desde que o médico recomendou repouso, todos possuíam muito cuidado comigo. Eles procuravam não me assustar e sempre que falavam comigo, era em forma de sussurro. Eu passava metade do meu tempo presa em pensamentos, por vezes, morrendo de saudade das sensações que ele me causou enquanto ainda me amava. Sensações que aos poucos deixavam o meu corpo, até o som da sua voz se dispersava e isso me assustava.
— Sim.
— Está tudo bem? – eu não sabia o que isso significava.
— Aham. – disse sem mais detalhes.
— Você tem aguentado bem. – continuou se aproximando. — Está mais firme.
— Mérito nosso. – murmurei lhe arrancando um sorriso.
— Vamos, sente-se que eu preparo algo para você comer. – sorri de canto e assim o fiz.
Após voltar da Espanha, eu descobri que Seokjin era um bom amigo. Ele passou metade dos dias comigo, me ajudando em tudo. Além de conversar sobre temas que eu gostava para estimular as crianças, ele era um conselheiro e um cozinheiro pessoal. A sua companhia e ajuda me fez bem e me fez ser um pouco mais forte na hora de decidir o que fazer com a minha situação, a solidão diminuiu ao compreender o que ele queria me ensinar. Seokjin esteve ao meu lado e fez questão de me lembrar que tudo passaria, essas palavras acalmaram o meu coração. Hoje, eu podia confirmar as suas palavras, tudo passou e eu me sentia melhor.
— A decoração ficou perfeita. – comentou cortando um tomate. — Não pensei que conseguiríamos terminar as obras a tempo.
— Sim e eu ainda não sei se mudo as cores das paredes da sala. – respondi pegando uma fatia do tomate, a levando à boca.
Ele sorriu ao ver.
— Não penso que seja necessário. – respondeu. — Porém, se assim o desejar faremos hoje ainda. – ele era um bom amigo.
Necessitei recomeçar os meus sonhos do zero, jogando fora os planos feitos pelo pai dos meus filhos. Decidi que precisava de mais espaço e então comprei o apartamento ao lado, remodelei todos os cômodos para que as crianças pudessem se mexer de um lado para o outro sem se preocuparem com nada. Claro que, eles não poderiam usufruir de tudo agora, mas já teriam a segurança ao nascer. As obras ficaram feitas em poucos dias e o resultado era fenomenal. Aos poucos tudo ficava do jeito que eu queria, eu me sentia muito bem.
— Alice. – murmurou ele me chamando de volta para a realidade.
— Sim? – o olhei.
— Sinto muito em insistir, mas ele voltará. – sussurrou.
Será? Será que deveria ser tola ao ponto de achar que ele voltaria? E se voltasse, quando seria isso?
— Quando? – questionei.
— Eu não sei, mas espero que em breve. – não senti conforto e não acreditava nisso. — Espero que em breve. – repetiu.
— Eu acho. – disse Hoseok entrando na cozinha. — Que você deveria mudar as cores das paredes da sala. – sorri ao ouvir.
— Aí, sim? – retruquei.
— Não seja parvo! – brigou Seokjin.
— A Alice decide. – respondeu cruzando os braços em sinal de birra. — Não é, mimice?
Hoseok havia desenvolvido métodos para me fazer sorrir e um deles era me chamar de um nome estranho todos os dias, algo que eu não gostava, mas aos poucos não conseguia viver sem.
— Eu não sei. – respondi evitando escolher um lado.
Respirei fundo e me levantei com uma certa dificuldade, eu me sentia muito pesada. Por vezes, eu tinha a sensação de pesar trezentos quilos e em minha mente os meus filhos também nasceriam com trezentos quilos, pois, eles eram a razão de me sentir tão pesada.
— Aonde vai? – questionou Seokjin ao ver.
— Me deitar, me sinto cansada. – respondi cambaleando o meu caminho para o quarto.
— Eu já levo uma salada. – retrucou.
Sorri e calmamente saí da cozinha, indo em direção ao meu novo quarto. Entrei no cômodo que agora era enorme e me deitei na cama, tudo estava diferente e eu também precisava me acostumar com isso. Decidi que ter móveis novos seria uma boa ideia e que isso me ajudaria a esquecer a saudade dele, comprei uma cama maior e adaptei o quarto para poder ter as crianças por perto nos primeiros meses. Em breve, o meu pai chegaria para me ajudar com tudo e eu não fazia ideia de como cuidar de duas crianças.
Nenhum dos amigos de Taehyung tinha experiência com crianças, então, ter o meu pai ao meu lado era muito bom. Aos poucos, eu não tinha lembranças do meu sofrimento e tudo o que eu conseguia imaginar era os meus filhos em meus braços, me dando carinho e conforto. Respirei fundo ao ouvir barulhos na porta, sorri de canto e esperei.
— Posso entrar? – murmurou Namjoon timidamente.
— Claro. – sorri.
Me aconcheguei na cama e me sentei confortavelmente entre as almofadas, ele carinhosamente veio em minha direção e se sentou ao meu lado, me olhando nos olhos.
— Está se sentindo bem? – ele soava triste.
— Sim, apenas preciso de um pouco de descanso. – sussurrei.
— Me desculpa por antes. – disse baixinho. — Não queria te chatear.
Namjoon se tornou o meu melhor amigo, falávamos sobre tudo. Me sentia em casa quando estava em sua presença e sem medir esforços, ele me fazia sentir bem e protegida. Não conseguiria ficar chateada com ele e desde que ele havia voltado da Espanha, tínhamos passado mais tempo juntos. Ele se tornou a companhia que eu gostaria de ter no pai dos meus filhos e ambos nos dávamos bem com isso.
— Tudo bem. – sussurrei.
— Desejo tanto que ele acorde e perceba os erros que está cometendo contigo. – a angústia em sua voz me fez querer abraçá-lo. — Que por vezes esqueço dos seus sentimentos no caminho.
— Namjoon, você não é o pai dos seus amigos. – disse evitando falar o nome dele. — Não se crucifique tanto.
— Eu sei, mas queria que tudo voltasse ao normal. – rebateu. — Vocês precisam estar bem para cuidar destas crianças.
— Sim. – sussurrei. — Eu sei.
Não conseguimos continuar a nossa conversa, pois, Seokjin entrou no quarto e trouxe consigo um pote de salada. Sorri ao ver, ali estavam os dois homens mais importantes para mim e eu não me via sem eles.
— Oh, atrapalho algo? – questionou parando na porta.
— Não. – respondi rapidamente. — Está tudo bem.
— Trouxe a sua salada, coelhinha. – continuou vindo em minha direção.
Seokjin cozinhava para mim na maior parte do tempo e sempre que ele fazia as suas saladas, a felicidade em mim, aumentava. Ao seu lado, eu aprendi vários pratos novos e juntos aprendemos qual seria a melhor alimentação para os meus filhos. Lembro de discutir com ele sobre estes assuntos e em alguns deles, quase saímos no tapa. Porém, a convivência ao seu lado me ajudou a perceber coisas que eu não conseguia antes. Era muito grata por isso e sempre que podia, gostava de agradecer para que ele não esquecesse.
— Obrigada. – disse pegando o recipiente.
Ele sorriu e se sentou na cama, me olhando. Me sentia tão bem com eles e queria muito falar o que sentia por eles e o quão grata eu me sentia por tê-los ali. Me sentia em casa e sempre que pensava na minha dor, as suas vozes de conforto invadiam a minha alma e me passavam segurança.
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