Capítulo 2 | Flashbacks
Eu sabia o que me esperava? Sim. E fui à festa do mesmo jeito? Sim também.
No instante que coloquei os pés no gramado da casa dos pais do Fernando, me arrependi até o último fio de cabelo. Não importava a insistência de Marco, deveria ter sido mais forte.
O problema é que eu não consegui ignorar um convite para rever Helena depois de todos esses anos. E ela estava ali, linda de vestido coral, de braços dados com o seu noivo cumprimentando os convidados.
Fernando mudou pouca coisa desde o colégio, na faculdade era o mesmo e não me surpreendi por estar igual. Continuava o atarracado jogador de futebol que só sabia incomodar os mais "fracos", como ele gostava de apontar. Era o mesmo babaca arrogante de sempre, e nem precisava abrir a boca para confirmar, bastava ver o modo como ele se portava.
— Marco, foi uma péssima ideia e vou voltar — disse.
— Larga de ser fresca, sapa — rebateu. — Agora que já estamos aqui, vamos pelo menos beber e comer de graça. Pensa nisso como um encerramento, ela vai se casar de qualquer jeito — e deu de ombros.
Pegamos duas taças de espumante, uns canapés e sentamos em um banco que estava espalhado pelo jardim.
— Você acha que ela é feliz hoje em dia?
Marco olhou para Helena por algum tempo antes de me responder:
— Acho que sim, em alguns momentos. Como todos nós, não?
Balancei a cabeça concordando. Algo nela me atraia demais, não conseguia apartar o olhar de Helena, que se movia entre os convidados. Ainda assim, não podia parar de pensar que foi aquela mulher arrancou meu coração do peito quatro anos atrás e fez pedacinhos dele.
— Alguns comentam que ele ainda tem uma amante — comentou Marco, baixando ainda mais a voz.
— Por que raios ela ainda fica com ele? Isso vai além da minha capacidade de entender — e ia mesmo, me deixava irritada só de pensar.
— Carol, você sabe que...
— Meu Deus! É você mesma, Carol?
Naquele exato momento, Marco arregalou os olhos para mim e congelamos por milésimos de segundo. Merda! Levantamos calmamente para dar de cara com Helena e o noivo, ambos sabiam que eu não fui convidada e estava ali de +1. Sem graça diante da situação optei pela saída dos covardes:
— Surpresa?! — e dei um sorriso constrangido.
Inesperadamente, Helena me apertou em um abraço como se fossemos velhas amigas e não velhas... amantes.
— Uma surpresa maravilhosa! — ela parecia realmente feliz por me ver ali. Estranho. — Eu senti tanto a sua falta — complementou baixinho no meu ouvido, a voz rouca que me trazia tantas lembranças.
Todas as emoções que Helena despertava em mim, há muito tempo adormecidas, agitaram-se. Helena sempre teve esse poder sobre mim, algo que eu não sabia explicar, era mais forte do que eu. O problema é que eu também não sabia o que responder, tentava convencer a mim mesma de que isso era fruto da imaginação.
Assim que nos separamos, estendi a mão para cumprimentar Fernando. Era nítido no rosto dele que ele ainda não tinha esquecido dos boatos que nos envolviam na época da faculdade. Todos verdadeiros, claro.
— Parabéns, pombinhos! Desejo toda felicidade do mundo para vocês — e tentei colocar meu sorriso mais fofo no rosto.
— Obrigado, Caroline — agradeceu ele, puxando enciumado Helena para perto de si.
Marco, meu eterno salvador, sabendo que o clima estava pesado, disse:
— Amanhã é a prova final do vestido, Lena! Está animada?
Marco era dono de uma loja incrível e elitista de vestidos de noiva chamada Afrodite. A pedido de Helena, ele mesmo desenhou seu vestido.
— Muito. Mas sabe o que me deixaria mais animada? Que você pudesse ir, Carol! — e pegou minha mão, me deixando ainda mais constrangida do que já estava. — O que acha?
— Eu... eu... — como dizer não para os brilhantes olhos dela? — Claro, vou estar lá com o Marco, então.
— Perfeito! — e ela sorriu para mim, enquanto sentia romper as barreiras que tinha levantando contra ela no meu coração. — Vamos, querido?
Fernando assentiu e nos despedimos. Não precisava virar para saber que encontraria Marco de cara amarrada.
— Você não aprende, Caroline? — o tom de voz bravo.
— Eu não sabia o que dizer, me pareceu mal educado negar assim — e dei de ombros, desviando o olhar para esconder minha mentira.
— Aham, tá bom que eu acredito. Eu e você sabemos que esse coração já estava palpitando de novo. Era um encerramento! Era para você olhar para ela hoje e ver que acabou, não criar novas esperanças! — ralhou ele, com as mãos na cintura. — Ela te quebrou, mulher, coloca isso nessa sua cabecinha oca. E vai casar com ele.
— Eu sei, Marco, não precisa brigar comigo — disse, fazendo um beicinho.
Ele estava certo e eu odiava admitir.
— Não acho que você realmente sabe, mas vou relembrar aqui rapidamente os fatos para você. Um — e ergueu um dedo —, ela traiu o Fernando com você. Dois — e ergueu mais um dedo —, quando as pessoas descobriram que vocês estavam juntas, ela negou e disse que você estava dando em cima dela. Três — formando o número três —, ela te ofereceu uma desculpa esfarrapada sobre ter mentido e convenceu que vocês deveriam continuar juntas, mesmo ela espalhando boatos cruéis sobre você e a sua classe inteira odiando você. Preciso continuar?
Ele não precisava. Helena não prestava e nós dois sabíamos disso. A minha mente foi tomada de flashbacks ruins enquanto ele falava, trazendo inevitáveis lágrimas aos meus olhos. Eu sabia onde essa história terminava: a trouxa aqui vivendo quatro miseráveis anos na faculdade, presente da Helena.
Ainda assim, fiquei com ela, escondida. E quando consegui uma pós-graduação no exterior, ela quis ir comigo. Arrumei tudo para isso acontecer, e esperei ela no aeroporto como uma idiota. Porque ela nunca apareceu.
— Não precisa, Marco — respondi baixinho.
— Carol, essa menina só te fez mal. Por favor, não deixa ela te afetar. Você sabe que a família dela e do Fernando estão metidas até a cabeça em sujeira, esse casamento estava previsto para acontecer antes mesmo dos dois nascerem — e eu sabia que era verdade, a própria Helena tinha me contado. — Não importa o que ela fale, a história de vocês vai ter sempre o mesmo final.
Os olhos de Marco estavam cheios de tristeza. Se não fosse por Marco, não teria sobrevivido àqueles dias. Eu sabia que deveria me afastar.
Mas uma coisa era falar.
Outra bem diferente era fazer.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top