Epílogo

Seria romântico dizer que vivemos felizes para sempre, Pedro e eu, mas nunca fomos esse tipo de conto de fadas. Nunca fomos um conto de fadas. Ele nunca foi um príncipe. Eu nunca precisei de resgate. Mas ele ficou do meu lado na batalha que eu comprei com Bertrand, e fez algumas declarações bastante polêmicas sobre o que pensava do chefe de cozinha famoso e seu restaurante "de merda" que serve "comidas de merda" — em palavras dele.

Em resposta, Bertrand negou todas as acusações, e me chamou de " uma pistoleira mau-caráter que ficava se oferecendo para os clientes famosos ao invés de trabalhar", afirmou que esse foi o grande motivo da minha demissão. Claro que muita gente comprou a história dele, afinal, como mais eu teria ido de garçonete à namorada de Pedro Loth em tão pouco tempo?

O fato de ele e Lily estarem juntos na época, não ajudou. O fato de escavarem minhas redes e encontrarem registros do meu namoro com Thomas na época, não ajudou. O fato de alguém ter conseguido fotos minhas beijando a Sarah no Holi, não ajudou.

A internet decidiu que eu era uma vaca, mas prestavam mais atenção em mim justo por conta disso. Queriam flagrar cada erro e deslize que pudesse provar o argumento. Com todo esse holofote, entretanto, outras ex-funcionárias de Bertrand apareceram para corroborar a história. A coisa toda cresceu muito além do planejado, cresceu a um ponto em que a emissora precisou anunciar o cancelamento de "Cozinhando para as estrelas".

Foi uma festa, literalmente. Pedro convidou todo mundo para passar o fim de semana no iate e lotou o freezer de bebidas. Eu dancei como se precisasse disso para sobreviver, enquanto Pedro apenas observava: Meu cabelo estava molhado, o sol queimava na pele salgada, a música alta. Eu me sentia aquecida por saber que seus olhos não descolavam de mim. Ele era meu. Nós estávamos bêbados, felizes e apaixonados.

Aquele foi o ápice.

Sete semanas depois, a French 75 saiu em turnê para divulgar Fora de Órbita. O blog estava dando resultados. Eu tinha trabalho a fazer, e aulas da faculdade, e o reality da Lily para gravar. Kyle brincou que ficaria de olho em Pedro por mim, e eu só dei risada e meneei a cabeça. Disse a mim mesma "sem crise", ficaríamos bem, era do que eu estava tentando me convencer.

Ele me traiu uma vez, era passado, isso não o definia como pessoa. Ele tinha mudado, eu também. Mesmo assim, continuava assombrada pela sensação angustiante de que meu namorado não estava dormindo sozinho em suítes de hotel.

Então deixava Sarah me arrastar para essas festas de gente importante para as quais, de repente, estávamos sendo convidadas, e eu bebia até me divertir o suficiente para não pensar que, do outro lado do planeta, garotas se estapeavam em saguões de aeroporto tentando tocar no meu namorado. Mas ele não queria nenhuma delas, aquelas eram as fãs, eu era a sua primeira e única tiete.

Quer dizer, não a primeira. Tampouco a única. Acho que esse foi o ponto crítico.

Não que tudo fosse sempre perfeito antes. Tínhamos brigas estúpidas por motivos estúpidos que normalmente terminavam com sexo, mas coisas se complicaram de fato na noite em que Lana Carrera e Ian Thorne anunciaram o rompimento, e então ela pegou um voo de 13 horas para assistir o show da French 75 na Austrália.

Eu não fiquei sabendo pela boca do Kyle. Menos ainda a do Pedro. Na verdade, Sarah quem viu primeiro a foto dos dois dividindo o palco, e depois bebendo e se divertindo em um pub qualquer. Logo, o meu e-mail estava lotado de mensagens a respeito do assunto.

Eles não estavam se beijando nem nada, mas estavam sentados próximos. Pedro, um pouco inclinado, olhava para ela como se a enxergasse.

Ele não olha assim para todo mundo, acredite. Eu sei a sensação de ser enxergada por Pedro Loth. São olhos que fazem queimar a base da coluna enquanto o topo do estômago gela. É como ele olha pra mim. Era assim que ele olhava para ela.

Aquilo partiu meu coração de um jeito diferente. Eu desejei que fosse uma foto dele aos amassos com uma fã qualquer, só para Pedro jurar que não passou de um momento de fraqueza insignificante. Desejei que ele me traísse, que fosse para cama com uma centena de mulheres diferentes, mas que nunca olhasse para nenhuma delas do modo como olhava para mim. Do modo como olhava para Lana também.

Eu chorei, não sei se de tristeza ou de raiva, mas Sarah disse que eu estava fazendo o que eu faço de melhor: exagerar as coisas.

Então liguei pra ele. Já era quase meio dia em Los Angeles, mas Pedro estava em outro fuso-horário e costumava dormir até tarde depois dos shows, então demorou alguns toques para finalmente atender com a voz de sono abafada pelo travesseiro.

— Porra, eu tô de ressaca — foi a primeira coisa que ele disse. Não "alô", não "bom dia", e talvez eu devesse ter me acostumado com os seus acessos de mau humor frequentes, mas aquilo só ajudou a rasgar a ferida.

— Claro que está — inferi com descaso, arrancando a cutícula do dedão com o dente. — A noite deve ter sido boa.

— Foi. Estádio lotado.

Eu demorei uns instantes, ouvindo a respiração pesada do outro lado da linha. A pergunta entalada no fundo da garganta me asfixiava, então soltei de uma vez por todas:

— Qual o lance com a Lana? Ela foi até a Austrália só pra te ver?

— Porra, tiete, eu tô de ressaca. — Pedro bufou. — Que merda de pergunta é essa?

— A merda da pergunta que estou fazendo, então dá para só responder?

— É. Ela veio para me ver e nós saímos pra beber depois do show. Não transamos, se é isso que tá pensando que rolou. É aquela coisa de friendzone.

Aquela coisa de friendzone. Aquela coisa em que o cara quer, mas a garota só vê ele como amigo.

— Você gosta dela. — Não soou como uma pergunta.

— É, eu gosto. A gente é amigo, porra, e há mais tempo do que conheço você.
Na verdade, se eu tenho uma carreira hoje é graças a Lana. Ela quem convenceu o Ian a contratar a banda. Foi a primeira pessoa que acreditou na gente. Então nem tenta essa coisa do "ela ou eu".

Seu tom era de impaciência e eu pude imaginá-lo esfregando o rosto.

— Pensei que eu fosse a primeira pessoa. — Tentei não soar magoada, mas aquilo doeu. Não queria me mostrar frágil quando ele estava sendo tão hostil. Odeio que ele seja hostil. Não é o tempo todo, mas às vezes parece que seu rosto fica encoberto com um véu, não é o mesmo cara que escreve as canções mais sensíveis do planeta.

— Sei lá, tiete, talvez tenha sido a segunda, porra, por que isso importa?

Eu sei porque importa. Pedro foi meu primeiro tudo. E eu costumava pensar que tinha sido sua primeira em pelo menos alguma coisa, sua primeira fã, sua primeira tiete, e com uma única frase, ele me resumiu a insignificância. Eu nunca seria a primeira dele em nada.

— Vai pro inferno, Pedro! — Desliguei a chamada.

E foi assim que a gente terminou pela segunda vez, mas não pela última.

***

Emojis de choro aqui 😭

É o fim dessa etapa meus amores, ainda não tenho data para publicar o livro 3, então me sigam aqui e no insta pra não perder nada!!

E me contem se vocês querem os capítulos bônus narrados pelo Thomas.


[Deveria haver um GIF ou vídeo aqui. Atualize a aplicação agora para ver.]

"Se um homem fala merda,
Eu não lhe devo nada.
Não me arrependo nem um pouco,
Porque ele teve o que mereceu."
I DID SOMETHING BAD - TAYLOR SWIFT

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