NINGUÉM (micro conto)
Os irmãos McGreen haviam perdido a noção do tempo em sua viagem pelo deserto. O silêncio ao redor era quebrado pelo som dos cascalhos, esmagados pelas rodas de madeira da antiga carruagem, puxada pelo cavalo, herdado pelo recém-falecido pai.
Willian, o irmão mais velho, abriu a palma de sua mão e viu um dente de ouro que pertenceu ao seu pai, prova de suas histórias sobre as riquezas do oeste selvagem. Essas histórias fervilhavam o ideário dos irmãos, que partiram assim que o velho deixou de respirar.
O sol começava o seu declínio por trás das montanhas quando os irmãos decidiram levantar acampamento. A pequena fogueira iluminava a noite fria, um ponto luminoso na vastidão daquela paragem. O feijão começava a cheirar, quando Bob, o irmão mais novo, levantou-se apertado.
Distanciando-se o suficiente para ter o mínimo de privacidade, o jovem McGreen aliviou-se. Guiado pela luz da pequena fogueira seguiu o caminho de volta, e sem perceber o que se encontrava sob seus pés tropeçou.
_ O que aconteceu? _ Perguntou Willian.
_ Tropecei!
_ O que é isso? _ Questionou Willian após se aproximar segurando uma pequena tocha improvisada.
_ Me parece uma placa... Está fincada em um monte de terra. _ Comentou Bob.
"Ninguém"
_ O que pode ser? _ Continuou Bob.
_ Não seja burro! Isso é um túmulo! _ Disparou Willian, dando um tapa na cabeça do garoto, que o olhou com cara de poucos amigos.
_ O que vamos fazer então?
_ Vamos esquecer e voltar para o acampamento! _ Decretou Willian.
O irmão mais velho se distanciou sozinho. O irmão mais novo permaneceu olhando a placa. Sua curiosidade o fez continuar ali, hipnotizado.
_ O que está fazendo seu idiota? _ Gritou Willian, impaciente.
_ Como ele morreu? _ Questionou Bob, como se estivesse pensando alto.
_ Não me importa e você também não deveria dar importância!
_ Nunca vi uma pessoa chamada "Ninguém"...
_ Esse deve ser o primeiro... Falou Willian dando de ombros.
A noite passou depressa e o sol começava a surgir, deixando o horizonte brilhante. A pequena fogueira, sem chamas liberava fios de fumaça. O feijão perdera o tempo do cozimento, tornando-se uma papa escura e queimada, exalando um cheiro nada agradável. O impasse que tomou conta da madrugada fez os irmãos McGreen se esquecerem da viagem para o oeste.
Willian tentava salvar o que podia de seu jantar e aos resmungos, sorvia o que conseguia do feijão. Suas caretas revelavam que o gosto estava horrível. Depois de arremessar a lata ao vazio, viu Bob, seu irmão ajoelhar-se e começar a remexer aquele monte de terra como um cachorro.
Depois de alguns minutos um corpo surgiu, parcialmente apodrecido, mostrando que estava lá a pouco tempo. Bob afastou-se, uma vez que futum da morte quase o fez colocar para fora o pouco que havia em seu estômago. Nem aquele óbito aplacou sua curiosidade. O defunto tinha roupas casuais e uma barba espessa. Os vermes andavam livremente sobre o que restou do corpo. Os olhos do jovem McGreen não viram pertences aparentes.
Quando Bob virou o rosto do cadáver, descobriu a causa de sua morte, um tiro no meio dos olhos. O sol seguiu o seu curso, elevando-se ao céu. Sua luz matinal percorreu o deserto, revelando três silhuetas. Os irmãos, assustados, viram uma figura desconhecida com um Winchester engatilhado Os McGreen recuaram, e aos tropeços perceberam que o terreno ao seu redor estava repleto de covas rasas. As lágrimas começaram a brotar do rosto do jovem mancebo, mas o seu pranto não foi suficiente para evitar o pior. Dois tiros certeiros findaram os sonhos de fortuna da família McGreen.
O desconhecido aproximou-se dos irmãos e pegou da palma da mão de um dos mortos um molar de ouro. Surpreso, revelou um sorriso incompleto.
O cemitério improvisado ganhou mais duas covas. O estranho retornou para o seu posto de observação. Ninguém poderia cruzar aquela estrada e chegar às minas de ouro que se encontravam após as montanhas rochosas.
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